Pedem-me mais atrás para falar em Jorg Haider, desaparecido num acidente de automóvel há uns dias pouco tempo depois dos resultados de peso obtidos pelo seu partido nas legislativas austríacas. Seja.
Estive a poucos metros (e creio que o vi fugidiamente) do líder populista austríaco um ano e tal depois dos surpreendentes resultados que levaram o seu FPOe ao governo do país. Estava-se em véspera de eleições municipais e Haider deslocou-se da sua Caríntia até à imperial Viena para fazer um comício. Como por esses dias estava na capital austríaca, e movido pela curiosidade de ver tal ajuntamento, resolvi, com uns amigos, ir até ao evento, que se dava no Prater. Mal informados da sua localização, chegámos já no fim, quando a multidão começava a dispersar sob a chuva misturada com neve. Uma pouca sorte, mas deu para ver que não faltavam simpatizantes do movimento. Escusado será dizer que não havia muitas faces que não andassem pelo tipo germânico.
Nessa altura, o FPOe partilhava o governo como o OVP, conservador, depois da enorme votação nas legislativas de 1999. Como se sabe, o resultado provocou frisson na UE, na altura sob presidência portuguesa, que de imediato estabeleceu sanções à Áustria. De nada adiantaram, mas também nada digno de nota sucedeu em Viena. E em 2002, em novas eleições, o FPOe dava uma enorme queda eleitoral e saía do governo.
Haider, o rosto de toda essa história, não chegou a encabeçar o executivo. Já estava à frente do FPOe desde 1986 e tinha-o guindado de partido folclórico e pouco expressivo até à casa dos vinte por cento. Preferiu ficar como Governador da sua Caríntia, no sul do país, acima da eslovénia. Aliás, uma das polémicas em que Haider se viu envolvido foi exactamente a proibição do uso do esloveno a nível oficial, contrarinado as instâncias judiciais austríacas, que decidiram que a região tinha mesmo outra língua a par do alemão.
Outra polémica aconteceu quando visitou Saddam Hussein, no Iraque, mostrando-lhe a sua solidariedade quando já se antevia a invasão daquele país. A provocação não deixou os Estados Unidos indiferentes, mas Haider respondeu dizendo inclusivamente que Bush era um criminoso que devia ser julgado em tribunal internacional.
Outra polémica aconteceu quando visitou Saddam Hussein, no Iraque, mostrando-lhe a sua solidariedade quando já se antevia a invasão daquele país. A provocação não deixou os Estados Unidos indiferentes, mas Haider respondeu dizendo inclusivamente que Bush era um criminoso que devia ser julgado em tribunal internacional.
Depois, claro, as célebres alusões ao Nacional Socialismo em tom condescendente e até elogioso, e ainda as suas ideias anti-emigração e anti-Islão. As reuniões com velhos elementos ds SS, essas "pessoas decentes", como lhes chamou, foram o corolário disso mesmo.
Lutas internas fizeram com que abandonasse o seu partido de sempre e formasse outro movimento, o BZOe, com a mesmíssima ideologia. Assim, coexistiam dois partidos com as mesmas ideias populistas e xenófobas, separados apenas por questões pessoais.
A morte de Haider levou logo muitos a falar de "atentado" e "sabotagem". Mas quem se estampou a 14o à hora com 1,8 de álcool no sangue não precisaria certamente de intervenção de outrém para se matar. Este desaparecimento, como alguns dizem, poderá ter esbatido as más relações entre os dois movimentos idênticos desavindos e poderá juntá-los no futuro, sobretudo agora, quando em conjunto obtiveram 28% dos votos nas últimas legislativas, o que até poderá levar a uma coligação contra natura com os socialistas do SPO.
Apesar de todas as suas ideias duvidosas ou até execráveis, não me parece que Haider fosse o monstro que muitos diziam ser. Não expulsou emigrantes em massa, não formou pelotões de execução, nem construiu campos de concentração. A morte dele (que se diria um desastre nacional ao ver todo o aparato e as palavras de pesar da classe política austríaca) não me deixa particularmente trise nem aos saltos. Mas pode ter reunido de novo a direita mais radical da Áustria e servir de exemplo a outros países, passando a ser considerado quase um mártir (ou um aviso aos condutores para não beberem). Se assim for, não haja dúvida de que era preferível que estivesse vivo.
7 comentários:
Por mais repetidas que sejam, as mentiras não passam a ser verdades. A versão oficial é que JH circulava a 140Km à hora com 1,8 de álcool no sangue. Eu não descortino a hipótese... sabotagem.
JORG HAIDER FOI ASSASSINADO!!!!
O Padre Max austríaco?
http://www.elpais.com/articulo/economia/viuda/Haider/cuestiona/fuera/ebrio/morir/elpepueco/20081024elpepueco_2/Tes
atentado...nao tenho duvidas
"Estou convencido que este Homem teve o mesmo destino que Sá Carneiro. Foi assassinado. É assim a politica dos criminosos. Depois da sua morte, ainda vão aparecer mais histórias para denegrir a sua imagem. Os inimigos politicos não perdoam." - Almeida, Lamego - in http://ultimahora.publico.clix.pt
Pronto: agora Haider é um Santo. Ou quanto muito, um mártir.
Homem! Há que manter o nível do debate. Não vá por aí. Ninguém disse que o JH era santo...
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