quarta-feira, setembro 30, 2009

O regresso dos Green Day





Os Green Day passaram pelo Pavilhão Atlântico na Segunda-Feira. Trouxeram o seu carrossel punk/opera rock e deram um concerto que sem ser extraordinário teve bastantes momentos altos.
 
A banda de Billy Joe (sempre com o seu ar de louco e os seus olhos esbugalhados) marcou-me, como a muito, na adolescência. Em meados dos anos noventa, o que estava a dar era o fulgurante Dookie e as suas músicas incandescentes de três minutos, como Basket Case e When I Come Around. Havia a concorrência dos histéricos Offspring para ver quem dominava o "teenager punk rock" californiano e conseguia mais discos de platina.
 
Os Green Day continuaram no mesma caminho, com alguns momentos marcantes, mas já em ligeiro declínio, até aos anos 2000, em que apareceram a fazer as primeiras partes de concertos de bandas que eram meras cópias pueris deles próprios, como os Blink 182, e ainda vendo os Offspring mantendo o sucesso. Já quase todos se tinham esquecido deles quando resolveram inverter o rumo e lançar o disco de opera-rock American Idiot. Como se sabe, um sucesso retumbante: regresso aos primeiros lugares das tabeças de vendas, boas críticas musicais e imensos Grammys e MTV Awards. Em suma, o regresso da glória dos tempos de Dookie, mas em versão crescida. Ao mesmo tempo, os Offspring definhavam entre a sua berraria e os Blink e restantes clonagens de punk para adolescentes sumiam de cena.


Este ano lançaram novo disco, 21st Century Breakdown, que tal como o anterior ainda traz consigo a crítica à guerra ao Iraque, aos efeitos da Administração Bush e a parte da sociedade americana (o espírito punk não desapareceu por completo). Vieram agora mostrá-lo ao vivo, em Portugal. Era uma daquelas bandas que me apetecia mesmo ver, e já não o esperava, mas chegou um bilhete salvador à última da hora. Assim, juntaram-se milhares de nostálgicos dos anos noventa, meia dúzia de tipos de crista, correntes e roupa negra esfarrapada julgando estar na Londres dos anos setenta, e uma legião de teenagers (um até chegou a ir tocar ao palco e nem se deu nada mal) com variadas t-shirts dos artistas, além dos fãs dedicados de camisa preta e gravata vermelha, à Billy Joel. Ficou na memória a expressão de louco nos ecrãs gigantes do vocalista, que até lançou camisolas com um canhão, a pirotecnia, o entusiasmo do público e o fim do concerto, com a belíssima Time of Your Life tocada a solo, sob um único foco de luz. Ficou apenas a faltar, entre uma ou outra, a velha When I Come Around, que tanto passava nas rádios em 1995. E talvez uns minutos a mais de espectáculo.








A grande ausente do concerto
O líder da direita


Não considero Paulo Portas um exemplo de sólido carácter nem merecedor de especial confiança. A sua carreira no Independente e no PP atestam-no. Os casos Moderna e da sua passagem pelo governo, os cumprimentos a Rumsfeld, as quezílias com Monteiro, e por fim a forma como voltou à liderança do partido, afastando Ribeiro e Castro, e depois disso o silêncio sobre a demissão de Nobre Guedes e outros problemas internos não contribuíram em nada para o tornar mais credível.

Mas há que lhe tirar o chapéu: o homem é um autêntico animal político, esteja onde estiver. Já no Independente o era, mesmo que fora da prática partidária. Consegue fazer pose de estado no Parlamento e nos ministérios, vai para os debates bem preparado e com os factos bem estudados (e o seu inseparável "oiça"), e anda por toda a parte, pelas ruas, pelas feiras, pelos mercados; cumprimenta, fala, toca pandeireta; tem experiência de campanha e de como se deve comportar perante a comunicação social; sabe, talvez por causa desses factores acumulados, que as campanhas mais eficazes são as do contacto directo, o "trabalho de formiga", e não as dos outdoors brilhantes ou carros de som, e por isso o CDS, dos cinco principais partidos, conseguiu ser de longe aquele que menos gastou; por fim, uma mensagem clara e fácil de perceber, populista na medida certa mas aquém da demagogia. O resultado está à vista.
Pensava que o partido iria crescer, mas nunca passar da casa dos 8%. Afinal, surpreendeu a maioria. Aproveitou o voto indeciso de direita do PSD, ultrapassou os dois dígitos, quase duplicou o grupo parlamentar e voltou a enganar as sondagens. Alcandorou-se assim no terceiro lugar, colocando sérios embaraços ao PS sem maioria, para previsível irritação de Francisco Louçã, cuja subida do Bloco, aquém dos 10% (por acaso achei que não ia chegar lá), tem um sabor agridoce. E voltou a ser o mais destacado líder da direita portuguesa, que ao contrário do que dizia o "coordenador" bloquista, não é assim tão estúpida.

terça-feira, setembro 29, 2009

O ideólogo perante a dura realidade



Já agora, como é que reagiu Pacheco Pereira aos resultados eleitorais? No Abrupto parece que nada se passou. Então e a sinistra "asfixia democrática", e os índices de situacionismo, desapareceram num ápice? Pelo que ouvi, o deputado eleito por Santarém terá aparecido ontem num programa televisivo falando de mais do mesmo. Espero que não tenha sugerido que os eleitores deram um tão mau resultado ao PSD por se sentirem com medo que o seu voto nas cabines de voto estivesse a ser vigiado. Depois de tanto atordoamento verbal, seria o cúmulo.
O preço da vingança interna


Há uma coisa que distinguiu PS e PSD (e em certa medida também o CDS) e que pode ter pesado em alguns votos: a união interna dos partidos, conseguindo as cúpulas reconciliar-se com os "rebeldes" e críticos e juntando-se em prol da luta eleitoral. Isso sucedeu no PS, onde depois de anos de contundência, de uma candidatura presidencial que humilhou o seu partido e até de comícios com o Bloco e de apoiar uma candidata independente trânsfuga do PS à câmara de Lisboa (Helena Roseta), além dos votos contra na AR a propostas socialistas, Manuel Alegre apareceu no fim, em Coimbra, a apelar ao voto em José Sócrates, depois de lhe ser proposta a renovação nas listas de deputados e da sua esperada recusa. Já Paulo Portas, depois dos triste episódios do seu regresso à liderança do partido, atribuiu ao ex-presidente e adversário interno Ribeiro e Castro um papel relevante, à frente das listas do CDS pelo Porto.



Um imenso contraste com a estratégia de Manuela Ferreira Leite, que por puro revanchismo afastou de supetão o grupo de Pedro Passos Coelho. Por muito menos do que tinha feito Alegre no PS, pagaram com a exclusão integral das listas a deputados, dando uma imagem no PSD de desunião, vingança privada e paz podre. Para além da estratégia falhada e da pobreza das ideias, as "facas longas" laranjas em nada terão contribuído para a imagem do partido e para a sua "política de verdade", como aliás se disse aquando da elaboração destas listas

Ninguém se admire agora por haver quem já esteja a levar os punhais ao amolador.

segunda-feira, setembro 28, 2009

Síntese
Viajando de carro entre Porto e Lisboa, não pude assistir às reacções eleitorais, mas ouvi os resultados das legislativas até ao fim através da rádio. Já sabia da mais que previsível vitória do PS sem maioria absoluta e do inesperado terceiro lugar do CDS-PP. Fui acompanhando a emissão, os discursos, as reacções, os comentários dos opinion makers, etc. A vitória do PS por esses números não me espantou absolutamente nada, mas esperava que o PSD ficasse um pouco mais além do banho que levou em 2005 com Santana. Pelos vistos não conseguiu.
Na polarização que ontem tomou forma, só me espantei (eu e mais 80% da população, embora muitos já venham falar da "previsibilidade" desta resultado) com a ascensão do CDS-PP ao 3º lugar. Imaginava que o partido Portista fosse subir, mas que não chegasse sequer aos 9%. Afinal, aí estão os dois dígitos, mais deputados, alguns arrancados a ferros e uma situação inesperada para o governo. As corridas de Portas pelo país e o trabalho de formiga incessante, mais do que grandes comícios, deram bom resultado
Quase que apostei que o BE não chegava aos 10%, e não me enganei por uma unha negra. Quedou-se pelos 9,8 e duplicou o seu grupo parlamentar. Uma grande subida, sem dúvida, mas não tão grande como a chegaram a pintar. Não conseguiu tornar-se a terceira força partidária e dificilmente terá outra oportunidade para lá chegar. Mas Louçã parece não ter percebido isso, nem que o PS não precisa dele, com um discurso em que dava ideia que tinha ganho as eleições, o que lhe valeu algumas bicadas de Sócrates.
A CDU subiu em votos e conseguiu mais um mandato, além de ver o PS perder a sua maioria absoluta. à parte isso, é uma das derrotadas da noite, embora o desaire não seja profundo. ficou em quinto e certamente que acabou prejudicada pelos votos no Bloco. Mas ainda aposto que o vai ultrapassar em futuros actos eleitorais (para além das autárquicas).
Sobre os dois maiores partidos, simplesmente o óbvio: o PS ganhou, mesmo sem maioria absoluta e com menos 8% dos votos, e Sócrates aguenta-se. O PSD perdeu, quase não recuperou nada de 2005 e apenas se pode dar por contente com o fim da maioria absoluta. Mas o que fica claro é que a sua mensagem e imagem não passaram por demérito próprio.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Dos pequenos, rezará a história destas eleições?



Ao contrário do que aconteceu nas Europeias, talvez porque as Legislativas "não se pode desperdiçar votos" e se apela ao "voto útil", os pequenos partidos têm sido muito escassas vezes objecto de notícias. Com algumas excepções, como um recente Prós-e-Contras, uma ou outra reportagem televisiva e alguns artigos como o do Público de hoje, impera quase um manto de silêncio sobre os que não têm representação parlamentar, para além daquela curioso argumento de que "o voto nesses partidos é um voto desperdiçado". Será curioso se algum deles chegar aos bancos do Parlamento, com tão pouca cobertura. Quem tiver boa memória lembrar-se-à certamente que o Bloco de Esquerda, logo na sua aparição em 1999, teve extensa atenção dos média (é verdade que também tinha algumas figuras conhecidas).

O MEP tem algumas possibilidades de lá chegar. O MMS já tenho dúvidas (aqueles anúncios de "enviar os políticos para a Conchichina" e da castração química dos pedófilos são do mais inquietante populismo que já vi), o resto, o PPM versão Câmara Pereira, o PNR "expulsem os emigrantes", o POUS da lírica Carmelinda, o MRPP desse excelente juslaboralista que é Garcia Pereira, permanecem iguais a si mesmos. Novidades são a Nova Democracia já não ser liderada por Manuel Monteiro (que no entanto corre por Braga), o MPT de Quartim Graça estar coligado com o Partido Humanista, e os nóveis Partido Trabalhista, chefiado por um senhor com ar de empreiteiro de Tondela, e o Partido pro Vida, que defende causas que considero nobres mas que gostaria muito de saber quais as ideias nas áreas da economia, assuntos externos, ambiente e obras públicas.


Dia 27, o dado de maior interesse entre estes pequenas agremiações será o de saber se o MEP consegue entrar no Parlamento. Pelos números das Europeias, isso seria possível, mas o "voto útil" pode tramá-los. Confesso que admiro o percurso de activista de Rui Marques, desde a missão do Lusitânia Expresso e da Fórum Estudante (uma revista de que era fã absoluto quando tinha 16, 17 anos, e de que guardo alguns números), até ao seu papel como Alto Comissário para a Emigração, passando pelo seu trabalho nas escolas de Timor e na participação do lançamento da revista Cais. Tenho uma certa curiosidade em ver como se comportaria na AR - e qual a sua visibilidade. A sua imagem humanista poderia sumir-se no meio das acusações entre "os Exmos Deputados", mas alguma coisa ficaria, por certo. Veremos se tem sorte no Domingo. Porque aos pequenos, como sempre, só sobrarão migalhas.

segunda-feira, setembro 21, 2009

Uma imagem verdadeira da Roménia (agora a sério)


O meu post anterior era uma paródia suave a uma Roménia que cabe dentro daquilo que imaginação colectiva ocidental idealizou sobre os países balcânicos. Por falta de arte e engenho, e também de tempo, acabou por não ser uma coisa descabelada e alucinante, perceptível à primeira vista. Trata-se de um relato misturando factos reais, outros mais exagerados e algumas invenções.

O aeroporto não é assim tão rudimentar (e só levava bagagem de mão), não andei de táxi, pelo que a imagem dos taxistas é decalcada da caricatura portuguesa, não vi colunas armadas ou salteadores de estrada; as cidadelas estão apesar de tudo recuperadas e não há famílias ciganas lá a viver (aí, confesso, recordei-me das famílias africanas que se instalaram nos edifícios construídos nas cidades moçambicanas, como o Hotel Polana); os resorts não apontam quaisquer restrições étnicas. Não há muitos petroleiros mesmo à vista à beira-mar, como é óbvio, embora haja lanchas e jet-skis, e as únicas advertências quanto a indumentária respeitam a restaurantes que proíbem a entrada a gente em fato-de-banho (ainda por cima a maioria dos homens usa tangas). E já agora, o que escrevi sobre Bucareste é obviamente um exagero, embora não totalmente afastado da realidade (o problema dos cães era real mas está atenuado).
No entanto, e como diz António Teixeira no comentário a esse post, muitos dos que se referem a Portugal como "a cauda da Europa" poderiam ir dar uma volta à cintura de Bucareste, só para não se afastarem muito, ou à região da Moldávia (não ao país com o mesmo nome) para se tornarem mais benevolentes com o nosso país.


Quem tente ir de carro do aeroporto Optopeni, que serve a capital, a Constança, terá muitas dificuldades em chegar à auto-estrada, porque as indicações são nulas. Com algum azar, seguirá na direcção contrária, rumo a Oeste. Se se orientar, percorrerá a cintura de Bucareste em direcção à via pretendida, mas terá de ser paciente com as filas de pára-arranca por causa das obras; no tempo despendido, poderá admirar os inúmeros stands, barracões e estabelecimentos pré-fabricados de carácter comercial que se alinham junto à estrada, muitas vezes servidos de caminhos de terra. Pelo meio, na estrada e nas margens, passam cães de todo o tipo. Os indígenas é que nem sempre têm muita disposição para esperar e muitos ultrapassam celeremente as filas para se reenfiarem lá mais para a frente; o chico-espertismo português pede meças à forma de conduzir romena.


 
A auto-estrada que conduz à região do Mar Negro é boa, até porque atravessa a extensa planície da Valáquia, mas infelizmente ainda não está concluída, pelo que atravessado o Danúbio se tem de ir por estrada normal, com imenso trânsito à frente; na margem das estradas somam-se os tascos, restaurantes e bares, aguardando por locais ou camionistas.


Depois, a costa romena, pouco extensa. Constança, a capital natural dessa região, deve a sua importância ao facto de ser o grande porto do país (e o maior do Mar Negro), mas faz gala do passado grego e romano. a memória da cidade recorda Ovídio, o poeta exilado nestes lados. A referência da cidade é a praça com a sua estátua, atrás da qual há um museu de arqueologia e um conjunto de mosaicos romanos.

A Praça Ovídio


Mas a grande atracção de Constança é o soberbo casino, debruçado sobre o mar, a meio da corniche. Infelizmente está fechado; acredito que seja para remodelação, porque de outro modo não se entende como se desperdiça uma pérola semelhante, como casino propriamente dito ou como centro de recepções, festas ou celebrações. Não é difícil imaginar, na Belle Epoque, o rei Carol II, acompanhado pela sua Magda Lupescu, e dignitários romenos e convidados estrangeiros, nos salões e nas varandas debruçadas sobre o mar, antes dos ventos que sopravam na Europa e ameaçavam o país.


Além do casino e dos vestígios romanos, há ainda perto o farol genovês, uma mesquita e algumas igrejas dignas de nota e variados museus. Mas Constança, a antiga Tomis dos gregos, parece algo maltratada, apesar do seu estatuto de estância balnear e de aí afluir muita gente no Verão. Mas os tratos - pisos quebrados, cabos eléctricos pendentes por toda a parte, quais lianas, casas com valor arquitectónico abandonadas e quase a cair - não devem ser muito diferentes no resto do país.


Para sul, a costa está povoada com aqueles resorts artificiais do tempo do regime comunista, com nomes de planetas (ou Deuses) como Saturn, Jupiter ou Neptun. Alguns blocos de apartamentos, restaurantes perto do mar e praias semi-concessionadas. Ao que julgo saber, noutros tempos, Cunhal passou férias nestas bandas. Uma das praias parece o Nordeste brasileiro, tal a afluência de gente, o comércio de bugigangas e os pronto a comer nos caminhos de terra que levam ao areal. Ainda mais para sul há estaleiros e uma base naval, até se atingir a fronteira com a Bulgária, para lá da qual se estendem campos de cultivo, que imediatamente recordam a antiga propaganda soviética da produção cerealífera.

A Norte de de Constança fica a mais selectiva zona de Mamaia, uma península estreita ladeada de hotéis e alamedas, com a praia logo atrás. Há um cuidado maior nesta zona. O comércio é florescente e há até uma portagem para se lá entrar. Lembra um pouco mais "a Europa civilizada".

Toda esta região do Mar Negro sofreu bastante a influência otomana. Por isso, nas aldeias e pequenas cidades que se encontram ao longo da estrada, como Babadag - o nome é claramente turco - vêem-se invariavelmente mesquitas, e gente de tez mais morena do que o comum dos romenos. Muitas casas são de madeira, e nalgumas aldeias têm todas poços à sua frente, com bermas fundas na estrada, que indiciam saneamento muito básico (ou inexistência do mesmo). Mulheres de idade com lenços coloridos à cabeça conversam nos umbrais das portas. E há três coisas com que se pode contar sempre: cães, carroças puxadas por burro ou cavalo e carros de modelo Dacia 1200.



Esses sinais estão igualmente presentes em Tulcea, a última cidade em terra firme antes do Delta do Danúbio, uma enorme região natural formada por canais braços de rio e lagunas, por onde se espalha o grande rio. Uma zona bastante procurada por turistas, tanto que a cidade, estendida numa curva do rio, vive muito dessa actividade, para além de alguma indústria e do porto e comércio fluvial. Há barcos, barquinhos e vapores que levam os visitantes pelo três braços do Delta, entre os pântanos e os bosques, e os ecossistemas naturais, até à fronteira da Ucrânia, quase ali ao lado, ou mesmo a Sulina, a pequena cidade costeira, onde é quase impossível chegar por terra e que marca o fim do grande rio. Pelo meio, as aldeias desse povo expatriado e quase anfíbio, pescadores de origem russa e de longas barbas que são os lipovenos, descendentes dos que em tempos fugiram por quererem conservar os ritos da velha Igreja Ortodoxa Russa.

Para Oeste da região do Delta fica a Moldávia romena. Em Braila, que tal como a sua vizinha Galati é uma cidade de gruas e fábricas, procura-se a ponte para se atravessar o Danúbio, sempre omnipresente com os seus vários canais. Não há: tem de se cruzar o rio no transbordador de ocasião e perde-se um tempo imprevisto. Passam barcaças carregadas de sucata e madeira. Tem de se atravessar Braila, com os seus prédios decrépitos, os seus rails metálicos e as suas avenidas mal empedradas. A paisagem que se deixa para trás recorda-nos inevitavelmente os filmes de Kusturica.

sexta-feira, setembro 18, 2009

Uma breve e realista imagem da Roménia




Saída há vinte anos de uma longa tirania nacional-comunista (depois de antes e durante a guerra ficar sob alçada de governos autoritários e pró-fascistas), com uma grande instabilidade política nos anos que se seguiram e há dois na União Europeia, a Roménia é um país singular que tarda em desenvolver-se.




Começando pelo aeroporto, dir-se-ia antes um imenso aeródromo, onde a bagagem é despejada num monte no meio de uma sala e os seus proprietários têm de procurá-la em conjunto com os outros passageiros. À saída, quem quiser apanhar um táxi (geralmente um Dácia" com 30 anos) poderá fazê-lo; os preços são à partida baixos, mas é costume que os clientes tenham de dar a volta de quase 360º à cintura de Bucareste, quando não são levados a dar um passeio a Urcizeni ou terras semelhantes pelos façanhudos taxistas, que têm em regra no retrovisor um galhardete do Steaua ou do Dinamo e passam o tempo a reclamar contra os ciganos ou a dizer "Isto precisava era de um Antonescu/Ceausescu em cada esquina!" O nome do ditador varia consoante a idade dos taxistas.



Antes da capital, fale-se do resto do país. Para começar, vêem-se cães por toda a parte, muitos deles com três patas (dizem-nos contudo os indicadores de desenvolvimento que a percentagem de quadrúpedes propriamente ditos tem aumentado muito nos últimos tempos). As estradas são razoáveis nas regiões planas do sul, já que são alcatroadas e há apenas que prestar atenção aos buracos. Em zonas de curvas, apanhar uma carroça ou uma coluna do exército em manobras ou um rebanho de porcos pode ser motivo de demora. As aldeias são pitorescas, com as suas casas de telhados inclinados cobertos de colmo, as suas ruas de terra batida e as suas bermas e poços em frente a cada casa (o saneamento é algo básico); na região mais a leste cada uma tem a sua mesquita de tipo turco; não convém no entanto parar pela possibilidade de se ser alvo de ataque de salteadores armados de bacamarte ou de crianças ciganas lavando os vidros (também na cidade).


Os monumentos são grandiosos: as cidadelas da Transilvânia ostentam uma imponente e germânica silhueta entre a paisagem de colinas. no entanto, o visitante que se aproxime reparará nas ameias tombadas e nos telhados a precisar de reparações, para além das inúmeras famílias ciganas que as habitam. Fardos de palha acumulam-se nas praças interiores. Escapa a esta imagem o famosa Castelo de Bran (mais conhecido como "castelo do Drácula") já que recebeu avultados investimentos para receber os turistas. Nos campos em redor das cidades são mais notórios nas estradas os tractores e as carroças com fardos de palha.




Os resorts do Mar Negro, outrora reservados à elite do Partido, sofreram algumas melhorias. É vedada a entrada até um raio de cem metros das praias a ciganos, turcos, lipovenos e gente que ostente símbolos estrangeiros que não os americanos, da UE ou da NATO (ou pagando bem, russos). Quem tomar banho no mar - com a indumentária permitida - deverá tomar atenção às lanchas da polícia e ao óleo deixado pelos petroleiros que passam perto



Na capital, o trânsito flui demoradamente como qualquer grande cidade europeia, ou talvez mais, visto que 20% dos veículos é de tracção animal, e os restantes automóveis de gama média da marca Lada, na sua maioria anteriores a 1990 (cópias dos Renaults 12).




O tipo de pessoas que passa nas ruas não é muito diversificado: grande parte da população continua a vestir-se com trajes das zonas de origem, visto que dois terços dos habitantes de Bucareste são camponeses, muitos à trazidos quase à força; para deixar esses hábitos ancestrais, muitos usam uniforme militar (uma herança do antigo regime); reconhecem-se ainda skinheads, que por vezes funcionam como sucedâneos das forças policiais sempre que os problemas não tenha a ver com eles, e ciganos, vestidos como tal. A recente modernização do país e a entrada na UE mudou alguns estereótipos e já se vêm pessoas mais novas ostentando as camisolas dos clubes desportivos locais ou alguma roupa copiada aos ídolos O-Zone. Mais do que pessoas, há cães por toda a parte, muitos em matilha, pelo que andar em parques a partir do fim da tarde pode constituir uma aventura suicida. Anualmente há uma média de oitenta mortes na capital por ataques de cães, mas crê-se que o número será maior porque não se tem em conta quem vive na rua.


As compras fazem-se mais em mercados do que em lojas. Uma novidade recente são os DVDs, mas ainda não têm grande saída, já que os respectivos leitores são quase inexistentes, por isso a maior parte da população ainda recorre a cassetes VHS e Beta.



O símbolo de Bucareste é, como se sabe, o enorme Palácio do Povo. Construído por Ceausescu para reunir todos as grandes instituições administrativas do país, com as escadas de degraus à medida dos passos do Conducator e as famosas torneiras de ouro, abriga hoje não só as câmaras do Parlamento mas também a residência oficial do presidente e de todos os membros do governo - concubinas incluídas - e também dos ex-presidentes, e ainda salas para conferências, sedes de bancos e, nas caves, depósitos de armas e munições, não se dê o caso de haver outra revolução como em 1989. Tem também um imenso salão de baile onde Elena Basescu, filha do presidente e recentemente eleita deputada europeia, costuma dar as suas festas privadas.




A vida nocturna vive dos bares situados invariavelmente em caves, normalmente antigos abrigos subterrâneos, muitos dos quais proibidos a mulheres (outra situação que tem mudado com a entrada na UE), ciganos, turcos e húngaros. As bebidas normais costumam ser a cerveja artesanal feita na própria casa, cujo estranho sabor faz suspeitar dos seus componentes, vinho, aguardentes de castanha e licores variados de teor elevado de álcool. Os preços em Euros podem chegar até 1,50€ pelas bebidas mais caras, quase inacessíveis ao comum da população. Refira-se que a moeda romena, o Leu, vale cerca de 2,5 cêntimos, e que as notas de valor mais elevado chegam aos mil Lei.




Quase posta de parte no regime comunista, a religião voltou em força desde 1990. Da quase proibição passou-se para a quase obrigatoriedade, e os soldados que vão em missão juram pela pátria e pela Santa Igreja Ortodoxa Romena, com a protecção de São Constantino Brancoveanu. Também as cerimónias públicas têm sempre a benção da igreja.




O tempo no Verão é soalheiro, mas a indústria pesada e os poços de petróleo em constante laboração fazem com que uma permanente nuvem de poluição envolva as principais cidades, pelo que o sol raramente se vê em Bucareste. Um problema acrescido à frágil indústria turística romena, como tantos outros, mas cujos desenvolvimentos recentes dão motivos de esperança num futuro melhor.

quinta-feira, setembro 17, 2009

Pólvora seca em véspera de eleições
António Preto e Helena Lopes da Costa não são propriamente pessoas devedoras de grande credibilidade. O facto de fazerem parte de qualquer lista eleitoral é matéria sobrenatural para lá da compreensão humana. Espanta-me que haja quem tenha a menor ideia de neles votar seja para o que for, excepto talvez os familiares e amigos. Por isso não me custa a crer que as jogadas internas de voto censitário no PSD de que são agora acusados sejam mesmo verdadeiras.
Sabe-se que apoiam Manuel Ferreira Leite e são candidatos às legislativas por Lisboa. No PSD diz-se "que o assunto já não é novo e que foi “ressuscitado” agora “por causa da campanha eleitoral”.
Por mais grave que seja - ainda que, sendo assunto interno de um partido, não se revista da mesma gravidade que teria caso envolvesse instituições e dinheiros públicos - parece haver aqui claras semelhanças com o que se passou antes das eleições de 2005. Na altura, é bom recordá-lo, surgiu o caso Freeport vindo do nada, através de uma denúncia anónima e amplamente publicitada por O Independente. O objectivo político de tramar Sócrates estava lá escarrapachado, o passa- palavra popular "isto apareceu agora para tramá-lo" começou a correr e por isso mesmo o tiro saiu pela culatra e o PS ganhou com a maioria que nos tem governado desde então.
Terá esta notícia sobre a compra de votos mais desenvolvimentos e impacto? Talvez Ferreira Leite, se se recordar de 2005, esperará que sim. Com toda a certeza a história iria apenas trazer mais votos ao PSD, com todo o aspecto de arranjo político que parece vir colado.

segunda-feira, setembro 14, 2009

Assim vale a pena

Ir ao Restelo (estádio que não conhecia), convidado para ver o jogo, numa tarde soalheira e com uma maré vermelha no interior do recinto é sempre apelativo. Se dá para ver o Benfica a golear com os Jerónimos, o Tejo e os transatlânticos como cenário do fundo, melhor ainda. Tal como aconteceu ontem, em que uma equipa terrivelmente eficaz não deu hipóteses a um Belenenses de poucas ideias. Tudo isto num ambiente fantástico, com o público a cantar ininterruptamente com a marcha do marcador. E, repita-se, à tarde, como "antigamente". Únicos senãos: os acessos e as bilheteiras do estádio, a precisar de arranjos, e ter perdido o meu velho cachecol do Benfica; como estava com uma camisola do Steaua de Bucareste (azul e vermelha, portanto), ninguém saberia dizer qual dos clubes estava a apoiar. Pequenas misérias à parte, uma óptima tarde de futebol, antecedida de uns pasteis de Belém, e um "Benfica à Benfica". assim vale a pena.

(Imagem tirada daqui)

sexta-feira, setembro 11, 2009

As explicações de Carolina
Eis a explicação que se exigia; Carolina Patrocínio quebrou enfim o silêncio sobre a crucial questão das frutas sem caroço e da tarefa da empregada nesse contexto.E ficamos também a saber que Pedro Granger não precisa que ninguém lhe tire os caroços das cerejas. E também que Carolina é "uma jovem de convicções". Na alta política onde a "mandatária para a juventude" da campanha do PS se move, é essencial saber com quem podemos contar. Falta apenas desvendar se aquela história do "detesto perder, prefiro fazer batota" não é nada daquilo que se ficou a pensar.

quinta-feira, setembro 10, 2009

Andie McDowell em Vila Real?



Abre hoje a primeira edição do Douro Film Harvest, espalhado em localidades como Vila Real, Lamego, Régua e Torre de Moncorvo. Para já, a pergunta que se impõe é: Andie McDowell irá mesmo à sessão em sua homenagem no Teatro de Vila Real? Só acredito vendo (embora infelizmente eu não possa lá ir). Caso não altere a sua agenda, será um sucesso imenso para o jovem acontecimento. Porque nós merecemos, como diria a própria num dos seus estafados anúncios a cremes hidratantes.

Já agora, Milos Forman também prometeu aparecer em Lamego, noutra sessão. E Kyle Eastwood, filho do grande Clint, irá tocar no Pinhão com a sua banda de jazz.

E depois do Douro Film, chega-nos o Douro Jazz. Não há dúvida, a região está finalmente a desenvolver o seu incrível potencial. Que assim continue. Mais vale tarde do que nunca.
Adenda: Sim, Andie McDowell veio mesmo à cerimónia de Vila Real, com ligeiro atraso e palavras de circunstância ("tenho muito a descobrir em Portugal"). Devo-lhe as minhas desculpas porque duvidei da sua vinda. Endereçá-las-ei pessoalmente na sua próxima estadia no nosso país.
A imobilidade das lideranças

Não ando muito a par da pré-campanha e acompanhei apenas em parte os debates entre os principais candidatos. Do caso "Fim do Jornal Nacional" fiquei com a ideia, tal como a maioria das pessoas, que se tratava de um favor desastrado sem aviso prévio a Sócrates e que o prejudicou mais do que ajudou (embora as lágrimas de Moura Guedes pouco efeito façam no meu coração empedernido).
Constato é outra coisa, óbvia mas inquietante para todos os que falam na "renovação do panorama político": os líderes partidários , com excepção de Manuel Ferreira Leite (que pese o facto de ser mulher, é tudo menos uma imagem de frescura e novidade na política), são os mesmíssimos de há 4 anos. Sócrates é o chefe de Governo que pretende manter-se no poder mesmo sabendo que a maioria absoluta já lá vai; Jerónimo, para a média de tempo que os SGs do PCP ocupam no lugar, até está há pouco tempo; Portas, na ânsia do poder, não soube fazer a travessia do deserto que se impunha e voltou a reger o Caldas; Louçã, esse, camuflado no cargo de "coordenador" do BE, para dar uma ideia de "libertarianismo" e "democracia popular" como se não houvesse hierarquias, é o eterno rosto do Bloco. Depois há quem porque é que cada vez menos os partidos atraem. Fácil de ver, não é?

quarta-feira, setembro 02, 2009

Chegada

Chegada a capital, depois de atravessar os Carpatos. Aldeias ao longo da estrada, com telhados inclinados e portoes de madeira, carrocas por toda a parte, caes pela estrada fora e cidades magnificas e multicolores, no meio de extensos vales rodeados de picos majestosos, eis a impressao com que fiquei da Transilvania. Ainda assim, estafado pelas muitas horas de carro. A ver vamos o que nos reserva a palna Val]aquia.