quarta-feira, dezembro 05, 2007

Duzentos anos de travessia transatlântica

Duzentos anos (e uma semana) da partida da Família Real para o Brasil. Um acontecimento não comemorado mas relembrado vezes suficientes para não passar despercebido. A discussão sobre se terá sido uma jogada inteligente ou covarde - em parte lançada pelo interessante Império à Deriva - continua, mas as opiniões inclinam-se para a segunda. Também me parece que a opção embarque para os trópicos era a mais acertada. Por muito humilhante e desconfortável que fosse, por muito que parecesse submissão aos ingleses (que disso se aproveitaram vilmente), ficarem teria sido imensamente pior. A reclusão em Queluz ou Mafra, com perda de posses e direitos, o ataque às nossas colónias por parte dos ingleses, talvez até o exílio para França, ou coisa pior

Em contrapartida, a fuga da Família Real permitiu mais tarde que o Brasil declarasse a independência. Claro que isso não seria previsível de imediato, apesar de algumas revoltas esporádicas, mas o progresso que a colónia recebeu com a injecção de personalidades e importância e a libertação do seu comércio (e das suas forças), aliados à "promoção" à categoria de Reino, juntamente com a metrópole, conduziu inevitavelmente à separação quando D. João VI regressou à Europa. Uma separação bem menos dolorosa do que a que ocorreu no Séc. XX das colónias africanas ou asiáticas, e que permitiu ao Brasil tornar-se numa potência regional sem secessões nem demasiada instabilidade política, como os seus vizinhos. Uma certa ideia de ligação permaneceu sempre no imaginário, sobretudo dos portugueses; já nos anos sessenta do Séc. XX houve quem advogasse o fim das alianças com a Inglaterra e EUA e formasse a "aliança lusíada". Resta saber se as antigas terras de Vera Cruz estariam muito interessadas.


De qualquer dos modos, parece-me que D. João VI, apesar de todos os aspectos negativos que lhe apontam (indecisão, cobardia, fraca inteligência, etc), cumpriu o seu papel de forma competente, envolvido que estava no turbilhão revolucionário da altura e numa família pouco carinhosa. Merece o respeito dos portugueses e a admiração dos brasileiros. E a estátua que lhe fizeram no Porto, no Castelo do Queijo. Pena é que a tenham virado para oeste, e não para sudoeste, onde estava antes, e colocado uma espécie de paragem de autocarro como pedestal.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ola Joao

Visita o meu blog quando tiveres tempo e nao te esquecas de comentar

repubblicafiorentina.blogspot.com

De um amigo