Leio a primeira parte deste post e não posso conter o desacordo. É certo que o francês é uma sombra do que era. Na Indochina, poucos são os mais novos que o falam, no Pacífico restringe-se aos "departamentos ultramarinos", na América do Sul contenta-se com a Guiana. Mas ainda é língua de peso na Europa, onde mais a Leste a francofonia tem autoridade, em África, especialmente no Magrebe, e no Quebec. Além do mais, o "soçobrar como língua literária" parece-me exagerado. Para quem pensava isso, eis o Nobel distinguindo Le Clezio. E depois, um idioma que tanto contribuiu para a literatura universal não perde a sua grandeza de um século para o outro. As farsas de Rabelais, os dramas de Corneille, as comédias de Moliére, os ensaios de Montaigne, os pensamentos de Montesquieu e Voltaire, o romantismo de Hugo e Lamartine, o realismo de Zola e de Sthendal, as aventuras dos Dumas, as novelas de Daudet, o universo de Proust, a experiência de vida de Malraux, o existencialismo de Camus e Sartre, tudo isso é matéria sem a qual a Europa e o Mundo não seriam o que são hoje.
É precisamente a "industrialização da cultura" que torna o francês mais rarefeito. Ligado a uma certa ideia de elegância e de allure, nega-se hoje em dia essa língua por não vir acompanhada da desenvoltura fácil do bad english ou do espanhol atamancado, para não falar do "spanglish". À parte epifenómenos culturais como a FNAC, que não exigem qualquer fidelidade linguística, o francês dá-se mal com a massificação e permanece um esteio de selectividade cultural.
Ainda assim, não creio que o francês como língua, assim como referência cultural, esteja enterrado fora de França. Poderá ser a influência que tive desde tenra idade (e que me levou a falar francês antes do inglês) a ditar-me esta ideia, mas há pontas para se lhe pegar. Com a influência da Francofonia em África, será uma língua a tomar em conta a médio prazo. Da mesma forma, com um certo empobrecimento do inglês, tomará o seu lugar dominante na Europa, até pela importância que tem em países como a Roménia. Não será certamente uma língua universal, mas estará acima de toda a subestimação de que tem vindo a ser alvo de há umas décadas para cá, para gáudio sobretudo de anglo-saxónicos militantes, que fora da cultura dominante e do idioma aprendido em versão americana em frente à TV, pouco sabem.
4 comentários:
Andaste na escola francesa e não tens com quem falar, certo?
:) é mais não ver quem saiba sequer uns rudimentos. A prática da fala deixo-a para quem a tem como língua materna
Vai Trabalhar Malandro!!!!
"A prática da fala deixo-a para quem a tem como língua materna"...
Prétentieux! Présomptueux! C'est tout ce que je me rappelle...
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