É incrível como os mais improváveis peões surgem do desespero para salvar as figuras bigger than life, mesmo as grotescas. Na Quarta à noite jogava-se a passagem para o Mundial da África do Sul de duas míticas selecções de futebol. À carga emocional e histórica do jogo acrescia o facto de se tratar do mesmo cenário e dos mesmos actores da final do primeiro Mundial de futebol, em 1930: o estádio Centenário, em Montevideu, Uruguai contra Argentina. Nesses tempos longínquos os jogadores da camisola celeste bateram o enorme vizinho da margem sul do Rio da Prata, criando uma rivalidade entre irmãos que periodicamente se renova em partidas como esta.
Agora, no meio de futebol mal jogado, com lances muito duros (Maxi Pereira por mais do que uma vez ia lesionando Di Maria) e alguns jogadores inexplicavelmente a titulares, o resultado acabou por ser ditado pelo mal amado Bolatti, emprestado pelo Porto a um clube argentino, que deu a vitória e o apuramento ao seu país no templo desportivo uruguaio, a poucos minutos do fim. Menos do que o que faltava quando no anterior (e igualmente decisivo) jogo da Argentina contra o Peru, Martin Palermo, o veterano avançado que um dia falhou três penaltis no mesmo jogo, deu nos descontos a vitória aos das Pampas, aguentando-a na contenda definitivamente decidida em Montevideu.
Resta aos desiludidos Charruas uruguaios classificar-se no play-off. Maradona, esse, rebentando no seu anoraque qual boneco da Michelin azul-escuro, passou em meia hora da euforia saltitante à acusação ressentida. Só na América do Sul do "realismo mágico"é que a loucura e beleza do futebol alcança tais possibilidades literárias . Esperemos agora que o Uruguai se classifique e que a Argentina encontre a Inglaterra de Fabio Capello na África do Sul.
Nenhum comentário:
Postar um comentário