Está em marcha a "candidatura ibérica" ao Mundial de futebol de 2009. As federações espanhola e portuguesa já chegaram a acordo, sob o lema "dois povos, um objectivo", e nos próximos dias apresentam o logótipo.
Gostei muito do Euro 2004 e do ambiente do Mundial 2006. Falando do primeiro, lançaram-no com o pomposo e patético subtítulo não-oficial de "grande desígnio nacional". Vivemos em permanente festa durante quase um mês, o turismo e o comércio tiveram uma grande subida e ficamos com estádio amplos e modernos. Simplesmente, os recintos revelaram-se sobre-dimensionados, em especial os de Leiria e Aveiro (agora o do Bessa), a festa passou e o crescimento económico revelou-se pontual. Ficámos com um conjunto de elefantes brancos que endividaram as respectivas autarquias.
Sob pretexto de se aproveitarem os estádios, começou-se a falar de uma candidatura conjunta com Espanha ao mundial de 2018. E a coisa avançou mesmo. Só que agora vêm-nos dizer que afinal de contas a FIFA só aceita estádios com um mínimo de quarenta mil lugares. Resultado: só a Luz, Dragão e Alvalade é que preenchem o requisito de capacidade. O resto, que era o grande pretexto para o Mundial, fica de fora.
Se a palavra "candidatura ibérica" me deixa de pé atrás, a absoluta desnecessidade deste evento, por nada acrescentar ao país, deixa-me absolutamente do contra. Os benefícios irão quase todos por inteiro para os do costume, isto é, os grandes aglomerados urbanos de Lisboa e Porto. Espanha colherá os louros do Mundial e beneficiará de maior visibilidade, já que só havendo três estádios do lado português com certeza que só contarão para a abertura do evento ou uma meia final, e nunca os dois. A Portugal ficará reservado o lugar de parceiro pobre, com estádios a apodrecer por falta de uso (e mais uma mentira sobre o seu aproveitamento), com a benesse única de melhorar o seu turismo naquele ano.
A consequência máxima é uma maior dependência face à Espanha. Depois da económica, viria a desportiva e até a mediática. Daria a impressão de um estado ibérico único, sob a égide de Madrid. Seria bom relembrar que Portugal não só é um estado muito mais antigo que a Espanha e que quando esteve mais próximo de nada beneficiou, em especial depois do desastre de Alcácer-Quibir, sob os Filipes, em crescente caminho para se tornar uma mera província. Há sempre, como sabemos, os "iberistas" locais de ocasião, que nos atiram para cima com os dados económicos dos últimos trinta anos (até o facto de haver melhor futebol já ouvi!). Mas para além dos números de poucas décadas e outros elementos utilitaristas, não ouço grandes argumentos. Pergunto-me porque é que não se mudam para Espanha e adquirem a respectiva nacionalidade, deixando o grosso dos portugueses em paz. Claro que depois teriam de aguentar com os problemas dos vizinhos sem queixumes.
Os algarvios já vieram reclamar, e com razão, que a ausência de uma estrutura como o Estádio do Algarve não faz sentido. Na sua bacoquice habitual, Gilberto Madaíl nada disse de nota. O projecto da sua vida parece ser entrar no Mundial mesmo como figura subalterna, mero talo de apoio a uma Espanha pujante. Pudesse eu decidir pela Federação, e só aceitaria o torneio a meias se entrassem cinco a sete estádios portugueses, nenhum deles dos clubes grandes, que já têm uso que chegue. Se a FIFA e a federação espanhola não aceitassem, passassem bem. De mentiras, projectos faraónicos de baixo uso, deslumbramentos perigosos e subserviência perante a vizinhança já estamos fartos. Nestas condições, só absolutamente contra este projecto de mundial ibérico de futebol, contrário aos interesses de Portugal, e espero que seja outra candidatura a ganhar.
2 comentários:
Concordo contigo em absoluto...um abraço
Meirinha, concordo contigo em absoluto...um abraço
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