quinta-feira, outubro 30, 2008


Apologia do francês como língua



Leio a primeira parte deste post e não posso conter o desacordo. É certo que o francês é uma sombra do que era. Na Indochina, poucos são os mais novos que o falam, no Pacífico restringe-se aos "departamentos ultramarinos", na América do Sul contenta-se com a Guiana. Mas ainda é língua de peso na Europa, onde mais a Leste a francofonia tem autoridade, em África, especialmente no Magrebe, e no Quebec. Além do mais, o "soçobrar como língua literária" parece-me exagerado. Para quem pensava isso, eis o Nobel distinguindo Le Clezio. E depois, um idioma que tanto contribuiu para a literatura universal não perde a sua grandeza de um século para o outro. As farsas de Rabelais, os dramas de Corneille, as comédias de Moliére, os ensaios de Montaigne, os pensamentos de Montesquieu e Voltaire, o romantismo de Hugo e Lamartine, o realismo de Zola e de Sthendal, as aventuras dos Dumas, as novelas de Daudet, o universo de Proust, a experiência de vida de Malraux, o existencialismo de Camus e Sartre, tudo isso é matéria sem a qual a Europa e o Mundo não seriam o que são hoje.

É precisamente a "industrialização da cultura" que torna o francês mais rarefeito. Ligado a uma certa ideia de elegância e de allure, nega-se hoje em dia essa língua por não vir acompanhada da desenvoltura fácil do bad english ou do espanhol atamancado, para não falar do "spanglish". À parte epifenómenos culturais como a FNAC, que não exigem qualquer fidelidade linguística, o francês dá-se mal com a massificação e permanece um esteio de selectividade cultural.

Ainda assim, não creio que o francês como língua, assim como referência cultural, esteja enterrado fora de França. Poderá ser a influência que tive desde tenra idade (e que me levou a falar francês antes do inglês) a ditar-me esta ideia, mas há pontas para se lhe pegar. Com a influência da Francofonia em África, será uma língua a tomar em conta a médio prazo. Da mesma forma, com um certo empobrecimento do inglês, tomará o seu lugar dominante na Europa, até pela importância que tem em países como a Roménia. Não será certamente uma língua universal, mas estará acima de toda a subestimação de que tem vindo a ser alvo de há umas décadas para cá, para gáudio sobretudo de anglo-saxónicos militantes, que fora da cultura dominante e do idioma aprendido em versão americana em frente à TV, pouco sabem.

segunda-feira, outubro 27, 2008

E a Vitória não fugiu
Tinha acabado de levantar o bilhete para o jogo que já ia começar e eis que senão vejo um conjunto de pessoas a apontar para um ponto acima das suas cabeças. Surpresa. a águia Vitória não fizera o voo do costume e tinha-se escapulido para fora do estádio. Pairava ao lado dos prédios vizinhos da Luz e por baixo de viadutos sob vias rápidas. Calculo o atarantamento da pobre ave. Mas vi logo um mau prenúncio naquela fuga da Vitória. Que na primeira parte do jogo parecia que se ia materializar.
Um SMS chegado ao intervalo afirmava que o bicho já tinha sido recolhido. Parecia um episódio insólito, uma águia voando perdida em plena cidade (mas não inédito: um tio meu, especialista em aves de rapina no Parque Nacional da Peneda Gerês, teve uma durante muito tempo, até que o passarão escapou pelos céus do Porto, e nunca mais ninguém o viu). Certo é que depois disso se completou o feliz desenlace: o Benfica ganhou mesmo à bem estruturada Naval, embora sofridamente, e chegou-se à frente da tabela classificativa, ultrapassando o Porto, vítima do Leixões de José Mota.
Adivinham-se os títulos dos jornais desportivos daqui a umas horas: "Benfica agarra Vitória", ou "Vitória afinal não escapou", ou também "Fuga da Vitória não tira os três pontos". Aposto que um destes pelo menos vai surgir nos escaparates.

sexta-feira, outubro 24, 2008

A leitura das regionais
As eleições regionais dos Açores não trouxeram grandes novidades de monta. Houve-as, mas a um plano insusceptível de mudar o rumo de governação do arquipélago, como a demissão de Costa Neves e novas entradas na Assembleia Regional. O que me deixa mais expectante são as previsões que daí resultaram. Disse Sócrates que estes resultados marcam "um novo ciclo eleitoral". É aí que residem as minhas dúvidas. Semelhantes interrogações passaram por aqui.
O PS renovou a maioria absoluta sem espinhas, mas caiu uns pontos e perdeu um deputado. O PSD é o grande derrotado: sem a máscara de uma coligação, teve o seu pior resultado de sempre, o que custou a cabeça ao seu líder. Longe vão os tempos em que Mota Amaral obtinha pujantes maiorias sem grande esforço.
Dessas descidas resultou uma polarização de votos e uma balcanização de mandatos que terá poucas consequências visto o PS possuir uma maioria suficiente. Mas os restantes partidos podem dar-se por satisfeitos: o CDS/PP cresceu inequivocamente e ficou perto dos 10%, o BE estreia-se em terras onde não goza de grande popularidade, a CDU regressa à Assembleia de onde tinha saído em 2004, e o PPM ficou em segundo lugar no corvo e ganhou também um mandato.
Se um novo ciclo eleitoral está lançado, isso pode ter diversas leituras. Uma delas, contrariamente à que o Primeiro Ministro pretende fazer passar, é que o PS perderá votos e provavelmente a maioria absoluta no próximo ano; que o PSD não recuperará do desaire de 2005; que o Bloco crescerá ou estabilizará, tal como a CDU; e que o PP, mais uma vez, resistirá à hecatombe anunciada. O PPM foge a estas ideias, não se sabendo ainda como concorrerá. Isto é o que se pode retirar da vitória de César e outros resultados, e que implicaria uma futura AR ingovernável. No entanto, é bom lembrar que os Açores não são o barómetro do país. E que o nome lançado para candidato do PSD à câmara de Lisboa, Santana Lopes (esse gato da política), era o chefe de governo onde se incluía...Costa Neves.
conclusões? Poucas. Estas eleições foram regionais e assim deveriam ser tomadas. Até porque quando César se retirar, todo este cenário se desconjuntará.

quinta-feira, outubro 23, 2008

A estreia num cenário mítico

Amanhã o Benfica terá o supremo privilégio de jogar no Olímpico de Berlim. Sim, o mesmo que albergou os Jogos de 1936, nos quais Hitler levantou-se furibundo para não premiar Jesse Owens, e onde setenta anos mais tarde, Zidane aplicou a Materazzi a mais famosa cabeçada de sempre dos Mundiais de Futebol, hipotecando o título do Mundo no último jogo da sua carreira. O mesmo que já lavou a face várias vezes, mas que nunca perdeu as suas características primordiais. De 1998, quando o visitei, até 2006, o mítico recinto levou uma cobertura e novas cadeiras, mas nem por isso perdeu a sua beleza nem a sua majestade.


É verdade que o SLB já esteve na maioria dos grandes estádios mundiais, mas há sempre novas visitas a registar. Este ano, depois do San Paolo, de Nápoles, seguiu-se o grandioso anfiteatro alemão, em confronto contra o Hertha local (outra estreia). Esperemos que o resultado seja a condizer e que haja algum decoro depois da paupérrima partida contra o Penafiel. Respeito, pede-se. E o recinto do jogo merece-o.

terça-feira, outubro 21, 2008

Jorg Haider



Pedem-me mais atrás para falar em Jorg Haider, desaparecido num acidente de automóvel há uns dias pouco tempo depois dos resultados de peso obtidos pelo seu partido nas legislativas austríacas. Seja.


Estive a poucos metros (e creio que o vi fugidiamente) do líder populista austríaco um ano e tal depois dos surpreendentes resultados que levaram o seu FPOe ao governo do país. Estava-se em véspera de eleições municipais e Haider deslocou-se da sua Caríntia até à imperial Viena para fazer um comício. Como por esses dias estava na capital austríaca, e movido pela curiosidade de ver tal ajuntamento, resolvi, com uns amigos, ir até ao evento, que se dava no Prater. Mal informados da sua localização, chegámos já no fim, quando a multidão começava a dispersar sob a chuva misturada com neve. Uma pouca sorte, mas deu para ver que não faltavam simpatizantes do movimento. Escusado será dizer que não havia muitas faces que não andassem pelo tipo germânico.
Nessa altura, o FPOe partilhava o governo como o OVP, conservador, depois da enorme votação nas legislativas de 1999. Como se sabe, o resultado provocou frisson na UE, na altura sob presidência portuguesa, que de imediato estabeleceu sanções à Áustria. De nada adiantaram, mas também nada digno de nota sucedeu em Viena. E em 2002, em novas eleições, o FPOe dava uma enorme queda eleitoral e saía do governo.

Haider, o rosto de toda essa história, não chegou a encabeçar o executivo. Já estava à frente do FPOe desde 1986 e tinha-o guindado de partido folclórico e pouco expressivo até à casa dos vinte por cento. Preferiu ficar como Governador da sua Caríntia, no sul do país, acima da eslovénia. Aliás, uma das polémicas em que Haider se viu envolvido foi exactamente a proibição do uso do esloveno a nível oficial, contrarinado as instâncias judiciais austríacas, que decidiram que a região tinha mesmo outra língua a par do alemão.
Outra polémica aconteceu quando visitou Saddam Hussein, no Iraque, mostrando-lhe a sua solidariedade quando já se antevia a invasão daquele país. A provocação não deixou os Estados Unidos indiferentes, mas Haider respondeu dizendo inclusivamente que Bush era um criminoso que devia ser julgado em tribunal internacional.
Depois, claro, as célebres alusões ao Nacional Socialismo em tom condescendente e até elogioso, e ainda as suas ideias anti-emigração e anti-Islão. As reuniões com velhos elementos ds SS, essas "pessoas decentes", como lhes chamou, foram o corolário disso mesmo.


Lutas internas fizeram com que abandonasse o seu partido de sempre e formasse outro movimento, o BZOe, com a mesmíssima ideologia. Assim, coexistiam dois partidos com as mesmas ideias populistas e xenófobas, separados apenas por questões pessoais.


A morte de Haider levou logo muitos a falar de "atentado" e "sabotagem". Mas quem se estampou a 14o à hora com 1,8 de álcool no sangue não precisaria certamente de intervenção de outrém para se matar. Este desaparecimento, como alguns dizem, poderá ter esbatido as más relações entre os dois movimentos idênticos desavindos e poderá juntá-los no futuro, sobretudo agora, quando em conjunto obtiveram 28% dos votos nas últimas legislativas, o que até poderá levar a uma coligação contra natura com os socialistas do SPO.


Apesar de todas as suas ideias duvidosas ou até execráveis, não me parece que Haider fosse o monstro que muitos diziam ser. Não expulsou emigrantes em massa, não formou pelotões de execução, nem construiu campos de concentração. A morte dele (que se diria um desastre nacional ao ver todo o aparato e as palavras de pesar da classe política austríaca) não me deixa particularmente trise nem aos saltos. Mas pode ter reunido de novo a direita mais radical da Áustria e servir de exemplo a outros países, passando a ser considerado quase um mártir (ou um aviso aos condutores para não beberem). Se assim for, não haja dúvida de que era preferível que estivesse vivo.
Um silêncio ensurdecedor
Ouve-se em blogues, revistas e cartas aos jornais que o escândalo da atribuição de casas por valores irrisórios, pela CM de Lisboa, a uma quantidade de gente da confiança dos seus responsáveis, está "envolvida em silêncio", ou "é um caso de que ninguém fala". Essas mesmas críticas encarregam-se de demonstrar precisamente o contrário. Aliás, não houve orgão de comunicação social ou blogue que não tivesse falado no assunto (este blogue é uma excepção, reconheço), exemplificando beneficiários, apontando o dedo a alguns "culpados" e bramindo contra o "estado das coisas". Só gostava de saber o que mais queriam. Os responsáveis atirados para as masmorras? Autos de Fé para quem ocupou aquelas casas? O caso merece atenção e diivulgação e revela bem o espírito de compadrio e o sistema de cunhas existente na nossa sociedade, mormente nas autarquias. Mas tenhamos um pouco mais de bom senso: não há aqui homicídios ou violações. Denunciemos o que há a denunciar sem fazer disto um caso de proporções inimagináveis. E acima de tudo, não se use o "ninguém fala" precisamente quando todos falam. Para que a indignção não ande sempre a par do ridículo.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Sugestão

Quem estiver em Lisboa, tiver tempo e não lhe apetecer ver o Portugal-albânia desde o início pode sempre aproveitar para ir à Cinemateca, às 19.00 horas, para ver Absence of Malice/A Calúnia, no ciclo de homenagem ao recentemente desaparecido Sidney Pollack. Como o filme é protagonizado por Paul Newman, acaba por ser uma dupla homenagem.

O desvario Republicano


Já que estou numa de criticar Republicanos, aproveito para virar baterias para o outro lado do Atlântico. Ainda não tinha escrito nada acerca do acontecimento maior da estação, as eleições presidenciais americanas que se avizinham. A campanha está ao rubro, e só não se ouve falar mais por causa da crise financeira que nos assola (e que também está no centro do debate pré-eleitoral).

Se Barack Obama já era um candidato com quem simpatizava, desde a sua eleição para Senador do Ilinois, aliás, na fatídica noite de recondução de W. Bush ao poder, agora ainda desejo mais a sua escolha. Não só porque parece trazer um sopro de confiança aos EUA e ao mundo, porque é ambicioso e sabe bem o terreno que pisa (além de ter votado contra a invasão do Iraque), mas também por razões negativas. john McCain é um candidato respeitável, e pena é que os Republicanos não tenham apostado nele há oito anos. Mas a criatura que escolheu para sua-vice provoca calafrios. Não pelas suas posições morais ou conservadoras, totalmente legítimas e de acordo com os valores de grande parte dos americanos. Mas a impreparação, a avacuidade e a ignorÂncia da srª Sarah Palin, que precisa de cábulas e de "cursos intensivos" de relações internacionais em cavaqueira com alguns "líderes mundiais", jamais a recomendariam para semelhante cargo. Acresce que a senhora, que provocou uma orgia nacionalista na sua aparição na Convenção Republicana, surge agora com truques baixos, acusando Obama de ser "amigo de terroristas". Essa conversa de sarjeta tem barbas, mas como demonstra o Herdeiro de Aécio, terroristas podem ter diversas ideologias e motivações, e vir até de uma área política próxima da de Palin. Esperemos é que o tiro saia pela culatra da espingarda da calúnia desta louca, que como não podia deixar de ser promove entusiasticamente o excepcionalismo americano e quer que a Geórgia adira à NATO propositadamente para afrontar a Rússia.



O que admira é que alguns conservadores da nossa praça a elogiem e a defendam, ou porque é "mulher", "sabe caçar e pescar" (qualidades indispensáveis para o exercício do cargo), ou ainda por causa dos ataques dos "esquerdistas" e "progressistas". Ora até se admite que alguns desses ataques sejam injustos e despropositados; mas também me parece que quem a defende o faz mais para confrontar e aborrecer a esquerda e menos por realmente se reconhecer nela. É a tal boutade de direita" de que falava Pedro Mexia, tal como aconteceu em grande parte na discussão sobre a invasão do Iraque, e cujas consequências ainda se arrastam. Mais vontade de contrariar, em suma, do que real convicção. Um birra que se pegada aos americanos teria sérios efeitos. Mas acredito que o eleitorado não repita o erro de há quatro anos. Assim o espero, se a obtusidade não dominar. Definitivamente, Palin só mesmo Michael.



Ainda outra coisa: eu farto-me de ouvir dizer que a senhora é "uma brasa", ou "uma lasca" e outros epítetos mais adequados a Deusas do Olimpo. Tudo porque chegou a Dama de Honor num concurso dos anos oitenta para Miss Alasca. Ainda se tratasse de uma Timoshenko, ou de uma Segoléne, ainda concordaria. Está tudo doido, ou só eu é que a acho uma mulher absolutamente vulgar?

domingo, outubro 12, 2008

Dia chato

De manhã, carta a anunciar recusa de emprego. Depois, notícia de que os fundos de investimento retirados há dias para a conta à ordem desceram ainda mais do que se esperava (mais do que o dia da ordem de venda). À tarde, confusões bancárias e saldo negativo na conta, o que durante meia hora espalhou o desnorte no cérebro até o erro estar resolvido e conseguir enfim comprar o bilhete de comboio para o Porto (a uma Sexta à tarde e com 2 Euros no bolso, acreditem que é desagradável). Finalmente, no Intercidades a abarrotar, sentado num daqueles bancos virados para o de trás, sem mesa ou qualquer objecto a dividir os passageiros, ouço o anúncio de que o serviço de bar "está suspenso". Três horas com fome e sede sem sair do lugar custam, mas já agora, e tendo em conta outros problemas ferroviários, ouso perguntar aos senhores da CP: não se justifica uma ligeira descida dos preços como compensação à falta de serviços básicos? Ou andarão a poupar para a futura alta velocidade?

Toponímia republicana



Dizem as regras da toponímia que se devem conservar os nomes tradicionais dos arruamentos, mormente se consagram uma recordação importante, como a do nome do local que existia nesse espaço numa época passada. Não se deve mudar em prol de um acontecimento ou figura de existência recente, excepto se já houver outra artéria ao lado com o mesmo nome, uma travessa ou um beco, por exemplo.
Essas regras nem sempre foram seguidas em Portugal, como se sabe. Normalmente eram quebradas pelos vários regimes políticos que se quiseram perpetuar no tempo e na memória. Caso exemplificativo é o do amplo terreiro à frente do Mosteiro de Alcobaça, que se chamou Praça Oliveira Salazar no Estado Novo e se chama hoje Praça 25 de Abril. Antes disso, era simplesmente o Rossio. Aliás, o mais conhecido espaço com esse nome, em Lisboa, também mudou oficialmente nos anos setenta, passando a constar das missivas e mapas urbanos como Praça D. Pedro IV. Por sua vez, o Rei-Soldado, que dava nome à antiga Praça Nova do Porto, o largo central da cidade oitocentista, perdeu o nome para Praça da Liberdade, sendo que temos hoje o absurdo de não haver na cidade qualquer artéria com o nome de D. Pedro IV, que até deixou o seu coração na Igreja da Lapa, em agradecimento à cidade que o acolheu durante as Guerras Liberais.



No processo de modificação do nome das ruas, nenhum regime se mostrou tão activo como a 1ª República. Por toda a parte os nomes foram alterados ao saber dos novos donos do país, e velhas ruas e praças das principais localidades viram-se renomeadas com nomes outubristas. Surgiram assim as novas artérias da república, de cinco de Outubro, ou dos "heróis" e propagandistas republicanos. Quem se passear por Lisboa, sobretudo nas Avenidas Novas, encontrará fatalmente os habituais Elias Garcia, João Crisóstomo, António José de Almeida, etc. E isso também explica a razão de praças centenárias, como a de Viana do Castelo, terem ganho "República" no nome. Mas a maior marca do processo de lavagem foram os milhares de "Cândido dos Reis" e "Miguel Bombarda" que nasceram como cogumelos. Duas figuras que, tendo morrido nas vésperas de cinco de Outubro, um porque se matou, outro porque um doente do manicómio que dirigia o assassinou, foram guindados a "mártires" e serviram para dar nome de ruas e avenidas. Não há concelho no país que não tenha uma destas figuras, cuja importância na história portuguesa é residual e datada, a decorar o letreiro da rua. Em compensação, muitas figuras maiores estarão com certeza ausentes da toponímia local. É difícil explicar a quem não sabe porque razão é que os dois sobrevalorizados activistas ocupam espaços tão relevantes - muitas vezes os largos principais de algumas localidades - tendo uma relevância tão pequena. Quantos Padres António Vieira ou D. Diniz, por exemplo, haverá na mesma proporção?
Essa ocupação hiperbólica da República demonstra não somente o carácter quase "santificado" dessa empresa como também uma certa insegurança ao nível da sua própria justificação, o que obrigou a que o regime, quando tomou o poder, tivesse de fazer uma gigantesca lavagem histórica e toponímica para impor os novos "heróis". Sendo "mártires", os dois finados seriam como que os novos "santos" republicanos a que urgia prestar respeito, e que por isso tinham os seus nomes em locais visíveis ao cidadão comum. Assim encontrou a 1ª República uma forma duvidosa de marcar o seu domínio, refazendo a história portuguesa e instaurando novas personalidades, de forma a criar uma sociedade radicalmente diferente, à sua imagem. Assim também a alteração de alguns símbolos, como a bandeira, ou a introdução da figura feminina meia desnudada.
Não houve, como se disse no início, regime algum que não tivesse a tentação de marcar a sua própria toponímia. Mas a República, como em tudo o resto, mostrou-se radical e caiu no ridículo de consagrar duas figuras que as pessoas, hoje em dia, não reconhecem ou ouviram falar vagamente. Lembro-me de uma entrevista de Miguel Esteves Cardoso a Francisco Louçã, em que os dois confessavam não saber quem era o Almirante Reis que dá o nome à avenida lisboeta. Não sei se não sabiam mesmo ou se não lhes ocorreu, mas o certo é que deu uma amostra da pouca importância de dois vultos usados para que um regime que não tinha o apoio da maioria do povo se impusesse de forma mais dominadora.

quarta-feira, outubro 08, 2008

Os sapos da Diplomacia
Portugal reconheceu a "Grande Albânia". Algum dia tinha de acontecer. Mas aceita-se a decisão do governo em reconhecer a independência do Kosovo, muito embora esse processo seja um disparate pegado no seu todo. Face às circunstâncias e com um processo que parece irreverssível, Portugal pouco podia fazer para contrariar o absurdo da 2ª Albânia. As razões demonstradas reflectem o pragmatismo por vezes cínico, mas indispensável da Diplomacia, e não é à toa que a portuguesa sempre se mostrou eficaz. Mas repare-se que há um tom de cedência por causa de um faco consumado e porque pouco se ganharia em recusar, mas não uma aceitação de bom grado ou por causas morais. Ao mesmo tempo, pisca-se o olho à Sérvia, com compreensão, como quem diz "nós não queríamos, mas não tivemos alternativa". O difícil jogo da Diplomacia obriga por vezes a engolir sapos e à tomada de decisões como esta.

terça-feira, outubro 07, 2008

Centenário em marcha
Continuando com a data a que atrás se alude, o Centenário da República, blogue e plataforma, depois de um início algo parado, está definitivamente em marcha. Um grupo sólido de escribas, com cultura, argumentário eficaz e conhecimento de causa, e que vai da área do PS até ao miguelismo, demonstrará nos tempos próximos, como o tem vindo a fazer, a natureza negra e autoritária da 1ª República. O mesmo regime que a actual 3ª República pretende homenagear daqui a exactamente 2 anos, louvando-o como causa e produto de actos heróicos (dos quais o primeiro foi, como se sabe, o Regicídio). E a imprensa já começou a despertar para a sua actividade. Há que desejar-lhe a melhor sorte na sempre necessária desmistificação da história.

domingo, outubro 05, 2008

Inspiradoras


A cinco de Outubro, nunca é demais trautear as canções inspiradoras de Portugal, ou rever a legítima bandeira





E ainda:

http://www.imeem.com/hertzonline/music/aFwwlKiQ/vitorino_maria_da_fonte/

Bom Domingo

Dinis Machado 1930-2008



Depois de Paul Newman, outra morte de certa forma anunciada. Digo isto pela evidente debilidade física que Dinis Machado apresentava numa entrevista que deu há coisa de ano e meio ao Público.

Quando se fala neste escritor nado e crescido no Bairro Alto vem logo à memória o inclassificável O que Diz Molero, dos anos setenta. A obra ganhou algum fôlego anos mais tarde numa recriação teatral de José Pedro Gomes e António Feio (brilhantemente interpretada, aliás), a cuja última representação assisti, no Teatro S. João, e onde no fim chamaram ao palco o próprio Dinis Machado. Mas o autor não se ficou por aí. Trabalhou toda a vida como jornalista, desportivo e não só, e sabe-se como o microcosmos do Bairro Alto era em tempos idos o cenário ideal para essa actividade. Escreveu outros livros, entre os quais, por pressões editoriais e necessidades materiais, um punhado de romances policiais, com o pseudónimo Dennis McShade, dos quais se reeditou recentemente, via Público e agora Assírio e Alvim, A Mão Direita do Diabo. Estão já prometido que os outros dois sairão do prelo até ao fim do ano. Sem o saber, a editora estava já a preparar uma futura homenagem a Dinis Machado. Ler os seus policiais noirs será outra boa forma de recordarmos esta riquíssima autor que agora nos deixou.

sábado, outubro 04, 2008

Campânia fora da UEFA



Custou, cansou, mas valeu a pena e o bilhete. Já era tempo. Vinte e dois anos sem eliminar equipas italianas era demais, mas quebrou-se enfim a "maldição". Lembra-me 2005-06, em que exorcizamos consecutivamente Manchester United e Liverpool, outras bêtes noires. Se assim é, que venha o Milan, então.
Dez cidades de Espanha

...que gostava de conhecer e ainda não tive oportunidade:

-Cádis
-Toledo
-Granada
-Leon
-Córdova
-Zamora
-Ávila
-Alcalá de Henares
-Santander
-Segovia

Também nunca estive em Barcelona, ou Valência, mas dessas fala-se tanto que acaba por se perder toda a curiosidade.