terça-feira, maio 31, 2011
Os legítimos detentores da "resolução"
A campanha eleitoral decorre sem grandes rasgos ou novidades de maior, excepto a quase ausência de outdoors. Qualquer declaração potencialmente mais abrasiva ou "politicamente incorrecta" é uma notícia em si. Assim, não surpreende que as respostas de Pedro Passos Coelho às questões levantadas pela Rádio Renascença sobre a questão ao aborto tivessem causado um turbilhão de recriminações, aproveitamentos descarados e urros indignados, não sei se por deficiências interpretativas ou por mera total ausência de aceitar ideias alheias.
Passos Coelho é a favor da actual lei, como esclareceu aos microfones, e não pretende alterá-la mas tão somente melhorar a sua supervisão e analisar se está ou não a ser correctamente aplicada, de forma a não tornar o aborto num meio contraceptivo. Não é, claro está, a minha opinião, já que discordo da actual lei onde o aborto não é meramente despenalizado, tendo-se tornado uma prática comum financiada pelo estado. e como não acho que um feto de 10 semanas seja meramente um apêndice sem vida, moralmente não podia discordar mais disso.
Mas consigo perceber a ideia de Passos Coelho, e mais ainda o comentário de tolerância para quem não pensa da mesma forma: a legitimidade de um grupo que perdeu uma causa em referendo poder voltar a exigir nova consulta popular (com algum intervalo de tempo).
Essa legitimidade é recusada por muitos que defendem a actual lei, e que consideram que qualquer mudança seria um "retrocesso" e o regresso "às trevas" e à "Idade Média". Isso verificou-se no habitual censor da esquerda radical, Francisco Louçã, que acha que a lei anterior "só é defendida por uma minoria ultra-reaccionária" e que Portugal "já está no século XXI". Deixando de lado os habituais determinismos temporais de que "a sociedade não volta para trás", seria bom saber em que é que o coordenador do Bloco se baseia para falar em "minorias" (que de resto está habituado a apoiar, por mais ridículas que sejam). Se pensarmos que em 2007, num referendo cuja abstenção foi superior a 50%, 41% dos eleitores votaram "não", é caso para perguntar qual é o conceito de minorias para Louçã. Semelhante ideia exprimiram outros conhecidos defensores do aborto livre, como Vital Moreira, ainda hoje no Público, e mesmo o editorial deste diário, que ultimamente anda a resvalar para o absurdo.
De todo este "caso" retive duas ideias, cada uma mais inquietante do que a outra: a de que não falta gente que, ao contrário do que dizia na campanha dos referendos, e a fazer fé nos comentários facebookeanos à notícia, são "a favor da aborto", e não meramente à sua despenalização; e que os que se opõem à legalização dessa prática não têm o direito nem a legitimidade de exigir alterações à lei nem um hipotético futuro referendo, ainda que os seus defensores o tenham feito durante anos a fio, mesmo depois de derrotados, porque era preciso "resolver a questão".
Estará a questão resolvida? Quem é que decide isso? Os senhores defensores da "IVG" têm o exclusivo? Às vezes retroceder não é pior, sobretudo se se tiver com um precipício em frente.
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sábado, maio 28, 2011
Não culpem o dia
Creio que nunca tinha havido um caso tão grave no Dia da Defesa Nacional como o que aconteceu há dias à rapariga que morreu de uma queda quando fazia slide. Pelo menos é o que asseguram os responsáveis das forças Armadas que, diga-se em abono da verdade, não perderam tempo a ordenar um inquérito imediato do sucedido. Aproveitando o drama do Quartel da Serra do Pilar, alguns "pacifistas" já vieram exigir o fim do Dia da Defesa Nacional (instituído no seguimento do fim do serviço militar obrigatório, e a que todos os jovens têm de comparecer no ano em que chegam à maioridade). Não estão sós: alguns periódicos, como o Público, seguem a mesma ideia, como se pode comprovar na coluna da última página de Sábado deste jornal, que considera que a tragédia "vem dar razão aos que querem acabar com essa absurda obrigatoriedade".
Absurda, pergunto eu? Talvez para os que julguem que o mundo é um lugar muito pacífico, que basta não haver forças armadas e nada, em tempo algum, nos poderá acontecer, que são "práticas medievais", etc. Acontece que apesar de há quase dois séculos não sofrermos nenhuma invasão, não fazemos ideia do que o futuro nos reserva. Podiam também recordar que temos uma grande Zona Económica Exclusiva, que convém vigiar, que não raras vezes a nossa força aérea precisa de ir buscar cidadãos portugueses em apuros, como aconteceu recentemente na Líbia, que fazemos parte de organizações e que temos obrigações a cumprir em intervenções externas, etc. (talvez este último ponto não seja grande argumento perante quem grafite e grite "Portugal fora da NATO!"). em suma, as forças armadas são necessárias e são um dos pilares de um país. não havendo serviço militar obrigatório, entende-se perfeitamente a necessidade de uma jornada semelhante. Não fosse isso, e as novas gerações nem saberiam que temos umas forças armadas.
Para além do mais, os desportos mais radicais, como o que vitimou a infeliz rapariga, nem são obrigatórios. Não houve qualquer ordem no sentido de deslizarem num cordame de aço nos pátios do histórico quartel de Gaia. Por isso, os opositores ou cépticos do Dia da Defesa Nacional gastariam menos esforços se não usassem jargões pouco convincentes (e já agora, se não usassem a torpeza de utilizar dramas para os seus objectivos ideológicos) e se cingissem às verdadeiras causas dos acidentes que merecem um tratamento o mais rigorosos possível, o apuramento de responsabilidades e a certeza de que não voltarão a repetir-se. Tudo resto é conversa fiada de gentinha irresponsável.
terça-feira, maio 24, 2011
Do isqueiros ao i-phone
No soberbo concerto que os National deram ontem no coliseu, não faltou a já previsível comunhão da banda com o público, com o vocalista Matt Berninger a percorrer as coxias e a ir até ao fundo da sala, convivendo efusivamente com a plateia em delírio, e o final acústico, um clímax sereno. Mas dei-me conta de uma marca dos tempos: os tradicionais isqueiros, que costumavam acompanhar as baladas, desapareceram, substituídos pelos telemóveis e i-phones. Não há concerto hoje que não tenha um testemunho de três minutos. As luzes permanecem, mas sutentadas em baterias e digitalismos, e não mais em combustível. Terríveis tempos tecnológicos, estes.
Apenas ficou a faltar isto:
Apenas ficou a faltar isto:
segunda-feira, maio 23, 2011
As gracinhas de Frau Merckel
As recentes declarações de Angela Merckel sobre a quantidade de dias de férias e a idade da reforma em Portugal, entre outros países, trazem consigo os germes do populismo e do autoritarismo encapotado. Fazer acusações tão levianas sem dados rigorosos nem ao menos próximos da realidade mostram que a actual Chanceler continua na senda da caça - ou manutenção - dos votos depois dos desastres que foram as eleições nos Lander, onde até os Verdes suplantaram a CDU, e que não hesita em recorrer ao mais patético populismo para o conseguir, mesmo que os resultados saiam pela culatra, como o provam as imediatas críticas da oposição.
Para além disso, e da óbvia humilhação que tenta lançar aos visados (mostra clarissimamente o que é a solidariedade europeia hoje em dia), arroga-se no direito de dizer aos outros como devem regular os seus sistemas sociais internos. Tanto Portugal como a Grécia, e outros, precisam de fazer reformas na administração pública, segurança social (aqui precisam todos, sob pena de falirem em poucas décadas) e economia, nos seus variados sectores. Mas quem o pode fazer são os respectivos governantes, supervisionados pelos orgãos comunitários competentes, ou por instituições com as quais tenham celebrados acordos, como aconteceu recentemente com o FMI e o BCE. Que Merckel, essa ambígua frau em cujas mãos os alemães depositaram o poder executivo, se ache no direito de mandar bocas para o seu eleitorado sem sequer estar na posse de dados válidos, demonstra apenas mais uma vez esta tendência alemã de viragem para o autoritarismo, não já com Anchluss e Panzers, mas enviando ordens económicas de longe, desdenhosa e altiva. Khol e Schmidt, estadistas com obra, bem se fartam de dar preciosos avisos, mas esta Bundesrepublik parece bem diferente da que existiu nos últimos sessenta anos, e certas decisões da política externa, como o veto no conselho de Segurança da ONU à intervenção na Líbia, são mais prova cabal disso mesmo. Fazer comparações com o Terceiro Reich será abusivo, mas o vírus autoritário e expannsionista, ainda que sob outras formas menos belicistas, está lá.
Bem esteve o MNE ao chamar o embaixador alemão para lhe comunicar o desagrado com a gracinha de frau Merckel. Há um limite para tudo, mas nem sempre os teutões o respeitam.
quinta-feira, maio 19, 2011
terça-feira, maio 17, 2011
Sarko, le rigolos, ou os pecados de DSK?
O escândalo Strauss-Kahn apanhou toda a gente desprevenida, excepto os que lhe conheciam a fama. Lê-se um pouco de tudo, desde os que conheciam e já temiam as suas investidas bruscas (como Sarkozy) sobre o "sexo fraco", aos que rapidamente se apressaram a bradar que tudo não passava de uma conspiração para arrasar a carreira de DSK. Mas de quem? De Sarkozy, que assim afastaria o seu provável adversário nas presidenciais, com enormes probabilidades, segundo reza(va)m as sondagens, de o retirar do Eliseu, como não acontecia desde 1981? Dos Estados Unidos, que urdindo um golpes de cadeiras no FMI, conseguiriram tirar um europeu - para mais um francês - da cadeira da famosa instituição financeira? De inimigos internos no PS francês?
Desgraçadamente para Strauss-Kahn, parece que o único culpado é o próprio. A sua fama precedia-o, e os pormenores do caso de perseguição da empregada do quarto do hotel só a vêm confirmar. Sabe-se que os americanos são implacáveis nestes questões (lembram-se de Clinton e as estagiárias?), e não perderam tempo a deter o garboso Dominic, de forma particularmente humilhante, quando ele já se encontrava dentro do avião, levando-o para o exterior devidamente algemado. Mais do que quaisquer explicações, as imagens de DSK a ser levado pela polícia, ou na barra do tribunal, com a barba por fazer, são fatais. Sejam quais forem as sentenças, o seu cargo à frente do FMI já era, e a enorme probabilidade de se candidatar (e ganhar) à presidência do Hexágono caiu por terra. Parece que em matéria de eleições presidenciais, Miterrand deixou uma autêntica maldição aos seus sucessores partidários: nunca mais o PS conseguiu entrar no Eliseu, e depois da recusa inesperada de Delors em 1995, da humilhação de Jospin em 2002, e da derrota de Segolène em 2007, esboroaram-se agora as probabilidades que tinha em lá chegar, com um escândalo como não se via desde o Caso Profumo. Sarko não será tão rigolos a ponto de tramar tudo isso, mas tem enormíssimas razões para abrir uma garrafa de Veuve-Cliquot. ainda para mais quando se sabe que Carla Bruni está grávida. O que significa que quase de certeza que os franceses terão que aguentar com o frenético magiar-descendente durante mais uns anos.
segunda-feira, maio 16, 2011
Alegre espanto
Devo dizer que recebi a notícia da atribuição do Prémio Camões a Manuel António Pina com certo espanto. E mais espantado fiquei quando soube que a decisão tinha sido tomada por unanimidade, e com curta duração na escolha. Talvez pela familiaridade que o autor me desperta, por julgar sempre que estes prémios vão para nomes consagradíssimos conhecidos no mundo inteiro, parecia-me complicado ser ele o galardoado.
Ou então por, algo alheio à poesia, não conhecer tão bem a sua obra poética como o seu talento de cronista. No tasco onde habitualmente tomo o café da manhã, pego muitas vezes no policial JN de propósito para ler as suas crónicas na coluna direita da última página, e raras vezes saio arrependido. Uma das últimas, aliás, sobre Marinho Pinto, é deliciosa no seu sarcasmo prudente com que mimoseia o Bastonário. Mas que a leitura de Pina não se fique por aqui e se estenda ao resto da sua obra - obrigação que eu próprio deveria seguir.
O que interessa é que o maior prémio literário de língua portuguesa fica com ele. Não sei a opinião da maior parte dos homens de letras (essa classe tão complicada e dada às invejazinhas de carreira) lusófonos, mas por mim fiquei radiante, depois do pasmo inicial, e se o encontrar aí pela Boavista, ou numa qualquer sessão da Feira do Livro, dou-lhe imediatamente os parabéns. É mais um prémio de grande vulto para uma figura da cultura portuense, depois do galardão de Eduardo Souto Moura, embora a maioria ignore e prefira dar relevo às diatribes do sr. Pinto da Costa e sus muchachos.
Um grande bem haja, Manuel António Pina.
O futuro do acordo
Decididamente, não se percebe. Agora que os homens da Troika (horrível termo, que muito deve agradar a Jerónimo de Sousa mas que devia dar uma processo disciplinar a quem o cunhou para esta situação), os partidos que aprovaram o plano não se entendem não só quanto à sua aplicação, mas também sobre alguns pontos acordados. O PSD quer ir mais além, o PS distorce vários pontos - já desde o anúncio do "excelente acordo", em que se revelou o que não se ia fazer, escondendo o pior - o CDS-PP já tinha proposto tudo "mas ninguém quis saber na altura". Abstraindo da extrema-esquerda, que como sempre nada apresenta de alternativo (ou então são coisas de fazer arrepiar o maior leigo em questões económicas), dir-se-ia que se prossegue no caminho da demência.
Para mais, e muito embora o plano acordado tenha alguns pontos positivos, embora duros, que podem alterar realmente a pesadíssima super-estrutura estadual, trazem alguns pontos controversos, como a da reestruturação local. Extinguir municípios seria a maior estupidez possível, mas disso falaremos mais tarde. Para já, fiquemo-nos pelas taxas elevadas cobradas pela UE, que implicam um esforço considerável para pagar o empréstimo, coisa que Sócrates não disse logo ao país para nos fazer crer no melhor dos mundos. Irónico como o FMI é sempre tratado como o mau da fita (embora já não sejam os "homens sem rosto"), e a simpática UE, sempre tão pródiga em fundos, é quem nos cobra a maior taxa. Que dirá o Dr. Constâncio?
quinta-feira, maio 12, 2011
De novo os Harlan
Tinha falado há pouco tempo sobre a vida e obra de Thomas Harlan. Hoje, no suplemento P2 do Público, Ivan Nunes deixa um extenso artigo com a mesma matéria, revista e aumentada, e a perturbadora relação entre o realizador de esquerda radical e o seu pai, cineasta dilecto do nazismo. Vale a pena a leitura.
sábado, maio 07, 2011
Uma beatificação a pedido?
A beatificação de João Paulo II foi não só uma massiva demonstração de apreço pelo anterior Papa, bem demonstrado pelas imensas multidões que pernoitaram em vigília, mas também um momento de emoção, daqueles que só personalidades carismáticas, que carregam a força da fé, podem transmitir. Mas aqui pode também residir um problema ao processo de beatificação, além de outras críticas à mesma, que não conheço bem ou não subscrevo. O Papa Bento XVI reconheceu que tinha prescindido do tempo necessário para iniciar o necessário processo (cinco anos após a morte), excepcionalmente rápido. Ao recordar-me do enorme brado "Santo Subito" por alturas das cerimónias fúnebres do Papa polaco vindo das massas de fieis, pergunto-me se a Igreja não terá cedido ao "apelo popular" e à vontade pontual e emocional, em lugar de conduzir os normais procedimentos destes casos, contidos no direito canónico e nas regras para as causas dos Santos. Em suma, se não terá corrido atrás da espuma dos tempos para agradar a uns tantos, como quando acontece quando acaba (desnecessariamente, por vezes) com algumas tradições, ou cede a histerias ou manifestações fáceis por compensações de ocasião. Não sei se é o caso, mas espero que haja algum cuidado. Mal estaremos se a Igreja correr atrás de modas sem razões substantivas para isso.
sexta-feira, maio 06, 2011
Breve nota sobre o real enlace
Os acontecimentos, internos e externos, sucedem-se a um ritmo vertiginoso, e eu sem tempo (ou paciência) para alimentar o blogue. Contudo, para honrar o subtítulo deste espaço (na parte que diz "monárquico" e "católico"), impõe-se que deixe uns ligeiros comentários sobre o casamento real britânico e da beatificação do Papa João Paulo II.
Sobre o enlace, registei com agrado a enorme recepção aos noivos. Das "demonstrações de protesto", nem vê-las. Republicanos, islamitas, nacionalistas ingleses ou simples chatos foram submergidos pelas multidões que aclamavam William e Catherine. Desconfio que houve mais azedume nos comentários da net, dos suburbanos micro-burgueses soltando os costumeiros "estes inúteis a gastar o dinheiro do povo", do que nas ruas. O príncipe favorito dos britânicos está casado, o que é um enorme sinal de alívio. O facto da sua agora mulher vir da classe média não é factor negativo: ajuda a limpar o sangue - e todos sabem os problemas que a consanguinidade já trouxe a tantas dinastias - e dá uma imagem mais terrena, ou mais próxima "de todos nós", à família real. William já de si era próximo, porque os tempos mudam e os media são implacáveis, particularmente naquelas paragens. Em todo o caso, parece-me um casal bem diferente do que se casou há trinta anos. qualquer semelhança entre Diana e Middleton é pura coincidência resultante da intriga de revista cor de rosa. Kate tem um ar que em nada fica a dever à aristocracia, uma cara assaz simpática, e, como disse Pedro Mexia, aquela "cintura impossível".
Na cerimónia reparei no contraste entre a solenidade e a cor (havia lá parentes da família real que podiam perfeitamente lavar escadas em Baguim do Monte). David Beckham era o único de chapéu alto, gravata sem colarinho e colete negro, como exige a etiqueta em cerimónias religiosas. Curioso como um futebolista demonstra ser o mais clássico de uma tal cerimónia. Suponho que o Professor Espada terá apreciado.
quarta-feira, maio 04, 2011
E agora, Muammar?
Há no entanto uma pessoa para quem o desaparecimento de Osama Bin Laden deve deixar sentimentos ambivalentes: Muammar Kadhafi. Se por um lado vê um adversário feroz (e potencial inspirador de movimentos jihadistas na líbia) liquidado, por outro perde o argumento de que os rebeldes eram "jovens drogados" apoiados por Bin Laden, que pretenderiam estabelecer um "emirado islâmico" na Líbia. Pode é ser mais um pretexto para o seu derrube. Do mal o menos, por agora o coronel sobreviveu ao criador da Al Qaeda.
O fim de um mito do terror
As reacções à morte de Osama Bin Laden são sobretudo de júbilo, mas nas notícias veiculadas pelo Facebook encontrei muito azedume. Desde a desconfiança à morte do inspirador da Jihad até ao já clássicos "terroristas são os americanos", e "se quisessem justiça levavam era o Bush para o tribunal", havia de tudo. Calculo que tenha havido muita gente que ficou de trombas com a bombástica notícia. Mas acredito que a maioria se tenha regozijado com o fim do homem que na última década personificava o terrorismo e o medo. Pode-se sempre dizer que "não deve haver alegria pela morte de ninguém". Assim devia ser, cristã e moralmente. Mas as pessoas não são de ferro, e os nervos também não. Daí perceber perfeitamente as multidões que no Ground Zero e em Washington saíram à rua a festejar o acontecimento. Aquela gente sofreu os planos de Bin Laden na pele, viu aviões a estampar-se nas suas cidades, guiados por fanáticos; nada mais natural que comemorar o fim do homem que deu azo a tudo isso. Não garanto que se estivesse lá, não faria sairia também à rua.
Para lá das ameaças que se têm de enfrentar e dos inevitáveis actos de vingança por parte das redes islâmicas, há que reconhecer que se tratou de uma operação extremamente bem sucedida. Até o anúncio esteve muitos furos acima da cowboyada indigna que tinha sido a captura de Saddam. Barack Obama vê a sua popularidade subir enormemente à conta de liquidar o inimigo nº 1 da América. Até os habituais falcões se tiveram de render a este êxito colossal. Esperemos que muitos dos entusiastas da Jihad se rendam também, desmoralizados com o fim da sua figura inspiradora.
segunda-feira, maio 02, 2011
G produzido em série
Houve tempo em que pensei que G era um meio álbum limitado oferecido pel´Os Golpes a todos os que se dispuseram a ir ver a apresentação ao vivo de Vá Lá Senhora, com Rui Pregal da Cunha vestido à Napoleão e tudo. Pensava que era um dos felizes contemplados com o CD em capa de couro, com o monograma "G" gravado e os esboços da ponte Luiz I no próprio disco, recordação de uma noite superlativa no Hard Club. E que mais tarde seria uma recordação rara de um registo de uma banda marcante inícios dos anos 10 deste século.
Acontece que Vá Lá, Senhora galgou Youtubes, passou por galas de televisões e pela Operação Triunfo, até que chegou às telenovelas. Aí, Os Golpes renderam-se aos pedidos das massas e colocaram G à venda nas lojas. Agora, todo aquele que estiver munido de menos de 10 €uros pode ficar com o suporte materal e mais um versão de Paixão, dos Herois do Mar. Acabou-se a exclusividade de que pensava ser um dos raros detentores. Mas fica pelo menos o consolo de saber que capa em pele, só os nossos. O disco agora lançado não tem a beleza gráfica nem o pormenor deluxe do álbum primordial. Há que separar o artefacto original do produto industrial em série.
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