terça-feira, junho 30, 2009

Pina Bausch 1940 - 2009

No ano passado, quando a companhia de dança de Wuppertal veio a Portugal actuar no CCB, tive a oportunidade de ir ver o espectáculo com bilhete oferecido, mas como era em cima da hora e não conseguiria chegar a tempo tive de declinar, pensando "haverá outras oportunidades de ver um espectáculo de Pina Bausch".


Afinal não houve nem haverá. Depois de uma curta e letal doença, a dançarina e coreógrafa alemã, provavelmente a mais famosa do Mundo, despediu-se hoje, deixando órfã a dança contemporânea.
A Feira dos Pucarinhos de S. Pedro

Neste dia e na noite que passou, como já disse no post anterior, é S. Pedro o festejado, a encerrar o triunvirato de Santos Populares de Junho. Em Portugal, o portador das chaves dos Céus é celebrado em variadíssimos sítios, desde as largadas de touros do Montijo e respectivas procissões fluviais pelos esteiros do Tejo ao fogo de artifício dos pescadores da Afurada, passando pelas rusgas dos bairros da Póvoa de Varzim.

O S. Pedro que conheço é o de Vila Real. Oficialmente, o feriado é no Santo António, mas o mais festejado é mesmo o Pescador. Na noite de 28 para 29 de Junho o Largo da Capela Nova, dominado pela construção barroca de Nasoni, enche-se do artesanato da região: é a Feira dos Pucarinhos, em que os artesãos locais expõem as suas obras. Pelo chão espalham-se inúmeras peças da louça negra de Bisalhães - roscas, cântaros, travessas, bilhas, há de tudo, como na farmácia. Actualmente existem apenas quatro artesãos, mas já foram várias dezenas. Os tempos não perdoam. Ao lado, outra importante peça do artesanato local, os linhos da Agarez, também são postos à venda pelos seus laboriosos artistas. A meio, passam os fregueses ou simples curiosos, admirando as peças de barro e de linho. Perto, jogava-se ao panelo, que consistia numa roda de pessoas, em que se vai atirando uma panela de barro preto de uma pessoa para a outra, sem deixar cair no chão, cada vez mais rápido, e mais rápido, até que se parta. Quem o deixar cair ao chão tem de comprar nova peça...e o jogo recomeça.


Tinha uma ideia vaga dessas noites em que o chão do largo se enchia de objectos maravilhosos, mesmo que por vezes toscos, ou até por causa disso. Recentemente voltei a ir à Feira dos Pucarinhos. No largo, tudo se distribuía como esperava. Já pelas ruas circundantes do centro histórico abundavam outros tipos de artesanato e até peças africanas, bugigangas, quinquilharia, etc. A Avenida Carvalho Araújo, artéria central da cidade, estava quase toda transformada em feira, e a que não estava tinha um palco animado por bandas.


São os novos hábitos, que vão modificando o carácter das festas e dando-lhes novas formas. Os artesãos de louça negra e dos linhos são poucos, mas mantêm-se no posto, com novos concorrentes por perto. As ruas já não são pouso apenas para as tradicionais formas de artesanato. Mas nem tudo é tragado pela voragem dos tempos: o jogo do panelo, que quase tinha desaparecido, voltou a ser praticado por inúmeros grupos, como se comprova pelos cacos que se espalham pelo chão das ruelas. A feira continua, e pela noite fora as rodas de jogos multiplicam-se.

segunda-feira, junho 29, 2009

Pedro e Paulo


29 de Junho é dia de S. Pedro e S. Paulo. Normalmente, associa-se muito mais ao primeiro. É a Pedro que as festas populares são dedicadas, talvez pelo seu estatuto de discípulo de Cristo, de primeiro chefe da Igreja, cujas sandálias cabem a cada Sumo Pontífice; e sobretudo dever-se-à ao seu carácter humano, genuíno e simples, de homem sem grandes conhecimentos (era pescador), que segue Cristo por toda a parte, que desembainha a espada para O proteger, mas a quem por medo O nega três vezes, que fala sempre com o coração, que é o primeiro a reconhecer o Messias e que espalha a Sua palavra depois da Ascensão. No fundo, será o Santo com quem o homem comum terá mais empatia e mais facilidade em se identificar.

Paulo de Tarso é o "Apóstolo dos Gentios", um judeu com cidadania romana, de sólida educação e influências helenísticas, que depois da sua conversão pregou a Mensagem Cristã pela Ásia Menor, Grécia e, crê-se até à Península Ibérica. É o fundador da moral cristã e da separação desta dos velhos hábitos judaicos, que espalhou nas suas viagens e através das suas epístolas. A ele se deve a difusão do cristianismo fora da Palestina e a sua aceitação por vários povos.


Estas duas figuras maiores do cristianismo pouco têm em comum, e Pedro, o líder da Igreja, chegou mesmo a ser directamente repreendido pelo convertido Paulo. Um representa a simplicidade e o desapego de um homem que tudo largou para seguir a Cristo quando ouviu o chamamento. O outro é um carácter mais intelectual, o responsável do Cristianismo ter deixado de ser uma seita de judeus secessionistas, galgando o Mediterrâneo e alcançando novo estatuto em Roma e na Grécia, que lhe seria tão importante daí para a frente. Ambos, porém, tiveram a coragem de divulgar a Boa Nova com todos os perigos que isso acarretava. Ambos foram martirizados na Cidade Eterna. E ambos foram os verdadeiros fundadores da Igreja de Roma, apesar de toda a Cristandade os venerar.


Encerra-se hoje o Ano Paulino, dedicado a S. Paulo. Bento XVI quis assim homenagear o primeiro grande pensador cristão. S. Pedro está sempre presente em Roma, à vista de todos. A S. Paulo faltava alguma visibilidade, que não tem pelo seu próprio estatuto de "intelectual". Embora em alguns casos os dois sejam associados (como em nomes como a fortaleza de Pedro e Paulo, em são Petersburgo), um continuará a ser o santo popular e o outro uma espécie de Doutor da Igreja de estatuto superior. Mas o dia de hoje tem essa dupla importância: a de comemorar aqueles que são provavelmente, depois de Jesus, os dois homens mais importantes do Cristianismo

domingo, junho 28, 2009

Saviola


El Conejo já é do Benfica. Devo dizer que gosto muito do jogador, desde que ele se mudou de Buenos Aires para Barcelona (é ainda a aquisição mais cara de sempre dos culés). Teve um percurso mais incerto do que seria de esperar, andou pelo Mónaco e Sevilha, serviu ao Real Madrid para causar inveja (?) ao Barcelona e passou a maior parte da sua estadia entre os merengues no banco, tapado por outros avançados. Em Portugal, se não tiver lesões arreliadoras e jogar na sua posição, será um autêntico craque. A dupla com Cardozo e a sociedade com o seu amigo Aimar tem potencial para revelar futebol do melhor e causar estragos, inclusive nas competições europeias. A única coisa que me deixa um pé ligeiramente atrás são os cinco milhões de euros despendidos e o salário previsivelmente alto que Saviola irá ganhar, sobretudo quando se diz que não há dinheiro para Reyes. Com resultados financeiros negativos, sem ir à Liga dos Campeões e sem fazer (para já) grandes vendas, era bom que se tomasse cuidado nos gastos, que a vida só está fácil para o Real Madrid.


Curiosamente, a vinda do argentino faz com que as três grandes contratações do Barcelona no Verão de 2001 acabassem por vir parar a Portugal: Geovanni, Rochemback, e agora Saviola, com evidentes prejuízos financeiros para os blaugranas, que gastaram bastante dinheiro com a sua aquisição para os deixar ir por quase nada.
No Olimpo da música moderna


Se Michael Jackson desapareceu relativamente novo, há que não esquecer outros monstros sagrados da música do último século. Além de Lennon, assassinado à porta de casa, temos casos tragicamente semelhantes como Elvis, Piaf, Morrisson, Hendrix, Marley ou Brel (ou, noutra escala, Cobain). A morte prematura elevou-os à condição de lendas e impediu-os que envelhecessem em mansões de cinquenta quartos, realizando digressões pontuais e decadentes e relançando "ultimates collections" em nome da editora. Aos desaparecidos em actuação é o que os mantém imortais. Jackson tem companheiros à altura no Olimpo da música moderna.

sexta-feira, junho 26, 2009

Michael Jackson 1958-2009



Ainda que não seja totalmente surpreendente, por todos os problemas que o "Rei da Pop"tinha de sobra, tanto que se especulava se poderia fazer nova tournée agendada para Julho, a notícia repentina da morte de Michael Jackson não deixa de impressionar. Nunca fui particularmente fã da sua música, mas é inegável que marcou uma época e que se tornou autenticamente num dos grandes ícones do fim do Sec. XX. Não esquecer que é o seu o disco mais vendido da história - Thriller, de 1982, com mais de quarenta milhões de cópias vendidas - além de outros êxitos maiores, como Bad, Dangerous ou HIStory, que não impediram porém de contrair imensas dívidas. Para além de todas os escândalos, controvérsias, taras e problemas de saúde que o levariam a este triste desfecho, fica para a história um dos mais famosos músicos de sempre, dançarino de excepção, cujas músicas e sobretudo os fabulosos telediscos se tornaram uma marca da cultura do seu tempo.
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PS: ainda protagonizou uma aventura juvenil no Porto, em pleno S. João. Consegue-se imaginá-lo a jogar à bola com os miúdos da Ribeira?

quarta-feira, junho 24, 2009

900 anos?


Onde? Guimarães? Coimbra? Viseu?

terça-feira, junho 23, 2009

Outro S. João perdido

Esta noite, de 23 para 24, tem lugar um dos mais grandiosos e genuínos festejos populares: o S. João. O profeta do Jordão, primo de Jesus, que segundo as escrituras vestia-se de pele de camelo, comia gafanhotos e mel e foi supliciado sob os caprichos de Salomé, tornou-se um santo popular e "rapioqueiro", ao qual são dedicadas as mais brejeiras quadras. É em Braga, Vila do Conde, Gaia (menos a Afurada, que prefere S. Pedro) e principalmente no Porto, além de outras localidades, que o santo é mais festejado. Nem sequer é o padroeiro portuense oficial (lugares ocupados por Nossa Senhora da Vandoma e pelo quase anónimo S. Pantaleão), mas nem por isso deixa de ser o patrono de uma das noites mais longas do ano.

Pelo quarto ano consecutivo, e por razões diferentes, não vou poder ir ao santo do meu nome e da minha cidade. Mais uma vez adio as sardinhas, o convívio, o martelo de plástico com o seu som característico, o espectáculo dos balões de ar quente a salpicar o céu e os bailaricos de rua, que nos últimos tempos acabavam em Nevogilde. Ou a repetição da única vez que do muro da Ribeira vi o fogo de artifício da meia-noite, lançado da ponte e do rio, fazendo depois o percurso pedestre até à Foz (parando em todos os arraiais), onde já no Molhe se via sempre o dia a nascer. E nem terei enfim a oportunidade de ver como são as Fontainhas nesta noite mágica, com a cascata sanjoanina e a sua vista para o Douro. E tantas, tantas tradições que vêm de longe e se mantêm.

(Fotos tiradas do Cidade Surpreendente).

A quem puder ir, que se divirta o mais que puder e um bom S. João!
O paraíso somali



Assim como a vizinha Etiópia é a terra prometida dos Rastafarianos, a Somália é a terra prometida dos libertarians, neo-liberais e anarco-capitalistas de todo o mundo. Uma terra sem governos controladores, onde o Free Market, Free Minds é a única regra. Laissez faire, laissez passer, rumo ao paraíso sem regulação somali.

(Via Estado Sentido)

segunda-feira, junho 22, 2009

"Eixo do Mal" em evidência


Tenho acompanhado o processo pós-eleitoral do Irão saltitando entre interesse pela evolução dos acontecimentos e a indiferença da sorte dos persas. Se os protestos contra os resultados oficiais são massivos, duvida-se que sejam suficientes para uma mudança substancial do regime teocrático em vigor. Os Guardiões revolucionários aceitam nova recontagem de alguns votos, e os "moussavistas" exigem uma reeleição. O choque nas ruas era inevitável, mas talvez não passem de fúrias espontâneas que em alguns dias passem de moda. Recorde-se Tiananmen em 89, Praga em 68 ou Budapeste em 56: nenhuma delas alterou o que quer que fosse, excepto talvez algum endurecimento dos regimes que as abortaram. Até porque, mesmo que tenha havido fraudes na votação, deve haver um número substancial de apoiantes de Ahmadinejahd pouco disposto a grandes mudanças, pelo que o regime não cairia sem uma sangrenta guerra civil. Por seu lado, o passado de Moussavi inspira pouca ou nenhuma confiança, pelo seu papel fulcral na opressão sob as barbas de Khomeiny, e até por ter sido um dos poucos cuja candidatura o Conselho de Guardiões da Revolução aceitou, na sua restrita filtragem. Os seus apoiantes podem estar sedentos de mudança, mas o candidato nem tanto, ainda que possa ser um Humberto Delgado iraniano, voltado contra o regime que o criou, ou um Begin persa, com um passado violento mas que como estadista procurou a conciliação com adversários externos.

Ainda assim, os "revolucionários" da situação e adeptos de Ahmadinejad têm cometido erros, como a prisão de familiares do ex-Presidente Rafsanjani, e a utilização nos actos de maior repressão das manifestações de elementos do Hamas, que se encontram no Irão para serem treinados militarmente. a utilização de mercenários estrangeiros decerto que não cairá bem na população nem na comunidade internacional.


No extremo leste da Ásia, a outra metade restante do "Eixo do Mal", a Coreia do Norte intensifica os exercícios com mísseis que atingem uma distância cada vez maior. As sanções já foram propostas e aceites, mas Pyongyang afirma que as considera "um acto de guerra". Quando vê as coisas mal paradas, o paranóico regime kimjongilista ameaça logo com a guerra. Resta saber se se sente acossado e pretende mesmo incendiar tudo em redor, num acto de derradeira fúria suicida e assassina, ou se pretende com isso ganhar algumas vantagens económicas. Certo é que os vizinhos estão a perder a paciência com a insolência do povo do "Querido Líder" e estão dispostos a encostá-lo à parede para acabar com a eterna ameaça latente...ainda que isso comporte riscos óbvios.

sexta-feira, junho 19, 2009

Separados à nascença?











Bill Murray (à esquerda) e Claudio Ranieri (à direita).

terça-feira, junho 16, 2009

E a Feira do Livro regressou aos Aliados


A Feira do Livro do Porto, que acabou no domingo, esteve plantada este ano na Avenida dos Aliados. Já lá tinha estado, parece, noutros tempos, mas para mim, que só a conhecia na Rotunda da Boavista e no Palácio de Cristal, constitui uma novidade. É sempre grato ver um evento destes ao ar livre e no centro da cidade, mas fiquei com a sensação de que estava mais reduzida do que nos anos anteriores, por causa da limitação de espaço. Até porque já tinha passado pela Feira de Lisboa, no mais amplo Parque Eduardo VII, o que talvez me tenha deixado essa impressão. Outro problema era a chuva - nas duas vezes que lá passei - que como já é usual e alguns previam, marca sempre presença em tempos de Feira, como o pôde certamente comprovar José Mário Silva, que lá conheci no outro dia.


Ainda assim, era uma ideia antiga que se pôs em prática. Além do mais, pode ser que acontecimentos destes tragam mais pessoas à Baixa, que bem está precisada. Sempre permite, com os horários alargados, que mais gente passe pelos Aliados e disfarce aquela sensação de vazio em que o espaço central portuense se transforma ao final da tarde.
Provincianismos pseudo-urbanos

Ainda do Minho desiludi-me com o novo figurino da velha estrada entre Moledo e Vila Praia de Âncora. Repararam o pavimento que estava muito gasto e fizeram uma ciclovia, o que se aceita (apesar de eu ter feito dezenas de vezes aquele troço de bicicleta sem o menor problema). Pena é que o carácter rural nocturno tenha desaparecido com as dezenas de novos candeeiros eléctricos plantados de dois em dois metros, estrada fora. Transformou-se uma estrada bucólica numa avenida sem casas e para mais gasta-se imensa electricidade. E é para isto que se anda a montar parques eólicos no alto das serras. Ah, o progresso, o desejo de ser urbano e moderno de qualquer forma...


Outra demonstração da ânsia de "urbanidade" são as novas cidades e vilas. As candidatas ao galardão urbano lá conseguiram o seu objectivo: Senhora da Hora (tinha mesmo necessidade de vida urbana, com o Porto e Matosinhos do outro lado da estrada), Samora Correia, Borba, Valença e S. Pedro do Sul(!) são agora cidades. Os meus pequenos parabéns, mas tirando, e a muito custo, Valença (já que a única cidade do seu distrito era até agora Viana), considero que nenhuma delas o mereceria ser. Aliás, freguesia alguma deveria ser cidade, por maior que fosse. E os critérios de atribuição (sobretudo os "históricos, culturais e arquitectónicos") deviam ser mais rigorosos. Para já, reina a total discricionariedade.


Por causa desta vontade sem razão, vemos vilas medianas a alcançar este estatuto sem razão aparente. Já aqui deixei alguns exemplos. Dá-me arrepios só de pensar nas próximas a ser promovidas. Mais uma vez, a ânsia de ser urbano a todo o custo, de se poder dizer que se é "da cidade", de fugir da ruralidade como o diabo da cruz, leva não só a estes disparates como ao êxodo para os grandes centros urbanos, geralmente para os subúrbios, que crescem na directa proporção da desertificação dos centros. Um erro provinciano de resultados desastrosos. Como se viver numa aldeia ou vila, às vezes com outra qualidade de vida, fosse por si só uma vergonha. Provavelmente até o será, segundo a mentalidade pequeno-burguesa que converteu automaticamente a ruralidade em "atraso" e a vida urbana definitivamente em "evolução". Joguinhos semânticos mascarados de progresso, não percebendo que o mundo rural e o urbano são diferentes sem serem necessariamente inferiores ou superiores. E que além do mais foram os responsáveis por grande parte da destruição patrimonial do país, à boleia com o desaparecimento progressivo do espaço rural.

domingo, junho 14, 2009

Tradições minhotas de Monção a Tarascon

Aproveitei os feriados para ir ao Alto-Minho. Entre as celebrações do Corpo de Deus e a festa do mar em Âncora, só tardiamente me apercebi que em Monção era dia da ancestral Festa da Coca.


Como em todas as tradições em que S. Jorge mata o dragão, o combate entre o Bem e o Mal dá-se entre um cavaleiro e um gigantone com rodas, empurrado por vários homens, cobertos com a "carapaça" da coca, em forma de dragão malévolo, com um pescoço que se move. Tem lugar no centro da vila, na praça DeulaDeu, que relembra a grande heroína de Monção. O cavaleiro tem de cortar a orelha à Coca e só desta forma é considerado vencedor. O problema é por vezes o próprio cavalo, que foge com medo da figura, provocando o riso geral e impossibilitando a façanha a "S. Jorge". Esta é a tal festa que perdi e que o meu pai chegou a assistir noutros tempos da sua infância, que passou por aquela vila debruçada sobre o Minho.



A representação da Coca lembra-me a Tarasque, o monstro lendário, de enormes dentes, forte carapaça e cauda de escorpião que atormentava a Provença, e que segundo a lenda, terá sido amansado por Santa Marta, que ali andava em evangelização. A cidade de Tarascon (também conhecida pelo célebre Tartarin de Tarascon, das novelas de aventuras de Alphonse Daudet) deveria o seu nome à Tarasque. Alguma ligação haverá entre esta tenebrosa criatura e a Coca, já que em algumas cidades de Espanha, nas procissões do Corpo de Deus, surgem figuras simbolizando a Tarasca. Mais ainda: Monção está geminada com Tarascon-sur-Ariége, que fica já perto dos Pirinéus mas cujo nome não deverá ser alheio à origem do da Tarascon da Provença. Mais indícios que indicam que entre a Tarasque e a Coca haverá um qualquer parentesco. E que há sempre um santo por perto capaz de os dominar.

terça-feira, junho 09, 2009

Benfica, Benfica...


O Benfica rescindiu com Quique, após várias semanas de indefinições em que as relações se envenenaram visivelmente. Contratou o Richard Gere do futebol português, porque "sabe como se joga em Portugal" e "é uma raposa" (embora tenha sido claramente derrotado em casa pelo espanhol, apesar de desfalques no Benfica e de uma arbitragem muito caseira). Talvez pela pelagem brilhante. Com isto tudo, gastou-se precioso dinheiro, quebrou-se outra projecto técnico e volta-se a mudar de treinador, de esquema de jogo, talvez de mais jogadores, etc. E atrasa-se a pré-época. Resultado mais que previsível: mais um ano medíocre.


Agora demitem-se à força os órgãos sociais do clube e antecipam-se em 3 meses as eleições gerais para "permitir mais estabilidade directiva" (i.e. não dar tempo a que outras listas tenham tempo de se formar convenientemente).

Se achava que o projecto de Vieira estava esgotado, agora ainda tenho mais razões para não querer saia. Nem só de basquete vive o Benfica.

Não sei em quem hei de votar (aquele Bruno Carvalho não convence nem Jesualdo Ferreira), mas dia 3 lá estarei a exercer os direitos e a cumprir os deveres que emanam do meu cartão de sócio.

segunda-feira, junho 08, 2009

Já a pensar nas legislativas


Depois das europeias já se fazem contas às legislativas. A SIC lançou uma sondagem que atribui perto de 40% ao PS. Depois dos despistes de hoje, será bom terem alguma cautela.


Entre as diferenças que se diz que podem fazer com que as legislativas tenham resultados diversos das europeias estão os seus candidatos. Sócrates será ele próprio o candidato e não terá de auxiliar um errático como Vital. Ferreira Leite não terá a combatividade e a imagem renovadora de Rangel; Portas não terá Nuno Melo nem Diogo Feyo, dois dos seus melhores deputados. Tudo isso é verdade, mas os diversos candidatos distritais aí estarão e terão uma palavra a dizer. Também os candidatos às autárquicas tentarão aproveitar a onda para os seus embates, logo a seguir, e vice-versa, sobretudo nas principais cidades - Rio e António Costa podem ser importantes muletas. Já agora, o Bloco também já não terá os candidatos às europeias, que lhe emprestaram uma aura de moderação. Com as tiradas de Louçã ("o PSD teve pouco mais do que em 2005 com Santana e isso não é vitória nenhuma") e Rosas ("nós comemoramos a consolidação eleitoral, outros o facto de não estarem mortos"), a demagogia costumeira pode afastar alguns eleitores que neles votaram como protesto.


Nota curiosa: Paulo Rangel e Diogo Feyo são da mesma idade, são conterrâneos, formaram-se no mesmo curso e tiveram percursos profissionais semelhantes; apenas divergiram na escolha partidária. Agora voltam a sentar-se lado a lado no Parlamento Europeu, na bancada do PPE, embora eleitos por partidos diferentes. Ele há coincidências engraçadas.

domingo, junho 07, 2009

Primeiras impressões da noite eleitoral


- Vitória do PSD por números não muito longe das sondagens
- Derrota incrível do PS, abaixo de qualquer previsão
- Subida grande do BE, dentro do que se esperava
- CDU com um bom resultado, por pouco não conseguia o 3º
- CDS-PP aguenta-se bem, e como sempre teve mais votos do que o anunciado
- Pequenos partidos aquém do que prometeram (o MEP conseguiu apenas 1,5% dos votos)
- Brancos e nulos inesperadamente elevados
- Abstenção igual a si própria nas europeias: enorme. E nem sequer estava bom tempo
Sócrates é o principal derrotado da noite; o seu rosto grave e sem sorrisos assim o denotava; Vital é o rosto da derrota, levando o PS ao seu pior resultado desde os anos oitenta. A campanha da vitimização e as acusações da "roubalheira" voltaram-se contra ele. Parece-me que o seu fugaz regresso a terreno eleitoral mais não foi do que o esboço de um zombie político, cuja carreira nessa área há muito tinha acabado.
A CDU tem um resultado melhor do que o previsto e por pouco não ia ao 3º lugar. Sem figuras de proa, é possível que a enorme manifestação em Lisboa lhes tenha dado outra dinâmica. O Bloco pode cantar vitória, pelo 3º lugar e 3º deputado, em cima da meta. Mais mérito de Portas e compagnons de route do que de Louçã, que já apareceu com as "superioridades morais" do costume.
O CDS-PP como sempre ficou além do que as sondagens previam e conseguiu mesmo a melhor percentagem de há sete anos para cá. Meteu dois deputados, contra todos os vaticínios, e tem legitimidade para estar satisfeito.
Vencedor da noite: Paulo Rangel. Manuela Ferreira Leite tem o seu mérito, como é evidente, mas Rangel, que apareceu há relativamente pouco tempo na política nacional, mostrou uma imagem de rigor e combatividade que era o tónico de que o partido provavelmente precisaria. A vitória é escassa, apesar da diferença de 5 pontos para o PS, mas imprimirá certamente uma maior dinâmica eleitoral ao PSD, que parte agora reforçado para novos combates.
Ainda ontem, num jantar com amigos que também travaram conhecimento com Rangel carteiras e nas orais da faculdade, havia quem dissesse que ele iria "ser um dia Primeiro-Ministro". não sei se isso vai acontecer ou não, mas o certo é que Paulo Rangel marcou hoje definitivamente o seu espaço e tornou-se uma figura de monta na política nacional.

sexta-feira, junho 05, 2009

O declínio dos comícios



No livro de memórias de Freitas do Amaral, (A Transição para a Democracia, Bertrand Editora), publicado há uns meses, está uma fotografia nas páginas centrais que mostra um comício do CDS no Porto, em 1976. Pasma-se perante a amplitude da manifestação, com gente a perder de vista, provavelmente enchendo toda a Avenida dos Aliados. Noutras imagens vêem-se outros comícios dos centristas, em Ponte de Lima, Trás-os-Montes e Póvoa do Varzim (ocupando toda a praça de touros). Durante o PREC havia manifestações gigantes, como os comícios de Soares na Fonte Luminosa e nas Antas, Otelo cobrindo praças em Setúbal e partidos mais pequenos, como a UDP e o PDC, levando milhares ao pavilhão dos desportos de Lisboa. Claro que vinham de mais do que uma localidade, mas ainda assim são imagens que espantam. O CDS a cobrir os Aliados? Hoje, para fazer um comício no Porto, consegue umas mil pessoas no máximo e com "brindes" à mistura.

Um dos indícios do crescente desinteresse pela política, a partidária, pelo menos, é a imagem dos comícios cada vez mais vazios e trombudos, com uns monos arrebanhados pelas secções locais, normalmente com cantoria e comida à mistura. O contraste entre os comícios de hoje - especialmente se forem das europeias - e os de há 30 anos é gritante. E talvez nem seja preciso ir tão longe no tempo. Nos anos oitenta, a "onda laranja" de Cavaco cobria as Alamedas e Aliados e demais terreiros deste país. Na altura da decisão entre Guterres e Nogueira, não faltava animação (e gaffes), arruadas concorridas, líderes partidários a dançar nos mercados e comícios a atrair multidão a rodo.

Os comícios de rua pouco a pouco foram sendo trocados pelos "jantares-comício", em que a malta lá saía de casa a troco de um repasto para ir ouvir os candidatos da sua preferência. Também os artistas musicais encontraram um novo nicho de mercado, tocando nas acções de campanha de qualquer partido (ainda me lembro de um comício do PSD, no Porto, em 1995, em que findos os discursos de Cavaco e Nogueira redobrou a assistência quando os GNR subiram ao palco). A paixão e a vibração da política foram trocadas por umas festarolas como alguma oratória política pelo meio.

Estas europeias têm sido confrangedoras nesse aspecto. O PS não consegue encher um pequeno pavilhão em Coimbra, terreno de Vital, mesmo com a "estrela convidada" Zapatero. O PSD fica-se por sessões de esclarecimento e conferências, o CDS por jantares e o Bloco por acções de rua. Os extra-parlamentares já vão com muita sorte se alguma televisão filmar o candidato e os dois ou três membros da "comitiva". Só a CDU, graças à sempre fiel militância do PCP, ainda consegue organizar comícios que se vejam, em teatros ou nas praças, por vezes com surpreendente dimensão (vejam-se os oitenta mil da sua manifestação em Lisboa).

Nesse aspecto estou de acordo com Sócrates. Os comícios são sempre o sumo das campanhas, a ocasião para o entusiasmo se espalhar, o ponto de encontro por excelência entre os candidatos e seus apoiantes. Levar escassas centenas para uma acção num restaurante apenas prova a falência das ideias e a falta de atracção pela política, tornada coisa corriqueira e mesquinha, e a classe respectiva patética e pouco ou nada convincente. A praia, se o dia estiver bom, é tão mais atraente que as filas (?) nas urnas. É que há sinais que mostram o alheamento das pessoas por aquilo que deveria ser do interesse geral. Um comício é um sinal válido e um barómetro fiel. Cabe aos que os organizam meditar porque é que nem com "atracções musicais" as grandes enchentes de outrora, com bandeiras e slogans, quais claques de futebol à solta se conseguem ver nas clareiras destes grupinhos de militantes que tristemente acorreram a esta campanha das Europeias.
David Carradine 1936 - 2009



Há uns anos, David Carradine, conhecido pelos seus filmes de artes marciais, voltou à ribalta com Kill Bill, de Quentin Tarantino, em que era o objecto da vingança de Black Mamba (provavelmente o papel mais emblemático de Uma Thurman), por si abandonada no altar e quase morta.

Ontem, o acto que dava nome ao filme acabou por ser concretizado pelo próprio "Bill".

quinta-feira, junho 04, 2009

O Espaço de Vital


No cartaz da JS de que falei há dias houve um pormenor de que na altura não me dei conta, e que passou ao lado de todos, a começar pelos seus autores: o slogan "A Europa é Vital". Sabendo que o cabeça de lista do PS é federalista, esta frase é muito infeliz. É que recorda outro modelo europeu de federação muito em voga nos anos 30 e 40, o do Espaço Vital, o Lebensraum alemão, que motivou a expansão do 3º Reich e a 2ª Grande Guerra. O trocadilho acaba por ser inevitável. Por sorte, o slogan e o nome Vital não são de nenhum candidato de outro partido, senão ainda tínhamos o "Professor Doutor de Coimbra", que muito tem falado de "roubalheiras", a tecer acusações de nazismo e fascismo. No fundo, nada que ele não tenha já feito de forma mais velada.

quarta-feira, junho 03, 2009

Relembrar Lucas Pires


(Imagem tirada do Ephemera, via Portugal dos Pequeninos)

A minha atitude é sempre de infinita atenção. Tanto não adormecer sobre uma história que galopa, não adormecer em cima do cavalo - estar atento. a atenção é a única regra. (1983)


A poucos dias das "europeias", resolvi folhear e ler em parte A Revolução Europeia, uma antologia de textos de Francisco Lucas Pires publicada pelo gabinete português do Parlamento Europeu. Antes de se pensar em"discutir a Europa" de forma abstracta e blasée, confundindo-se agruras nacionais com problemas comunitários que nem sempre são os mesmos, ou magicando em "cartões amarelos" ao "sistema", faríamos melhor em ler o legado dos que pensaram na Europa na sua estrutura comunitária, mas também na sua essência e nas suas especificidades e contradições, como Lucas Pires. Também na blogoesfera nos chegaram os seus escritos. É claro que com o passar dos anos alguns ficaram datados, mas há sempre matéria para nos fazer pensar. E fica-se sempre a pensar em que lugar ou no que estaria ocupado o antigo dinamizador do "Grupo de Ofir" e líder do CDS se ainda fosse vivo.

A despedida dos guerreiros


No post anterior falava de um jogador quase esquecido. Neste fim de semana, despediram-se dos relvados três futebolistas que certamente não o serão - até porque fazem parte da era da televisão, da internet e do marketing da modalidade, em que a imagem por vezes conta tanto como as jogadas. Falo evidentemente de Paolo Maldini, o mais internacional de sempre pela Squadra Azurra, o capitão do Milan que se sagrou por cinco vezes campeão europeu, o melhor defesa esquerdo de sempre, que na sua carreira só conheceu duas camisolas, a azurra da Selecção e a rossoneri de Milão; Pavel Nedved, o virtuoso maestro checo, visível ao longe pela sua melena loura, que comandou o seu país ao longo de vários torneios e que merecia mais troféus; e, obviamente, Luis Figo, o ídolo de toda uma geração, o mais internacional jogador português de sempre, o génio que despontou com os campeões de Riade e Lisboa e nunca mais parou de somar sucessos, atingindo o auge em 2001 - em que ganhou o prémio da FIFA de melhor jogador do Mundo (depois do Ballon d ´Or de melhor da Europa no ano anterior) e a Liga dos Campeões. Figo, o melhor de sempre desde Eusébio, de quem guardo um autógrafo do tempo em que ainda estava no Sporting, numa tarde em que o encontrei num hotel do Porto, e com quem viria a cruzar-me anos mais tarde em Frankfurt.

É todo um capítulo da história da modalidade que se vira, com a partida destes mitos dos relvados. E uma certa época que acabou: o futebol dos anos noventa.