terça-feira, maio 25, 2004

Regresso depois de um fim de semana sossegado a nível pessoal pondo em dia o sono e a leitura de periódicos. Perdi por isso os momentos em directo do enlace real entre D. Filipe de Bourbon e D. Letizia (acabei por não ir pessoalmente ao casamento, pretextando "trabalho inadiável", mas os príncipes entenderam). Claro que isso não teve a menor importância, já que todas as estações de televisão se encarregaram de repetir até à exaustão cada um das passos dados pela família real e convidados (Marichalar não está manifestamente recuperado: ninguém no seu perfeito juízo usa uma gravata com um verde berrante daqueles), desde a saída do Palácio Real até ao regresso ao mesmo, com os habituais acenos à multidão. Madrid estava impecável, apesar de fustigada pela chuva que afastou muitos mirones, inclusivamente a meia-dúzia de republicanos que se manifestava da forma possível.Jorge Sampaio teve um tratamento absolutamente VIP.Os Duques de Bragança, como sempre, também compareceram.
Ora o faustoso evento serviu para relançar as velhas discussões Monarquia vs República, e em especial os gastos que se fazem na 1ª aquando de ocasiões como estas. Frases como "gastam-se milhões na boda, ao invés de se investir no que é importante, só para as televisões" fizeram-se ouvir incessantemente nos dias que antecederam o enlace.
Quem se dê ao trabalho de pensar por 5 minutos depressa chegará à conclusão de que não só este acontecimento teve uma importância política e mediática à escala global, aliás como tudo hoje, como o facto das ditas televisões (dezenas de estações)estarem lá, os gastos terem tido a devida compensação pecuniária.A importância política é tão somente esta: é em acontecimentos como estes que criam laços de amizade e confiança entre inúmeros líderes, tanto que em dado momento da narração se cometou que o facto do presidente Toledo, do Peru, ter usado um pretexto irrisório para a sua falta de comparência poderia arrefecer as relações entre a pátria dos Incas e o seu antigo colonizador.
Outros houve que se referiram à "piroseira" ou histerismo do evento. Pela minha parte, apercebi-me que tanto os nubentes como demais convidados exprimiam apenas tímidos sinais de nervosismo, sem qualquer ponta de histeria; a piroseira, bem, talvez o vestido da Duquesa de Alba (uma Grande de Espanha!), porque não era aquele o tipo de gente onde se costumam encontrar grandes rasgos de "pinderiquice". Ambos os adjectivos podiam ser atribuidos, isso sim, à vaga de cobertura mediática que cobriu o casamento. Mas jamais aos seus intervenientes directos.
Resta só desejar as maiores felicidades ao casal, à vinda dos respectivos herdeiros e à eterna continuidade da Monarquia no país vizinho...com a pequena esperança de que algo semelhante aconteça aqui.

Na última semana o governo parece ter sido acometido de loucura. Primeiro tivemos as vénias os cânticos de louvor à Madeira de Jardim, seguidos de acusações de "falta de democracia nos Açores".Depois da obscura demissão do ex-ministro Theias, substituído pelo regressado Arlindo Cunha (mas será que o PSD não arranja um único nome de jeito para esta pasta?), seguiu-se o mui interessante Congresso de Oliveira de Azemeis, em que as moções principais foram aprovadas por unanimidade. Ou seja, o encontro não serviu para absolutamente nada, a não ser para se ficar de boca aberta com mais uma pérola do Primeiro-Ministro. Então não é que Durão Barroso responsabilizou qualquer falha de segurança que eventualmente aconteça durante o Euro-2004, em virtude da greve dos SEF, ao PCP? O octogenário movimento leninista está pois de parabéns: desde 1975 que não metia medo a ninguém,e afinal o PM teme as investidas de Carvalhas e Cª. Quase trinta anos depois, o PC é de novo uma ameaça. Surreal, no mínimo.

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