Se as autárquicas já foram interessantes e animadas, com o fim dos dinossauros, o sismo na Madeira e o protagonismo dos independentes, as próximas europeias prometem não defraudar as expectativas, o que não é difícil, dado o nível de interesse que o eleitorado tem por este tipo de eleições, convencidos que "é para votar nos tipos que vão lá para a Europa".
É verdade que os assuntos da UE interessam muito pouco ao comum dos portugueses - provavelmente também aos outros membros, excepto talvez aos do Benelux - e quem sabe, à maioria dos candidatos. Talvez por isso as eleições europeias sejam usadas mais como barómetro à popularidade do governo vigente. Geralmente, com raras excepções (1987, 2004), são-lhes desfavoráveis, embora não signifiquem necessariamente a sua total recusa (vide 2009). O Parlamento Europeu é visto como o representante mais visível da euroburocracia comunitária, ou exílio dourado como recompensa de sacrifícios partidários. Ainda para mais, os dias das eleições costumam ser feitas no início do Verão. Não admira que a abstenção seja sempre o vencedor absoluto.
É raro vermos outsiders nas Europeias. Em 2009 tivemos como novidade o Movimento Esperança Portugal, que entretanto já se extinguiu como partido, encabeçado por Laurinda Alves. Em 1987 e 1989 tinha sido Miguel Esteves Cardoso, pelo PPM, a quase conseguir ser eleito graças a uma campanha bem disposta e politicamente incorrecta (com aquele slogan Patriotas sim, pataratas não). Em 1994, Ivan Nunes infiltrou-se nas eleições com o Política XXI, que nem sequer era um partido. E de resto, nada mais, tirando a bizarra candidatura do Maestro Vitorino de Almeida pelo MDP-CDE em 1989.
É pena, porque no meio das banalidades e da competição para ver quem tira mais pontos ao partido no poder (ou, tratando-se deste, saber o quanto aguenta), não se ouvem ideias praticamente nenhumas. E nos casos supracitados houve sempre algo de inovador, de novo, ou pelo menos de mais animado entre o torpor das noites soalheiras que são por norma as campanhas das europeias.
Por isso, a campanha de Maio promete. Já se sabe que não há união da esquerda radical (que surpresa!), uma vez que o Bloco não quer nada com o Livre, provavelmente ainda agastado com Rui Tavares, o "3 D" queria juntar-se-lhes porque, não sendo um partido, não pode concorrer; e o Livre entretanto já enviou as assinaturas necessárias para o TC, mas está numa corrida contra o tempo, porque a legalização pode chegar apenas depois do fim do prazo para os partidos apresentarem as suas candidaturas. Espero sinceramente que o consigam, mesmo que o "3 D" não o apoie: Rui Tavares, partindo do princípio que será cabeça de lista, revelou-se competente em Estraburgo (até recebeu sarcasmos num comício do primeiro-ministro húngaro), e ao menos sabe-se que irão discutir assuntos relacionados com a UE.
Depois temos o Partido da Terra com Marinho Pinto a cabeça de lista. Não faço a menor ideia quais serão os temas que o ex-bastonário da Ordem dos Advogados vai abordar, até porque nunca o vi falar de problemas ambientais das questões do mundo rural.. Provavelmente converterá os seus habituais alvos em Portugal em alvos europeus. Certo é que se for a debate esperam-nos afirmações exclamativas e interrupções frequentes. Será uma boa oportunidade para testar finalmente o que vale nas urnas.
E agora
até Nicolau Breyner resolveu ir a jogo. Não é a primeira incursão do actor na política, se nos recordarmos que em 1993 se candidatou a Serpa pelo CDS-PP e conseguiu a proeza de eleger dois vereadores, mesmo que nem tenha aquecido o lugar. Desta vez é o cabeça de lista de uma coligação eurocéptica, de que se sabe fazer parte o Partido da Nova Democracia (os outros serão provavelmente o PPV e o PPM, que com o PND formaram uma candidatura conjunta a Lisboa) e que fará sobretudo campanha pela saída de Portugal do Euro. Haja ao menos alguém que vem completar o nicho de eurocépticos, e sobretudo, lançar a discussão sobre a permanência no Euro. Até porque não se limitam a fazer de barómetro partidário. a questão é saber se o "Nico" estuda devidamente os
dossiers sobre a matéria.
Em todo o caso, seria interessante ver num mesmo debate Nicolau Breyner, Rui Tavares e Marinho Pinto, fora outras eventuais surpresas (estou a excluir os grandes, evidentemente). Ao menos não se ficam por meias palavras e sempre podem travar alguma abstenção.