O tiki-taka espanhol está a levar uma séria abada da técnica brasileira, em pleno Maracanã. O Brasil está próxima de ganhar a Taça das Confederações (se pensarmos que ganhou as duas anteriores edições, nem é grande augúrio para o Mundial), no renovado Maracanã. Lá fora, e mesmo lá dentro, houve novos protestos.
Os brasileiros saíram à rua em força, puseram Dilma Roussef a gaguejar e até conseguiram fazer com que o anunciado aumento do preço dos transportes fosse cancelado. As razões são mais que justas: apesar de todo o crescimento económico, os gastos públicos em estádios e outros luxos em detrimento do que deveriam ser as suas funções primordiais são obscenos e incompreensíveis. É verdade que, como noutras situações semelhantes, aparecem os bárbaros de sempre, com ideia de incendiar, pilhar e destruir; tivemos oportunidade de ver isso em Brasília (que diria o revolucionário Niemeyer?), e noutras "badernas". Nesses é que a polícia deve aplicar a sua vontade latente de utilizar os meios que lhe põem à disposição (e nestes incluo o cassetete). Mas na sua maioria, os protestos têm toda a razão de ser. O Brasil é até dos poucos países que se pode dar ao luxo de organizar eventos destes e ainda acumulá-los com os Jogos Olímpicos de 2016 - nada contra, desde que se aproveitem estruturas comuns e se façam as necessárias reformas urbanas no Rio. Mas também sabemos que são antes de mais uma afirmação de potências emergentes, e que em países onde a corrupção é toda uma cultura, os custos tendem a multiplicar-se, como tem acontecido. Os protestos visam também as altas instâncias desportivas que lucram com tudo isto, como a FIFA.
Ao olhar para isso, não posso deixar de pensar que os brasileiros mostram mais maturidade que os portugueses: andámos a fazer caminhadas de protesto de meio em meio ano, com "cantigas de intervenção" à mistura, mas onde andavam os simpáticos contestatários quando trazíamos alegremente para Portugal o Euro-2004 e os dez estádios (lembram-se de dizerem que a UEFA impunha esse número: pois no evento da Polónia/Ucrânia só ergueram oito recintos), quando os custos do CCB e Casa da Música derraparam, quando se construíram autoestradas para pouquíssimo movimento, quando levantaram barragens regiões classificadas pela UNESCO, etc. Agora andamos "intervencionados", pois andamos, mas a culpa é antes de mais de todo, e não apenas da "classe política", que de resto gastou o que gastou porque isso trazia mais votos.
Sim, digam o que disserem, mas as razões dos protestos dos brasileiros são uma lição para os portugueses, que não souberam tratar do que era seu na devida altura. E nem ao menos ganharmos aos espanhóis...