Com a passagem dos anos, vai-se encurtando a lista dos grupos musicais que há muito queria ver em concerto. Até porque não tenho visto novidades interessantes, ou quando as encontro já não são novidade. Assim, os que marcaram a minha adolescência, particularmente nos anos noventa, vão sendo avistados ao vivo quando surge a oportunidade.
Na última semana, o festival Primavera Sound regressou ao Porto e ao Parque da Cidade, magnífico espaço, bem diferente dos estádios de betão e arenas poeirentas. Três palcos entre lagos e arvoredo, tendas de música, espreguiçadeiras e mantas, tudo sobre o relvado do parque, que descia para os palcos em anfiteatro. Só a "praça da alimentação", onde estavam representadas algumas das mais conhecidas casas do Porto, assentava no asfalto do "queimódromo".
Muitos elementos da chamada "música indie" passaram pelo festival, apoiados por alguns veteranos como Nick Cave e os Bad Seeds, Breeders ou My Bloody Valentine, e outros, como Swans e Grizzly Bear. Mas na Sexta aterraram no parque os grandes atractivos e razão maior da minha ida: os Blur. Os criadores da Britpop, os rivais de morte dos Oasis, os mestres da ironia british dos anos noventa em forma de música, ali, no Porto, entre o mar, a avenida e a circunvalação. Apareceram com pontualidade londrina, e entraram em grande, com uma Girls and Boys de rajada. Depois começou o desfile de grandes canções dos anos noventa do grupo de Londres, com as mui british e irónicas Parklife e Country House (que os levou ao auge da fama, em plena "guerra do Britpop"), o futurista The Universal, a magnífica balada gospel Tender, com o respectivo coro de vozes negra, a primordial There's No Other Way, e a desopilante Cofee and TV, cantada pelo guitarrista Graham Coxon, e onde não faltaram no meio do público duas embalagens de leite gigantes a imitar as ternurentas personagens do respectivo e fantástico videoclip. Pelo meio, Damon Albarn cantava, tocava, erguia os braços e os olhos ao céu como se fosse um profeta e chegou a "navegar" nos braços do público, saindo de lá com uma das muitas grinaldas de flores que as senhoras usavam naquela noite. Tudo num ritmo alto devidamente acompanhado pelo público, que saltou em coro no final com a apoteótica Song Two.
Ficou um pequeníssimo travo de insuficiência, mas olhando bem, tirando Charmless Man e a belíssima e romanticíssima To the End, estava lá quase tudo o que se pedia. Talvez o ambiente do parque nos tornasse mais exigentes. Os velhos Blur cumpriram com o que se lhes pedia, felizmente, e consegui finalmente ver ao vivo um dos grupos por que esperava há mais anos, enquanto eles andavam dispersos entre a música africana, a agricultura e a advocacia, já esquecidos do Britpop. E a propósito, como se lembrou no fim do concerto, para o ano podiam convidar os Oásis, se eles se voltarem a juntar. Ou talvez os Pulp (que até já vi). Até porque os Suede (também já tive a honra de os vislumbrar), que o último Ipsilon diz que acabaram e foram esquecidos "felizmente", o que não só é injusto como falso, estiveram no Primavera Sound do ano passado. Mas assim, o festival deixava de ser a meca da música alternativa para passar a ser o revivalismo do Britpop. E não se pode conciliar tudo?
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