Confesso que fui pouco patriota na meia-final da UEFA (essa história do patriotismo no futebol também é muito engraçada para embalar crianças de colo), mas não poderia deixar de apoiar o meu clube preferido do outro bocado da península, o Athletic de Bilbao. Os lagartos até se bateram galhardamente, mas o ambiente do público fervoroso que enchia a catedral de San Mamés era demais e não os deixou ir à final. No fim ficou a euforia basca que nem por isso deixou de aplaudir os adversários, mesmo que Sá Pinto já tenha jogado nos rivais de San Sebastian.
Mas o dia do jogo teve ainda um simbolismo que terá escapado à maioria. Exactamente 75 anos antes dava-se uma das maiores tragédias da região. A 26 de Abril de 1937, em plena Guerra Civil de Espanha, a Legião condor e a aviação fascista italiana, aliados dos nacionalistas, bombardeavam a cidade de Guernica, símbolo espiritual dos costumes bascos, com o seu lendário carvalho, à sombra da qual gerações e gerações tomavam as resoluções para a comunidade local, e que sobreviveu ao bombardeamento. O bombardeamento, cujo número de vítimas é alvo de discussão pelas suas disparidades, ficou mundialmente conhecido pelo quadro de Picasso, que retratou o sofrimento provocado por uma guerra atroz e que se tornaria num dos símbolos da Espanha do século XX. A árvore de Guernica manteve-se até há poucos anos, sendo substituída por outra, e é lá que o governador eleito do País Basco, o Lehendakari, faz o seu juramento de tomada de posse. Surge igualmente no brasão do Athletic de Bilbao.
À partida, as bodas de diamante da mais conhecida catástrofe basca não seria a melhor prenúncio para uma vitória marcante do maior emblema desportivo da região. O que é certo é que acabou por ser um dia de alegria para os adeptos biscainhos (talvez não para os da Real Sociedad), como que a mostrar que as efemérides podem ser de sentido contrário. O Sporting que os desculpe, mas dificilmente haveria melhor dia para um triunfo assim, que bem podia ser uma homenagem à martirizada Guernica. Agora só falta mesmo vencerem o clube madrileno a quem emprestaram nome e cores e levar a taça UEFA para Bilbao. Exposta no Guggenheim, ficaria lindamente.