Fazendo umas buscas entre datas e calendários antigos, confirmei o que pensava. Neste dia, 24 de Outubro, há já uns bons anos, ouvi pela primeira vez ao vivo o Professor Adriano Moreira, tendo tido o privilégio de falar com ele no fim. Tinha eu chegado a Lisboa poucos dias antes, iniciando uma estadia que se prolongaria por alguns anos, e logo no início, no curso de Política Externa que então realizava no IDN, apanhei logo com um gigante académico desta monta. Escusado será dizer que a aula se constituiu de conhecimento, experiência, ironia, clareza, saber académico e pedagogia. Voltei a ouvi-lo outras vezes, mas a primeira deixou-me uma viva impressão.
Dá-se o infeliz acaso do "aniversário" desse encontro calhar quase na data do seu desaparecimento. Não deve haver notícia mais natural acerca de uma pessoa com cem anos do que a da sua morte, mas esta, para além da tristeza pessoal, para mais quando o centenário tinha sido há tão pouco tempo, significa mesmo, segundo o adágio popular, o fecho de uma biblioteca, neste caso de colossais dimensões.
E de memórias do próprio Adriano Moreira ficou-me o seu afecto pela (e da) família, como se pode ver pelos artigos que os filhos, em particular a filha "rebelde" Isabel Moreira, lhe dedicam, em que mencionam o medo de deixar a sua mulher desprotegida, mas mais ainda, a memória dos pais, como quando realizou a sua primeira visita a Moçambique como Ministro do Ultramar e o seu próprio Pai, ainda polícia, quis ir com ele para assegurar a protecção do filho, ou quando tinha de ir ao cemitério de Grijó, Macedo de Cavaleiros, de onde era natural e onde está o jazigo dos pais, por achar que podiam sentir-se sozinhos. E ainda, quando lhe morreu recentemente um filho, há uns dois anos, a descrição feita por Ribeiro e Castro, na missa de corpo presente: "estava direito: velho e direito. É um carvalho antigo transmontano. Um pouco quebrado, pelo tempo e pelo dia, mas grande, velho e direito".
Tinha também esse característica que muito aprecio: um transmontano que nunca disfarçou as suas raízes, ao contrário de tantas figuras públicas, e que, pelo contrário, fazia questão em recordá-las e em dizer de onde vinha, e a sua cara em traços firmes e recortados, mas não rudes, assim o confirmava. Curiosamente a primeira vez que ouvi falar dele terá sido em Vila Real, ao reparar naqueles cartazes em que surgia com o filho mais novo, que devia ter pouco menos que a minha idade, na campanha em que o seu CDS ficou reduzido a um "táxi" (estranho como os mais preparados líderes nem sempre são os que têm mais sucesso, ou talvez até por isso...).
Este homem, que exerceu funções políticas e académicas neste regime, no anterior e que nasceu no anterior a esse, era o último de uma notabilíssima geração que estaria agora nos cem anos: Agustina, Gonçalo Ribeiro Telles, José-Augusto França, Eduardo Lourenço, que chegaram aos noventa e muitos, e desaparecidos com menos idade, Sophia (e muito mais novo o seu primo Ruben A.), Saramago, os irmãos António José e José Hermano Saraiva ou Natália Correia. Quase todos chegaram a idades bastante avançadas, mas só Adriano conseguiu chegar aos cem.
Dá-se o infeliz acaso do "aniversário" desse encontro calhar quase na data do seu desaparecimento. Não deve haver notícia mais natural acerca de uma pessoa com cem anos do que a da sua morte, mas esta, para além da tristeza pessoal, para mais quando o centenário tinha sido há tão pouco tempo, significa mesmo, segundo o adágio popular, o fecho de uma biblioteca, neste caso de colossais dimensões.
E de memórias do próprio Adriano Moreira ficou-me o seu afecto pela (e da) família, como se pode ver pelos artigos que os filhos, em particular a filha "rebelde" Isabel Moreira, lhe dedicam, em que mencionam o medo de deixar a sua mulher desprotegida, mas mais ainda, a memória dos pais, como quando realizou a sua primeira visita a Moçambique como Ministro do Ultramar e o seu próprio Pai, ainda polícia, quis ir com ele para assegurar a protecção do filho, ou quando tinha de ir ao cemitério de Grijó, Macedo de Cavaleiros, de onde era natural e onde está o jazigo dos pais, por achar que podiam sentir-se sozinhos. E ainda, quando lhe morreu recentemente um filho, há uns dois anos, a descrição feita por Ribeiro e Castro, na missa de corpo presente: "estava direito: velho e direito. É um carvalho antigo transmontano. Um pouco quebrado, pelo tempo e pelo dia, mas grande, velho e direito".
Tinha também esse característica que muito aprecio: um transmontano que nunca disfarçou as suas raízes, ao contrário de tantas figuras públicas, e que, pelo contrário, fazia questão em recordá-las e em dizer de onde vinha, e a sua cara em traços firmes e recortados, mas não rudes, assim o confirmava. Curiosamente a primeira vez que ouvi falar dele terá sido em Vila Real, ao reparar naqueles cartazes em que surgia com o filho mais novo, que devia ter pouco menos que a minha idade, na campanha em que o seu CDS ficou reduzido a um "táxi" (estranho como os mais preparados líderes nem sempre são os que têm mais sucesso, ou talvez até por isso...).
Este homem, que exerceu funções políticas e académicas neste regime, no anterior e que nasceu no anterior a esse, era o último de uma notabilíssima geração que estaria agora nos cem anos: Agustina, Gonçalo Ribeiro Telles, José-Augusto França, Eduardo Lourenço, que chegaram aos noventa e muitos, e desaparecidos com menos idade, Sophia (e muito mais novo o seu primo Ruben A.), Saramago, os irmãos António José e José Hermano Saraiva ou Natália Correia. Quase todos chegaram a idades bastante avançadas, mas só Adriano conseguiu chegar aos cem.