sábado, agosto 31, 2013

Entretanto, a bola volta a rolar


O derby de amanhã contra o Sporting, que entrou no campeonato a matar, é tudo menos propício, mas terá de ser ultrapassado. Se o problema actual é Jorge Jesus, então mais vale lembrar que com ele o Benfica já venceu a lagartada por sete vezes, e perdeu apenas uma. As estatísticas valem o que valem, mas à falta de melhor, temos de nos agarrar a alguma coisa.
 
A vitória no último suspiro contra os de Barcelos deu talvez novo ânimo ao Benfica 2013-2014, mas não resolveu de maneira nenhuma os problemas, que, repito, se devem acima de tudo à permanência de um Jesus desgastado e fora de prazo. Os sérvios resolveram, claro, e ninguém lhes nega qualidade, mas o Benfica não pode contar apenas com eles (sobretudo se houver saídas, coisa que parece inevitável). De qualquer modo, se o balão de oxigénio tiver servido para alguma coisa, Salvio estiver em forma e Markovic apto a jogar, as esperanças em surpreender o Sporting aumentam consideravelmente. A propósito, o rapazinho que veio do Partizan continua a mostrar que é uma escolha acertada. Ainda diziam que o Benfica estaria interessado no Bruma, que até joga na mesma posição. Mas para que raio quereríamos o Bruma?
 
Entretanto, o sorteio para a Liga dos Campeões, em que reaparecemos no pote 1, pôs-nos de novo na rota do Paris Saint Germain, agora em versão patrocinado pelos petrodólares do Qatar. Contra Ibrahimovic, Lavezzi, Cavani e Thiago Silva, o Benfica terá um enorme desafio para evitar tantas ameaças. Pontos a favor: os emigrantes que vão sempre aos milhares dar o seu apoio, e as ridículas regras politicamente correctas, que os responsáveis do PSG resolveram estabelecer aos seus associados, e que pretendem fazer do estádio uma solene sala de ópera (um destes dias escrevo sobre isso).
Contra o Olympiacos, não faltam argumentos desportivos. Será preciso que os jogadores se abstraiam do ambiente infernal que vive sempre que o clube do Pireu joga em casa, e afastar a memória da última visita áquele estádio (que de bom só teve esta sátira). Esperança: que Roberto, recentemente transferido para o clube dos estivadores de Atenas no estranho negócio com o Atlético de Madrid, jogue e retribua alguns dos frangos que sofreu ao serviço do Benfica.
O Anderlecht é um clube de história respeitável, e o confronto que servirá para desempatar os resultados entre belgas e portugueses. Os mauves não são um adversário muito temível, nem têm uma equipa comparável com a do Benfica, mas contam com um ponta de lança sérvio muito promissor que fazia dupla com Markovic no Partizan.
 
Pede-se que passem à fase de eliminatórias. Num ano atribulado, já seria bom, e seria sempre um encaixe financeiro simpático. Tudo o que for para além disso é brinde.

sexta-feira, agosto 30, 2013

Obama e Hollande querem-se mesmo queimar?


Não tenho a menor dúvida de que o regime baathista de Assad, se não lançou um ataque químico, não seria por falta de vontade que evitaria fazê-lo. Afinal de contas, o regime irmão de Saddam divertia-se a gasear insurgentes no Iraque, e o pai Assad nunca teve hesitações em esmagar qualquer revolta através dos meios mais brutais.
 
Mas desconfio das "acções" que algumas potências ocidentais preparam para evitar acontecimentos como os verificados nos últimos dias. Recordo que em 2001 a resolução da ONU destinava-se apenas a criar uma zona de exclusão aérea para evitar que a aviação do regime líbio massacrasse os revoltosos, mas a França e o Reino Unido aproveitaram para efectivamente derrubar Kadhafi, apoiando os "combatentes pela liberdade", e com isso espalhar o caos. Agora observam-se novas complacências para esses mesmos combatentes, desta vez na Síria, mesmo que muitos sejam jihadistas que não hesitam em, por exemplo, executar publicamente frades e outros "infiéis". Isso parece pouco importar a Hollande e Obama - poderia falar em Cameron, mas avisadamente a Câmara dos Comuns recusou qualquer intervenção militar na Síria. Obama e Hollande, tão incensados aquando das respectivas eleições, preferem teimosamente avançar para o terreno. Surpreende sobretudo no francês, que depois de intervir (aí sim, com todo o propósito) no Mali, parece não perceber a nebulosa intensa em que se vai meter. Ou será que o "homem simples" afinal de contas já está acometido da síndrome da "grandeur de France", que desde De Gaulle não cessa de perseguir os presidentes do Hexágono?
 
As nações europeias deviam era preocupar-se com a quantidade de milicianos jihadistas nascidos no seu território, e que depois de doutrinação religiosa  em campos educação e madrassas no Paquistão, seguiram para o terreno para combater o regime de Assad, envolvidos em redes extremistas islâmicas. Novas serpentes podem estar a sair de imensos ovos aqui à nossa porta. Quanto a Obama, arrisca-se a perder todas as credenciais que apressadamente lhe deram (lembram-se do Nobel da Paz?). Entre Assad, o Irão e o Hezbollah, e os jihadistas apoiados pela Arábia Saudita, venha o Diabo e escolha. Mas o demo, que já lá anda há dois anos, parece estar com dificuldades em decidir-se. Esperemos que não tenha soprado ao ouvido de Obama e Hollande.
 
 

domingo, agosto 25, 2013

Imagens dos dias que correm


 



Os dias correm quase literalmente, levados pela furiosa nortada que sopra aqui pelo litoral do Minho. Por um lado é bom, porque revigora as mazelas resultantes das festividades populares que aqui há quase diariamente, de Caminha a Ponte da Barca. Por outro, levam tudo pelo ar, proíbem oficiosamente a entrada na praia e fazem-nos dar voltas à cabeça sobre como ocupar o tempo (alternativas não faltam, falta é decisão a tempo e horas). Agora que cheguei aos 35, a antiga "meia-idade", devia começar a organizar mentalmente melhor o meu tempo, de forma a perdê-lo menos, coisa que faço com mestria. Por estes dias, entre praias, nortadas, viras e gastronomia local, também se perdem muitas horas a olhar para ontem. Mas afinal de contas, as férias são isso mesmo. E pelo meio vou encontrando coisas novas nestas terras que conheço desde sempre, como trechos do Caminho Português da Costa -  de Santiago - que passam entre o mar e as floresta e nos quais nunca tinha reparado. Vendo bem, os dias que correm não são tempo nada mal gasto.


 

segunda-feira, agosto 19, 2013

A tirania militar de volta ao Egipto




No Egipto, a efémera "Primavera Árabe" esfuma-se a olhos vistos. A deposição de Morsi não resultou em nenhuma "agora sim, democracia" com que alguns líricos sonhavam. Afinal de contas, o presidente tinha sido eleito por mais de metade dos eleitores, e a sua deposição seria sempre antidemocrática, por muito que as suas origens na Irmandade Muçulmana provoquem desconfianças. Quiseram instalar um governo "laico" no seu lugar e as consequências estão à vista: protestos em massa dos apoiantes do presidente deposto, reacção duríssima por parte das forças armadas, centenas (ou milhares?) de mortos nas ruas, e agora até a ameaça dos militares em ilegalizar de novo a Irmandade Muçulmana e os partidos que dela fazem parte, e que tiveram os votos de mais de metade dos egípcios. Por causa disso, Mohamed el-Baradei já se demitiu do cargo de vice-presidente interino. Aquilo a que assistimos não é uma democratização do país, já que isso só poderá acontecer com a inclusão dos islamitas, nunca os marginalizando: o que se passa é que o Egipto está à beira de voltar a ser um regime militar, com até 2011, porventura mais duro do que era antes da queda de Mubarak. Aqueles que aplaudem a intervenção das forças armadas, incluindo as suas acções mais violentas contra supostos extremistas islâmico,s estão na realidade a caucionar um regime igualmente tirânico e sem real base popular. Não é mais "democrático" ou pluralista massacrar cristãos, islamitas, apoiantes dos militares ou liberais. Em qualquer dos casos, estamos perante medidas despóticas e tirânicas. Parece que não se lembram do lamentável casos da Argélia, em que depois de anularem as eleições ganhas pelos islamitas e ilegalizarem os partidos vencedores, se verificou uma feroz guerra civil que deixou marcas profundas no país. além disso, como se pôde verificar durante o século XX nas "democracias populares", os regimes laicos não são necessariamente mais benignos que os religiosos. Entre Saddam e Khomeiny, viesse o diabo e escolhesse. Ao menos Morsi não quis ilegalizar partido algum. Aguentem-se agora com o regresso da ditadura militar.

domingo, agosto 18, 2013

A época começou como se imaginava



Começou a época 2013-2014. Não tive tempo de fazer um pequeno apanhado do que possa ser o Benfica desta nova época, mas também não era preciso, porque a equipa começou exactamente como o previsto: perdendo. Se nas outras épocas o Benfica empatava sempre na primeira jornada, desta vez conseguiu perder num terreno difícil mas onde até tem alcançado bons resultados. A equipa não jogou horrorosamente mal, não tinha Salvio e Markovic, não jogou pior que o adversário e ainda contou com a habitual arbitragem prejudicial do duvidoso Jorge Sousa. Mas teve uma incrível falta de objectividade no momento do remate, jogou atabalhoadamente e em alguns momentos muito devagar e teve novos erros defensivos que foram fatais. Jorge Jesus, mais uma vez, parecia longe...
 
A pré-época já deixava o credo na boca, mas desde que se soube que Jesus tinha renovado por mais dois anos, com o mesmíssimo (e alto) salário, depois do final calamitoso da época passada, que se previa que a coisa não ia correr bem. A querela com Cardozo, o homem de área do Benfica dos últimos anos (e o mais influente em duas décadas), cujo problema ficaria resolvido "até 17 de Julho", mas que se arrasta indefinidamente, deixou um balneário tenso, um goleador desaproveitado e despeitado e uma enorme ausência na frente de ataque. As aquisições duvidosas (Mitrovic, Fariña, Loló) misturam-se com as acertadas (Markovic) e com as que se espera que venham a render, dada a qualidade técnica dos jogadores (Sulejmani, Lisandro Lopez). Há excesso de jogadores no plantel e quase nenhuma venda para equilibrar as finanças e pagar os avultados empréstimos; existe o receio fundado dos melhores saírem no fim da época de compras, deixando a equipa coxa; os jogadores formados no clube, mesmo os que demonstram qualidade, como Miguel Rosa, são dispensados em proveito de estrangeiros desconhecidos; realizam-se negócios obscuros, torneando a boa fé comercial e a dos sócios, como a estranhíssima troca de Roberto (que se julgava do Zaragoza) por Pizzi, do Atlético, e imediato empréstimo deste ao Espanhol de Barcelona; e a relação entre os jogadores e um treinador desgastado e esgotado, que parece que ficou apenas para amealhar um bom pé-de-meia, parece tensa q.b.
 
Assim sendo, a derrota não surpreende. Até pode haver queixas a fazer da arbitragem, mas é sabido que quando o Benfica está mais frágil isso acontece com maior frequência. O grande culpado não se chama Jorge de Sousa, mas Jorge Jesus, um treinador que está a mais e que se tivesse a convicção do seu dever, teria saído pelo próprio pé, em lugar de ser sustentado pela vontade teimosa de Luís Filipe Vieira. Se se aguentar pouco tempo no banco, como alguns prevêem, contra a sua vontade, que seja Vieira a pagar-lhe a indemnização. Os benfiquistas estão fartos das humilhações causadas pelas invenções do mister, da bazófia, das mãos cheias de nada, das desilusões constantes. Se já se concluiu que a época começou torta e jamais se endireitará, então ao menos que as finanças do clube sejam poupadas das opções de Vieira. É o mínimo. Se nem isso se cumprir, então terá que haver uma seriíssima mudança no clube.

quinta-feira, agosto 15, 2013

Gibraltar ou os telhados de vidro espanhóis

 
A polémica internacional deste Verão é o regresso à questão de Gibraltar. Espanha decidiu apertar o controlo fronteiriço ao "rochedo" em resposta a uma barreira de blocos de cimento que impedirá a passagem dos barcos de pesca espanhóis. Agora, filas e filas de carros esperam para sair de Gibraltar. O Reino Unido já reagiu, e o habitual desbocado Boris Johnson, Mayor de Londres e possível futuro líder do Partido Conservador, atroou aos espanhóis um Hands out of our rock, com o seu peculiar estilo, através do Telegraph.
 
A verdade é que Gibraltar é uma zona franca, que domina a entrada do Mediterrâneo e ocupa uma posição estratégica de relevo (passe a piada com a altura do rochedo), como se verificou na Segunda Guerra. Não é muito cómodo para Espanha e para todos os que pretendem acabar com o colonialismo, uma vez que se trata de uma autêntica colónia. Mas nunca percebi esses ímpetos anti-colonialistas quando os próprios "colonizados" não pretendem mudar de situação. No caso particular de Gibraltar, tratou-se da cedência daquele espaço à Grã-Bretanha no culminar da Guerra da Sucessão de Espanha, (muito embora as pretensões espanholas tivessem vencido, com ascensão de Filipe de Anjou ao trono), a título perpétuo, excepto por vontade britânica, há precisamente trezentos anos. O Direito Internacional retira por isso qualquer fundamento a Espanha, e mesmo que nos anos sessenta (numa época em que muitos estados do Terceiro Mundo alcançaram a independência e dirigiam o seu voto contra os antigos colonizadores) a ONU tenha feito aprovar uma declaração sobre a necessidade de rever o estatuto de Gibraltar, o certo é que os locais decidiram, por um quase consenso, em conservar-se tal como estavam. Alguém se atreve a contrapor os princípios da contiguidade dos estados e do anti-colonialismo ao do primado do Direito e da autodeterminação?
 
Pelos vistos, Espanha atreve-se, como se fosse um país recente do Terceiro Mundo e não uma das maiores potências coloniais de sempre. Para mais, resolveu pedir a colaboração da Argentina, lembrando-se das pretensões de Buenos Aires sobre as ilhas Falklands, que estão numa posição semelhante à de Gibraltar (ou seja, a população local não tem a menor ideia de trocar a jurisdição de Londres pela da Argentina). Pena que não se tenha lembrado que os argentinos já fizeram uma manifestação de força que redundou em humilhação e derrota, levada a cabo pela sinistra ditadura militar, numa fuga para a frente de nacionalismo para ganhar popularidade. Em diferente situação, mas também a precisar de balões de oxigênio de popularidade como de pão para a boca. o Governo de Mariano Rajoy, escaldado pela caso Barcenas, precisa de uma pequena trica internacional. Não se lembrou que os argentinos acabaram da pior forma. Claro que ninguém está à espera de uma batalha naval, de uma invasão do rochedo pelos Tercios, nem por um novo Drake e destruir a armada espanhola. O que a Espanha pode ganhar é uma nota de rodapé de ridículo na história deste Verão, já que nada parece sustentar as suas pretensões, e muito menos o caso argentino. Para mais, têm telhado de vidro de sobra: Ceuta, ali em frente, e Melila, também são exigidos por Marrocos (já viram se os espanhóis controlassem ambas as portas do Mediterrâneo, Gibraltar e Ceuta?). E a isso ainda podíamos acrescentar o caso da "nossa" Olivença, onde ainda há réstias de língua portuguesa e que os tratados internacionais nunca atribuíram aos vizinhos. Problemas de sobra para quem exige um território como se fosse um pobre país explorado por todos. Até os mitos estão contra Espanha, neste caso: diz a tradição que Gibraltar, território onde coexistem espanhóis e ingleses, judeus e marroquinos, portugueses e genoveses, pertencerá à Grã-Bretanha enquanto houver macacos (os únicos da Europa em liberdade)  no rochedo. Se Espanha não estiver disposta a fazer um crime ambiental...
 
 

quarta-feira, agosto 07, 2013

O Jocker bloquista de Bessa Leite


Sigo afanosamente campanhas eleitorais, sou a favor de criatividade e imaginação (e se for sem o auxílio de empresas de marketing e imagem mais valor terão), de frases e imagens criativas e apelativas do potencial eleitor, não só para apelar ao voto mas para fazer germinar uma qualquer ideia na cabeça do passante. Mas há algumas que de tão originais acabam por ser de gosto duvidoso. É o caso do cartaz do candidato do Bloco à Câmara do Porto, José Soeiro, pintado na rotunda de Bessa Leite. O slogan tem o seu interesse, embora seja claramente direccionado para o habitual votante bloquista. Mas aquela cara do candidato lá estampada tem qualquer coisa de animalesco e apalhaçado ao mesmo tempo. Se fizermos uma metáfora cinematográfica, faz lembrar o sinistro Jocker, na versão Eath Ledger, ou o Chewbaca de A Guerra das Estrelas. Bem sei que os cartazes do Bloco nem sempre primam pela elegância estética, mas este, que foi certamente pensado e delineado com alguma preparação, até porque é exemplar único, faz com que se pergunte que raio terá passado pela cabeça de Soeiro e dos artistas que pintaram isto. Em tempos, o PSR, espinha dorsal do actual BE, tinha campanhas imaginativas e que atraíam a atenção, mesmo que os resultados eleitorais fossem inconsequentes. Agora, a tradição da criatividade mantém-se, mas com campanha tão esquisita, dá-me ideia que os resultados também não vão ser famosos. Nas autárquicas elegem-se pessoas, senhores directores de campanha do Bloco, não vilões de banda desenhada.
 
 

segunda-feira, agosto 05, 2013

Símbolos dos eighties que se vão

 
 
Os anos oitenta registaram grandes perdas nos últimos dias de Julho. Não só Fernando Martins, o presidente do Benfica que teve a brilhante ideia de contratar Eriksson (com o êxito que lhe é reconhecido), fechou o grandioso terceiro anel da Luz e recuperou a moral a uma equipa que tinha acabado de perder 7-1 para o seu maior rival, levando-a a conquistar o título daquele ano. Também desapareceu Dennis Farina, habitual em séries policiais, que ora fazia de gangster, ora de polícia. Foi precisamente no papel de um cop, o temerário Mike Torello, que protagonizou uma famosa série policial dos anos oitenta, Crónica do Crime (ou Crime Story), numa América pujante e mitificada dos anos cinquenta, sempre numa luta interminável de morte contra o impiedoso vilão Ray Luca, e que teve um final algo abrupto. Lembrei-me precisamente da série e da sua banda sonora quando soube da sua morte. Ficou o genérico, como recordação.
 
 

Pibulls e juízes a iniciar a silly season


A silly season está aí, não haja dúvida. Mal chegou Agosto e surgiram logo notícias a comprovar a época com estrondo, em situações caracterizadas pela total ausência de bom senso e lucidez mínima.
 
A notícia da entrega provisória do célebre Zico - o pitbull que matou uma criança em Beja, há meses - à associação Animal, por força de uma providência cautelar, para o "reeducar", levou a sua dirigente máxima à total excitação, de tal forma que decidiu rebaptizar o animal de "Mandela". Razão?  Segundo os animalistas, "tal como o líder sul-africano este cão também é um símbolo de liberdade. Esteve preso sete meses sem saber porquê, tal como Mandela esteve preso mais de duas décadas". Não me lembro de ver o autêntico Mandela a estraçalhar criancinhas, nem me parece que o cão tenha promovido a paz e a reconciliação entre comunidades, mas é difícil pedir discernimento a esta gente, obcecada que está em proteger tudo o que é "pessoa não-humana" (parece que os indianos, que tratam melhor as vacas do que as crianças, têm a mesma ideia). Mas e se a acção principal não proceder, a providência cautelar (que, recorde-se, tem efeitos provisórios e temporários) caducar, e o cão for mesmo abatido, que irá dizer a Animal? Foge com o cão? Dá-lhe o nome de Cristo ou de um mártir qualquer, passando o referir-se-lhe como uma vítima da luta pela "causa animalista"? Valha-os Deus...
 
No mesmo dia, outro caso, o da decisão do tribunal da Relação do Porto, que obrigou uma empresa a reintegrar um trabalhador que tinha sido despedido por estar com um grau excessivo de álcool no horário de trabalho (e ser protagonista de um acidente, com outro colega também com os copos). Pode-se discutir se o despedimento seria ou não uma sanção demasiado gravosa, mas atente-se no acórdão, de uma tribunal que até já absolveu um violador comprovado: "Note-se que, com álcool, o trabalhador pode esquecer as agruras da vida e empenhar-se muito mais a lançar frigoríficos sobre camiões, e por isso, na alegria da imensa diversidade da vida, o público servido até pode achar que aquele trabalhador alegre é muito produtivo e um excelente e rápido removedor de electrodomésticos". Se isto fizer jurisprudência, bem podemos ir todos aos bordos para o respectivo trabalho para "esquecer as agruras da vida" e ser mais "produtivos". Aliás, se acreditam tão piamente no que decidiram, os doutos juízes da Relação deviam seguir o seu próprio acórdão, para se empenharem e ficarem mais produtivos, de forma a acelerar os procedimentos da justiça e tirá-la da sua eterna morosidade. É de perguntar se não teriam experimentado tal método alcoólico quando redigiram o acórdão. Não me espantava nada.

PS: para completar o ramalhete, ainda tivemos o caso de Américo Piçarreira, um assassino condenado a vinte nos de cadeia por matar uma mulher e os dois filhos menores num assalto (mas que beneficiou de uma redução de pena), que entretanto já tinha fugido outra vez e feito uma data de assaltos, e que agora fugiu de novo aproveitando uma precária, com ameaças de morte a quem o tentasse capturar. Felizmente apanharam-no antes que conseguisse fazer mais vítimas. Gostava de saber quem são as bondosas autoridades responsáveis pela liberdade temporária de um infanticida que mostrou por mais do que uma vez estar longe da redenção. A Justiça, para cumprir o seguimento escrupuloso da Lei, precisa antes de mais de bom senso. É por não o haver que acontecem casos aberrantes como estes (ao passo que um ladrão de galinhas tem muitas vezes menos sorte). Esqueceram-se disso nas aulas do CEJ ou não faz parte da formação?

sábado, agosto 03, 2013

Resumidamente, Rio partiu tudo


A entrevista que Rui Rio deu à RTP acabou por ser muito mais contundente do que eu esperava. Críticas implícitas ao governo e à candidatura de Menezes, apoiada pela clique mais aparelhista do partido, seriam expectáveis. Mas o que se ouviu foram torpedos directos ao alvo: Maria Luís Albuquerque, a quem Rio não reconheceu condições nem "capacidade" para o cargo que ocupa (pela história dos swaps, da SRU, e não só); o próprio PSD, que acusou de apoiar uma política municipal durante 12 anos e querer vir agora defender o contrário; e Menezes, evidentemente, que teme que vá "destuir tudo o que fizeram em 12 anos", deixar um problema gigantesco em Gaia e a quem acusou de lhe fazer oposição por tudo e por nada, mais que a própria oposição. Se dúvidas havia do que Rui rio pensava do PSD actual, e sobretudo de quem o seu partido quer pôr à frente da câmara do Porto, ficaram agora completamente desfeitas. Será difícil substituir a Ministra das Finanças quando só ocupou o cargo há um mês, mas ao menos que os eleitores do Porto tenham compreendido o que os espera caso o bipolar Menezes ganhe, por desgraça, as próximas autárquicas. E se alguém quisesse um resumo do que Rio disse na entrevista, bastaria duas palavras: partiu tudo.