domingo, agosto 31, 2014

Benfica 2014-2015


À 3ª jornada já dá para fazer uma análise assim-assim do Benfica desta época. O "defeso" revelou-se atribulado, com as saídsa de boa parte dos titulares, algumas previsíveis ou conhecidas (Rodrigo, André Gomes, Garay, Siqueira), outras mais repentinas ou traumáticas (Oblak, Markovic), maus negócios no aspecto financeiro (Garay) ou desportivo (de novo Oblak e Markovic), e alguns bons negócios pelo montante envolvido (Oblak, Rodrigo).
Apesar disso, e dos maus resultados na pré-época, culminando com uma goleada em casa do Arsenal (o que não admirou, já que o centro da defesa estava a cargo de Sidnei e do jovenzinho César), a equipa mostrou que não tinha desaprendido de jogar futebol nos jogos oficiais que teve até agora. O problema é a dificuldade em marcar golos, mas sem um artilheiro de raiz não se pode esperar muito mais. No jogo da supertaça, por exemplo, contra um bom Rio Ave, deu para ver isso mesmo. Um bom jogo que podia não ter servido para nada pela míngua de golos, e que só se salvou nos penaltys.
Das contratações, Talisca tem mostrado qualidade, mas precisa ainda de experiência e músculo. Derley pode ser útil, Bébé é um risco calculado (talento não lhe falta, e o grande salto na carreira deu quando se mudou para Manchester, pelo que a adaptação a grandes palcos não será complicada), Eliseu não faz esquecer Siqueira, mas cumpre e tem um remate precioso. Ainda não deu para avaliar Benito, não conheço Samaris, apesar dos elogios e do preço,e quanto a Lisandro Lopez e Pizzi, tenho algumas expectativas, pelo que mostraram quando estiveram emprestados, mas a verdade é que ainda não mostraram o que valiam no Benfica.

Jesus disse que precisava de um guarda-redes e de um avançado. Guarda-redes já temos, e nesta altura e com os meios disponíveis dificilmente encontraríamos melhor que Júlio César, ex-guardião das redes do Brasil, do Inter milanês e do Flamengo, de qualidade, experientíssimo, e sobretudo de grande força psicológica, pelo que a derrocada do Brasil no mundial não o deverá afectar. Os brilharetes de Artur a defender penaltys mantiveram-no no posto, mas depois de mais um par de disparates que custaram dois pontos contra o Sporting (Chutar a bola na direcção em que Carrillo vinha? Quase apetece perguntar se era de propósito), já não há condições e Júlio César pode então ocupar o seu novo lugar de trabalho, para que afinal de contas o contrataram. Quanto à necessidade de um avançado, ficou cabalmente provada esta tarde: não sei quantas oportunidades construídas por Gaitan e Salvio desperdiçadas pela ausência de um homem golo. Enquanto não chega um, e esperemos que esteja para breve, resta-nos amaldiçoar a suposta birra de Jesus para com Nelson Oliveira, que podia ajudar. Entretanto, se Enzo sair, ficamos com mais problemas. As lesões prolongadas de amorim e Fejsa fragilizam o meio-campos, e os que estão são poucos. Por isso, comprar um artilheiro, manter Enzo (a não ser que paguem a cláusula de rescisão, até porque o dinheiro é bem necessário) e apostar em jogadores como Lisandro e Oliveira é imperioso. Ainda assim, adivinha-se um ano complicado. E o sorteio da Liga dos Campeões não ajudou...

quinta-feira, agosto 28, 2014

Há setenta anos, um grande acontecimento pouco recordado


Pouco se falou disso, mas na última segunda-feira, dia 25, passaram setenta anos da libertação de Paris, com a entrada das força Aliadas na capital francesa e a rendição das tropas alemãs comandadas por von Choltitz. Houve comemorações na cidade, claro, sob o patrocínio de François Hollande, decerto mais preocupado com a crise governamental do executivo Valls, mas por cá pouco se noticiou a efeméride. A verdade é que durante a ocupação alemã, não poucos franceses colaboraram ou toleraram os ocupantes, a par dos que resistiram e a sofreram na pele, enquanto a maioria procurava fazer a vida de todos os dias como podia. Mas é bom não esquecer que para além do simbolismo da libertação de uma cidade como Paris, depois de aos de domínio pelas tropas de um estado totalitário (coisa inédita desde os hunos e vergonha imensa para o orgulho francês), evitou-se a destruição à bomba e pelas consequentes inundações de uma das cidades mais magnificentes do globo. As ordens de Berlim eram claras: Paris só cairia nas mãos das tropas anglo-britânicas em ruínas, depois de se rebentar com a quase totalidade da cidade, a começar pelos edifícios e monumentos mais importantes. Ou seja, só por cima do seu cadáver de escombros fumegantes. Von Choltitz esteve à beira da tentação de cumprir as ordens de um acossado e enfurecido Hitler, com ameaças pendentes sobre a própria família, mas acabou por resistir e ordenar a rendição sem levar avante o terrível plano. O filme Diplomacia, de Wolker Schalondorff, baseado na peça do mesmo nome (e com os mesmos actores), e que esteve há bem pouco tempo nas salas de cinema, baseado na conversa durante a noite de 24 para 25 de Agosto de 1944 entre o general alemão e um cônsul sueco, é um bom instrumento para perceber todas as difíceis decisões que pesaram na rendição das tropas ocupantes e as suas (não) consequências. E que devia te sido tão comemorado como outros acontecimentos da guerra. Infelizmente, a falta de memória e o Verão quente (não em sentido metereológico) que vamos atravessando empurraram essa comemoração para uma quase irrelevância e secundarização que definitivamente não merecia.





sábado, agosto 23, 2014

Que não nos falte nada


Festas de Viana, festas de Ponte da Barca, festival de Paredes de Coura, festas das revistas "cor de rosa", festas privadas...o Alto Minho parece estar numa enorme festa colectiva, este fim de semana. E no entanto, entre a nortada e as estradas que atravessam pinhais e campos de milho, é possível escapar-lhes e gozar de luz e o silêncio, dois bens preciosos nesta vida. Para quem quiser, ou mesmo apenas por algum tempo, antes de se voltar á música (de preferência de concertinas), às danças e ao convívio. Há de tudo, nesta terra.

sexta-feira, agosto 15, 2014

Desaparecimentos estivais


Causou comoção em toda a parte o desaparecimento de Robin Wiliams. Não sou de modo algum uma excepção. Durante muitos anos fazia parte da meia dúzia dos meus actores de cinema favoritos. O Clube dos Poetas Mortos marcou-me tal como a quase todas as pessoas da mesma idade (era claramente o meu filme de eleição durante largo tempo). Mas para além do professor heterodoxo, idealista e motivador, ou do radialista pouco convencional de Good Morning, Vietnam, os mais recordados, houve mais uns quantos papéis que o distinguiram tanto como "comediante" como com a sua "faceta séria". O do homem profundamente traumatizado que caiu num misto de indigência e lirismo de O Rei Pescador; o de Peter Pan crescido, esquecido e aburguesado de Hook, a continuação da obra de J. M.Barrie; o iludido psiquiatra de Despertares; a criança em corpo de adulto com crescimento anormal de Jack, um dos primeiros "experimentalismos" de Copolla; o do pai travestido em ama para poder estar perto dos seus filhos no hilariante Mrs Doubtfire; o do assassino chantagista no jogo de Insónia; o fotógrafo solitário e psicótico de One Hour Photo; a materialização de Popeye num dos seus primeiros papeis; e evidentemente o papel que lhe deu o seu único Óscar, o do psicólogo de O Bom Rebelde, uma espécie de versão mais desencantada e envelhecida da sua personagem e O Clube dos Poetas Mortos.
Longe de ser um "actor do método" (dele diziam que mal paravam as filmagens voltava a ser ele próprio no mesmo segundo), e não sendo apenas um comediante, Robin Williams dificilmente conseguia afastar essa imagem, colando sempre algum traço de comicidade mesmo em "filmes sérios". Mas em noutras escassas ocasiões conseguiu-o (em Insónia, por exemplo), mostrando uma faceta mais negra e obscura. Talvez tenha sido essa que o levou à terrível depressão que acabou com ele e que nos privou subitamente de um actor que há muito fazia parte das nossas vidas.


E no dia seguinte, também desaparecia Lauren Bacall, a última diva, uma das mais bonitas actrizes americanas de sempre, a mulher fiel a Humphrey Bogart, com quem se casou aos vinte anos, a adversária da tara mccarthista. Um mito vivo até agora, em todos os sentidos.


E já agora, não se comparando, assinale-se o desaparecimento de Emídio Rangel. Suscitou-me sempre reservas, por causa da sua ideia de mediatismo quase ilimitado, de "vender presidentes da república como um sabonete", conseguindo conquistar as audiências com programas brejeiros ainda que inovadores, como o Big Show Sic, ou dos seus elogios cegos e indisfarçados ao governo de José Sócrates. Mas também foi o autor de interessantes projectos jornalísticos, para além da SIC, como a TSF, impondo um modelo de informação independente das agendas governamentais que deixou a comunicação social estatal confundida e obrigando-a a mudar. Só isso equilibra de forma muito positiva o seu papel na história dos media em Portugal.

quinta-feira, agosto 07, 2014

Óscar "Tacuara" Cardozo

 

De entre as numerosas saídas do Benfica neste período ainda de "mercado" destaca-se a de Cardozo. Não pelos números envolvidos, que não passam dos cinco milhões de euros, nem por especial surpresa, ele que já no ano passado estava "à venda" e que na época que passou, desde a sua lesão que se andava a arrastar em campo. Mas por ser já um jogador "da casa", pela sua passagem longa pelo Benfica, e sobretudo pelos muitos golos que marcou de águia ao peito, que o tornaram num dos maiores artilheiros da história do clube. É verdade que às vezes enervava um pouco, pela sua aparente dormência ou alheamento do jogo, pela falsa lentidão, por ferver em pouca água ou pelos penaltys falhados (vide final da UEFA contra o Sevilha, ou mais ainda, a penalidade falhada contra Espanha no Mundial de 2010 pela sua selecção, que podia ter alterado a própria história do futebol). Mas os golos do Tacuara deram grandes alegrias aos benfiquistas. Em sete épocas, por duas vezes sagrou-se melhor marcador do campeonato, e noutras duas teve lesões durante boa parte das mesmas. Marcou golos de todo o tipo, com maior ou menor dificuldade, mais ou menos técnica, muitos decisivos, outros nem tanto. Foram 193 em todas as competições. Destaco os dois ao Rio Ave no jogo do título de 2010, os vários ao Everton nessa mesma época, os dois que marcou ao Fenerbahçe que levaram o Benfica à final da UEFA de 2013, claro está, os muitos que marcou a Sporting (o hat-trick para a Taça) e Porto, e o que marcou ao Celtic em 2007 - uma excelente execução, que garantiu o triunfo, e também o primeiro que vi ao vivo. Entre muitos, são os que me vêm à cabeça.
 
Mas Cardozo já não era o mesmo, e a sua venda ao Trabonzspor é o caminho lógico para a sua carreira. O Benfica recebe algum dinheiro, o paraguaio consegue um contrato onde ganha bem mais e os turcos talvez aproveitem uma réstia goleadora do Tacuara.
Mas Tacuara vai deixar saudades. E tão cedo não será esquecido. Não merece
 
 

terça-feira, agosto 05, 2014

Nos cem anos do início da 1ª Grande Guerra



Há exactamente cem anos começava o conflito depois conhecido como Grande Guerra, ou Primeira Guerra Mundial. A pesada efeméride não tem passado despercebida também em Portugal, que embora não tenha sofrido acções bélicas no seu território europeu, travou encarniçados combates em África e na Flandres, onde milhares de portugueses sem experiência de guerra nem material condizente com as circunstâncias (apesar do patético "Milagre de Tancos" com que se quis impingir a ideia de um exército devidamente treinado em poucas semanas) morreram em condições tremendas para defender " o prestígio da república".
Não faltam agora séries, documentários, edições especiais e livros (um agradecimento especial ao Expresso que editou em vários fascículos, e gratuitamente, o pesado tijolo da autoria de Martin Gilbert, que há muito queria ler) sobre o acontecimento, pelo que durante os próximos meses não faltarão ocasiões para o relembrar, às suas batalhas e aos protagonistas.
É curioso notar como alguns mitos hoje em dia são tão apregoados, apesar de terem sido supostamente erradicados pela Grande Guerra (ou pela lógica dela resultante).
Um deles é o da necessidade de um Mundo "multipolar", por oposição ao controlo por uma ou duas superpotências, como se verificou depois da 2ª Guerra, e sobretudo no pós-1989. É que a guerra de 1914-18 deu-se precisamente pela explosão das tensões entre diversas potências europeias, como o Império Britânico, a França, a Rússia, o Império alemão e o Austro-Húngaro, aos quais se juntaram o Otomano, os EUA e o Japão, entre outros. Potências a mais redundaram numa guerra sem quartel. A multipolaridade não impediu a guerra, antes a incitou.
O outro é o dos benefícios infinitos da técnica e da tecnologia. Uma das características da Grande Guerra foi que a revelação de que as velhas tácticas, instrumentos e demais elementos de combate se tinham tornardo obsoletas com a profusão de novos equipamentos, como os tanques de guerra, os aviões (e em parte os zepellins), os submarinos ou os gases venenosos. A tecnologia serviu apenas para ceifar ainda mais vidas e deixar um rasto incalculável de mortos e estropiados nas trincheiras, e um cenário de incrível destruição entre as jovens gerações europeias, que não estavam de todo preparadas para o que iam enfrentar.
Começou há cem anos.


domingo, agosto 03, 2014

Uma questão e uma lembrança

 
As acções de guerra em Gaza sucedem-se, com Israel a carregar nos ataques para desmantelar a facção militarizada do Hamas, os seus rockets e os seus túneis. Pelo caminho, mais umas dezenas de mortos. Posso perceber que as intenções do Hamas sejam vis, que usem escudos humanos, que governem aquele território com mão de ferro, percebo isso tudo. Mas se certos alvos das forças israelitas, nomeadamente escolas e hospitais, albergam arsenais se armas e mísseis, não seria melhor abster-se de os destruir, poupando assim inúmeras vidas, muitas de mulheres e crianças? Sobretudo quando os ditos mísseis poucas ou nenhumas vítimas farão do lado israelita, até pelo sistema de defesa implantado e que já demonstrou a sua eficácia? Aparentemente, para os responsáveis militares, não: é preferível rebentar com todo o arsenal do Hamas mesmo que para isso se sacrifiquem incontáveis civis. Há fanáticos do lado palestiniano, do lado israelita não parece haver menos.
 
Boa lembrança no artigo de Azeredo Lopes. Os cristãos da Mesopotâmia serão em breve uma lembrança, uma curiosidade de historiadores. Curiosamente não vejo uma manifestação, um protesto, uma indignação semelhante ao que acontece com os palestinianos (e pode-se dizer o mesmo dos curdos). Só mesmo para criticar os EUA e aliados pela invasão do Iraque. Aparentemente, as causas só valem a pena se for para criticar o Ocidente, já que os outros parecem escapar sempre. A eterna culpa do Homem Branco, cada vez mais solidamente implantada.