sexta-feira, agosto 15, 2014

Desaparecimentos estivais


Causou comoção em toda a parte o desaparecimento de Robin Wiliams. Não sou de modo algum uma excepção. Durante muitos anos fazia parte da meia dúzia dos meus actores de cinema favoritos. O Clube dos Poetas Mortos marcou-me tal como a quase todas as pessoas da mesma idade (era claramente o meu filme de eleição durante largo tempo). Mas para além do professor heterodoxo, idealista e motivador, ou do radialista pouco convencional de Good Morning, Vietnam, os mais recordados, houve mais uns quantos papéis que o distinguiram tanto como "comediante" como com a sua "faceta séria". O do homem profundamente traumatizado que caiu num misto de indigência e lirismo de O Rei Pescador; o de Peter Pan crescido, esquecido e aburguesado de Hook, a continuação da obra de J. M.Barrie; o iludido psiquiatra de Despertares; a criança em corpo de adulto com crescimento anormal de Jack, um dos primeiros "experimentalismos" de Copolla; o do pai travestido em ama para poder estar perto dos seus filhos no hilariante Mrs Doubtfire; o do assassino chantagista no jogo de Insónia; o fotógrafo solitário e psicótico de One Hour Photo; a materialização de Popeye num dos seus primeiros papeis; e evidentemente o papel que lhe deu o seu único Óscar, o do psicólogo de O Bom Rebelde, uma espécie de versão mais desencantada e envelhecida da sua personagem e O Clube dos Poetas Mortos.
Longe de ser um "actor do método" (dele diziam que mal paravam as filmagens voltava a ser ele próprio no mesmo segundo), e não sendo apenas um comediante, Robin Williams dificilmente conseguia afastar essa imagem, colando sempre algum traço de comicidade mesmo em "filmes sérios". Mas em noutras escassas ocasiões conseguiu-o (em Insónia, por exemplo), mostrando uma faceta mais negra e obscura. Talvez tenha sido essa que o levou à terrível depressão que acabou com ele e que nos privou subitamente de um actor que há muito fazia parte das nossas vidas.


E no dia seguinte, também desaparecia Lauren Bacall, a última diva, uma das mais bonitas actrizes americanas de sempre, a mulher fiel a Humphrey Bogart, com quem se casou aos vinte anos, a adversária da tara mccarthista. Um mito vivo até agora, em todos os sentidos.


E já agora, não se comparando, assinale-se o desaparecimento de Emídio Rangel. Suscitou-me sempre reservas, por causa da sua ideia de mediatismo quase ilimitado, de "vender presidentes da república como um sabonete", conseguindo conquistar as audiências com programas brejeiros ainda que inovadores, como o Big Show Sic, ou dos seus elogios cegos e indisfarçados ao governo de José Sócrates. Mas também foi o autor de interessantes projectos jornalísticos, para além da SIC, como a TSF, impondo um modelo de informação independente das agendas governamentais que deixou a comunicação social estatal confundida e obrigando-a a mudar. Só isso equilibra de forma muito positiva o seu papel na história dos media em Portugal.

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