quinta-feira, fevereiro 28, 2013

A grande tradição italiana de ingovernabilidade


A Itália depois das eleições está ingovernável, diz-se. Grande novidade. Quando é que a Itália teve uma fase de estabilidade governativa (desde Mussolini, perceba-se)?

A 1ª República italiana distinguiu-se pelo seu sistema proporcional e por uma infinidade de governos, todos com a Democracia Cristã à frente. O outro grande bloco era o Partido Comunista, que durante alguns anos se manteve fiel à URSS, tanto que o slogan dos democratas-cristãos nas primeiras eleições do pós-guerra, tirado dos livros de Guareschi, era: "no segredo da cabine eleitoral, Deus vê-te, Estaline não". A DC invariavelmente ganhava as eleições com maioria relativa, a pouca distância do PCI, e recorria a alianças com outros partidos, como o Socialista, o Liberal, o Republicano ou o Social-Democrata. Ainda assim, os governos raramente duravam dois anos, e este estado de coisas manteve-se até ao escândalo Tangentopoli, ao referendo eleitoral e ao desmoronar de uma partidocracia apodrecida, dando origem à 2ª República.

Aí surgiram novos partidos dos cacos dos anteriores. O PCI tinha acabado, entretanto, dando origem ao PDS, de ideologia social-democrata, que ocupou o lugar do desacreditado PSI, de Craxi, e do PSDI, enquanto a minoria mais radical originava a Refundação Comunista. Berlusconi, até aí ligado ao seu império da comunicação social e ao futebol, surgiu em cena na política, largando a sua Força Itália, que juntamente com pequenos partidos centristas, engoliu o voto da extinta DC. A direita votava na Liga Norte, do populista Bossi, e na renovada Aliança Nacional, de Fini, que deixara para trás o neo-fascismo, num movimento semelhante ao do PCI/PDS.
Berlusconi dominou esse período, ora assumindo o governo, com apoio de Fini e da Liga Norte, ora revezando-se com o bloco constituído à volta do PDS. Sucediam-se as coligações, listas em torno de uma personalidade ou pequenos partidos efémeros.

Este estado de coisas acabou com a ascensão de Mario Monti ao governo. A sua governação parecia agradar aos italianos, mas quando estes foram chamados às urnas, há dias, deram um resultado desconsolador à aliança política centrista que sustentava Monti, uma parca confiança ao Partido Democrático, de centro-esquerda, herdeiro do PDS, recuperaram Berlusconi, considerado há meses politicamente cadavérico, e deram uma enorme votação ao movimento cinco Estrelas, do comediante populista Beppe Grillo.
 
Agora, Bersani tem maioria na câmara dos deputados, mas não no Senado, nem sequer coligando-se com monti, que seria o objectivo principal. Beppe Grillo, o maior fenómeno destas eleições, com comícios de centenas de milhares de pessoas em autêntica tourné por Itália, teve um resultado estrondoso. Munido das suas novas armas eleitorais, brama contra o sistema e considera que os adversários são "cadáveres políticos": não se alia a Berlusconi mas também não viabiliza um governo com Bersani à frente. O seu movimento elegeu desempregados e trabalhadores precários para os órgãos legislativos; vão poder renovar a classe política, e ao mesmo tempo saber o que custa fazer parte da mesma. Se vão mudar alguma coisa ou ganhar vícios políticos é coisa que se verá daqui para a frente. Mas se Grillo persistir em fazer meramente de travão e impedir qualquer solução governativa, o apoio popular de que gozou esvaziar-se-à mais rapidamente do que o do velho PRD.
 
Um novo governo italiano, sustentado no Partido Democrático e na coligação que apoiou Monti, terá de se sustentar num equilíbrio instável para aguentar o país e tentar algumas reformas. Mas já se sabe que nunca durará assim tanto tempo. Berlusconi, como se viu, tem mais vidas que um gato, e mesmo abandonado por antigos aliados, como Fini, mantém-se à tona, o que mostra que os italianos votam mais depressa em projectos populistas do que em partidos de quadros qualificados. Grillon é a grande incógnita. Bersani tem a batata quente, a meses da saída do velho presidente Giorgio Napolitano.
 Aconteça o que acontecer, manter-se-à essa grande instituição italiana chamada "instabilidade governativa".

quarta-feira, fevereiro 27, 2013

A última audiência de Bento XVI


Trechos das palavras do Papa Bento XVI, esta manhã, em S. Pedro, na sua última audiência ao público, perante  mais de 150 mil pessoas, antes de efectivamente renunciar, às 20:00 horas (menos uma em Portugal), e de se retirar como Papa Emérito. Para se ver o discurso completo, basta carregar no link.



E o que disse em português:


Óscares 2013


Pareceu-me um sentimento quase generalizado, mas este ano pouco me interessaram os Óscares. Fosse pela safra de menor qualidade, pelo desconhecimento do que ia a jogo, ou por raramente constituírem surpresa, não dediquei muito do meu tempo à cerimónia e aos resultados. Ainda assim, vi o resumo que habitualmente a TV dedica ao acontecimento da "Academia". Não fazia a menor ideia quem era o apresentador, e só depois é que soube que era o argumentista do filme em que o urso de peluche ganha vida e se torna no melhor (e mais javardo) amigo de Mark Whalberg, que andou pelos cinemas há pouco tempo. Umas piadas com mais ou menos graça, uns números de dança banais para "celebrar os musicais", e dois vídeos hilariantes (o das "we saw your boobs" e a recriação de Flight com marionetas feitas de meias), assim se resumiu a apresentação do evento.
 
Nos vencedores, a vitória de Daniel Day Lewis pela sua interpretação de Lincoln, que lhe deu um inédito terceiro Óscar de Melhor Actor (ele, que entra em filmes de 3 em 3 anos e que promete não ficar por aqui) foi uma não-surpresa; o contrário é que teria deixado todos de queixos no chão. Um filme sobre um presidente americano com uma imensa carga mítica e simbólica, realizado por Spielberg e protagonizado por Day-Lewis estaria fatalmente votado ao sucesso. E no entanto, poucas distinções levou. Era dos poucos filmes a concurso que tinha visto; não é exactamente um biopic, nem um épico, mas antes uma fita sobre os procedimentos políticos, incluindo os mais duvidosos, para defender as causas mais nobres (José Dirceu, do "Mensalão", pode usar o filme na sua defesa no tribunal). E a par de Day-Lewis, as outras interpretações são também muito conseguidas. Sally Field já tem alguns Óscares para decorar a lareira, e decerto não se importará de ter perdido para Anne Hathaway; mas provavelmente houve quem se importasse, porque o prémio deveu-se a umas cenas desesperadas num musical integral sobre os Miseráveis de Victor Hugo, que é, ao que tudo indica, uma valente pessegada. Qualquer uma das concorrentes merecê-lo-ia com mais distinção.
 
Amour também não surpreendeu ao ganhar o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Não sou grande fã de Michael Haneke e preferia que este seu último trabalho tivesse ganho outro galardão: o de Melhor Actriz para Emmanuelle Riva, a protagonista de Hiroshima Mon Amour. Assim não o entendeu a "Academia", que deu o prémio à jovem (sessenta e dois anos de diferença para Riva), engraçada e para mim desconhecida Jennifer Lawrence, esperando que a sua carreira não despenque agora por aí abaixo.

Antes de Haneke, outro austríaco ganhou o Óscar de Melhor Secundário: Cristoph Waltz, de novo por um Tarantino, Django Unchained. Não sou também grande fã dos esguichos de sangue e de lutas em que vale tudo sobretudo tirar olhos, mas as actuações de Waltz costumam ser convincentes, e o filme era tudo menos politicamente correcto.
Ang Lee também ganhou (de novo) o galardão de melhor realizador, ele, que partiu de Taiwan e é agora um dos mais respeitados em Hollywood. E Ben Afleck, que nem estava nomeado para esse prémio, acabou por ficar com o de Melhor Filme pelo seu Argo, uma obra muito interessante e inteligente, com excelente fotografia, interpretações competentes e à qual nem falta suspense qb. Valeu até pelo seu discurso engasgado. E, claro, é sempre bom ver a outrora tão sofredora Adele ser galardoada com um Óscar, principalmente nas bodas de ouro de James Bond, pela sua envolvente Skyfall.


A reter: um conjunto de filmes estrangeiros que me pareceram interessantes (sobretudo o da famosa saga do norueguês Thor Heyerdahl pelo Pacífico, que espero que seja exibido nos cinemas de Portugal). E o facto de finalmente haver portugueses ligados a filmes vencedores de Óscares: a proeza coube a Rita Blanco, que faz de "concierge" em Amour. Mais sinais portugueses do que este é impossível.

quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Estalinegrado, setenta anos


Volgogrado é uma cidade como tantas outras da sua dimensão, na Rússia. Cerca um milhão de habitantes, inúmeras fábricas e também ruínas industriais, modernos edifícios mostrando semi-prosperidade, metro de superfície, alguns teatros e um importante porto fluvial, essencial ao tráfego do Volga, o enorme rio que lhe dá nome.

O que a distingue é ter servido de palco da mais terrível batalha que a História regista, que durou cinco meses, em condições infra-humanas (apanhou o terrível inverno russo), no meio de ruínas e trincheiras, provocando cerca de dois milhões de mortos, entre soviéticos, alemães, italianos, romenos e húngaros e outras nacionalidades, mas que mudou decisivamente o curso da guerra contra os alemães.

Essa memória permanece na cidade, considerada talvez a principal das "cidades-heróis" da URSS, pelo seu papel e heroísmo na "Grande Guerra Patriótica", a sub-guerra dentro da II Guerra Mundial entre alemães (e aliados) e soviéticos, que estes venceriam e que tanto influenciaria a Europa nas décadas seguintes. Não faltam monumentos em memória da batalha, alguns edifícios escalavrados da época, e muita simbologia soviética, à mistura com marcos do capitalismo global que invadiu a ex-URSS. Talvez por isso a cidade seja um bastião do Partido Comunista russo, com um presidente da câmara igualmente comunista, se denomine Estalinegrado durante alguns dias específicos do ano, e haja mesmo um movimento que quer que a cidade volte definitivamente à antiga denominação que homenageava o tirano georgiano.
 
 
A 2 de Fevereiro passaram setenta anos desde a rendição dos alemães na Batalha de Estalinegrado. A Rússia obviamente não se esqueceu de uma das datas mais importantes da "Grande Guerra Patriótica", particularmente na cidade onde se deu a batalha, e Putin esteve mesmo nas comemorações que lá se realizaram, assim como a memória de Estaline. Mas não me lembro de ver na nossa comunicação social, sempre carregada com as últimas manchetes bombásticas, qualquer artigo ou sequer uma notícia da data. Nada. Pode ser distracção minha ou então grave lacuna dos jornais e revistas.
 
 
Para relembrar o acontecimento, podiam ao menos reeditar Estalinegrado, de Anthony Beevor, uma biografia da batalha há muito esgotada no catálogo da Bertrand, Será pedir muito?

segunda-feira, fevereiro 18, 2013

A queda de Pistorius

 
Depois de Lance Armstrong, eis outro desportista que subiu aos píncaros e caiu com estrondo. Oscar Pistorius, o homem das pernas de metal, o atleta das próteses, o campeão paralímpico que atingiu os olímpicos da forma como nunca antes vista, a grande inspiração para todos os deficientes físicos do Mundo, preso por assassinar a namorada. O caso é diferente do de Armstrong, porque não está em causa o seu valor como atleta nem qualquer subterfúgio ou falácia desportiva, mas talvez seja ainda pior. Ao assassinar a namorada, fosse por drogas ou loucura repentina, Pistorius deu cabo da sua carreira e da sua imagem de desportista indómito que conseguia ultrapassar obstáculos sobre-humanos. Mostrou-se afinal um desvairado, um homem violento capaz de disparar sobre a sua própria namorada. Ultrapassou incríveis barreiras físicas e psicológicas, mas, e quem sabe se algumas coisas não influenciarão outras (lembram-se dos auxiliares artificiais dos atletas da RDA?), cedeu à raiva e ao total descontrolo. E assim caiu mais um herói dos desporto, logo um que certamente  inspirou tanta gente limitada fisicamente. O mundo precisa desesperadamente de heróis, como bem sabiam os gregos. Mais crimes ou revelações de manias não, por favor.
 
 

sexta-feira, fevereiro 15, 2013

Fúrias divinas


Há milénios que as tempestades, e particularmente as trovoadas, são interpretadas como sendo produto de uma fúria divina. Zeus dardejava raios do Olimpo, e para os nórdicos, Thor produzia-os a golpes de martelo. Ainda me lembro de ouvir mulheres a afirmar que quando havia trovoada era com certeza "Deus a ralhar".
 
Por muito que conheçamos os fenómenos metereológicos e as suas causas, há coisas que parecem mesmo demonstrar uma qualquer fúria divina. O terramoto descrito nos Evangelhos, quando Cristo expirou na Cruz, por exemplo, e cuja veracidade foi reconfirmada há pouco tempo. Mas nada desperta mais essa ideia do que os relâmpagos, por surgirem do negrume dos céus e fulminarem os seus alvos.
 
Na sequência do anúncio da renúncia do Papa, no mesmo dia, e a meio de uma tempestade nada estranha para a época, uma imagem condizente com o "estrondo" da notícia. Se passarmos o simples "fenómeno metereológico" e imaginarmos que seria uma mensagem divina, seria uma atitude de reprovação do gesto do Papa? Ou tal como no baptismo de Jesus, Deus quereria dizer "Este é o meu filho Bento, meu vigário sobre a Terra. Ouvi-o!"?
 
 

quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Uma renúncia inspirada pela Providência?


Como toda a gente, fui apanhado de surpresa pelo anúncio de renúncia do Papa Bento XVI ao Trono de Pedro, em plena travessia de um Marão coberto de neve. Já tinha pensado para mim próprio quanto tempo ainda duraria, dada a sua idade e alguns problemas de saúde, mas nunca me passou  pela cabeça que pudesse renunciar. Mais uma vez, Bento XVI surpreendeu-nos, tal como tem feito desde que ascendeu a Bispo de Roma, perante a desconfiança de muitos (eu incluído) por causa do seu cargo de Prefeito para a Congregação da Fé e da sua fama de "perseguidor de teólogos". Mas desde então, a ideia que tinha dele tem vindo, felizmente, a mudar por completo.

A "biografia" do seu Pontificado está bem resumida aqui, mas há alguns momentos a realçar, como as encíclicas Deus Caritas Est e Caritas in Veritate, o diálogo ecuménico com outros credos e com intelectuais ateus, como Habermas, ou as visitas arriscadas à Turquia, depois de mais uma polémica desencadeada por radicais islâmicos, e ao Líbano, em Setembro último, onde rezou uma missa para 350 mil assistentes quando a poucas dezenas de quilómetros dali continuava (e continua) a sangrenta guerra civil síria.
 
É verdade que a sua reconhecida inteligência e capacidade intelectual não evitaram um dos períodos mais cinzentos da Igreja Católica nas últimas décadas, com os tristemente célebres casos de pedofilia que vieram à tona (e a incapacidade para os resolver conjugada com más opções), a polémica com a questão de readmissão de alguns grupos integristas ou o recente caso do furto de documentos pelo próprio mordomo pessoal do Papa, o que levou à detenção deste e a revelar a guerra surda que se passa entre a Cúria. Mais: revelou que Bento XVI não era informado de um conjunto de assuntos de que deveria ter conhecimento. 
 
Também por isso se percebe o desgaste físico e psicológico do Papa. A idade não perdoa - quem, aos 85 anos, consegue passar o tempo a escrever matéria teológica com força ex cathedra, a rezar missas para milhares de pessoas, a receber em audiências semanais, a viajar para todo o mundo com uma agenda carregada, a ouvir os problemas de uma Igreja de mil milhões de seguidores - a sua saúde está em declínio, e nessas condições não tem já forças para afastar todos os problemas que o sobrecarregam. A decisão, surpreendente e estranha, não terá sido tomada de ânimo leve pelo bispo de Roma e grande pensador e teólogo que é Bento XVI.
 
A comparação com os últimos dias de João Paulo II é gritante. As opiniões dividem-se entre a "coragem e humildade" de Bento XVI e a "abnegação e sentido de missão" do antecessor. Recordo-me com sincera admiração do enormíssimo esforço do Papa polaco nos seus últimos dia, mostrando as suas fraquezas humanas a todos, sem se esconder dos olhos do mundo. E ao mesmo tempo não posso deixar de admirar o gesto quase pioneiro do Papa germânico, estrondoso, arrebatador e corajoso, pois provocaria sempre ondas de choque, que lhe dá um tremendo carácter de humanidade, com todas as suas fraquezas, que o coloca entre os restantes homens, como era Cristo na sua vinda ao Mundo.
 
 
Dizia um amigo meu que a concordância com gestos tão opostos era afinal a prova de um enorme relativismo por parte dos católicos. Esqueceu-se no entanto de um ponto: só ao Papa cabe decidir a sua continuação ou não no Trono de Pedro, pelo que só pode ser tomada se motivada por fortíssimos motivos. E que por ser uma decisão que só a ele cabe tomar, nela se manifesta a intercessão do Espírito Santo e a tão generalizada "infalibilidade Papal". Bento. XVI encontrou esses motivos, e ainda decapitou em boa parte os jogos de influências para a eleição do sucessor. É certo que mesmo em Castelgandolfo projectará sempre a sua sombra sobre o Conclave, mas permite que o novo Papa seja escolhido rapidamente e enfrente os problemas como ele já não podia fazê-lo e com uma renovada energia que ele já não detinha. Algumas decisões de homens da Igreja podem chocar e causar estranheza, mas não se duvide que nelas reside uma decisiva influência Providencial.

quinta-feira, fevereiro 07, 2013

"Casas de Brasileiro"


 
Sempre tive um fraco pelas chamadas "casas de brasileiro". Em tempos eram consideradas um símbolo de novo-riquismo e ostentação dos que voltavam a Portugal com grande fortuna feita no Brasil, para onde tinham partido décadas antes com uma trouxa e a roupa do corpo. Um pouco à imagem de muitos emigrantes que actualmente vêm de França ou da Suíça e constroem enormes vivendas de gosto duvidoso que os façam esquecer um passado pouco digno de memória. A grande diferença é que as casas dos brasileiros torna-viagem tinham na maioria das vezes uma sensibilidade estética e uma grandiosidade que os mamarrachos de betão actuais nem de longe nem de perto atingem (mas daqui a uns cem anos se verá se é mesmo assim ou não).
 
Talvez pelo seu exotismo ou por descender de um "brasileiro" que voltou à pátria, desde pequeno que estas casas me intrigaram. Há-as às dezenas pelo país, sobretudo no Norte e Centro, revivalistas, neomanuelinas, neogóticas, etc. A mais conhecida é o Palácio da Quinta da Regaleira, com os seus símbolo maçónicos e o seu poço iniciático, mas há muitas outras, como o palácio do conde Dias Garcia, em S. João da Madeira, a "Villa Idalina", em Seixas (talvez a de que me lembro há mais tempo), mesmo sobre a estrada e o rio Minho, o "castelo de Dona Chica", perto de Braga, a "Villa Campos" à saída de Vila Real, a Quinta do Montadonuma colina de Gaia sobranceira à foz do Douro, e tantas com menor ou igual valor arquitectónico.
 
Quem gostar destas construções pode ver a exposição de cinquenta fotografias de "casas de brasileiro" no Centro Português de fotografia, na antiga Cadeia da Relação, no centro do Porto. Não convém é haja grandes atrasos, porque só está aberta até dia 12 de Fevereiro, dia de Carnaval.
 
 

terça-feira, fevereiro 05, 2013

Princípio absoluto: final da Taça é no Jamor

 


Final da Taça que se preze é no belíssimo cenário do Jamor. Já passou pelas Antas e por Alvalade, certo (curiosamente, nunca pela Luz), mas não com a mesma mística e o mesmo simbolismo. Querer fazer a final da Taça em monos de cimento rodeados de nenhures como o Algarve ou Aveiro (ou mesmo Coimbra e Leiria), como sugerem os anti-Estádio Nacional, é pura tacanhez, ou então detestam a competição. Felizmente, e por ora, vai continuar a ser lá. Se tudo correr bem, irei pela primeira vez a uma final da Taça naquele estádio majestoso rodeado de bosques. Para ser perfeito, só mesmo se fosse de novo a 10 de Junho e desse para ir de comboio até à estação do Estádio Nacional. Mas que acima de tudo o Benfica ganhe o caneco, claro. Para alegria do povo...e minha.
 

A desaparecida estação do Estádio Nacional, terminal do ramal com o mesmo nome. Hoje em dia, no seu lugar, há um complexo de piscinas.

segunda-feira, fevereiro 04, 2013

Bond girl à falta de melhor


Vi há tempos o último James Bond, Skyfall, e fiquei dividido. Por um lado, não faltam boas cenas de acção, incluindo uma explosão na sede do MI-6 (curiosamente, dias depois de ver o filme ocorreu em Vauxhall, em frente ao mesmo edifício, do outro lado do rio, um choque entre um helicóptero e um guindaste, que provocou dois mortos e levantou suspeitas de atentado aos serviços secretos), um vilão ambíguo e torturado, o tradicional londrino e a curiosa homenagem a Sean Connery, indo às próprias raízes de Bond (além de uma espécie de eterno retorno em círculo ao início da carreira).
Por outro, a quase completa ausência de Bond girls, absurda e imperdoável falha, por certo com medo de acusações "sexistas", os irritantes estados de alma de 007, demasiado "introspectivo",  e claro, uma vez mais o próprio Daniel Craig, demasiado louro, demasiado atarracado, demasiado carrancudo.
 
Porém, há uma coisa há que desempata o julgamento: o tema título, de Adele, é do melhor, senão mesmo o melhor, que já ouvi em toda a saga. E isso já ajuda a decidir pela compra do bilhete, embora o filme já esteja a dar as últimas nos multiplexes. Mas não há problema, mesmo que resulte melhor com o resto da fita e no grande ecrã, não é preciso aturar a carranca de Craig para a ouvir. Adele é definitivamente a Bond girl do filme.