segunda-feira, maio 28, 2018

Direitos inalienáveis?


Não tenho, por princípio, uma opinião muito favorável à eutanásia (não se confunda com outras figuras, como a ortotanásia, ou seja, permitir o curso da vida sem suportes desnecessários). Menos ainda quando um grupo de partidos decide legalizá-la sem que tal estivesse inscrito nos respectivos programas eleitorais, sem um debate realmente aprofundado, por mera vontade de fazer acelerar uma legislação "progressista", que ainda por cima existe em pouquíssimos países, e não será por acaso. Ou seja, uma questão da maior gravidade pode passar por uma questão de afirmação política, quando nem sequer se deu oportunidade aos eleitores de exprimir uma opinião que fosse - e recordo que o PS recusou num primeiro momento a votação do casamento de pessoas do mesmo sexo por não ter inscrito a questão no seu anterior programa eleitoral.



Mas tenho acima de tudo uma dúvida: caso a eutanásia seja mesmo despenalizada, deixaremos de poder falar em "direitos inalienáveis"? É que francamente, não conheço direito menos inalienável do que a Vida. Caso deixe de o ser, façam o favor de, doravante, apagar a expressão de todas as normas, códigos e manuais onde ela exista.

O Padre Marto passou a Cardeal Marto


Com enorme atraso, aproveito para saudar e felicitar D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, pela sua nomeação para Cardeal. Mas não deixa de ser um tudo de nada estranho ver o nosso antigo e afável professor de Mundividência Cristã, o único que nos tratava por tu, que chegou a ser operário para conhecer a vida dos trabalhadores fabris, usar a púrpura cardinalícia, e sobretudo, participar num conclave (que espero que venha tarde) de onde pode sair Papa. Não é nada fácil imaginá-lo a saudar milhões de pessoas do alto da varanda de S. Pedro, vestido de branco.

quarta-feira, maio 23, 2018

Sobre uma Taça de Portugal atípica


Os meus parabéns ao Desportivo das Aves pela conquista da Taça de Portugal: pela primeira vez um clube do concelho de Santo Tirso, de onde o meu Pai é natural, ganhou uma prova nacional de futebol. Já não se devia ver uma coisa semelhante desde que o Tirsense, então na terceira divisão da época, eliminou o Sporting dos Cinco Violinos - embora sem o Jesus Correia (desta o meu Pai ainda se lembra).
O Aves merece todo o reconhecimento pela forma inteligente como jogou, pela enorme massa humana que levou ao Jamor (tanta ou mais que a população da Vila das Aves!) e pela forma como o ignoraram durante toda a semana (e, pelo que vi num medley de notícias, em que só falam das reacções à derrota do Sporting, e às "lágrimas dos jogadores", etc, continuam a ignorar).

Uma palavra para Quim, que muitos não se lembram mas que chegou a ser o titular da Selecção: com quase 43 anos, numa exibição magnífica e provavelmente no último jogo da carreira, o bom e velho Quim ganhou finalmente a Taça que não tinha. Já tinha perdido finais, já tinha sido goleado numa meia final há dez anos precisamente pelo Sporting (já com Rui Patrício do outro lado), mas na última oportunidade possível, já quase fora de prazo, agarrou no troféu, e logo como capitão. Talvez Buffon tenha saído da Juventus cedo demais.

Nos últimos anos, o vermelho tem levado sempre a melhor no Jamor. Fica-lhe bem.

Para acabar, Rui Patrício, William e Gelson: limpem as lágrimas e sobretudo a cabeça. Há uma taça do Mundo para ganhar e precisamos de vocês.

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quinta-feira, maio 17, 2018

O "karma" recaiu sobre o Marselha


Voltando ao tema "bola a sério", que parecendo que não é coisa de que não se tem falado, há pouco o Atlético de Madrid venceu tranquilamente o Olympique de Marseille por 3-0 na final da Taça UEFA. Preferia que tivessem sido os franceses (quem eu gostava mesmo que tivesse ganho era o Arsenal, que nem conseguiu chegar à final, porque Wenger já merecia uma taça internacional na despedida), mas pronto. Só que o Marselha caiu quando se lesionou o seu melhor jogador, Payet. Sim, esse mesmo, o que magoou Cristiano Ronaldo na final do Euro 2016, que felizmente acabámos por ganhar. Lá se fazem, cá se pagam.

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quarta-feira, maio 16, 2018

O (fundo do) poço do Bruno



A pensar nesta história toda do Sporting, há uma coisa que me espanta mais que tudo (sim, haver hooligans que batem nos próprios jogadores é menos surpreendente, palavra de honra): se Bruno de Carvalho não está por trás dos ataques ao plantel, como é que se explica que um tipo que reage de forma incendiária e truculenta à mínima provocação de que é alvo possa dar tão pouca importância a isto, ao ponto de dizer disparates como "o crime faz parte do dia-a-dia"? Não lhe ouvimos dizer sobre os agressores o mesmo que disse de dirigentes desportivos rivais. Um líder deve acima de tudo defender os seus. Só que Bruno está-se borrifando para isso, e anda como sempre mais preocupado com o seu ego e com o seu poder entre as massas ululantes do que com a instituição que lidera e os que a servem. Já se conhecia a miséria moral da criatura, mas isto só mostra que o poço ainda é mais fundo do que se julgava.


E pensar que há quem o compare a Vale e Azevedo. Não repitam isso, por favor. É um insulto gratuito a Vale, que não o merece.


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terça-feira, maio 15, 2018

Isto era mas é tudo para "branquear"


Sem querer passar por áugure, a fraca votação da canção portuguesa do Eurofestival da Canção não era propriamente imprevisível. Quem achou que tinha alguma hipótese de ganhar que se acuse. Porque para isso, em primeiro lugar, seria bom saber cantar. A música nem era má de todo - não era pior do que muitas das que se apresentaram a concurso, incluindo a vencedora, a que Salvador Sobral se referiu sabiamente como sendo "horrível" - mas a interpretação, com miados e sem conseguir chegar ao fim das notas, era sofrível.
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Mas escapam-me os critérios para apurar os vencedores: em primeiro lugar ficou uma canção pop cantada em inglês, de uma israelita gordinha vestida de gueixa (deve ser por isso que estavam sempre a falar de "diversidade"), que parece que versava sobre a igualdade das mulheres, e os direitos sociais, e em segundo uma cantiga fogosa (tanto que o título era Fuego), de uma cipriota com silhueta agradável e uma coreografia a tentar passar por uma Shakira do Levante, talvez por ser proveniente da "Ilha de Afrodite". Fosse eu a decidir e ficavam mais cá para o fim, ao contrário das músicas candidatas de Itália, Áustria ou Letónia, mas como sou um leigo na matéria tenho de me render às evidências. Não há como uma vitória portuguesa para nos dar algum interesse pelo evento.


Entretanto, e como o Luís já recordou, alguns "activistas", entre os quais o sempre pronto Bloco de Esquerda, encetaram uma campanha de boicote à música de Israel, porque esta, apesar de apelar a valores que à partida seriam caros aos bloquistas, era "uma forma de branquear a opressão do povo palestiniano  e a acção terrorista de Israel a nível internacional". Para além disso, consta que a autora esteve na marinha israelita (previsivelmente no tempo obrigatório de serviço das forças armadas israelitas), cuja missão parece que é "manter a Faixa de Gaza sob um bloqueio cerrado, manter o porto de Gaza bem fechado, manter a economia de Gaza totalmente paralisada e a população à beira do desastre humanitário total". Pior: a cantora entretinha os marinheiros com as suas músicas (o que já de si é um indício à notória cultura patriarcal e machista), em especial de um barco que anos mais tarde dispararia sobre palestinianos em Gaza, o que a torna cúmplice, por conhecimento prévio, desses crimes futuros.


A música, como se sabe, ganhou com os votos do público, indiferente à vileza da cantora, ao branqueamento dos crimes de Israel e aos sábios avisos dos pupilos de Catarina Martins (perdão, pupilxs, que como se sabe ali não há diferenças de género). Felizmente que se tratava do Bloco, feroz adversário de todos os preconceitos e fobias, senão poder-se-ia pensar que se tratava de puro anti-semitismo. Nunca a amálgama dos movimentos que em tempos aclamavam Mao, a Albânia e Trostky, esse judeu, poderia ser anti-semita.


O problema é que a vitória de Israel no eurofestival dá-se numa altura em que o país atacou posições iranianas em plena Síria e nas vésperas de completar setenta anos. Teme-se que o entusiasmo e os festejos provoquem mais fogo de artifício que transborde de novo para lá da fronteira com a Síria. E Benjamin Netanyahu, como já se percebeu, é um grande apreciador deste tipo de fogo de artifício.