domingo, dezembro 31, 2017

Fim de ano


Como é costume, A Ágora deseja bom ano a todos os que por aqui ainda vão aparecendo, esperando que em 2018 haja mais posts, entrecortados com os do Delito de Opinião.

Bom ano de 2018 d. C.

sexta-feira, dezembro 22, 2017

O dia seguinte ao 21-D


Se há coisa que não se pode dizer depois das eleições na Catalunha é que alguma é previsível e simples. É a velha questão dos copos: se por um lado os partidos independentistas repetem a maioria absoluta (se juntarmos tudo, claro), por outro é a primeira vez que um partido não regionalista ganha as eleições naquela região. Se o PP de Rajoy leva uma banhada histórica, a CUP anticapitalista e independentista radical leva outra. E se Puigdemont ontem dizia coisas como "a república catalã (qual?) venceu a monarquia espanhola", hoje já vem pedir a Rajoy que se sentem a discutir e diz que não precisa da CUP para nada.

Espera-se que não precise realmente, e que sem os radicais que preferem os jihadistas aos turistas a gritarem-lhe ao ouvido, consiga uma solução que traga benefícios para a Catalunha sem contudo se tornar num novo país. Porque é isso que dizem os votos: a maioria dos eleitores não quer um país independente, mas há um número suficiente para que se procedam a mudanças. E Rajoy, que é um sobrevivente, já esgotou o número de se fazer de morto.

E entretanto, novos protagonistas ganham mais espaço. Contem com eles.



PS: Sábado há Real Madrid - Barcelona. Bom auscultador dos humores no país vizinho.

quinta-feira, dezembro 21, 2017

Os Habsburgos na RTP2


Apesar das séries de TV - ou agora até da net, ou de um híbrido entre as duas - estarem em grande, suplantando mesmo o cinema, não sou grande seguidor. A oferta é imensa, tem inúmeras categorias, e a obrigatoriedade de seguir os episódios, sobretudo quando há várias épocas, implica um esforço de fidelidade que tem os seus custos. 

Quando não são extensas acompanho uma ou outra. E há algumas que não sendo especialmente mediáticas têm o seu interesse. É o caso de uma produção que passou na RTP2 até há cerca de duas semanas, com o título português Maximiliano: Poder e Amor (no original Maximilian: Das Spiel von Macht und Liebe), que narra o encontro do herdeiro do trono do Sacro Império que dá nome à série com a duquesa da Borgonha. Centrando-se na particular relação entre os dois, com as habituais sub-tramas de romances pelo meio, a série mostra-nos um período charneira da história da Europa, entre o fim da Idade Média e o início do Renascimento. Constantinopla caíra poucos anos antes, na mesma altura em que findava a Guerra dos Cem Anos, e Portugal tinha iniciado a expansão africana. A história começa com a notícia da morte de Carlos, o Temerário, na batalha de Nancy, e das atribulações que a sua filha Maria teve de passar, em particular com a burguesia flamenga (a duquesa da Borgonha tinha a sua corte na então próspera Gand), pouco afecta à casa ducal e mais próxima da França de Luís XI, inimigo jurado do Temerário, com cujo filho (quase uma criança) pretendia casar Maria, anexando o velho ducado e seus territórios, que então se estendiam da Borgonha propriamente dita até à actual Holanda, aos territórios franceses. Dando a volta a estas maquinações, Maria casar-se-ia com Maximiliano.

Não querendo fazer demasiadas revelações caso a série volte a passar na TV um dia destes, compreende-se melhor assim o fim de uma potência, a Borgonha, que a ter sobrevivido como estado (e como reino, como pretendia o Temerário) mudaria bastante a geopolítica da Europa como a conhecemos, e a ascensão de outra. O Sacro Império passava por inúmeros problemas, numa altura em que os exércitos eram sobretudo constituídos por mercenários, para cuja manutenção era preciso dinheiro, que não abundava nos cofres dos Habsburgos. Para mais, estavam rodeados de poderosos inimigos - a França a oeste e a leste a Hungria do poderoso Matias Corvino e seus estados vassalos, como a Valáquia do célebre Vlad, o Empalador. Ironicamente, a coroa da Hungria seria mais tarde ostentada pelos Habsburgos. Mas todos esses problemas são retratados na série, onde começa a formar-se a dinastia que dominaria a Europa no futuro próximo. Se então a Borgonha passava por uma crise dinástica, Castela passava por outra, que acabou com o triunfo de Isabel, a Católica, sobre a pretendente apoiada por Portugal, Joana, a Beltraneja. A resolução das duas acabaria por ficar umbilicalmente ligada: o filho de Maximiliano e de Maria, Filipe, o Belo, casar-se-ia com a filha dos Reis Católicos (de Castela e de Aragão), Joana, a Louca, e o filho de ambos, que a História recorda como Carlos V, herdaria os títulos de Imperador do Sacro-Império, Duque de Borgonha (embora a região com esse nome tivesse sido anexada pela França) e Rei de Castela e Aragão, com todos os territórios inerentes e ainda os do Novo Mundo. O seu filho Filipe seria também, a partir de 1580, Rei de Portugal, como se sabe.

Claro que grande parte destes acontecimento não vêm narrados na série, que decorre num período de cinco anos. Nela cabem o romance, a intriga, a traição, a desobediência e a guerra, num ambiente algo pesado e penumbroso. Tem também uma excelente fotografia e alguns aspectos curiosos, como o facto de todos falarem na respectiva língua e em mais nenhuma - o austríaco falava com a borgonhesa em alemão e esta respondia-lhe em francês, ao passo que em Gand se falava flamengo. Nem uma palavra em inglês. Só é pena que não tenha sido referido um pormenor: o de Maximiliano e Maria, que antes do casamento nunca se tinham visto (e casam mesmo por procuração) serem já primos, uma vez que a mãe dele, já morta na altura dos acontecimentos, e a avó dela eram sobrinha e tia, ambas portuguesas, ambas da casa de Aviz (filha de D. Duarte e de D. João I, respectivamente). Tirando a omissão lusa e outras de menor importância, e só lamentando não haver mais cenas de batalha, a série cumpre perfeitamente a função didáctica. Que haja mais.

terça-feira, dezembro 19, 2017

Qatar nos Emirados, entre Madrid e Porto Alegre


Sábado à tarde entretive-me a ver a final do Mundial de Clubes, que, como habitualmente, contou com os representantes da Europa e da América do Sul. Vitória natural do Real Madrid sobre o Grémio de Porto Alegre, com um ainda mais natural golo de livre de CR7, a conquistar o ceptro mundial (e ainda lhe anularam inexplicavelmente outro tento). A equipa gaúcha revelou-se uma desilusão, a anos-luz do excelente Grémio de meados dos anos noventa, com Jardel, Paulo Nunes, Adilson e restante esquadra comandada por Scolari. Só o central Geromel, que até passou os primeiros anos da carreira em Chaves e Guimarães, se destacou da mediania-menos.

Bem menos natural do que o triunfo da multinacional desportiva sediada em Madrid é que numa final em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, apareçam nas placas comerciais à volta do relvado anúncios da Qatar Airways, rival da Emirates, a companhia aérea daquele território (e autêntico embaixador e reserva económica). Ainda por cima a Qatar é patrocinada por um estado que está de relações cortadas com os Emirados e até sofre por parte destes e dos seus aliados um bloqueio económico. É tão bizarro como ver anúncios a uma companha cubana na final da Super Bowl. Seria uma provocação ao Real Madrid (a Qatar Airways patrocina o Barcelona)?

Dizem-me que afinal a transportadora qatari é uma das patrocinadoras da FIFA. Talvez assim se compreenda: a grande organização do futebol mundial é de tal forma poderosa que consegue romper bloqueios e tensões internacionais e impor publicidade em países que tanto por razões políticas como económicas certamente a não desejariam. E assim fica um exemplo eloquente de como uma organização mundial não-governamental tem mais influência e poder do que muitos estados, mesmo os mais endinheirados.



domingo, dezembro 17, 2017

O Benfica no Inverno


Não tenho falado muito de bola aqui, e não admira. Com o Benfica a fazer uma época tão modesta e apagada, as minhas atenções futebolísticas voltam-se para os relvados estrangeiros. Mas vale a pena recordar o que têm sido os disparates acumulados nos últimos meses para evitar repetições nos próximos anos.
O Benfica do ano passado já não era uma coisa fabulosa, com jogadores que não renderam o que se esperava, como Rafa e Carrillo, mas servia para vencer o campeonato, como aconteceu, e justamente. Este ano, venderam-se Lindelof, Semedo, Ederson e Mitroglou sem que nenhum dos seus lugares fosse devidamente preenchido. Percebo que o Benfica precise de fazer dinheiro para diminuir o volume de dívida e que tenha de aproveitar as chorudas ofertas que vêm da Premier League e de outros campeonatos abonados. Mas que tenha um pouco de tino no momento de contratar novos jogadores para os lugares em falta. O exemplo da tentativa de substituir Nelson Semedo é ilustrativo: cinco jogadores foram já utilizados no lugar, além dos que foram contratados para a mesma posição e nem sequer entraram em campo, e ao fim e ao cabo, é o "bombeiro" André Almeida que preenche o lugar, nem sempre com bons resultados.

O problema é que os resultados foram ainda piores que os esperados. A (falta de) performance na Europa é aterradora, dando-nos a pior época de sempre, com humilhantes zero pontos, apenas ao alcance das mais medíocres equipas que jogaram por sorte na competição, fazendo do Benfica o pior cabeça de série da história da competição. Para além da vergonha, do dinheiro que se perde e da queda expectável nas tabelas das melhores equipas da Europa, era particularmente importante fazer uma carreira decente este ano nas competições europeias depois da campanha lançada pelos departamentos de propaganda de Porto, sobretudo, e do Sporting (logo a seguir aos responsáveis destas entidades terem reatado relações meio às escondidas). Seria a melhor resposta a uma campanha em tudo poco clara, mas infelizmente correu tudo ao contrário.

Agora fala-se da entrada de novos jogadores e da saída de outros, como os fiascos "Gabigol" e Douglas (este nem chega a sê-lo, de tal forma estávamos avisados da sua fraquíssima aptidão a defender, o que o torna num novo Okunowo, que jogou no Benfica nas mesmas condições, ou num novo Dudic), o que mostra bem a péssima preparação da época, que nem em cima do joelho deve ter sido feita. O campeonato corre menos mal, mas o Benfica está também fora da Taça de Portugal, embora com bastante infelicidade à mistura, diga-se, e não está muito bem na Taça da Liga. Mesmo com mais folga, dificilmente alcançaremos o tal "penta". E diga-se em abono da verdade, não o merecemos muito. Melhor seria começar já a preparar a próxima época, aproveitando alguns dos bons valores do Seixal que jogam na equipa B, além de Rúben Dias.

Mas já que falei em jogadores de saída, não posso deixar de referir um que merece uma palavra: Júlio César. O veterano guarda-redes brasileiro é dos jogadores com mais títulos de sempre no futebol mundial  - só lhe faltou mesmo a Taça do Mundo em selecções - e nos três anos que jogou na Luz sempre defendeu a camisola do Benfica com honra e profissionalismo, até as condições físicas o permitirem. É daqueles jogadores que vejo sair do clube com pena. E nas suas despedidas, o guarda-redes também parece já saudoso. Um abraço, Júlio César.

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