Dez anos depois da sua chega ao poder, Tony Blair despediu-se enfim, como já tinha anunciado, deixando o laborioso escocês Gordon Brown no seu lugar. Quem o comparar com o jovem político que, depois da morte repentina de John Smith, acabara a reforma do Labour, cortando com a submissão aos poderosíssimos sindicatos e com a parte nacionalizadora da doutrina do partido, não deixará de notar o contraste flagrante entre a novidade e o desgaste.
Aproveitando alguma da política liberalizadora thatcherista, Blair empenhou-se em novos programas para baixar o desemprego, que tiveram seguidores em toda a Europa, e em investir na educação e em novas reformas sociais, como a criação do salário mínimo. Conseguiu, paulatinamente, obter a paz na Irlanda do Norte, como o comprova o recente governo de união, e estabelecer, pela primeira vez, uma parlamento na Escócia e na Irlanda do Norte. Geriu com mestria o delicado momento da morte da princesa Diana, da qual a família real acabou por sair ilesa. Londres ganhou um autarca próprio e tornou-se a cidade mais cosmopolita da Europa e talvez até do mundo, como pólo de atracção de todos os povos e actividades, misturando a fleuma e formalismo britânicos com um ar cool e multicolor.
A nível externo teve os seus maiores desaires, que lhe custaram a imensa popularidade ostentada no início. A prossecução do ideal de MacMillan, em que a Inglaterra seria a Grécia da nova Roma, os Estados Unidos, apoiando sempre a sua política externa, acabou por arrastar a Velha Albion para o atoleiro tenebroso do Iraque e para o recrudescimento do terrorismo. Blair, o mais europeísta dos governantes britânicos desde Heath, tentou fazer a ponte para uma forte aliança entre as duas margens do Atlântico, primeiro com Clinton, seu parceiro perfeito, depois com W. Bush. Com o primeiro, ainda conseguiu algum apoio no caso do Kosovo. Mas o 11 de Setembro, longe de se tornar uma oportunidade para reforçar o atlantismo, acabou por indirectamente provocar o desastre iraquiano. Não tendo conseguido levar alguma moderação aos aliados americanos, a política externa da Grã-Bretanha ficou refém das consequências, embora a nível da UE tenha conseguido presidir ao início de algumas mudanças estruturais. Desde então, a imagem de Blair não mais se levantou, até à sua saída no dia 27, prevendo-se agora um importante papel como mediador internacional. Apesar de tudo, terá sido um dos grandes líderes europeus dos últimos anos. Impopular agora, mas ainda com um longo caminho pela frente, ver-se-à se a história consagrará com um dos maiores das últimas décadas o homem que pouco depois de entrar em Downing Street, convidou os Oasis, ídolos da época (que como ele sofreram uma queda progressiva) a tomar um copo.