No último post escrevi que as previsões de declínio do PCP eram precipitadas. Entretanto, já ouvi mais alusões ao mesmo, agora insufladas por filo-feministas ainda escaldados com a expressão de Jerónimo na noite eleitoral "podíamos ter escolhido uma candidata mais engraçadinha". Ou seja, o PCP começou o declínio definitivo até ficar ao nível do MRPP, o Bloco consolidou-se e prepara-se para quebrar o PS como o Syriza ao PASOK, etc. Convinha alguma calma. Afinal de contas, o PC já teve o seu declínio acentuado durante anos, até à queda do comunismo na URSS e à desastrosa colagem ao golpe de estado contra Gorbatchov, e desde então tem-se aguentado. Aliás, dizia-se precisamente o contrário há ano e meio, dois anos: que o PCP tinha renovado as suas caras e revelado a sua "experiência política" de muitos anos, e que o Bloco se afundava no seu saco de gatos ideológico, perdia gente valorosa e estava condenado ao desaparecimento a prazo, face ao mais sólido vizinho da esquerda e ao menos sectário Livre. Não aconteceu assim há muito tempo...
Qualquer previsão pontual do declínio de qualquer partido (também se ouve constantemente que "o CDS vai voltar a ser o grupo do táxi, como se isso não tivesse ocorrido quando o PSD teve as suas maiorias mais robustas) corre o risco de ser refutada pouco tempo depois. É bom relembrar que o PCP tem um fortíssimo braço sindical chamado CGTP (e nem o disfarça, como se viu numa manifestação recente em que acabou tudo a cantar a Internacional) e os sectores dos transportes, uma implantação autárquica coesa e reforçada nas eleições de 2013, com as reconquistas de Évora, Beja e Loures, um grande número de militantes fiel ao "partido", e continua a fazer parte do imaginário da "resistência antifascista" e a ser a voz ou até a família de muita gente, particularmente na Margem Sul do Tejo e no Alentejo, mais do que em Itália, França ou Espanha (onde teve a "concorrência" dos anarquistas, coisa que nunca aconteceu realmente por cá). E tem tido uma renovação de quadros lenta mas consistente. Ainda terá muitas palavras a dizer no apoio a este governo...ou na sua queda. Por isso, cuidado com essas precipitações.
PS: como não podia deixar de ser, Vasco Pulido Valente também se meteu ao barulho, com um artigo que começa com esta espantosa frase: "O prestígio do Partido comunista Português começou a diminuir depois da Guerra...". A partir daí, desenvolve-se um rol de piadas involuntárias, como se o PC tivesse sido uma organização menor durante o Estado Novo e no pós-25 de Abril. Melhor do que isso, seria dizer que o movimento comunista internacional e a URSS perderam prestígio depois da Guerra. Por muito previsível que VPC seja hoje, tem momentos em que consegue surpreender. E no entanto, já teve escritos de bom rigor e invejável lucidez.