domingo, janeiro 31, 2016

As apressadas previsões de "declínio" do PCP


No último post escrevi que as previsões de declínio do PCP eram precipitadas. Entretanto, já ouvi mais alusões ao mesmo, agora insufladas por filo-feministas ainda escaldados com a expressão de Jerónimo na noite eleitoral "podíamos ter escolhido uma candidata mais engraçadinha". Ou seja, o PCP começou o declínio definitivo até ficar ao nível do MRPP, o Bloco consolidou-se e prepara-se para quebrar o PS como o Syriza ao PASOK, etc. Convinha alguma calma. Afinal de contas, o PC já teve o seu declínio acentuado durante anos, até à queda do comunismo na URSS e à desastrosa colagem ao golpe de estado contra Gorbatchov, e desde então tem-se aguentado. Aliás, dizia-se precisamente o contrário há ano e meio, dois anos: que o PCP tinha renovado as suas caras e revelado a sua "experiência política" de muitos anos, e que o Bloco se afundava no seu saco de gatos ideológico, perdia gente valorosa e estava condenado ao desaparecimento a prazo, face ao mais sólido vizinho da esquerda e ao menos sectário Livre. Não aconteceu assim há muito tempo...

Qualquer previsão pontual do declínio de qualquer partido (também se ouve constantemente que "o CDS vai voltar a ser o grupo do táxi, como se isso não tivesse ocorrido quando o PSD teve as suas maiorias mais robustas) corre o risco de ser refutada pouco tempo depois. É bom relembrar que o PCP tem um fortíssimo braço sindical chamado CGTP (e nem o disfarça, como se viu numa manifestação recente em que acabou tudo a cantar a Internacional) e os sectores dos transportes, uma implantação autárquica coesa e reforçada nas eleições de 2013, com as reconquistas de Évora, Beja e Loures, um grande número de militantes fiel ao "partido", e continua a fazer parte do imaginário da "resistência antifascista" e a ser a voz ou até a família de muita gente, particularmente na Margem Sul do Tejo e no Alentejo, mais do que em Itália, França ou Espanha (onde teve a "concorrência" dos anarquistas, coisa que nunca aconteceu realmente por cá). E tem tido uma renovação de quadros lenta mas consistente. Ainda terá muitas palavras a dizer no apoio a este governo...ou na sua queda. Por isso, cuidado com essas precipitações.



Distrito de Beja presente na Festa do Avante
PS: como não podia deixar de ser, Vasco Pulido Valente também se meteu ao barulho, com um artigo que começa com esta espantosa frase: "O prestígio do Partido comunista Português começou a diminuir depois da Guerra...". A partir daí, desenvolve-se um rol de piadas involuntárias, como se o PC tivesse sido uma organização menor durante o Estado Novo e no pós-25 de Abril. Melhor do que isso, seria dizer que o movimento comunista internacional e a URSS perderam prestígio depois da Guerra. Por muito previsível que VPC seja hoje, tem momentos em que consegue surpreender. E no entanto, já teve escritos de bom rigor e invejável lucidez.

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