segunda-feira, dezembro 31, 2007

Ah, e como hoje passamos para 2008, um bom ano para todos. E um abraço especial de retribuição para o Pedro Correia
Cruzes e otomanos ofendidos

Segundo os jornais, um advogado turco queixou-se à UEFA e à FIFA da camisola que o Inter de Milão usou no jogo em que recebeu o Fenerbahce para a Liga dos Campeões. A dita camisola, equipamento alternativo à habitual nerazurra, tem uma enorme cruz vermelha a meio e lembrou-lhe "as cruzadas" e "os templários", e também "os dias sangrentos do passado", pelo que pediu a anulação do jogo e a perda dos três pontos ganhos pelo Inter.












Já temos visto casos bizarros como este, mas aqui a desfaçatez confunde-se com a ignorância. Seria bom dizer ao senhor turco em questão, além de o mandar dar uma volta ao bilhar grande, que a tal cruz vermelha da camisola (bem bonita, por sinal) é o estandarte de Milão, e que aparece também no emblema dos rivais AC Milan. E recordar-lhe que a bandeira do seu país, assim como a camisola da selecção turca, ostenta o crescente, símbolo da ameaça otomana sobre a Europa durante séculos.
O Benfica também tem uma desse tipo. Olha, é isso, vou comprar uma dessas e usá-la para quando for à Turquia. Ou não...Ou sim! Então eles lá não vendem tantas t-shirts vermelhas com o crescente e a estrela?
A melhor resposta a dar ao sujeito é que sim senhor, a cruz recorda as cruzadas de propósito, enaltecendo o seu papel higienizador, e que não só anunciam uma expedição para libertar Jerusalém como também o propósito de se cercar e tomar Istambul, expulsando de lá os infiéis turcos e devolvendo-lhe o nome de Constantinopla, recriando o Império Bizantino. Mas disso depois trata o AEK de Atenas, que o Inter também não tem de fazer o trabalho todo. Seja como for, palpita-me que essa camisola vai fazer sucesso no mercado. Mesmo com as queixas dos ofendidos do costume.

sábado, dezembro 29, 2007

Ainda sobre Benazir Bhutto, o Herdeiro de Aécio relembra outros casos semelhantes, particularmente nas dinastias reinantes no território do sub-continente indiano Indira e o filho, por exemplo). Recordo também o infame general Zia, que pereceu num suspeito acidente aéreo. Mortes destas são prática corrente por lá. E Ghandi não teve melhor sorte.

sexta-feira, dezembro 28, 2007

Benazir
Sabia à partida que era um risco que corria, mas não hesitou em voltar ao Paquistão, e apesar dos tremendos atentados que se verificaram à sua chegada, continuou em campanha, ou, temerária, a afrontar Musharraf. Por várias vezes esteve em perigo de vida. Acabou por perdê-la, por via de um dos muitos fanáticos que procurava combater e que crescem como cogumelos no Paquistão.
Benazir Bhutto podia não ser a melhor governante do mundo, e podia mesmo ser culpada de casos de corrupção com ganhos próprios. Mas esta mulher elegante, altiva, determinada e corajosa era o rosto da civilização e da liberdade, num país onde a barbárie corre pelas ruas. Pagou-o com a vida. Em vão? Impossível dizê-lo, mas nos próximos tempos será certamente, já que beneficiou os militares que governam o Paquistão e provocou o caos, a ira e o desespero, mesmo entre antigos rivais, como Sharif. O ano de 2007 acaba em tragédia. Mais uma, naquela região dominada por fanáticos.
Le mouton à cinq pattes

Não sabia, mas Fernandel e Louis de Funés entraram num mesmo filme, Le mouton à cinq pattes, embora o primeiro seja a personagem principal. Ou antes, AS personagens principais, já que interpreta nada menos que seis - o pai e os cinco filhos, todos muito diferentes, entre os quais há um padre que diz mal da sua vida por constantemente o confundirem com "o outro, o do cinema". Quanto a Funés, devia estar no início de carreira, a avaliar pelo cabelo que ainda tinha. Encontrar-se-à em DVD por cá? Tarefa complicada, senão inútil.



Afinal enganei-me: vi no fim deste artigo que houve pelo menos cinco filmes em que os dois actores contracenaram. A cara de cavalo de Fernandel devia fazer um belo efeito perante as expressões elásticas e alteradas de Funés...

segunda-feira, dezembro 24, 2007

O Nascimento

Prendas, doces e pratos vários, árvores, iluminações, pais natais, tudo isso é muito bonito. Mas o que se comemora mesmo nesta época é isto:


Votos de um Santo Natal.
Propostas de mais estados

Aproveitando a boleia do Kosovo, podem-se criar e recriar novos mapas da Europa. A República sérvia da Bósnia, pode-se tornar independente ou optar por se unir ao resto da Sérvia, como compensação. A Voivodina pode por seu lado querer guiar os seus destinos argumentando que faziam parte do Império Austro-Húngaro. E os albaneses da Macedónia? Ficarão eles quietos?
Depois, claro, há que recordar que em Itália Bossi ainda é vivo e proclamar a independência da sua querida Padânia, com o argumento de estar a ser roubado pela "Roma ladrona". O pior é se Veneza e Génova resolvem voltar ao antigo modelo de repúblicas marítimas, com Doge e tudo. A Toscana também podia regressar à autonomia dos Medici. E no Sul, sentindo-se ofendidos e ostracizados, aproveitavam para declarar o regresso do Reino das Duas Sicílias (que tem dois pretendentes Bourbons).
Claro que tudo isto podia dar ideias à Borgonha, submetida a séculos de colonialismo de Paris. Para não falar da ingovernável Bélgica ou das pretensões escocesas em serem um novo estado da Commonwealth. Por sua vez, a Baviera pode estar farta dos prussianos de Berlim, assim como os Hanseáticos de Hamburgo. Os landgraves de novo, seria boa ideia? E Gdansk, quereria ser de novo Cidade Livre? Ou Kalininegrado ser Koenigsberg? Mais vale não passarmos à Rússia, senão não saímos de lá.
De novo nos Balcãs, não sei se a Macedónia não voltará a piscar o olho aos tessalonicenses, como S. Paulo. A Grécia que tenha cuidado também com Creta, que a cultura minóica era bem diversa. E a Transnístria, aquela faixa de terra pertencente de jure à Moldávia, e que mais parece uma miniatura da antiga União Soviética? É para agora, o reconhecimento?
Resta-nos a vizinha Espanha. Catalães e Bascos já se sabe, vão mesmo para a cisão. dúvidas há se os navarros querem seguir os Euskera ou não. E os galegos? Aragão? Canárias? Estas era melhor não, senão a Madeira aproveitava a boleia. E depois os Açores, que para o efeito já têm hino e tudo.

quarta-feira, dezembro 19, 2007

O erro do Kosovo


Mais dia menos dia o Kosovo é declarado estado independente, com reconhecimento onusiano. Apesar da "moratória" pedida ao novo governo da região para não declararem a independência unilateralmente (já viram como isso afectaria a assinatura do Tratado Europeu?), o objectivo é mesmo a criação de um novo estado, coisa que nem é disfarçada. Estranha ironia: tanto se combateu para impedir o alastramento da Grande Sérvia (e da Grande Macedónia, da Magna Grécia e da Grande Alemanha) e agora prepara-se tudo para aceitar a Grande Albânia. Parece que o país mais atrasado da Europa, antiga prisão isolada na margem do Adriático, tem no fim de contas mais estatuto do que se pensava.
Desde Rambouillet, acordo incompleto que escondia a independência por trás da autonomia, dos bombardeamentos da Sérvia e da ocupação do Kosovo pela NATO que o destino da região estava traçado. Por causa da maioria albanesa, a Sérvia mais uma vez se reduz, agora à sua mínima expressão (isso se a Voivodina também não lhe apetecer fundar um estadozinho). Uma humilhação a um único país como não se via desde a 2ª Guerra.
Não que tenham sido meras vítimas: foram os sérvios que começaram com a repressão nos anos 80, provocaram a guerra da secessão da Jugoslávia e tentaram fazer uma limpeza étnica no Kosovo. A NATO tinha a razão do seu lado quando lançou uma força para repelir tais operações, mas perdeu-a ao bombardear alvos incontáveis em solo sérvio e quando se começou a determinar a independência do Kosovo. Os sérvios pagam, mais uma vez, por todos os outros, a troco de muito pouco.
Mais descarado é o topete dos arquitectos de tais divisões, com os EUA à cabeça e boa parte da UE a segui-los. Se é este tipo de "cooperação" que tantos atlantistas louvam, então dispensa-se. Assim como recadinhos de José Manuel Fernandes (têm cá um efeito!), contra os "projectos da Rússia", que apoia a Sérvia e muito bem. É só mais uma bela amostra da incompetência internacional americana dos últimos anos. Clinton tem boa parte da culpa, mas Bush continuou-a da pior forma, como que a rematar o seu imenso desastre global. E ainda há os que se insurgem contra os que colocam a culpa no Presidente, vendo anti-americanismo ao raio-x. Pena que a visão que defendem conduza ao desastre e a anomalias como o Kosovo.
O presidente monárquico

Houve quem recordasse, por estes dias, a efeméride do assassinato de Sidónio Pais, na estação do Rossio, a 14 de Dezembro de 1918; a célebre frase "Morro bem, salvem a Pátria" acabou por ser desmentida nas memórias de Rosado Fernandes, cujo avô terá ouvido as afirmações verdadeiras. Mas convém também lembrar que a 16, o "Presidente-Rei" era substituído por um presidente monárquico (porventura o único que houve em Portugal), o almirante João do Canto e Castro, que, ironia das coisas, teve de reprimir a Monarquia do Norte, de Paiva Couceiro, e movimentos similares. Na ausência de biografia detalhada sobre o efémero presidente, que eu conheça, ao menos, é caso para pensar se viveria angustiado por ser obrigado a combater essa corrente, ou se se teria reconfortado no "cumprimento do cargo" e do "dever". Presidir a um governo ou à chefia de estado em Portugal por essa altura era tarefa complicada, sobretudo para um monárquico que devia ser visto com desconfiança pelos que o rodeavam entre Belém e S. Bento.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Polémicas Atlânticas e silêncios cúmplices



A polémica que dominou alguma blogoesfera nas últimas semanas parece-me um tufão em alguidar de água turva mas tem que se lhe diga.
O post que desencadeou toda a polémica é discutível, duro e tem o seu quê de brutal. ainda bem: as verdades devem ser ditas, e numa revista como a Atlântico, que pretende ser "politicamente incorrecta" estão claramente no espaço indicado. Mas assim não o entendeu a maioria dos seus elementos.

O assunto que serviu de base à polémica é uma risível causa menor. Tudo começou por causa do artigo de Francisco José Viegas sobre a reacção à campanha do Orgulhohetero, da cerveja Tagus.
Reacção essa absolutamente despropositada e ridícula, com os já célebres Panteras Rosa e o inevitável Bloco de Esquerda como "reaccionários" de serviço, falando de "opressão", "poder homofóbico" ou "extrema-direita. Uma coisa totalmente digna da Contra- Informação.

Como é seu timbra, André Azevedo Alves veio concordar com o posta usando uma linguagem que lhe é costumeira: as "patrulhas ideológicas". Tanto bastou para a explosão de Tiago Mendes no texto já conhecido.

Concordando com a crítica aos excessos da trupe rosa, não posso todavia deixar de reconhecer que Tiago Mendes estava carregado de razão em boa parte da posta. Quando diz Alguém que se assume como “ultra-conservador, neo-liberal de extrema-direita” (não me apetece procurar links), que vive obcecado com o patrulhamento do que ele apelida de extrema-esquerda, está coberto de razão. Poucas vezes encontrei na blogoesfera alguém tão intolerante como AAA, e que não hesita em defender avidamente Pinochets, Senadores McCarthys ou Pat Robertsons contra o " politicamente correcto da extrema esquerda", ou o que ele acha que pertence a esse grupo, como o New York Times, ou em invocar constantemente essa taliban evangélica que é Ann Coulter.
Outra parte na mouche é esta: dão-se alvíssaras a quem encontrar, naquilo que o André Azevedo Alves escreve há anos sobre o que quer que tenha uma dimensão social e humana, uma molécula que seja de amor, de compreensão ou de compaixão de inspiração cristã. Também já me tinha apercebido que sentimentos cristãos só mesmo o da Doutrina e um pouco de Fé. Caridade, Esperança, Alegria, onde estão elas?
Quanto à parte da excelsa educação do AAA, que ao que parece não é timbre do TM, ficam aqui uns bons exemplos dela. Não faltando os ditos "patrulhamentos ideológicos", claro.

O que mais me admirou foi a reacção dos Atlânticos, ou da sua maioria. Tudo a cair em cima de Tiago Mendes e a deixar incólume a pobre vítima dos "patrulhamentos ideológicos". Num silêncio cúmplice, parece haver muita simpatia pelas ideias Insurgentes, como silêncio tem sido o que impera sempre que se elogiam McCarthys e Ann Coulters. Quando Tiago Mendes denuncia estas ideias, Aqui Del-Rei que ele está feito com o Daniel Oliveira, a Fernanda Câncio e o Demo! Afinal, onde está a suposta direita liberal, o corte com a herança Salazarista do respeitinho, a defesa da liberdade de expressão? E que ideia é essa de ficarem todos tão chocados com a "falta de educação" (que nem é assim tanto, não o mandou a nenhuma parte menos condigna, nem insultou a sua mãe) do TM? Onde ficou guardado o "politicamente correcto", afinal? Ou uma qualquer defesa da classe impera?

Não me alongo mais. Apenas queria escrever mesmo sobre as atoardas impunes do AAA e o facto de finalmente alguém lhe esfregar aquilo no ecrã. E estou farto de fazer links. além do mais, é Sexta. Para uma muito melhor síntese do que aconteceu, fiquem com este último.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Dois continentes


Sobre a cimeira Europa África, já tudo se disse sobre os ditadores e cleptómanos que arribaram a Lisboa. (80 quartos só para a delegação angolana no RITZ!). Também já muitos tarearam no facto dessa gente ter cá vindo. Mas eu alinho pela outra bancada. É mau que semelhante gente pise solo português? Desconfortável é, com certeza. Mas preferiam que a cimeira não se tivesse realizado, que os africanos não tivessem cá vindo, que nada se discutisse? Era a atitude mais fácil, é certo. Mas deixá-los a "tratar da vida" nos seus países era também mais imoral. Antes conseguir olhar-lhes olhos nos olhos e fazer-lhes compreender o que está errado. Os efeitos são escassos? Ignorá-los e vituperá-los de longe, sem sequer discutir com eles, é que não traria com certeza nada de bom para os africanos.



Sobre as palermices de Kadhafi, só se pode dizer que foram as mesmas de sempre: os europeus devem indemnizar os africanos, que foram explorados barbaramente, etc, etc. Pena que ninguém lhe tenha perguntado nada sobre as infra-estruturas que esses mesmos "colonos2 aí deixaram e que foram inutilizadas pelos africanos. e Cabora Bassa bem cara nos ficou. Mas também há que dar o devido desconto: com aquele aspecto, de pijama e barba por fazer, o líder líbio tinha certamente acordado minutos antes, sem um duche ou um café para ajudar, e não dizia coisa com coisa.





Quanto a Mugabe, as últimas semanas nem lhe têm corrido mal: além de pisar os pés na Europa, e de se ter furtado a uma qualquer reprimenda mais feroz de Gordon Brown, que perdeu essa brilhante oportunidade, resistiu em vida ao seu antigo arqui-inimigo Ian Smith, pai da independência da antiga Rodésia, que apoiado por Salazar e por poucos mais, manteve até 1979 um estado dominado por brancos (embora diferente do apartheid) no que é hoje actual Zimbabwe.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Manoel de Oliveira
Quando assisti na Casa das Artes (e para quando a reabertura?) à cerimónia dos 50 anos de Aniki Bobó, onde também se exibiu Douro, Faina Fluvial, e que coincidiu com os 84 do veteraníssimo realizador, gabava-se a vitalidade e a capacidade de produzir um filme anualmente com aquela idade. Pois falta um ano para se tornar centenário. Entretanto, ainda nos vai chegar a sua ideia das origens de Colombo. E muitos mais trabalhos, espera-se

sábado, dezembro 08, 2007

Esperança, desilusão e recuperação
O jogo com o Milan, a meio da semana, era apelativo, tanto pelo nome do adversário, campeão europeu em título e recordação negra para o Benfica, como pela necessidade de pontuar e fazer boa exibição. O estádio não encheu coisa que muito me espantou; afinal, nem com a oportunidade de ver alguns dos melhores jogadores do mundo se vai À bola? Só se fosse pela dia em questão.
Vinte minutos de tremideira e golo do adversário, pelo superlativo Pirlo. Que soou como um despertador, porque a partir daí o Benfica encheu-se de ganas, tão ao gosto de Camacho, e veio para a frente, até à obra de Maxi Pereira, deixando Dida boquiaberto. Como os milaneses raramente sofrem golos, conseguiram aguentar a igualdade até ao fim, apesar das boas oportunidades que o Benfica teve para o ganhar. Claro que o neo-Melhor Jogador do Mundo, Káká, também teve a sua oportunidade no final, mas atirou ao lado. O empate dava ânimo aos jogadores, apesar da saída da Liga e da obrigatoriedade de ganhar em Donetsk. Pena por não termos ganho também porque tal vitória seria inédita, precisamos mais dos Euros em disputa do que eles, e não gosto do Milan.
Só que a confiança ruiu no Sábado seguinte, num jogo importantíssimo para o título: uma péssima exibição, com falta de garra e de ligação entre sectores, permitiu que o Porto, sem uma exibição fulgurante, aproveitasse da melhor forma os erros e levasse os três pontos. Desastroso resultado: sete pontos de atraso, derrota em casa, desvantagem no confronto directo. Por culpa própria. Nem a desculpa de ser um "dia mau" pode justificar a pior exibição da época. E logo frente a uma invasão bárbara, daquelas que têm de ser vencidas para salvar a civilização: além dos hunos que a grande velocidade cavalgaram para o golo, havia o apoio de árabes, como Sektioui, ainda que desistentes a meio, e como se não bastasse, uma horda viking, da bandeiras azuis desfraldadas e comandadas pelo inevitável Macaco, dava apoio à rectaguarda. O que vale é que os bárbaros acabam sempre por ceder face à civilização e à Luz.
Mas o estado de ânimo era lastimável. O meu, pelo menos, era. Já imaginava uma derrota pesada no pesado campo dps mineiros russófonos que investiram 60 milhões de Euros em reforços. Mas o Benfica não deixou de ser Benfica, nem os seus jogadores se ficaram: com temperaturas gélidas, um público adverso, e um bom adversário a precisar de ganhar, com duas estocadas de Cardozo, de pé esquerdo e nas alturas, conseguiram a vitória e a compesnação possível: ficar na UEFA. Com um pouco de sofrimento pelo meio, claro, que os triunfos fazem-se com suor. Houvesse mais este espírito e esta entrega e sofreríamos menos. Porque é que os jogadores não meditam sobre isso? Ou nós, já que eles são pagos é para jogar, e não para "parar para pensar", que é o que têm feito em demasia na última década.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Duzentos anos de travessia transatlântica

Duzentos anos (e uma semana) da partida da Família Real para o Brasil. Um acontecimento não comemorado mas relembrado vezes suficientes para não passar despercebido. A discussão sobre se terá sido uma jogada inteligente ou covarde - em parte lançada pelo interessante Império à Deriva - continua, mas as opiniões inclinam-se para a segunda. Também me parece que a opção embarque para os trópicos era a mais acertada. Por muito humilhante e desconfortável que fosse, por muito que parecesse submissão aos ingleses (que disso se aproveitaram vilmente), ficarem teria sido imensamente pior. A reclusão em Queluz ou Mafra, com perda de posses e direitos, o ataque às nossas colónias por parte dos ingleses, talvez até o exílio para França, ou coisa pior

Em contrapartida, a fuga da Família Real permitiu mais tarde que o Brasil declarasse a independência. Claro que isso não seria previsível de imediato, apesar de algumas revoltas esporádicas, mas o progresso que a colónia recebeu com a injecção de personalidades e importância e a libertação do seu comércio (e das suas forças), aliados à "promoção" à categoria de Reino, juntamente com a metrópole, conduziu inevitavelmente à separação quando D. João VI regressou à Europa. Uma separação bem menos dolorosa do que a que ocorreu no Séc. XX das colónias africanas ou asiáticas, e que permitiu ao Brasil tornar-se numa potência regional sem secessões nem demasiada instabilidade política, como os seus vizinhos. Uma certa ideia de ligação permaneceu sempre no imaginário, sobretudo dos portugueses; já nos anos sessenta do Séc. XX houve quem advogasse o fim das alianças com a Inglaterra e EUA e formasse a "aliança lusíada". Resta saber se as antigas terras de Vera Cruz estariam muito interessadas.


De qualquer dos modos, parece-me que D. João VI, apesar de todos os aspectos negativos que lhe apontam (indecisão, cobardia, fraca inteligência, etc), cumpriu o seu papel de forma competente, envolvido que estava no turbilhão revolucionário da altura e numa família pouco carinhosa. Merece o respeito dos portugueses e a admiração dos brasileiros. E a estátua que lhe fizeram no Porto, no Castelo do Queijo. Pena é que a tenham virado para oeste, e não para sudoeste, onde estava antes, e colocado uma espécie de paragem de autocarro como pedestal.

terça-feira, dezembro 04, 2007

Esperemos que ele se engane
Continuando o último post, a crítica de António Barreto à ASAE e as suas previsões são alarmantes. Alarmado fiquei eu depois de ler aquilo, até me lembrar que o sociólogo é por norma um pessimista (mas menos niilista que Pulido Valente, em todo o caso). Daí achar que nem todas as suas previsões se vão concretizar.
Mas fica a chamada de atenção, que é sempre útil. A ASAE é uma entidade útil que tem tido uma eficácia notável, mas temo que pelo caminho das novas legislações tão lestas a proteger a saúde do cidadão, se torne uma proto-polícia de costumes menos bruta. Reduzir tudo a assépticos estabelecimentos em que só se pode escolher meia dúzia de pratos ou bebidas conforme a regra, sem gosto nem gordura, com proibição total de fumo, com escassas esplanadas onde só se pode beber em recipientes de plático é um nada admirável mundo novo que põe as pessoas em último lugar, ao contrário do que se propõe. Não, não é apenas para defender o "direito de propriedade" e o "tradicionalismo": é acima de tudo para defender a vida de todos os dias, improvisada, rotineira, com pequenos prazers e pequenas chatices, a vida comum mas livre, em suma. Se Barreto tiver razão, estas regras negarão o sentido dessa vida, pondo em lugar dela regras de conduta e consumo sem ligação à realidade e ao bom senso.
Por falta de tempo, numas ocasiões, ou de net, noutras, o blogue tem andado demasiado desactualizado. Vamos lá a ver se corrigimos isso com tempo.
O motivo de discussão maior foram a recensão de Vasco Pulido Valente a Rio das Flores e o artigo de António Barreto no dia seguinte, ambos no Público.
Apenas folheei o livro de MST, e detectei logo alguns erros a que aludi há uns dias. VPV andou à cata, alguns apanhou-os bem, outro não passam de interpretações próprias. Aquela dos "Condes e Marqueses" era claramente uma figura de estilo, mas o historiador achou por bem embirrar com picuinhices. Acabou por apanhar bem a maioria dos erros relativos à Monarquia/República, área onde está bem mais à vontade. O que tenta emendar sobre a Guerra Civil de Espanha parece-me mais discutível.
Pelo que me dizem e vislumbrei, a obra é vulgar, falta-lhe ritmo e vida e é mesmo inferior. literáriamente, a Equador. Para quem tinha muitas expectativas, como eu, pela época em que se insere e pelas curiosidades que revela (Zepellins, por exemplo), deverá ser uma desilusão. Ainda assim, pretendo ler o livro, quando acabar a lista dos que tenho pela frente.
O que me parece é que Sousa Tavares não acertou no alvo, quando pretendia superar o seu anterior romance; mas Pulido Valente escreveu o que escreveu por pura revanche, chamando claramente "ignorante" a MST. Ora o livro, se não é uma obra prima, longe disso, à parte um ou outro erro histórico já referido, não pretende ser um manual cristalinamente correcto de factos passados, mas sim contar uma história num contexto definido. E isso o nostálgico de Oxford não teve em conta, e a sua tremenda crítica fica em parte inutilizada.
Um e outro falham, para mal dos seus egos. O que me dá esperança de um dia escrever um muito melhor romance com Zepellins e a Guerra Civil de Espanha em fundo. Fica aqui o aviso: depois não me acusem de plágio.