terça-feira, novembro 30, 2010

Notas catalãs


Não haja dúvida que a Catalunha passa por dias animados, neste gélido início de Inverno. No Domingo, a velha CiU voltou a ser maioritária no parlamento regional e ocupará por certo a Generalilat. A experiência da esquerda tripartida à frente do governo não correu muito bem, e o PSOE pagou por isso, com muitos a verem o fim de um ciclo e a prever o princípio do fim do governo de Zapatero. Pior ainda ficou a Esquerda Republicana Catalã, reduzida a menos de metade pelas tolices do inenarrável Carod Rovira, e que ainda se viu ultrapassada pelo PP. Mais atrás ainda ficaram os comunistas e umas franjas de independentistas. Será que os anarquistas da CNT votaram em alguém?



Um dia depois, o motivo de todas as conversas: os cinco golos sem resposta do Barcelona ao Real Madrid. Jamais Mourinho tinha encaixado uma derrota por estes números (embora o resultado não seja inédito: basta recuar a 1994 e aos tempos em que Romário fazia levantar o Camp Nou), com um jogo avassalador da cantera culé sem hipótese de reacção dos merengues e de Cristiano Ronaldo, como sempre muito desacompanhado. Barcelona conseguiu por uma vez vingar-se do "tradutor", mas por muito abatido que este estivesse, desconfio que ainda vai virar as contas e retribuír a gentileza no Santiago Bernabéu, onde presumivelmente já contará com Káká. É não conhecê-lo e à sua capacidade de emergir.


Fica uma nota de uma ironia curiosa: a fustigada dupla de centrais do Real era constituída por Pepe e (Ricardo) Carvalho, precisamente o nome do detective criado pelo mais conhecido escritor catalão de livros policiais, Manuel Vazquez-Montálban, que chegou até a fazer parte dos corpos sociais do FC Barcelona. Nos histórias, Carvallo queimava livros; no relvado, a dupla homónima queimou a própria equipa. Se Mourinho tivesse estado mais atento à literatura contemporânea catalã, talvez a coisa não lhe tivesse passado em claro.

O exemplo do Banco Alimentar

O Banco Alimentar recolheu neste fim de semana mais de 3 mil toneladas de alimentos. Ultrapassou os recordes de sempre. Ese sucesso tem várias leituras possíveis: significa que, como se temia, há mais gente com fome a precisar de auxílio. Mas também que as pessoas, mesmo com mais apertos na bolsa, e sabendo das novas realidades do país, foram mais solidárias do que o costume. Em tempo de crise, é uma bela amostra de que a sensibilidade social não está por terra, antes pelo contrário. E quando tantos apregoam por maior intervenção da sociedade civil à margem (ou como complemento) do Estado, o Banco Alimentar é um exemplo maior desse tipo de intervenção, mostrando quão eficaz pode ser o apelo de uma instituição de confiança e sem segundas intenções, para acudir às reais necessidades do país e dos que estão na sua margem.

segunda-feira, novembro 29, 2010

Acabou o Contra


Acabou o Contra Informação. Durante mais de uma década, foi o mais verrinoso programa de humor televisivo, o mais subversivo, o mais inspirado. Os trocadilhos dos nomes dos bonecos eram sempre inventivos, e de lá saíram diálogos e situações brilhantes, como as célebres galas. Não havia figura pública que não estivesse representada, e houve mesmo quem se sentisse posto de lado por não ter o seu próprio boneco. Durante muito tempo era o programa televisivo que mais fazia questão de ver. Ultimamente, já vinha perdendo fôlego e imaginação, e estava reduzido a um discreto bloco semanal. Agora acabou, definitivamente. Pode ser que qualquer dia venha um substituto, porque o modelo está longe de estar esgotado (recorde-se que antes do Contra já tinha havido o Cara Chapada, na SIC). Certo é que a televisão portuguesa fica mais pobre. Ou melhor dizendo, ainda mais pobre, mais sensaborona e mais servil.

quinta-feira, novembro 25, 2010

Goa, quinhentos anos


Só mesmo a leitura ao fim do dia das habituais efemérides do suplemento P2 do Público é que me puseram ao corrente do facto histórico do dia: não, não são os 35 anos do 25 de Novembro de 1975, graças ao qual não ficamos sob o domínio de militares de aspecto cubano e gente demasiado excitada. São antes os 500 anos da tomada de Goa por Afonso de Albuquerque. Meio milénio decorrente da entrada do governador português, que já conquistara Ormuz, no território ao qual o seu nome ficaria indelevelmente ligado e que se tornaria no centro político, religioso e comercial da Índia portuguesa. Ali começou verdadeiramente a "conquista, navegação e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia". Dali partiram as expedições que conquistariam Malaca e chegariam às Molucas, e também dali São Francisco Xavier iniciou a sua peregrinação pela Ásia. Goa cristianizou-se, ganhou traços arquitectónicos portugueses e, graças aos planos de miscigenação entre os indianos e os portugueses levados a cabo por Albuquerque, nasceu um novo sub-povo: os goeses. Goa pertenceu a Portugal até 1961, quando as muito mais numerosas forças da União Indiana ocuparam o território. Foram 450 anos, desde esse 25 de Novembro de 1500. Uma nova era da história de Portugal e do Oriente começou aí.

terça-feira, novembro 23, 2010

E assim passou a NATO por Lisboa

A NATO lá se reuniu em Lisboa sem problemas de maior e com promessas de reforma e de resolução de casos pendentes. É cedo para se saber se há possibilidade de salvar o Afeganistão das suas muitas ameaças com uma saída airosa (tanto uma como outro hipótese são duvidosas). Por outro lado, a futura cooperação com a Rússia promete desanuviar uma tensão nada desejável no leste da Europa e no Cáucaso e fortalecer ainda mais a aliança contra as novas ameaças globais - o Irão provavelmente entendeu a mensagem. Ver-se-à se Lisboa deste fim de semana ficará para a história.


Um qualquer habitante da cidade poderia passar à margem da Cimeira, desde que não vivesse (ou trabalhasse) na área do Parque das Nações ou não precisasse de usar alguma das vias condicionadas. Estive na capital nestes dias e tirando as entradas vigiadas do Vasco da Gama, restos de barreiras em Belém e de manifestantes no Rossio, nada vi de substancialmente diferente. Ao que parece, o controlo nas fronteiras funcionou bem (apesar dos protestos) e o temido Black Block não conseguiu fazer das suas. É bem possível que muitos dos retidos que se queixavam de não poder entrar no país e da sua "falta de democracia" fossem na realidade membros desse movimento que ocupa o tempo a partir montras e a montar coktails molotov. Mas a coisa seguiu sem problemas, mas revelando uma incrível e variada fauna, que o Miguel Castelo Branco reportou fotograficamente, para nosso gáudio e para deleite da sociologia. Ficamos mesmo a saber que Os Cinco, tão bem comportados e amigos da ordem e dos british values, enveredaram por maus caminhos e foram parar à prisão. Felizmente têm amigos que não se esquecem deles. Ou então eram eles as más companhias. Nunca se sabe.

sexta-feira, novembro 19, 2010

A terceira mais bela


A Livraria Lello foi considerada a terceira mais bela do Mundo pela Lonely Planet. Está longe de ser uma novidade, já quem em 2008 o Guardian deu-lhe o mesmo galardão, e a mesma posição. A diferença é que nessa votação era uma livraria holandesa, estabelecida numa antiga igreja, que estava em primeiro, e agora é uma americana, de S. Francisco. Em segundo permanece a de Buenos Aires, num antigo teatro (pelo que talvez a Lello seja a mais bela das construídas de raiz para a função).
Não é surpresa nenhuma, mas é um orgulho para o Porto e para Portugal. Agora só falta que a Lello se torne numa livraria realmente boa, e não apenas um alfarrabista onde também se compram livros novos, e que a disposição e organização também sejam aperfeiçoadas. Também teria a sua piada ver os livros transportados de novo naqueles carrinhos que circulavam nos carris de metal que ainda são visíveis entre o soalho do centenário estabelecimento.

Eis a Ateneo Grand Spirit, de Buenos Aires

E a nova campeã de beleza das livrarias, em S. Francisco. Pergunto-me quanto terão pago pela distinção, sabendo-se que destronaram a fantástica livraria que se vê em baixo, a Boekhandel Selexyz Dominicanen, de Maastricht.

quarta-feira, novembro 17, 2010

A república dos abutres
Não haja dúvida que esta comissão dos cem anos republicanos tem o dom da oportunidade...ou o vício do oportunismo. Tem razão o Nuno ao chamar a atenção para este disparate. Comemora-se a república homenageando Nuno Gonçalves? Mas no Séc. XV Portugal tinha sistema republicano? Terão confundido com Veneza ou Génova? E as personagens presentes nos Paineis de São Vicente (entre os quais D. Afonso V e D. João II), foram transmutados em figuras da 1ª república? Se a monarquia representava o "atraso", "as trevas", a "desigualdade", o "analfabetismo", os "privilégios de uma casta por causa do seu sangue", etc, etc, porque raio há da efémera (espere-se) comissão de Artur Santos Silva dedicar-se a exibir aquilo que considera serem defeitos de regime? Homessa! Se queriam exaltar a "ética republicana" que fossem mostrar obras dos últimos cem anos, em lugar de fazerem de abutres sem memória.
PS: o jogo particular da selecção portuguesa com a Espanha também se insere nas comemorações. Luminosa ideia, esta, de convidarem uma monarquia, que por acaso é somente a campeã mundial e europeia em título. Porque é que não chamaram antes a inspiradora Republique Française? Tiveram medo dos maus modos dos seus jogadores?

sexta-feira, novembro 12, 2010

Versão pós-1980.
Noutras situações seria um plágio ou um cover. Mas neste caso, que considerar? Trata-se da banda original, só que sem o seu carismático vocalista, e consequentemente com outro nome. Os Joy Division ficaram para trás, e os New Order, mais electrónicos, menos negros, interpretam um dos hinos que marcou a sua anterior encarnação, ao qual falta aqui a voz grave e algo cavernosa de Ian Curtis. Chamemos-lhe então uma versão, ou um cover, de per si.


quarta-feira, novembro 10, 2010

Cobardias e contrastes

Estranhos tempos, estes, e estranho continente, aquele em que habitamos. Vemos chegar o presidente de um estado que não permite a liberdade de expressão, de manifestação, que reprime as religiões e que comete um genocídio cultural sobre o Tibete (para não falar das atrocidades cometidas contra o seu povo por via armada). Quase ninguém se manifesta, e mesmo esses, aliás pacíficos, são afastados para a margem da margem.

No mesmo dia, um Papa é recebido em Barcelona com insultos, provocações e cartazes de protesto. Os opositores estão longe de ser uma multidão, mas os diversos órgãos de comunicação social dão mais ênfase a isso do que aos muitos mais que o acolhem. A viagem papal tinha o duplo objectivo de visitar Santiago de Compostela em ano de Xacobeo e de consagrar a Catedral da Sagrada Família como Basílica. A obra-prima de Gáudi, eternamente incompleta, é já o símbolo máximo da cidade condal, mas nem sempre os seus habitantes a respeitaram ou preservaram. Os anarquistas já foram a maioria em Barcelona, em alturas da guerra civil, por isso o seu anti-clericalismo já vem de longe. Os manifestantes que vimos nas imagens são descendentes da miscelânea de anarquistas, comunistas, trotsquistas, socialistas e demais republicanos que se juntaram um pouco contra natura para combater os nacionalistas de Franco (e entretanto, para se combater entre si). Coragem teve o Papa em passar entre fileiras de gente que o odiava, de um lado, e que o aclamava, do outro - uma boa metáfora da Espanha actual. A Sagrada Família (porventura a única verdadeira razão que me levaria àquela cidade) e mestre Gaudi mereciam-no, e a mensagem cristã, para ser espalhada, também exige coragem. Mas é espantoso como muitos vêem o Papa como uma real ameaça física, como se os Estados Pontifícios ainda existissem e tivessem a prerrogativa de organizar Cruzadas, a não ser que o vejam como uma ameaça no campo das ideias e de influência moral, e aí já lhes mais razão. Mas a prova do limitado poder terreno do Sumo Pontífice é exactamente o exibicionismo dos seus contestatários e os órgãos de comunicação social, mostrando-os até à medula, levados pelos airs du temps. Caso contrário, nem se atreviam a mostrar o nariz num raio de dez quilómetros. Como aconteceu com Hu Jintao, cujo regime foi olimpicamente ignorado por quase todos por mero temor reverencial e económico e em troca de alguns yuans. Com esses os "corajosos" apupadores do Vaticano não tugem nem mugem.

terça-feira, novembro 09, 2010

Hara Kiri

A táctica que Jorge Jesus usou ontem no Porto confirmou-se como uma autêntico suicídio. Ao ver David Luiz na esquerda e Sidnei no meio, palpitou-me que a coisa ia correr mal, até porque me recordei da última ida a Liverpool. Na altura, o Benfica despediu-se da Euro Liga. Agora pode muito bem ter-se despedido da luta pelo campeonato, e pelos mesmos erros. E pior, sofrendo uma goleada copiosa do grande adversário, sem ponta de garra, demonstrando apatia e nervos à flor da pele (que renderam um penalti e uma expulsão, logo a do capitão), com três castigados para o próximo jogo, que vá lá, é contra a Naval...dificilmente podia ser um cenário mais negro. Contra um Hulk em plena forma pôr um David Luiz numa posição com a qual não se dá bem é pura loucura. Assim se ganha um passador e se perde um grande central. Jorge Jesus bem pode meditar para não mais repetir o erro, salvar o resto da época. Ainda para mais depois de uma grande exibição de contra o Lyon, a meio da semana, em que nem os erros dos suplentes tiraram brilho, apanhar com um resultado destes é duro, e logo do clube cujos adeptos mais ódio sentem pelo Benfica. Agora, há que lamber as feridas e preparar os próximos jogos sem invenções imbecis. É que as ideias "luminosas" têm custos incalculáveis, e não é Roberto que vai fazer sempre de bode expiatório. Até porque não merece.


P.S.: que quer dizer André Villas-Boas com os seus "gestos de revolta" pela "época passada"? Há algum regulamento que proíba o Benfica de ser campeão? O Porto tem direitos naturais na matéria? A avaliar pelas reacções e pelas palavras de um ex-guarda-redes daquele clube, agora adjunto despedido, parece que acham isso mesmo. Razões de revolta tem o Benfica, e de sobra.

domingo, novembro 07, 2010

De novo a subserviência com a China

Pelos vistos, até houve alguns protestos de meia dúzia de membros da Amnistia Internacional e de um ou outro indivíduo com a bandeira do Tibete às costas. Mas ainda assim o Governador Civil de Lisboa não esteve com meias medidas, proibiu a acção e desterrou-a para as imediações da Torre de Belém, com o argumento de que se tratava de uma "contra-manifestação" e que no local já estavam as associações luso-chinesas, para aclamar Hu Jintao. Os manifestantes eram poucos e pacifíssimos, mas o peso da China na política externa e sobretudo os interesses económicos prevaleceram sobre quaisquer princípios de "respeito pelos direitos humanos" tão apregoados nesta republicazinha das (de) bananas. Nem os Falun Gong puderam fazer os seus exercícios meditativos em paz. Mas já tínhamos visto algo de semelhante, quando o governo, há não muitos anos, se recusou a receber o Dalai Lama. Para memória futura, fica o nome do autor de mais um acto de subserviência total perante a China comuno-capitalista selvagem. Chama-se António Galamba. A não esquecer.

sexta-feira, novembro 05, 2010

Aguardam-se protestos
Hu Jintao, Presidente da República Popular da China e homem mais poderoso do mundo, segundo publicações recentes, está a chegar a Portugal. Espero, obviamente, que os profissionais da manifestação e do activismo radical a favor de "causas nobres", como a de apupar continuamente Israel, não deixem o crédito por mãos alheias e venham para a rua protestar contra ao chefe de um estado semi-totalitário que reprime de forma brutal as aspirações do povo tibetano e todas as formas de protesto na China. Nem outra hipótese me vem à cabeça.

quinta-feira, novembro 04, 2010

Wall Street de regresso



Desde que vi o anúncio da sequela de Wall Street, filme de Oliver Stone de 1987, fiquei atento à sua chegada. Tinha gostado muito do original, e até o revi de propósito numa das sessões de Verão na esplanada da cinemateca. Quem o tenha visto conhece a sua crítica feroz ao sistema capitalista pronto-a-vestir e especulativo, a caracterização de uma época e dos seus traços distintivos, e da nova classe emergente dos anos oitenta, os corretores, com os fatos cruzados por suspensórios, os gadjets, os sinais de riqueza, a vida num corrupio imparável, etc. E uma espécie de vilão do sistema vigente, Gordon Gekko, financeiro sem escrúpulos, que não sendo a personagem principal consegue dominar o protagonista Bud Fox/Charlie Sheen e arrebatar o Óscar de Melhor Actor desse ano para o seu intérprete, Michael Douglas. Dele ficou para a antologia cinematográfica a máxima "Greed is good", que tão bem assentava naqueles anos antes do crash da bolsa de 1987, que marcou o fim daquela época. O filme é todo ele um conjunto de símbolos de uma época, recriados ou inventados. Os anos oitenta novaiorquinos estão ali espelhados, como se pode verificar pela banda sonora tão new wave dos Talking Heads.

A sequela dos anos dois mil e zero, merecendo mais do que a estrela solitária da crítica do género, desaponta um pouco. Ou a nossa era é demasiado desinteressante (e ainda mais cínica), ou Stone não conseguiu captar o mesmo espírito de época. Há alguns paralelismos interessantes entre as duas obras, tal como o financeiro escrupuloso mas desiludido com o sistema, que no primeiro filme era um Hal Holbrook amargamente irónico, e no segundo um Frank Langella bem mais trágico. A saída de Gekko da prisão logo no início, com o seu tijolo celular na mão tem a sua piada. Com a apêndice "Greed was good, now It´s legal" e o pequeno reencontro com Bud Fox (Charlie Sheen lá arranhou tempo entre um divórcio e uma bebedeira), é dos momentos mais interessantes da fita. Mas falta muito mais a Wall Street dos nossos anos; ao correctorzinho bem intencionado e ecolo de Shia Leboeuf falta a vertigem de ganhar dinheiro rápido e de fazer pequenos truques, como Bud Fox; os "maus da fita" não têm um centésimo da espessura cínica do original Gekko (apesar dos esforços de Josh Brolin), mesmo que a fasquia da pose de obras de arte tenha subido - os promissores quadros pop art são substituídos por Goyas autênticos. E ainda aparece, um pouco enfiada a martelo (provavelmente para mostrar que os filhos não têm de seguir os maus exemplos dos progenitores), a filha de Gordon Gekko, uma jovem idealista que é noiva do seu novo discípulo, precisamente a personagem de LeBoeuf, e que não fala com o pai há anos. A tentativa de reconciliação será uma das tramas principais do filme, o que dá a Gekko um ar mais humano, juntamente com o passado de ex-recluso e o cabelo grisalho, mas a coisa começa a dar para o torto quando o jovem casal pensa que os sonhos se vão cumprir e o corretor aproveita para "to back in business" com o espírito de tubarão que lhe víramos no primeiro filme. Só que o a voz do sangue fala mais alto, e afinal Gekko até tem alma e coração. A coisa acaba com um happy end digno de um "filme para toda a família", literalmente falando. Dá ideia que não haverá um Wall Street 3, até porque o efeito surpresa, ou coque, como quiserem, desvaneceu-se com a sequela. O capitalismo anda à solta, precisa de ser regulado, o dinheiro dá a volta à cabeça das pessoas, mas no fundo, no fundo, há sempre uma réstia de humanidade. Se a mensagem de Oliver Stone não era esta, anda lá perto.


Já agora, as cenas com mais charme são as passadas em Londres. Waal Street é ainda poderosa, mas Saville Row deixa-a K.O. em classe e elegância.