sábado, julho 17, 2021

A redenção pela bola

 Se as história de superação são apelativas, mais ainda se tornam se lhes forem acrescentadas certas concidências e acasos. O Euro 2020 que acabou há dias é disso exemplo.

Julgava que a superação seria a de um homem, Gareth Southgate, o actual treinador de selecção inglesa. Até agora, nunca a Inglaterra tinha ganho um jogo nos 90 minutos na fase a eliminar dos Europeus. Normalmente ficava-se pelo primeiro jogo (o guarda-redes Ricardo que o diga), tirando em 1996, quando a competição teve lugar precisamente em em solo inglês e ultrapassaram a Espanha nos penaltys. Só que nas meias finais jogaram contra a velha rival Alemanha, em Wembley, empataram a um golo e nas grandes penalidades um jogador inglês falhou, impedindo a sua seleção de chegar à final perante o seu público. O seu nome? Gareth Southgate.

Um quarto de século depois, Southgate levou a seleção inglesa pela primeira vez à final de um Europeu, tendo deixado pelo caminho a Alemanha, com um emotivo 2-0. Passadas as meias, de forma algo duvidosa contra uma aguerrida Dianamarca, a Inglaterra lá chegou a uma final, ainda por cima (e como quase todos os jogos que disputou) em Wembley, quase como em 1996 - quase porque se demoliu e reconstruiu o mítico estádio. E o povo enchia o estádio, ignorava os casos crescentes de covid e cantava, em fervilhante entusiasmo, It´s Coming Home, do célebre hino dos Ligthing Seeds Three Lions (A partir dos vinte segundos do video abaixo vê-se Southgate a falhar o penalty; noutra versão, a original, de 1996, aos 30 segundos a seleção inglesa marca um golo à portuguesa, defendida pelo malogrado Neno).


Não estava propriamente a apoiar os Three Lions, mas confesso que me interessava a ideia da redenção de um homem, que, 25 anos depois, naquele mesmo espaço, poderia conduzir a sua seleção à vitória na competição como treinador, depois de o impedir como jogador. Mas como sabemos, a história não acabou assim, e mesmo tendo chegado à final, a Inglaterra perdeu em Wembley com a Itália, de novo nos penaltys - e aqui sim, Southgate falhou pela escolha dos marcadores.

Mas se não houve redenção por um lado, ela veio de outro. A equipa técnica da Itália é constituída quase em exclusivo por velhas glórias da Sampdória de Génova, como Roberto Mancini, Gianluca Vialli, Lombardo ou Evani. E precisamente em Wembley, em 1992, na final da Taça dos Campeões perdida para o Barcelona de Cruyff, Mancini e Vialli, a dupla de ataque, os "gemelli del gol", jogaram juntos uma última partida. Vialli prossseguiu uma carreira  de sucesso na Juventus, Mancini na Lazio e ambos foram mais tarde técnicos de sucesso em Inglaterra. Até se reencontrarem na equipa técnica da selecção, um pedido expresso de Mancini, e que como se viu no Domingo, até pelo ambiente da equipa, voltou a dar resultado. 29 anos depois de perderem o título europeu de clubes em Wembley, ganharam o de selecções. É só isto, a redenção? Apenas o pretexto. Porque Vialli, já com funções na Azzurra, sofreu um canco no pâncreas, um dos mais difíceis de debelar, recuperou, teve uma recaída, e finalmente venceu-o completamente, sem mais vestígios. Chegou a dizer numa entrevista que "tinha vergonha de estar tão feliz", quando Itália sofria a primeira e mortífera vaga da pandemia. Um ano depois da sua recuperação, GianlucaVialli, que protagonizou uma destas superstições em que o futebol é fértil, no mesmo lugar onde não tinha sido feliz anos antes, voltou a festejar, em lágrimas, com todas as razões do mundo para o fazer, ou no mínimo com muito mais razões do que apenas um penalty falhado.



sexta-feira, julho 09, 2021

O florentino do Benfica

 

Há uns anos, apostava-se que Rui Costa seria um dia presidente do Benfica, e que o seu benfiquismo e o seu enorme conhecimento do mundo do futebol e dos jogadores seriam trunfos para o clube.

Hoje chegou o dia em que ele assumiu a presidência, ainda que "interina", mas é tudo menos entusiasmante, pelas circunstâncias da detenção de Vieira e indícios de trafulhice, pelo momento do clube, que já não era bom, e sobretudo porque o próprio Rui Costa era vice-presidente e há a sensação de queno mínimo não ignorava o que se passava.
Também há a hipótese de estar à espera que Vieira caísse para assim assumir as rédeas do clube, o seu grande objectivo. Talvez ainda possa surpreender. Mas isso seria demasiado maquiavélico.
E de repente lembramo-nos de que Rui Costa viveu vários anos e boa parte da sua carreira em Florença, a cidade de Maquiavel, e que até era conhecido pelos adeptos da Fiorentina como "il principe". Queres ver que ele é mesmo um"florentino" (e não o do Real Madrid)?