terça-feira, setembro 28, 2004

Quando uma mãe mata uma filha, e por "motivos fúteis", o que costuma acontecer ás pessoas minimamente normais é revolverem-se-lhes as entranhas. O sentimento é semelhante se vemos uma multidão em fúria, querendo fazer a todo o custo "justiça popular", por mais perverso que seja o criminoso.
É com este tipo de coisas que os nossos noticiários começam. Com isto ou com mais uma bomba no Iraque, que deixa atrás de si mais umas dezenas de mortos e estropiados.
Como é que uma pessoa, com tais cenários, não há de ficar mais atento ao futebol?
Onde é que eu já ouvi isto?

A guerra chegará "a toda a parte, a todos os cantos", avisa responsável de Telavive.

Por mais sinais de "civilização" que tentem dar, os fanáticos, sejam muçulmanos, judeus, cristãos ou ateus, usarão sempre os meios ao seu alcance para atingir os seus (por vezes sinistros) fins. E não raramente proferem declarações coincidentes. A frase "linkada" poderia ser facilmente atribuída a um membro da Al-Qaeda.
Agora impôe-se a questão: se assassinar alguém, mesmo que seja um dirigente de um grupo terrorista, recorrendo à técnica do carro armadilhado, numa capital estrangeira, não fôr ela mesmo uma acção de terrorismo, então o que será? Um "ataque preventivo"?

quinta-feira, setembro 23, 2004

Os dias da bola

O momento dos principais adversários do SLB é autêntica mas felizmente estranho. O habitual vizinho de Lisboa exibe performances assustadoras, mais que os próprios resultados, o que não deixa de me espantar, porque estava à espera de mais de José Peseiro. Quanto ao Porto, concretizam-se os meus vaticínios das discussões de Verão perante os meus encarniçados amigos portistas, que afirmavam que, com tal equipa, "o campeonato estava entregue". Esqueciam-se porém que não tinham uma equipa, mas tão somente um amontoado de jogadores talentosos, sem um verdadeiro fio de jogo ou noção de actuar em bloco. Provavelmente nunca uma declaração de Pinto da Costa terá sido tão infeliz como a "já desde dia 20 de Agosto que não ganhamos nada". Qual maldição desportiva, o FCP não voltou a ganhar nehum jogo desde então; talvez isso explique o silêncio actual do líder das Antas.
O SLB, por seu turno, segue tranquilamente o seu caminho. É ainda muito cedo para cantar embandeirar em arco, mas parece que esta equipa de Trapattoni é coesa, disciplinada e serena, coisas que faltaram ao futebol do SLB nos últimos anos. Os próximos jogos, de grande grau de dificuldade, confirmarão ou não isso mesmo. E não esquecer que uma das grandes virtudes do técnico transalpino é, a par do rigor táctico e da enorme experiência, a capacidade de transformar futebolistas medianos em grandes jogadores, graças ao qual a Juventus dominou a primeira metade dos anos 80 e a Itália constituiu a base da equipa campeã do mundo em 1982.
E que tal descer à capital para ver um joguinho no imenso anfiteatro da Luz?
Ou melhor ainda, ver o que se passa no fantástico campeonato da vizinha Espanha, onde o não menos fabulosos Valência aplicou chapa 5 ao Corunha, em pleno Riazor. Irresistível, não é?
Links e remissões

O tempo tem escasseado para posts mais profundos, por isso estou condenado a fazer links para o que de melhor se vai escrevendo na blogoesfera.
Desde já, a descoberta de um interessante blog, o Mescrita, que além de chamar a atenção para assuntos assaz relevantes, partilha duas características d ´A Ágora: é benfiquista e portuense, duas coisas que poderão aliás parecer algo divergentes para os mais incautos.

Não quero deixar ainda de assinalar:

- a chamada de atenção que o Barnabé faz para o centenário do nascimento de Graham Greene, quanto a mim um dos melhores (e mais interessantes escritores) do século XX, ao que parece algo infamemente esquecido, com referências ainda a obras como "O Americano Tranquilo" e a adaptações dos seus livros ao grande ecrã;

-o post no BdE, alusivo a um artigo de Mega Ferreira na Visão, sobre a verdadeira história do roubo dos frisos do Parténon por Lord Elgin, com pormenores que francamente desconhecia - embora quanto a mim omita as tentativas da grande Melina Mercouri para a sua devolução ao povo grego e ao local de onde nunca deviam ter saído;

-a típica situação descrita pelo meu homónimo do Esplanar; já, já me aconteceu: aliás, das coisas que mais me acontece é exactamente estar a ler um volumoso livro e, por qualquer inspiração, escrita ou não, divergir para uma infinidade de assuntos, até que, meia hora mais tarde, desperto e reparo que continuo a ler a mesma linha, qual disco riscado na grafonola.

quarta-feira, setembro 22, 2004

A ler...

...e a pensar, os posts de um dos mais criativos e originais blogs que por aí andam,
A Tasca da Cultura, intitulados "Survival". Ou de como as situações urbanas nos podem por vezes tornar indiferentes, cínicos ou simples sobreviventes da vida corrente.

domingo, setembro 19, 2004

Seguindo aquela máxima, com seu quê de infantil, é certo, que diz que "quando queremos, todos os nossos sonhos se podem tornar realidade", um dos desejos que exprimi neste mesmo blog vai-se tornar realidade: Gonçalo Cadilhe vai lançar, lá para Dezembro, um livro narrando a sua viagem à volta do mundo, e que semanalmente aparecia no Expresso. Disse-o ontem em entrevista à rádio, confirmando todas as minhas suspeitas. Um desejo prestes a ser concretizado, em suma. Não é exactamente o mesmo que ver o Benfica ser de novo campeão europeu, ou que a mulher dos nossos sonhos tornar-se a mulher da nossa vida ( conceitos diferentes, tantas vezes confundidos), mas será sempre grato imaginar as travessias dos EUA e Pacífico, ou nas dificuldades em passar-se o Passo de Khyber, ou ainda na beleza dos vales da Bulgária ou das barreiras de coral. (Quase) Tudo sem o recurso ao avião. Até lá, aguardemos fanaticamente, com alguma serenidade à mistura.

sexta-feira, setembro 17, 2004

Detenham-no que ele sabe alguma coisa!

Por esta é que ninguém esperava. Apesar do público e profundo conhecimento sobre as ideologias e os sistemas políticos de que João Pereira Coutinho faz gala em conhecer mais do qualquer outro mortal, não imaginava que o dito blogger e colunista tivesse relações pessoais com fundamentalistas islâmicos, daqueles que se regozijaram com o 11 de Setembro de 2001. Mas é o que ele diz aqui, preto no branco. Onde estão a CIA , o FBI ou o Mi-5 quando mais são precisos? É que neste caso impõem-se alguns interrogatórios...

quinta-feira, setembro 16, 2004

O Batman do triângulo cor-de-rosa

Há realmente campanhas de gosto duvidoso. Destacam-se entre estas algumas da Abraço, em especial as já afamadas "Galas Travestis", que não só me parecem profundamente inúteis como já chegaram a ocupar mais tempo nos noticiários do que o pricipal feriado nacional (nesse mesmo dia).
Uma das tais campanhas tem tanto de burlesco como de risível. Dirigida aos homossexuais (creio que um pioneirismo), mostra uns efeminados Batman e Robin, de mãos dadas e tons rosados, apelando ao uso do preservativo; mas o que mais há de estrambólico é o uso do famigerado triângulo rosa, uma memória dos Campos de Concentração nazis, para onde os homossexuais eram levados ostentando tal símbolo. Para quê, então, colocar esse sinal no anúncio? Será um qualquer desafio radical, com um argumento do tipo "os preconceitos da sociedade pouco evoluíram desde a 2ª Guerra", ou "sofremos uma discriminação pró-nazi"? Espero bem que tais ideias não passem senão nas mentes mais perversas, mas seria bom que justificassem a presença do triângulo de má memória no século XXI. É que também não me passa pela cabeça ver judeus usando na lapela aquelas Estrelas de David. E duvido que os gays façam passar melhor a sua mensagem com o recurso sistemático à provocação circense.

Os promotores das campanhas da Abraço, de resto, devem andar com as ideias sexuais algo desfocadas. Veja-se quem arranjaram atraír a população heterossexual masculina! É duvidoso que o Super-Homem sirva da melhor maneira tais propósitos. E que faz a candidata a Lara Croft (embora mais bisonha e menos sensual que Angelina Jolie) chamando a atenção da "população heterossexual feminina"? Estranho. Agradecia-se algum bom senso, no mínimo.

quarta-feira, setembro 15, 2004

Os STCP, essas escolas da vida

Alguém disse num dia de inspiração que "só quem anda de autocarro é que conhece a vida". Se retirarmos o amplo exagero do "só", concordo absolutamente com a afirmação. Como fiel utente dos STCP (e esperemos que em tempos futuros do metro) mantenho um posto de observação invejável e exemplificativo. É nos autocarros que se tem a possibilidade de ver, num espaço exíguo, e no mesmo tempo, juristas e burocratas de fato e gravata, pasta numa mão e as notícias do dia noutra; miúdos de mochila ás costas, frequentemente do mesmo tamanho que os seus portadores; estudantes em grupo, carregando cadernos e não raras vezes trajados á doutores; a dona Alice conversando com a dona Toninha sobre o preço do pão e os disparates das filhas dos vizinhos; arrumadores no intervalo da sua função, usualmente com uma tremenda pedrada; estrangeiros com ar de emigrantes das obras; e sobretudo velhos, muitos velhos, de casaco de malha, gravata de lã e boné coçado, dirigindo-se para casa ou para o jardim público, atrasados para uma partida de sueca. É sobretudo olhando para estes últimos que percebo o quanto a população da cidade envelheceu, com a deserção dos habitantes do centro para os subúrbios, abandonando os idosos nas decrépitas casas do velho Porto, de olhos saudosos por trás da roupa que seca e das portadas carunchosas. Garanto que se não andasse de autocarro nunca saberia o quanto a população portuense tinha envelhecido.
Mas, como disse, o "só" é exagerado. Temos outros pontos de observação, como as cervejarias.
Ainda ontem as voltas que dei e a hora tardia obrigaram-me a jantar numa delas. Da quasi-extremidade do balcão podia ver o escasso movimento do trânsito, através do vidro. Ainda ao balcão, um par de homens disscutia asuntos que me pareceram relaccionados com bola e negócios, enquanto comiam paratadas de camarões. Nas mesas, alguns casais, um grupo de jovens que perorava animadamente sobre performances automobilísticas, e outro par, este constituído por mancebo com ar vagamente anarco-sindicalista e por uma rapariga com tons da mesma corrente ideológico-laboral, mas que me pareceu atraente à primeira vista. Engano fatal: quando os voltei a observar, a dita mulher faz um longo, explícito e descarado movimento para o qual só necessitou do dedo indicador e do nariz, seguido do qual mirou a consequ~encia de tal gesto. Felizmente era chegado o momento de pagar a conta e zarpar dali para fora. Para observações sociológicas o dia estava definitivamente acabado.

sábado, setembro 11, 2004

Ele há instintos

Como ultimamente têm sido inúmeros os blogues que completam um ano de vida, resultado de um boom assinalável, lembrei-me não sei porquê, e algo instintivamente, que também o Barnabé devia estar a chegar ao seu primeiro aniversário; mas remeti a questão lá para Outubro.
Qual quê! O Barnabé nasceu num onze de Setembro, data que tristemente recorda a bárbara infâmia de Nova Iorque e o violento golpre de estado chileno. Haja ao menos um acontecimento feliz para se comemorar em dia tão funesto.
Parabéns aos autores do blogue, pela sua irreverência, sentido estético (algumas imagens são deliciosas) e de humor e paciência infinita para responder aos comentários - entre os quais os meus, não raras vezes maçadores.


sexta-feira, setembro 10, 2004

Os reais malefícios do tabaco

Ontem fiz referência á nova lei do tabagismo, que pretende proibir o fumo em locais (semi-) públicos. Hoje tive ocasião de comprovar que antes de todas essas interdições se devia impedir as pessoas de fumar em locais não só proibidos à prática mas acima de tudo perigosos.
Como tivesse o depósito de gasolina na reserva, dirigi-me ao posto de abastecimento mais à mão, ficando na fila para chegar ás bombas. À minha frente, num daqueles mini-carros que circulam por entre o tráfego urbano, julgo que um Smart, uma criatura de sexo feminino fumava com o braço de onde pendia o cigarro virado para fora. Enquando abastecia o seu veículo continuou a fumar, em plena bomba, em clara violação dos sinais que explicitamente proibiam o uso de tabaco naquele local. Não me contive e saí do carro furibundo, embora tenha sido delicado pela maneira como me dirigi à dita mulher, lembrando-lhe a proibição. E que respondeu a criatura? que "sabia que era proibido", rematando com um "não se preocupe", assim como quem diz "não tens nada a ver com isso". Ainda lhe disse que sim, preocupava-me e muito, o gesto dela era um perigo, e por aqui me fiquei. Arrependi-me depois, já que tal inconsciência ou estupidez merecia uma reprimenda bem mais feroz, mas já era tarde para voltar à carga.
Reparei entretanto que no banco do passageiro havia uma cadeira de criança. Se estava lá uma, poder-se-ia compreender em primeira análise que não quisesse que o fumo se espalhasse dentro do carro. O problema é que o exterior não era o local indicado para espalhar cinza ou faúlhas. O que a criatura não podia ter feito nunca era pôr-se a fumar na fila do posto de gasolina. Com uma displicência de bradar aos céus, ou neste caso, de ir pelos ares.
Bem podem impôr leis anti-tabagistas à vontade. O problema não se resolve por aí. Antes de mais há que obter uma cultura de civismo que não permita situações destas, a pior face do habitual "deixa andar" luso. E aí sim, discutamos e coloquemos as interdições onde elas façam sentido. Até lá, tudo mais é palha.

quinta-feira, setembro 09, 2004

Parece-me...

...que afinal de contas o post de ontem apareceu, desmentindo o que escrevi há pouco. Aproveito para divulgar (tal como o demonstra um comentário) o regresso ao activo do blog Zona Franca, sempre com a boa disposição do Frederico Marchand. Quem quiser recordar as antigas manhãs de Sábado com a Abelha Maia terá lá à sua disposição a respectiva cantiga, objecto aliás de versões duvidosas.

Outro regresso que se saúda é o do Desesperada Esperança, o autêntico, depois de ter sido alvo do mais incrível acto de pirataria blogoesférica que já pude ver, perpetrado ao que parece por uma qualquer teenager cá do burgo. Pelo menos é o que dá a entender.
O que interessa realmente é que os fluentes textos (ou parte deles) "escritos pela mão invísivel de Bruno Alves" estão de volta. Do que li digo desde já que concordo inteiramente com o que diz sobre a nova lei do tabagismo em locais públicos. E como é óbvio tenho uma opinião contrária ao post sobre Bush; não acho que W tenha melhores ideias que Kerry sobre o terrorismo internacional ( e muito menos capacidade para o derrotar). Também não comungo da opinião que só nos Estados Unidos alguém como Schwarzie chegasse onde chegou. Sendo actualmente a Europa um iman para os emigrantes de qualquer país de 3º Mundo, arrisco-me a dizer que acredito mais nos sonhos europeus que na "American Dream".
Já tinha ouvido falar de tal problema por uns zunzuns que circulam na blogoesfera, mas agora tocou-me a mim: por uma qualquer obscura razão não consigo publicar um post que escrevi ontem sobre os massacres de Beslan. Talvez o blooger seja sensível a tais questões, não sei. Ou estará talvez com excesso de blogs. De qualquer forma, este post é menos um reparo da situação do que uma tentativa de furar o cerco.

terça-feira, setembro 07, 2004

Acontecimentos

Já muito se disse sobre a tragédia de Beslan. Falou-se sobre o horror indizível pela quantidade dos mortos - e mais ainda pela maioria serem crianças - pela crueldade dos raptores, o desespero das famílias e dos soldados que avançaram sem ordem para tal, os métodos dos russos relativamente ao terrorismo, o provável envolvimento da Al-qaeda, como se deve actuar na guerra da Tchetchénia, etc. Muito se dirá, ainda, envolvendo diferentes opiniões e teorias. O problema é que nenhuma poderá evitar por ora que casos semelhantes voltem a suceder. Dar-se-ão talvez algumas respostas, sim, mas só por si não evitam derramamentos de sangue - e de vidas - semelhantes. O que aterroriza é mesmo pensar como é que criaturas tomam como reféns milhares de crianças e respectivos pais com o intuito de as matar. Sim, o que seres destes querem é matar, trucidar, espalhar o terror. O terrorismo não tem outra base que não seja esta, seja qual for a língua em que se exprimam ou o culto que seguem os seus executores.
Mas este terrorismo do Cáucaso, que tem como contraponto a forma brutal como os russos aí actuam, além de demoníaco, tem uma característica premente: uma cobardia inaudita, daqueles que só usam a sua bestialidade contra hospitais, teatros, escolas, atacando os mais fracos, os indefesos, os desarmados, querendo fazer crer que se tratam de "combatentes por uma causa". Vê-se a "coragem" de tais "combatentes" quando nos chegam imagens dos ossétios: velhos humildemente trajados, mulheres desesperadas, com os seus pobres lenços enrolados à volta da cabeça, crianças em estado de choque, homens assustados, avós que correm á procura dos netos; eis os alvos das criaturas que escondem a cara ao Mundo.
As crianças perguntam frequentemente se há monstros, recebendo invariavelmente negativas dos adultos. Tenho agora sérias dúvidas sobre a verdadeira resposta a dar.

O assunto do barco do aborto nem merece grandes linhas. Paulo Portas e as "Não te prives" & "Women on Waves", essas espécies de girl bands do feminismo também não. A solução mais prática seria a meu ver permitir que o dito rebocador atracasse e se fizesse guarda (em terra) para que uma data de mulheres não fosse para o alto mar fazer abortos (em condições discutíveis). Fazia-se o debate necessário sem recorrer a figuras de urso. Assim não o entendeu o governo. E caíu na esparrela mediática. Quem manda armar em autoritário?

segunda-feira, setembro 06, 2004

Teria muito a dizer sobre os acontecimentos dos últimos dias, que como se sabe variam entre o burlesco e o trágico. Falarei sobre eles em breve. Mas como não tenho tempo, digo apenas que o essencial é dito de forma despojada e emocionada No Arame. Discordo apenas de algumas coisas que diz sobre a lei do Aborto, como oponente à despenalização que sou, e à possível orientação sexual de alguns ministros, por achar que não vêm ao caso. Quanto ao resto, é digno de subscrição.

sexta-feira, setembro 03, 2004

Um hit dos Cárpatos

Todos os anos, pela época estival, surge um ou vários hits dançáveis, que se ouvem ininterruptamente durante seis meses, caíndo depois no sub-esquecimento, como é o caso do movimentado Aserejé, daquelas três manas de Córdova, que há dois anos correu mundo.
Não é preciso estar muito atento para se notar que a "bomba" da movida actual é o omniouvido Dragostea Din Tei, autêntico dance kitsch vindo dos Cárpatos. A música é disputada por um grupo romeno, os O-Zone, e uma cantora da mesma nacionalidade, de nome Haiduci. A versão mais ouvida é no entanto a dos primeiros.
O hit tem partes algo amaricadas, uma língua à primeira indecifrável, e um ritmo electrónico algo ridículo; o videoclip da banda é de fugir, com os rapazes, com aquele ar foleiro típico de um país da Europa de Leste que se tenta modernizar à força, a fazer requebros de corpo nas asas de um avião. Cumpre contudo a função, pondo toda a gente a dançar (e o que é mais incrível, a cantar em romeno, ou fazendo por isso), ouvindo-se em toda a parte e a qualquer hora, e, ao que parece, já levou o respectivo disco a mais vendido no país. Também no resto da Europa o sucesso tem sido grande, havendo inclusivamente um vídeo com legos a parodiar o já referido videoclip e seus intervenientes- pode-se ver aqui, é absolutamente imperdível.
Agrada-me no entanto uma situação: a de que por uma vez a música (dançável) do momento não é anglo-saxónica ou "latina" (no sentido hispânico do termo), mas latina (literalmente) vindo do leste, não da Europa central, mas mesmo do Leste, do Mar Negro, quase ás portas da Rússia. Que venha de um país mais à margem da Europa, que luta com inúmeros problemas para um dia alcançar o nível da UE; um país que procura o seu caminho entre castelos vampirescos, montanhas descarnadas, aldeias medievais, cidades descaracterizadas pelos actos de um tirano megalómano, crianças abandonadas e ciganos errantes. Os últimos bons ecos da Roménia devem ter sido a conquista da Taça dos Campeões pelo Steua e a revolução de Timisoara (mesmo assim com rumo sangrento). Ao menos por uma vez vêem-se protagonistas de algo, projectados pela Europa que dança neste Verão sem cessar ao som de Dragostea Din Tei.

quarta-feira, setembro 01, 2004

Passear pela cidade nesta época é algo de gratificante. É certo que em fins de Agosto não há a mesma quietude dos meados do mês, em que as filas de carros e as corridas aos estacionamentos desaparecem como se levados por um vento estival. Ainda assim, nota-se um menor bulício, ou se preferirem, um bulício mais primitivo e autêntico, de vozes, passos e pregões (quando os há, como o apito do homem-que-amola-facas-e-conserta-guarda-chuvas). Em que se caminha pelas ruas mais nobres e pelo centro da urbe sem os anafados encontrões do costume. Sim, há que aproveitar; a cidade tem ainda aspectos de calmaria. Mas o sol já declina mais cedo. É fim de Agosto.