Fim da semana
Ao contrário do que se possa dizer em virtude dos penosos últimos meses do seu governo (e da forma como acabou) e das suas lendárias indecisões, António Guterres é uma óptima escolha para ACNUR. Não só pelo seu desejo expresso em ocupar o cargo mas também pelas características que se exigem: capacidade de diálogo, conhecimento das situações, sensibilidade para os problemas e a sua diversidade e capacidade de decisão. As primeiras Guterres possui com abundância, como é do conhecimento público. A segunda já poderia franzir o sobrolho dos menos desconfiados, se se tratasse de um caso bicudo do nosso país. Mas não: recordemos que o ex-pm mostrou, porventura pela única vez, que tinha estofo de estadista e também sabia decidir na altura da crise de Timor. Aí não se coibiu em tomar decisões em tempos difíceis, nunca largando o comando das operações e acabando por ser o vencedor depois de um combate que chegou a parecer perdido.
É precisamente por me lembrar do papel de Guterres nessa ocasião, que envolvia refugiados e razões de índole humanitária, que julgo que fará um bom lugar e não deixará de tomar as decisões necessárias nos momentos que julgar apropriados.
Como se previa, o OUI à Constituição Europeia perdeu em França, coração da UE, e por números pesados. São portanto vencedores o xenófobo Le Pen, o tradicionalista De Villiers, os infinitos grupos trotsquistas e operários e a facção do senhor Fabius. Diga-se o que se disser, o simples facto desta gente apoiar o Não deixa-me pouco sossegado, pricipalmente quando se usam argumentos demagógicos como a recusa da entrada da Turquia na UE (da qual, já agora, desconfio um pouco).
Devo dizer que estou longe de saber qual será a minha posição no referendo que nos couber em sorte. Se me fiar na minha tradição de voto em tais decisões, escolherei o Não. Se apelar ao fundo da minha consciência europeísta, optarei pelo Sim. Mas até lá serei um fiel seguidor deste e de outros blogues que me possam dar uma visão mais profunda sobre aquela que pode (ou que podia, até hoje) ser a norma fundamental da UE.
Afinal não conseguimos a dobradinha. Com uma equipa gasta e cansada, baqueámos frente a um Vitória de Setúbal fresco e descomplexado. A vitória dos sadinos é perfeitamente justa, e Hélio mereceu plenamente erguer a Taça. Parabéns ao Vitória Futebol Clube. De qualquer forma, o importante já nós conseguimos. Agora é tempo de recarregar baterias e daqui a uns tempos pensar na nova época. Para futebol, já nos chegaram as emoções das últimas semanas.
segunda-feira, maio 30, 2005
sábado, maio 28, 2005
A TV, os adeptos, as suas cores e o triunfal regresso do Liverpool
Numa semana fértil de bola, e completando o regresso à glória dos míticos clubes de vermelho, o Liverpool venceu ontem o AC Milan numa empolgante e incerta final da Liga dos Campeões. Vinte e um anos mais tarde, os rapazes de Anfield Road voltaram a erguer a máxima Taça do futebol europeu, novamente frente a italianos.
Cheguei a casa ainda antes da partida começar. Esperava ver, antes da bola começar a rolar, a entrada dos jogadores, momento sagrado e inesquecível, e as coreografias das claques. Sempre achei que os cânticos, as bandeiras e os enormes lençóis eram um espectáculo dentro de outro, embora pense que os elementos das claques deveriam ficar-se pelas (pacíficas) acções de bancada, para evitar cenas deploráveis como as verificadas na Baixa do Porto no último Domingo. Mas os aspectos visuais valem quase tanto como o jogo em si.
O problema é que desde há uns tempos para cá as TVs quase nunca mostram o público presente, excepto em pequenos flashes e de forma secundária. Preferem focar a cara reservada dos técnicos, ou o acne de um qualquer jogador, ou até aspectos do relvado. Mas nada da vibração nas bancadas. Para mais os realizadores televisivos passam o tempo a fazer repetições que não interessam nada e passam à pressa pelos principais lances dos jogos (relembre-se o fantástico golo de Manniche no EURO 2004, vedado em directo aos telespectadores por repetições de um mero canto). Mas isso ainda percebo, pela pressa que há em escolher as melhores situações de golo. O não filmar as coreografias é que, sinceramente, me fica atravessado. Ainda por cima tínhamos em confronto um conjunto de adeptos de cânticos esmagadores perante outro cujos efeitos visuais são dos melhores que se podem ver em qualquer estádio. Ficam dois pequenos exemplos da malta de Anfield Road e dos rapazes de S. Siro.
Claro que a parte mais importante é o próprio jogo. E este não desiludiu ninguém: um Milan esmagador na primeira parte, a fazer antever um novo recorde em finais (pertença dos próprios milaneses), e um Liverpool com uma capacidade de reacção fabulosa, a empatar a partida e a levá-la para as grandes penalidades, em que Dudek (guarda-redes que eu já vi, ao vivo, sofrer um dos melhores golos jamais marcados em competições europeias), aos saltos, levou a melhor sobre o desconcentrado Sevtchenko e o especialista na matéria Dida.
O Liverpool voltou à glória muitos anos depois. Merecidamente. Mais do que os homens do sr. Berlusconi, ainda que se chamem Maldini ou Rui Costa.
com a cortesia do Terceiro Anel
Numa semana fértil de bola, e completando o regresso à glória dos míticos clubes de vermelho, o Liverpool venceu ontem o AC Milan numa empolgante e incerta final da Liga dos Campeões. Vinte e um anos mais tarde, os rapazes de Anfield Road voltaram a erguer a máxima Taça do futebol europeu, novamente frente a italianos.
Cheguei a casa ainda antes da partida começar. Esperava ver, antes da bola começar a rolar, a entrada dos jogadores, momento sagrado e inesquecível, e as coreografias das claques. Sempre achei que os cânticos, as bandeiras e os enormes lençóis eram um espectáculo dentro de outro, embora pense que os elementos das claques deveriam ficar-se pelas (pacíficas) acções de bancada, para evitar cenas deploráveis como as verificadas na Baixa do Porto no último Domingo. Mas os aspectos visuais valem quase tanto como o jogo em si.
O problema é que desde há uns tempos para cá as TVs quase nunca mostram o público presente, excepto em pequenos flashes e de forma secundária. Preferem focar a cara reservada dos técnicos, ou o acne de um qualquer jogador, ou até aspectos do relvado. Mas nada da vibração nas bancadas. Para mais os realizadores televisivos passam o tempo a fazer repetições que não interessam nada e passam à pressa pelos principais lances dos jogos (relembre-se o fantástico golo de Manniche no EURO 2004, vedado em directo aos telespectadores por repetições de um mero canto). Mas isso ainda percebo, pela pressa que há em escolher as melhores situações de golo. O não filmar as coreografias é que, sinceramente, me fica atravessado. Ainda por cima tínhamos em confronto um conjunto de adeptos de cânticos esmagadores perante outro cujos efeitos visuais são dos melhores que se podem ver em qualquer estádio. Ficam dois pequenos exemplos da malta de Anfield Road e dos rapazes de S. Siro.
Claro que a parte mais importante é o próprio jogo. E este não desiludiu ninguém: um Milan esmagador na primeira parte, a fazer antever um novo recorde em finais (pertença dos próprios milaneses), e um Liverpool com uma capacidade de reacção fabulosa, a empatar a partida e a levá-la para as grandes penalidades, em que Dudek (guarda-redes que eu já vi, ao vivo, sofrer um dos melhores golos jamais marcados em competições europeias), aos saltos, levou a melhor sobre o desconcentrado Sevtchenko e o especialista na matéria Dida.
O Liverpool voltou à glória muitos anos depois. Merecidamente. Mais do que os homens do sr. Berlusconi, ainda que se chamem Maldini ou Rui Costa.
com a cortesia do Terceiro Anel
segunda-feira, maio 23, 2005
Campeões enfim!
Como escrevi no post anterior, sofreu-se muito no jogo do título. No segundo tempo, com o empate a uma bola, o nervosismo era dominante, os cânticos tímidos e as provocações boavisteiras constantes. Eu estava pessimista, pensando que ainda iríamos perder o desafio. Um amigo meu, sentado ao lado, só queria saír dali. Mas a entrada de Mantorras deu novo ânimo à equipa. Subitamente, a notícia do golo da Académica provocou ondas de alegria e pôs o público a gritar "campeões, nós somos campeões!". Ainda me atrevi a dizer que faltavam uns minutos, mas retorquiram logo que o jogo das Antas tinha acabado e que o título estava ganho. Ainda assim, só ao apito final é que soltei um brado pela conquista do título há tanto tempo esperado (saí do estádio quase rouco, com tanto "ninguém pára o Benfica" e tanto "SLB, glorioso SLB"), abraçando-me ao meu amigo e aos anónimos adeptos que me rodeavam. Os jogadores deram a volta triufal ao estádio, perante o delírio da massa vermelha. Antes do fim do jogo, ainda houve uns boavisteiros mais truculentos, desejando avidamente a nossa derota: de nada adiantou, os adeptos axadrezados saíram calados e a festa ficou só para nós. Um momento único, uma sensação de alívio-dúvida-pelo-momento-em-questão formidável.
Só tive pena de ter ficado largas dezenas de minutos à espera da camioneta do Benfica, quando afinal ela saíu por outro lado, e mais ainda por não ter ido a Pedras Rubras. Mas o mais importante era mesmo o jogo, e a esse não faltei.
O título é mais que justo: com um plantel curto e espremido, Trapatonni conseguiu, com o seu pragmatismo, dar-lhes a confiança necessária e o empenho mínimo para ganhar o campeonato. Não houve aqui "colos" nem ajudas extra. Com um Porto irreconhecível e um Sporting irregular, o Benfica aproveitou e levou o título. O técnico italiano está de parabéns, assim como os jogadores e demais elementos técnicos (não esquecendo Rodolfo Moura). E, claro, Luís Filipe Vieira e também, imagine-se, José Veiga.
Os nossos sonhos serão doravante vermelhos. Em matéria de futebol, podemos dormir descansados: o título está enfim em boas mãos. Onze duros, penosos e difíceis anos depois.
E lá fora a festa ainda dura...
Ps: a festa durou até ás tantas, não sem que um punhado de trogloditas agredissem adeptos benfiquistas na baixa do Porto e na Rotunda da Boavista, queimando cachecois e atirando objectos. O facto do seu líder se auto-apelidar "Macaco" explica o porquê dos gestos (e feições) simiescos daquelas criaturas. Que, diga-se de passagem, formam a guarda pretoriana da direcção do FCP e são por ela financiados e apoiados. O que não deixa de ser bastante revelador.
Ps2: tive há pouco a oportunidade de, num relance, cumprimentar Giovanni Trapatonni e de lhe agradecer o título (além de não resistir a pedir o respectivo autógrafo). Não queria deixar de o fazer antes deste grande senhor deixar o Benfica, como parece provável. Afinal não é todos os dias que se está frente a frente com uma lenda do futebol, sobretudo quando essa mesma lenda deu ao nosso clube o título por que esperávamos à anos.
Como escrevi no post anterior, sofreu-se muito no jogo do título. No segundo tempo, com o empate a uma bola, o nervosismo era dominante, os cânticos tímidos e as provocações boavisteiras constantes. Eu estava pessimista, pensando que ainda iríamos perder o desafio. Um amigo meu, sentado ao lado, só queria saír dali. Mas a entrada de Mantorras deu novo ânimo à equipa. Subitamente, a notícia do golo da Académica provocou ondas de alegria e pôs o público a gritar "campeões, nós somos campeões!". Ainda me atrevi a dizer que faltavam uns minutos, mas retorquiram logo que o jogo das Antas tinha acabado e que o título estava ganho. Ainda assim, só ao apito final é que soltei um brado pela conquista do título há tanto tempo esperado (saí do estádio quase rouco, com tanto "ninguém pára o Benfica" e tanto "SLB, glorioso SLB"), abraçando-me ao meu amigo e aos anónimos adeptos que me rodeavam. Os jogadores deram a volta triufal ao estádio, perante o delírio da massa vermelha. Antes do fim do jogo, ainda houve uns boavisteiros mais truculentos, desejando avidamente a nossa derota: de nada adiantou, os adeptos axadrezados saíram calados e a festa ficou só para nós. Um momento único, uma sensação de alívio-dúvida-pelo-momento-em-questão formidável.
Só tive pena de ter ficado largas dezenas de minutos à espera da camioneta do Benfica, quando afinal ela saíu por outro lado, e mais ainda por não ter ido a Pedras Rubras. Mas o mais importante era mesmo o jogo, e a esse não faltei.
O título é mais que justo: com um plantel curto e espremido, Trapatonni conseguiu, com o seu pragmatismo, dar-lhes a confiança necessária e o empenho mínimo para ganhar o campeonato. Não houve aqui "colos" nem ajudas extra. Com um Porto irreconhecível e um Sporting irregular, o Benfica aproveitou e levou o título. O técnico italiano está de parabéns, assim como os jogadores e demais elementos técnicos (não esquecendo Rodolfo Moura). E, claro, Luís Filipe Vieira e também, imagine-se, José Veiga.
Os nossos sonhos serão doravante vermelhos. Em matéria de futebol, podemos dormir descansados: o título está enfim em boas mãos. Onze duros, penosos e difíceis anos depois.
E lá fora a festa ainda dura...
Ps: a festa durou até ás tantas, não sem que um punhado de trogloditas agredissem adeptos benfiquistas na baixa do Porto e na Rotunda da Boavista, queimando cachecois e atirando objectos. O facto do seu líder se auto-apelidar "Macaco" explica o porquê dos gestos (e feições) simiescos daquelas criaturas. Que, diga-se de passagem, formam a guarda pretoriana da direcção do FCP e são por ela financiados e apoiados. O que não deixa de ser bastante revelador.
Ps2: tive há pouco a oportunidade de, num relance, cumprimentar Giovanni Trapatonni e de lhe agradecer o título (além de não resistir a pedir o respectivo autógrafo). Não queria deixar de o fazer antes deste grande senhor deixar o Benfica, como parece provável. Afinal não é todos os dias que se está frente a frente com uma lenda do futebol, sobretudo quando essa mesma lenda deu ao nosso clube o título por que esperávamos à anos.
domingo, maio 22, 2005
Para a glória ou para o desastre
Amanhã (hoje, pelas horas que já são) jogam-se os últimos desafios do campeonato. O Sporting, já se sabe, está afastado da corrida, e, depois da semana a todos os títulos arrasadora que atravessou, tem apenas a hipótese de ir ao segundo lugar. O Braga só mesmo com sorte é que fica em terceiro. Assim sendo, restam apenas dois candidatos ao título: o SLB, que se desloca ao Bessa, e o Porto, que joga em casa com a Académica. O grau de dificuldade dos dois jogos é, como se pode ver, abismal.
A vitória da semana passada sobre os lagartos, no esfuziante anfiteatro da Luz, com a ajuda do Labreca, pôs uns quantos adeptos a buzinar Lisboa fora, como se o campeonato estivesse ganho. A euforia era compreensível, depois de semanas a ouvir os sportinguistas a afirmar alto e bom som que iam ganhar à Luz, mas no seu lugar teria mais calma. Disse isso mesmo a um amigo, que mal acabou o jogo me telefonou eufórico a pedir que lhe comprasse bilhetes para o Bessa. Porque os jogos têm mais de noventa minutos e, pelo menos no início, são onze contra onze. Porque não é verdade que o Bessa vá estar todo vermelho, como por aí se diz (e que estivesse: não significava nada); porque os nervos e a condição física podem traír os jogadores do Benfica, além do capítulo da finalização também não estar famoso. E porque o Boavista não é uma equipa qualquer, já esteve em primeiro e não aceitará ser o bombo da festa, além de que, tudo o indica (e o treinador Barny não desmentiu), os salários em atraso dos jogadores axadrezados devam ser pagos por generosa mão vinda das Antas em caso de vitória.
Por isso, não estou assim tão confiante, antes pelo contrário: as dificuldades vão ser mais que muitas, e só com toda a concentração e força anímica os jogadores do SLB vão ser capazes de ultrapassar a situação. Nestas coisas costumo ser pessimista, talvez fruto da derrota no EURO 2004, ou devido ao facto de estarmos perante um objectivo há tanto tempo perseguido que até parece bom demais para ser verdade. Estive mesmo prestes a vender o meu bilhete, mas pensando melhor seria uma cobardia, agora que o meu clube tem oportunidade de ser campeão, ainda por cima a escassas centenas de metros de minha casa. Sim, irei ao Bessa, apesar de toda a tensão que rodeia este jogo e o do Dragão, e das ameaças de um grupo de delinquentes que dá pelo nome de SD. Pode ser a glória, pode ser também a tristeza e a humilhação e o desânimo, mas nem eu nem os milhares de benfiquistas presentes viraremos a cara enquanto pudermos ser campeões.
Haja Deus!
O estádio onde o Benfica terá a grande prova de fogo. O sítio onde vou ficar é na bancada da direita, em baixo.
A propósito do Bessa, muito se falou na semana passada da freguesia contígua, Lordelo do Ouro, por causa do seu desbocado pároco e do tenebroso caso da pequena Vanessa. Ouvi várias menções à freguesia como sendo "a terra". Por certo pensavam que era uma qualquer aldeia nos arredores do Porto. Fica o esclarecimento: Lordelo é uma freguesia da cidade do Porto, onde se situam Serralves, a Casa das Artes e onde eu moro, e por onde amanhã entrará a camioneta do Benfica rumo ao Bessa. Percebido?
E para concluír o assunto futebol, fica o meu sincero abraço de solidariedade aos lagartos que tão ingloriamente perderam a final da UEFA no seu estádio. É pena, mas os tipos do CSKA foram mais cínicos e inteligentes. É um péssimo fim de época para o Sporting, mas julgo que os esperam dias melhores. E talvez outras finais, de desfecho mais feliz.
Amanhã (hoje, pelas horas que já são) jogam-se os últimos desafios do campeonato. O Sporting, já se sabe, está afastado da corrida, e, depois da semana a todos os títulos arrasadora que atravessou, tem apenas a hipótese de ir ao segundo lugar. O Braga só mesmo com sorte é que fica em terceiro. Assim sendo, restam apenas dois candidatos ao título: o SLB, que se desloca ao Bessa, e o Porto, que joga em casa com a Académica. O grau de dificuldade dos dois jogos é, como se pode ver, abismal.
A vitória da semana passada sobre os lagartos, no esfuziante anfiteatro da Luz, com a ajuda do Labreca, pôs uns quantos adeptos a buzinar Lisboa fora, como se o campeonato estivesse ganho. A euforia era compreensível, depois de semanas a ouvir os sportinguistas a afirmar alto e bom som que iam ganhar à Luz, mas no seu lugar teria mais calma. Disse isso mesmo a um amigo, que mal acabou o jogo me telefonou eufórico a pedir que lhe comprasse bilhetes para o Bessa. Porque os jogos têm mais de noventa minutos e, pelo menos no início, são onze contra onze. Porque não é verdade que o Bessa vá estar todo vermelho, como por aí se diz (e que estivesse: não significava nada); porque os nervos e a condição física podem traír os jogadores do Benfica, além do capítulo da finalização também não estar famoso. E porque o Boavista não é uma equipa qualquer, já esteve em primeiro e não aceitará ser o bombo da festa, além de que, tudo o indica (e o treinador Barny não desmentiu), os salários em atraso dos jogadores axadrezados devam ser pagos por generosa mão vinda das Antas em caso de vitória.
Por isso, não estou assim tão confiante, antes pelo contrário: as dificuldades vão ser mais que muitas, e só com toda a concentração e força anímica os jogadores do SLB vão ser capazes de ultrapassar a situação. Nestas coisas costumo ser pessimista, talvez fruto da derrota no EURO 2004, ou devido ao facto de estarmos perante um objectivo há tanto tempo perseguido que até parece bom demais para ser verdade. Estive mesmo prestes a vender o meu bilhete, mas pensando melhor seria uma cobardia, agora que o meu clube tem oportunidade de ser campeão, ainda por cima a escassas centenas de metros de minha casa. Sim, irei ao Bessa, apesar de toda a tensão que rodeia este jogo e o do Dragão, e das ameaças de um grupo de delinquentes que dá pelo nome de SD. Pode ser a glória, pode ser também a tristeza e a humilhação e o desânimo, mas nem eu nem os milhares de benfiquistas presentes viraremos a cara enquanto pudermos ser campeões.
Haja Deus!
O estádio onde o Benfica terá a grande prova de fogo. O sítio onde vou ficar é na bancada da direita, em baixo.
A propósito do Bessa, muito se falou na semana passada da freguesia contígua, Lordelo do Ouro, por causa do seu desbocado pároco e do tenebroso caso da pequena Vanessa. Ouvi várias menções à freguesia como sendo "a terra". Por certo pensavam que era uma qualquer aldeia nos arredores do Porto. Fica o esclarecimento: Lordelo é uma freguesia da cidade do Porto, onde se situam Serralves, a Casa das Artes e onde eu moro, e por onde amanhã entrará a camioneta do Benfica rumo ao Bessa. Percebido?
E para concluír o assunto futebol, fica o meu sincero abraço de solidariedade aos lagartos que tão ingloriamente perderam a final da UEFA no seu estádio. É pena, mas os tipos do CSKA foram mais cínicos e inteligentes. É um péssimo fim de época para o Sporting, mas julgo que os esperam dias melhores. E talvez outras finais, de desfecho mais feliz.
sexta-feira, maio 20, 2005
Guiné em óleo-Fula
Não é preciso ir à bruxa para adivinhar o que se vai seguir na Guiné-Bissau com a auto-proclamação de Kumba Ialá como "Legítimo" Presidente da república do país. Se pensarmos que o exército está dividido e exprime opiniões ambíguas, que há uma infinidade de candidatos à presidência e que um deles é Nino Vieira, além de haver um suposto Supremo Tribunal de Justiça cujas decisões são, no mínimo, aberrantes, nada mais há a esperar que uma nova guerra civil, com novos assassinatos inter pares e novas fugas em massa da população. A desgraça naquele PALOP parece não ter fim, apenas intervalos.
Argumentam alguns apoiantes do sr. Ialá que a sua destituição foi uma "usurpação do poder popular e da Democracia". É óbvio que os senhores ignoram que a primeira condição para a existÊncia de uma democracia é a separação de poderes, e não apenas o voto em urna. E que os verdadeiros usurpadores são aqueles que ignoram as fronteiras entre esses poderes e os tomam para si, à margem de toda a legitimidade e respeito pelas instituições democráticas.
Ialá pretende mudar a capital de bissau para Fula. Assistiremos ao nascimento da Guiné-Fula? Até hoje, só tinha conhecimento do óleo. É a concorrência...
Não é preciso ir à bruxa para adivinhar o que se vai seguir na Guiné-Bissau com a auto-proclamação de Kumba Ialá como "Legítimo" Presidente da república do país. Se pensarmos que o exército está dividido e exprime opiniões ambíguas, que há uma infinidade de candidatos à presidência e que um deles é Nino Vieira, além de haver um suposto Supremo Tribunal de Justiça cujas decisões são, no mínimo, aberrantes, nada mais há a esperar que uma nova guerra civil, com novos assassinatos inter pares e novas fugas em massa da população. A desgraça naquele PALOP parece não ter fim, apenas intervalos.
Argumentam alguns apoiantes do sr. Ialá que a sua destituição foi uma "usurpação do poder popular e da Democracia". É óbvio que os senhores ignoram que a primeira condição para a existÊncia de uma democracia é a separação de poderes, e não apenas o voto em urna. E que os verdadeiros usurpadores são aqueles que ignoram as fronteiras entre esses poderes e os tomam para si, à margem de toda a legitimidade e respeito pelas instituições democráticas.
Ialá pretende mudar a capital de bissau para Fula. Assistiremos ao nascimento da Guiné-Fula? Até hoje, só tinha conhecimento do óleo. É a concorrência...
sábado, maio 14, 2005
Impressões do dia
Duas decisões de última hora levaram-me a sensações completamente diferentes nesta semana.
No último dia de exibição no Rivoli, assisti à peça "Visitando Mr. Green", do americano Jeff Baron. Diálogos com humor misturados em amargura, confissões, memórias, cumplicidades. E a oportunidade de ver ao vivo o grande Paulo Autran, sublime como sempre no papel de velho e rabugento judeu, esquecido no seu modesto apartamento novaiorquino, e a promessa Dan Stulbach, competente como o economista que é obrigado, em virtude de um acidente que provocou, a prestar trabalho comunitário, isto é, a visitar semanalmente o solitário Mr. Green (a vítima do atropelamento). Além de assistir ao espectáculo, ainda tive a sorte de encontrar os actores à saída, de falar uns minutos com eles, e, fiel e inevitavelmente, de ficar com os respectivos autógrafos - cumprimentar Autran é algo que nunca tinha imaginado . A digressão passaria ainda por Famalicão e acaba em Lisboa. Não percam pois a oportunidade, caros alfacinhas.
Já ao caír da noite decidi, por proposta de amigos, ir a Fátima pela primeira vez na véspera de um treze de Maio. Nunca fui demasiado devoto do Santuário, por achar que se pratica mais a crendice que a religião, o excessivo culto aos símbolos, que se dá mais relevo à Virgem e se secundariza Deus, e, claro, que muitos se aproveitam da devoção que o local provoca para fazer o seu negócio ou ganhar uns €uros extra. E depois, as multidões excessivas são sempre um factor de risco e de temor.
Sim, as tais multidões estavam lá (até SAR o duque de Bragança e família), e para se entrar no recinto era um sarilho. Mas uma vez lá dentro a circulação nem era difícil. E a Procissão das Velas é admirável, com um ambiente feérico e mágico digno do local, entranhado pelos cânticos marianos. A devoção e a Fé estavam lá, mas sem o histerismo colectivo que em ocasiões como esta resolvem entrar em cena. Claro que havia alguma beatice, bem como alguns dos elementos que atrás citei, os negociantes infindos, as pessoas a tentar furar com os carrinhos de bébé, ou pior ainda, o bispo do Porto a ler trechos da Missa. Mas ainda, a visão daquela massa ordenada e crente, com inúmeros peregrinos estrangeiros no meio, a serena adoração à Virgem, e a ameaça de violentos aguaceiros que apenas se concretizaram durante a viagem fizeram com que , pelo menos em parte, me reconciliasse com Fátima.
Por falar nisso, é um tipo de fé completamente diferente que anda a transtornar o país, sobretudo aquele que clubisticamente veste as cores da bandeira nacional. Prefiro nem dizer nada - excepto que amanhã se poderão abrir as portas do Paraíso ou desabarem as abóbadas dos céus- mas apenas e só recomendar a todos os benfiquistas que antes do faiscante derby de amanhã leiam o último Domingo Subjectivo do João Gonçalves. Leiam-no, devorem-no, absorvam-no, guardem-no, emocionem-se; ganhemos ou não, é um incentivo dos melhores.
E já que falámos de religião, parece que há um clima de indignação geral com as estapafúrdias declarações do padre durante a Missa de Sétimo dia da menina brutalmente morta no Bairro do Aleixo (recordo: "o aborto é mais grave que um homicídio destes, porque uma criança de cinco anos pode sempre gritar"). Não falamos de um clérigo xiita, mas de um sacerdote que, por sinal , até é o pároco da minha freguesia, Lordelo do Ouro. Mas se é quem eu penso, julgo que tenho a explicação: o dito clérigo é acima de tudo simplório, e muitas vezes nem medirá o que diz, ou nem verá o alcance das suas palavras. Só que manter um pároco que não controla os seus próprios dislates é um perigo que a Igreja corre. A Igreja e os paroquianos, bem entendido.
Duas decisões de última hora levaram-me a sensações completamente diferentes nesta semana.
No último dia de exibição no Rivoli, assisti à peça "Visitando Mr. Green", do americano Jeff Baron. Diálogos com humor misturados em amargura, confissões, memórias, cumplicidades. E a oportunidade de ver ao vivo o grande Paulo Autran, sublime como sempre no papel de velho e rabugento judeu, esquecido no seu modesto apartamento novaiorquino, e a promessa Dan Stulbach, competente como o economista que é obrigado, em virtude de um acidente que provocou, a prestar trabalho comunitário, isto é, a visitar semanalmente o solitário Mr. Green (a vítima do atropelamento). Além de assistir ao espectáculo, ainda tive a sorte de encontrar os actores à saída, de falar uns minutos com eles, e, fiel e inevitavelmente, de ficar com os respectivos autógrafos - cumprimentar Autran é algo que nunca tinha imaginado . A digressão passaria ainda por Famalicão e acaba em Lisboa. Não percam pois a oportunidade, caros alfacinhas.
Já ao caír da noite decidi, por proposta de amigos, ir a Fátima pela primeira vez na véspera de um treze de Maio. Nunca fui demasiado devoto do Santuário, por achar que se pratica mais a crendice que a religião, o excessivo culto aos símbolos, que se dá mais relevo à Virgem e se secundariza Deus, e, claro, que muitos se aproveitam da devoção que o local provoca para fazer o seu negócio ou ganhar uns €uros extra. E depois, as multidões excessivas são sempre um factor de risco e de temor.
Sim, as tais multidões estavam lá (até SAR o duque de Bragança e família), e para se entrar no recinto era um sarilho. Mas uma vez lá dentro a circulação nem era difícil. E a Procissão das Velas é admirável, com um ambiente feérico e mágico digno do local, entranhado pelos cânticos marianos. A devoção e a Fé estavam lá, mas sem o histerismo colectivo que em ocasiões como esta resolvem entrar em cena. Claro que havia alguma beatice, bem como alguns dos elementos que atrás citei, os negociantes infindos, as pessoas a tentar furar com os carrinhos de bébé, ou pior ainda, o bispo do Porto a ler trechos da Missa. Mas ainda, a visão daquela massa ordenada e crente, com inúmeros peregrinos estrangeiros no meio, a serena adoração à Virgem, e a ameaça de violentos aguaceiros que apenas se concretizaram durante a viagem fizeram com que , pelo menos em parte, me reconciliasse com Fátima.
Por falar nisso, é um tipo de fé completamente diferente que anda a transtornar o país, sobretudo aquele que clubisticamente veste as cores da bandeira nacional. Prefiro nem dizer nada - excepto que amanhã se poderão abrir as portas do Paraíso ou desabarem as abóbadas dos céus- mas apenas e só recomendar a todos os benfiquistas que antes do faiscante derby de amanhã leiam o último Domingo Subjectivo do João Gonçalves. Leiam-no, devorem-no, absorvam-no, guardem-no, emocionem-se; ganhemos ou não, é um incentivo dos melhores.
E já que falámos de religião, parece que há um clima de indignação geral com as estapafúrdias declarações do padre durante a Missa de Sétimo dia da menina brutalmente morta no Bairro do Aleixo (recordo: "o aborto é mais grave que um homicídio destes, porque uma criança de cinco anos pode sempre gritar"). Não falamos de um clérigo xiita, mas de um sacerdote que, por sinal , até é o pároco da minha freguesia, Lordelo do Ouro. Mas se é quem eu penso, julgo que tenho a explicação: o dito clérigo é acima de tudo simplório, e muitas vezes nem medirá o que diz, ou nem verá o alcance das suas palavras. Só que manter um pároco que não controla os seus próprios dislates é um perigo que a Igreja corre. A Igreja e os paroquianos, bem entendido.
terça-feira, maio 10, 2005
Imperdoável esquecimento
Como pude eu esquecer-me de postar sobre os sessenta anos do que aconteceu entre oito e nove de Maio de 1945? Imperdoável.
Diga-se o que se disser, que se instalou a guerra fria, o domínio bolchevique em meia Europa, a deslocação de milhões de alemães através do Velho Continente, etc, certo é que este foi talvez o dia mais feliz da história da Humanidade.
Como pude eu esquecer-me de postar sobre os sessenta anos do que aconteceu entre oito e nove de Maio de 1945? Imperdoável.
Diga-se o que se disser, que se instalou a guerra fria, o domínio bolchevique em meia Europa, a deslocação de milhões de alemães através do Velho Continente, etc, certo é que este foi talvez o dia mais feliz da história da Humanidade.
domingo, maio 08, 2005
Breves notas (inter)nacionais
Bem sei que Paulo Portas passou de "Paulinho das feiras" a "homem com posse de estado" (seja lá isso o que fôr); que foi o maior pesadelo do cavaquismo, não hesitando em achincalhar os nomes de certos governantes; que alcandorou Monteiro, ajudou-o a criar o PP e depois ocupou-lhe o lugar (com grande mestria, aliás); que não raras vezes mudou de opinião consoante o assunto fosse a Europa, a lavoura, o liberalismo ou a Base das Lages; que tratou maquiavelicamente assuntos como a AD de Marcelo e algumas relações no governo de Durão; e que, por fim, se deslumbrou com as suas visitas aos EUA na qualidade de Ministro da Defesa, dando o total apoio à intervenção no Iraque.
Sim, sei tudo isso. Mas ainda assim não percebo como pode Portas ser condecorado por Donald Rumsfeld sem um sentimento mínimo de náusea. Receber louvores do teórico do embuste das ADM no Iraque e responsável político pelas sevícias de Abu-Grahib e outros casos revoltantes (que numa atitude de total indignidade recusou demitir-se, recebendo mesmo elogios rasgados da sumidade que preside aos EUA) não é motivo de orgulho, mas de embaraço. Se pensarmos que a tal medalha, a ser atribuída, caberia antes a Figueiredo Lopes, ex-ministro da Administração Interna, é mesmo caso para perguntar quais as reais razões de tamanho destaque. E também quem será o financiador da anunciada "Fundação de Direita" em Portugal. Do mui depauperado orçamente de Estado dos EUA? Mr Rumsfeld não se pode eximir à resposta. Mas Portas bem pode mostrar um sorriso mais amarelecido. É que o Secretário de Estado norte-americano já cumprimentou todo o tipo de pessoas, mesmo as menos recomendáveis.
Já agora, devo dizer que Tony Blair merece a vitória que os britânicos lhe atribuíram, ainda que com derrapagens. De facto, o New Labour soube reformar a social-democracia (provando que afinal o modelo social europeu não estava assim tão esgotado, precisava era de uma certa flexibilização), melhorou o investimento público em áreas fundamentais que a Srª Tatcher tinha cortado e devolveu ao Reino Unido um certo civismo perdido nos anos 80. Os conservadores nem como piada eram uma alternativa credível, e os Liberais democratas têm de crescer um pouco para o serem. Pena é Tony que se tenha deixado enredar naquela escabrosa história do Iraque, com suicídios, inquéritos e acusações da BBC à mistura. Veremos se irá agora cobrar a dívida à Administração do outro lado do Atlântico, que bem o merece.
Mas apesar desses erros estratégicos, Blair eleva-se acima da mediocridade que ultimamente tem caracterizado as lideranças europeias (e americanas, já agora). Schroeder é incapaz de travar a recessão e o desemprego que se vivem na Alemanha, e dá a imagem de um líder fraco e influenciável. Chirac, esse, il est plutôt mediocre, descarado manipulador e abaixo de toda a suspeita. Berlusconi é parecido, mas ainda pior, com ligações a grupos mais ou menos mafiosos, ao futebol e a movimentos neofascistas ou separatistas. Aznar governou de forma eficaz, mas em troca pediu o silêncio dos espanhois em casos como o do Prestige, Iraque e atentados de 11 de Setembro. Zapatero parece querer tornar Espanha no paraíso dos transsexuais, além da irresponsável saída do Iraque e de uma excessiva deriva à esquerda. Por cá, já se sabe: Sócrates é uma incógnita, apesar dos sinais positivos, Santana era um inconsciente e Durão deu à sola sem ter cumprido nenhuma das suas promessas, alcandorando-se na presidência da Comissão Europeia, sem estado de graça e já com inúmeras gaffes. Outros haverá, melhores ou piores, mas creio ser possível afirmar que a qualidade governamental deTony Blair está claramente acima da média. No momento, é do melhorzinho que se arranja.
Ignoro é se a Srª Tatcher já voltou das suas férias forçadas em Veneza, propositadamente para não assistir a nova vitória do Labour. é compreensível: afinal, deve ser penoso não poder abrir as janelas e contemplar os desempregados, os sem-abrigo e outros"parasitas" logo pela manhã.
Bem sei que Paulo Portas passou de "Paulinho das feiras" a "homem com posse de estado" (seja lá isso o que fôr); que foi o maior pesadelo do cavaquismo, não hesitando em achincalhar os nomes de certos governantes; que alcandorou Monteiro, ajudou-o a criar o PP e depois ocupou-lhe o lugar (com grande mestria, aliás); que não raras vezes mudou de opinião consoante o assunto fosse a Europa, a lavoura, o liberalismo ou a Base das Lages; que tratou maquiavelicamente assuntos como a AD de Marcelo e algumas relações no governo de Durão; e que, por fim, se deslumbrou com as suas visitas aos EUA na qualidade de Ministro da Defesa, dando o total apoio à intervenção no Iraque.
Sim, sei tudo isso. Mas ainda assim não percebo como pode Portas ser condecorado por Donald Rumsfeld sem um sentimento mínimo de náusea. Receber louvores do teórico do embuste das ADM no Iraque e responsável político pelas sevícias de Abu-Grahib e outros casos revoltantes (que numa atitude de total indignidade recusou demitir-se, recebendo mesmo elogios rasgados da sumidade que preside aos EUA) não é motivo de orgulho, mas de embaraço. Se pensarmos que a tal medalha, a ser atribuída, caberia antes a Figueiredo Lopes, ex-ministro da Administração Interna, é mesmo caso para perguntar quais as reais razões de tamanho destaque. E também quem será o financiador da anunciada "Fundação de Direita" em Portugal. Do mui depauperado orçamente de Estado dos EUA? Mr Rumsfeld não se pode eximir à resposta. Mas Portas bem pode mostrar um sorriso mais amarelecido. É que o Secretário de Estado norte-americano já cumprimentou todo o tipo de pessoas, mesmo as menos recomendáveis.
Já agora, devo dizer que Tony Blair merece a vitória que os britânicos lhe atribuíram, ainda que com derrapagens. De facto, o New Labour soube reformar a social-democracia (provando que afinal o modelo social europeu não estava assim tão esgotado, precisava era de uma certa flexibilização), melhorou o investimento público em áreas fundamentais que a Srª Tatcher tinha cortado e devolveu ao Reino Unido um certo civismo perdido nos anos 80. Os conservadores nem como piada eram uma alternativa credível, e os Liberais democratas têm de crescer um pouco para o serem. Pena é Tony que se tenha deixado enredar naquela escabrosa história do Iraque, com suicídios, inquéritos e acusações da BBC à mistura. Veremos se irá agora cobrar a dívida à Administração do outro lado do Atlântico, que bem o merece.
Mas apesar desses erros estratégicos, Blair eleva-se acima da mediocridade que ultimamente tem caracterizado as lideranças europeias (e americanas, já agora). Schroeder é incapaz de travar a recessão e o desemprego que se vivem na Alemanha, e dá a imagem de um líder fraco e influenciável. Chirac, esse, il est plutôt mediocre, descarado manipulador e abaixo de toda a suspeita. Berlusconi é parecido, mas ainda pior, com ligações a grupos mais ou menos mafiosos, ao futebol e a movimentos neofascistas ou separatistas. Aznar governou de forma eficaz, mas em troca pediu o silêncio dos espanhois em casos como o do Prestige, Iraque e atentados de 11 de Setembro. Zapatero parece querer tornar Espanha no paraíso dos transsexuais, além da irresponsável saída do Iraque e de uma excessiva deriva à esquerda. Por cá, já se sabe: Sócrates é uma incógnita, apesar dos sinais positivos, Santana era um inconsciente e Durão deu à sola sem ter cumprido nenhuma das suas promessas, alcandorando-se na presidência da Comissão Europeia, sem estado de graça e já com inúmeras gaffes. Outros haverá, melhores ou piores, mas creio ser possível afirmar que a qualidade governamental deTony Blair está claramente acima da média. No momento, é do melhorzinho que se arranja.
Ignoro é se a Srª Tatcher já voltou das suas férias forçadas em Veneza, propositadamente para não assistir a nova vitória do Labour. é compreensível: afinal, deve ser penoso não poder abrir as janelas e contemplar os desempregados, os sem-abrigo e outros"parasitas" logo pela manhã.
quarta-feira, maio 04, 2005
Queimava
Os estudantes da academia do Porto estão em plena queima das fitas. O clímax do evento deu-se hoje, com o tradicional cortejo de terça-feira, que pára meia cidade e leva milhares ao delírio. Goza-se uma semana de total liberdade, de excessos, de figuras tristes que ficarão para a posteridade. Vestem-se normalmente uns pólos com as cores do respectivo curso, trajes académicos até com um sol abrasador, "kits de caloiro" que incluem chupetas e toucas, e outras roupagens ridículas. O cortejo é um desfile de carros alegóricos onde se entoam palavras de ordem a louvar a respectiva faculdade ou a apoucar as outras (os mimos entre Engenharia e os diversos cursos de Direito são particularmente excitantes), bebe -se cerveja aos litros, tiram-se fotos com a família e salta-se nas escadarias do Palácio da Justiça. Por vezes o tempo não ajuda, e é ver tudo a fugir para baixo dos telheiros mais próximos, a improvisar guarda-chuvas ou a pura e simplesmente continuar a "curtir" com a água a escorrer, como se estivesse o melhor dos tempos. Depois, claro, há os jantares de "confraternização" ou de refúgio da caminhada do cortejo, a ida para o "queimódromo", os concertos (aos quais a maioria nem liga, excepto se fôr de qualidade superior, como o dos James, ou, para os caloiros, a presença no palco de Micaela ou Ruth Marlene) , as barracas, cada uma com um nome mais estrambólico ou uma "nova" bebida mais alcoólica, e o inevitável INEM, de onde partem as ambulâncias com uma carrada de gente com vodka a mais.
A confusão nesse recinto poeirento e desolador (desde que se saíu do mais verdejante Palácio de Cristal) é mais que muita, o perigo de brigas é real, sobretudo se tivermos em conta os níveis de alcoolémia, os velhos encontros são múltiplos, bem como as novas "amizades"; vêem-se sempre cenas inéditas, como tipos de traje a dormir no chão, à chuva, com um sapato a servir de almofada, ou centenas de vozes cantando "SLB, Glorioso SLB..."
Para quem é finalista há um sentimento de fim de festa (por isso mesmo mais acentuada), de nostalgia precoce, e de um sem-fim de compromissos, como o baile de finalistas, a missa da bênção das pastas, a entrega de insígnias, o Serrote (representação onde se goza com os professores do curso), o levar as bengaladas na cartola à laia de felicidades, mesmo que partam do Dr. Rui Rio à passagem da tribuna, etc. Para quem começa é todo um mundo novo que se abre, uma maior boémia, mas também o início de uma certa responsabilidade, e um conjunto de queimas que se seguirão, todas diferentes das anteriores.
Hoje, ao ver passar estudantes de todas as cores, feitios e anos a caminho do cortejo, não pude deixar de sentir uma ponta de nostalgia por todas essas situações que também vivi ao longo do meu curso. Só voltei a uma noite no queimódromo desde que me formei, e dei-me logo conta que estava já desfasado daquela realidade. Aquilo era agora para outros, não para mim. Até posso lá voltar, mas sempre com uma ponta de tédio, mesmo porque aqueles que comigo trilharam o caminho jurídico-estudantil estão também eles completamente afastados dessas vidas. Deixemos pois os estudantes gozar essa semana de insensatez e inconsciência, pois que ser algum está desprovido desses atributos. Apesar da chatice dos cortes de trânsito, da música em altos decibeis (de minha casa, a uns cinco kms, identifico as músicas dos Xutos) e das reclamações dos "futricas", talvez por nunca terem tido a oportunidade de passar pelo mesmo.
Por mim podem estar à vontade. Manter-me-ei como um mero espectador de circunstância, definitivamente fora desse mundo que agora pouco me diz mas ao qual já pertenci
Os estudantes da academia do Porto estão em plena queima das fitas. O clímax do evento deu-se hoje, com o tradicional cortejo de terça-feira, que pára meia cidade e leva milhares ao delírio. Goza-se uma semana de total liberdade, de excessos, de figuras tristes que ficarão para a posteridade. Vestem-se normalmente uns pólos com as cores do respectivo curso, trajes académicos até com um sol abrasador, "kits de caloiro" que incluem chupetas e toucas, e outras roupagens ridículas. O cortejo é um desfile de carros alegóricos onde se entoam palavras de ordem a louvar a respectiva faculdade ou a apoucar as outras (os mimos entre Engenharia e os diversos cursos de Direito são particularmente excitantes), bebe -se cerveja aos litros, tiram-se fotos com a família e salta-se nas escadarias do Palácio da Justiça. Por vezes o tempo não ajuda, e é ver tudo a fugir para baixo dos telheiros mais próximos, a improvisar guarda-chuvas ou a pura e simplesmente continuar a "curtir" com a água a escorrer, como se estivesse o melhor dos tempos. Depois, claro, há os jantares de "confraternização" ou de refúgio da caminhada do cortejo, a ida para o "queimódromo", os concertos (aos quais a maioria nem liga, excepto se fôr de qualidade superior, como o dos James, ou, para os caloiros, a presença no palco de Micaela ou Ruth Marlene) , as barracas, cada uma com um nome mais estrambólico ou uma "nova" bebida mais alcoólica, e o inevitável INEM, de onde partem as ambulâncias com uma carrada de gente com vodka a mais.
A confusão nesse recinto poeirento e desolador (desde que se saíu do mais verdejante Palácio de Cristal) é mais que muita, o perigo de brigas é real, sobretudo se tivermos em conta os níveis de alcoolémia, os velhos encontros são múltiplos, bem como as novas "amizades"; vêem-se sempre cenas inéditas, como tipos de traje a dormir no chão, à chuva, com um sapato a servir de almofada, ou centenas de vozes cantando "SLB, Glorioso SLB..."
Para quem é finalista há um sentimento de fim de festa (por isso mesmo mais acentuada), de nostalgia precoce, e de um sem-fim de compromissos, como o baile de finalistas, a missa da bênção das pastas, a entrega de insígnias, o Serrote (representação onde se goza com os professores do curso), o levar as bengaladas na cartola à laia de felicidades, mesmo que partam do Dr. Rui Rio à passagem da tribuna, etc. Para quem começa é todo um mundo novo que se abre, uma maior boémia, mas também o início de uma certa responsabilidade, e um conjunto de queimas que se seguirão, todas diferentes das anteriores.
Hoje, ao ver passar estudantes de todas as cores, feitios e anos a caminho do cortejo, não pude deixar de sentir uma ponta de nostalgia por todas essas situações que também vivi ao longo do meu curso. Só voltei a uma noite no queimódromo desde que me formei, e dei-me logo conta que estava já desfasado daquela realidade. Aquilo era agora para outros, não para mim. Até posso lá voltar, mas sempre com uma ponta de tédio, mesmo porque aqueles que comigo trilharam o caminho jurídico-estudantil estão também eles completamente afastados dessas vidas. Deixemos pois os estudantes gozar essa semana de insensatez e inconsciência, pois que ser algum está desprovido desses atributos. Apesar da chatice dos cortes de trânsito, da música em altos decibeis (de minha casa, a uns cinco kms, identifico as músicas dos Xutos) e das reclamações dos "futricas", talvez por nunca terem tido a oportunidade de passar pelo mesmo.
Por mim podem estar à vontade. Manter-me-ei como um mero espectador de circunstância, definitivamente fora desse mundo que agora pouco me diz mas ao qual já pertenci
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