domingo, maio 08, 2005

Breves notas (inter)nacionais

Bem sei que Paulo Portas passou de "Paulinho das feiras" a "homem com posse de estado" (seja lá isso o que fôr); que foi o maior pesadelo do cavaquismo, não hesitando em achincalhar os nomes de certos governantes; que alcandorou Monteiro, ajudou-o a criar o PP e depois ocupou-lhe o lugar (com grande mestria, aliás); que não raras vezes mudou de opinião consoante o assunto fosse a Europa, a lavoura, o liberalismo ou a Base das Lages; que tratou maquiavelicamente assuntos como a AD de Marcelo e algumas relações no governo de Durão; e que, por fim, se deslumbrou com as suas visitas aos EUA na qualidade de Ministro da Defesa, dando o total apoio à intervenção no Iraque.
Sim, sei tudo isso. Mas ainda assim não percebo como pode Portas ser condecorado por Donald Rumsfeld sem um sentimento mínimo de náusea. Receber louvores do teórico do embuste das ADM no Iraque e responsável político pelas sevícias de Abu-Grahib e outros casos revoltantes (que numa atitude de total indignidade recusou demitir-se, recebendo mesmo elogios rasgados da sumidade que preside aos EUA) não é motivo de orgulho, mas de embaraço. Se pensarmos que a tal medalha, a ser atribuída, caberia antes a Figueiredo Lopes, ex-ministro da Administração Interna, é mesmo caso para perguntar quais as reais razões de tamanho destaque. E também quem será o financiador da anunciada "Fundação de Direita" em Portugal. Do mui depauperado orçamente de Estado dos EUA? Mr Rumsfeld não se pode eximir à resposta. Mas Portas bem pode mostrar um sorriso mais amarelecido. É que o Secretário de Estado norte-americano já cumprimentou todo o tipo de pessoas, mesmo as menos recomendáveis.



Já agora, devo dizer que Tony Blair merece a vitória que os britânicos lhe atribuíram, ainda que com derrapagens. De facto, o New Labour soube reformar a social-democracia (provando que afinal o modelo social europeu não estava assim tão esgotado, precisava era de uma certa flexibilização), melhorou o investimento público em áreas fundamentais que a Srª Tatcher tinha cortado e devolveu ao Reino Unido um certo civismo perdido nos anos 80. Os conservadores nem como piada eram uma alternativa credível, e os Liberais democratas têm de crescer um pouco para o serem. Pena é Tony que se tenha deixado enredar naquela escabrosa história do Iraque, com suicídios, inquéritos e acusações da BBC à mistura. Veremos se irá agora cobrar a dívida à Administração do outro lado do Atlântico, que bem o merece.
Mas apesar desses erros estratégicos, Blair eleva-se acima da mediocridade que ultimamente tem caracterizado as lideranças europeias (e americanas, já agora). Schroeder é incapaz de travar a recessão e o desemprego que se vivem na Alemanha, e dá a imagem de um líder fraco e influenciável. Chirac, esse, il est plutôt mediocre, descarado manipulador e abaixo de toda a suspeita. Berlusconi é parecido, mas ainda pior, com ligações a grupos mais ou menos mafiosos, ao futebol e a movimentos neofascistas ou separatistas. Aznar governou de forma eficaz, mas em troca pediu o silêncio dos espanhois em casos como o do Prestige, Iraque e atentados de 11 de Setembro. Zapatero parece querer tornar Espanha no paraíso dos transsexuais, além da irresponsável saída do Iraque e de uma excessiva deriva à esquerda. Por cá, já se sabe: Sócrates é uma incógnita, apesar dos sinais positivos, Santana era um inconsciente e Durão deu à sola sem ter cumprido nenhuma das suas promessas, alcandorando-se na presidência da Comissão Europeia, sem estado de graça e já com inúmeras gaffes. Outros haverá, melhores ou piores, mas creio ser possível afirmar que a qualidade governamental deTony Blair está claramente acima da média. No momento, é do melhorzinho que se arranja.
Ignoro é se a Srª Tatcher já voltou das suas férias forçadas em Veneza, propositadamente para não assistir a nova vitória do Labour. é compreensível: afinal, deve ser penoso não poder abrir as janelas e contemplar os desempregados, os sem-abrigo e outros"parasitas" logo pela manhã.

Um comentário:

mfc disse...

O Paulinho é um camaleão "ad nauseam"!