sexta-feira, outubro 30, 2009
quarta-feira, outubro 28, 2009
terça-feira, outubro 27, 2009
sexta-feira, outubro 23, 2009
Convidados ingratos
Coisas que em grande parte não existiriam, bem como estatuto da cidade, se as opiniões de Saramago sobre a Bíblia e sobre a religião em geral, proferidas pelo escritor, que era convidado numa sessão literária precisamente em Penafiel, tivessem tido aplicação prática. Isso e muito mais: provavelmente a civilização como a conhecemos. Mas tanto Saramago como os seus seguidores, que dizem coisas como "A Igreja Católica é a maior assassina da história", "só os ignorantes é que são crentes", e que falam da Inquisição, desaparecida há três séculos, como quem fala de receitas de culinária, nunca devem ter pensado muito bem no assunto. Ou então o grau de loucura e de fanatismo ainda é mais grave do que se pensa.
quinta-feira, outubro 22, 2009
Outros vexames (para poupar o argentino)
Mas sejamos justos com el Pibe: já houve outros resultados humilhantes para a equipa argentina. O mais conhecido talvez seja a goleada caseira por 5-0 que sofreram em plena Buenos Aires, nas eliminatórias para o Mundial 94, alegremente aplicada pela saudosa Colômbia de Valderrama, Rincon, Valência e Faustino Asprilla (o quarto golo é uma obra prima), essa equipa que dava antes de mais espectáculo e alegria. Recordem esse momento inolvidável.
quarta-feira, outubro 21, 2009
Na sua actual forma rubicunda, Maradona revela, como se esperava, um ego do tamanho do mundo. Considera-se um a espécie de self made player com ajuda divina. Diz tudo o que pensa de forma desbragada, mesmo que leve a contradições estranhas. Mostra o bairro onde cresceu, em La Boca, Buenos Aires, a ida para a Europa, Barcelona, primeiro (e a épica cena de pancadaria num jogo com o Athletic Bilbao), e Nápoles, depois. Na Campânia cometeu as maiores proezas, só igualadas pela conquista do Mundial de 1986 e a famosa "Mão de Deus" contra Inglaterra, cena repetida vezes sem conta no filme.
A meio da fita vem a sua declaração de amor a Cuba e a Fidel Castro. Utilizando um jargão muito comum na América Latina, El Pibe afirma que "graças a Fidel é que não falamos inglês", mostrando o quão gosta dos Estados Unidos. É uma teoria um pouco rebuscada, porque dificilmente se imagina como é que uma ilha das Caraíbas conseguiu tal proeza - não me lembro de nenhum muro impedindo a presença de norte-americanos - e mesmo em tempos pré-1959 a população falava espanhol. Há recriminações à ditadura militar dos anos setenta e oitenta, pois claro, mas a seguir diz que recusou-se a cumprimentar o Príncipe de Gales porque este teria "as mãos manchadas de sangue". Suponho que se estaria a referir à Guerra das Malvinas. Quem efectivamente esteve lá foi o Príncipe André, não Carlos, e quanto à guerra, nunca chegou a ser efectivamente declarada (pela Rainha), antes se tratou de uma resposta do governo britânico face à invasão argentina. Além de incriminar o príncipe sabe-se lá porquê, acaba por tomar o partido da junta ditatorial argentina, responsável pelo início das hostilidades e pela humilhante derrota que acabaria por ditar a sua queda. No fundo, a mesma posição de Fidel Castro, que numa posição contra-natura prestou o seu apoio àquele regime. Diga-se também que enquanto durou a sangrenta ditadura argentina, el Pibe jogou sempre pela equipa nacional. Transparece logo um violento sentimento anti-anglo-saxónico, confirmado ao longo do filme com pequenas recriações animadas e satirizantes do "Golo do Século", marcado no mesmo jogo contra a Inglaterra em 1986, em que sucessivamente Maradona finta e bate Thatcher, Reagan, Blair, Bush e a Rainha Isabel II, ao som de God Save the Queen - a dos Sex Pistols. Todos ao molho, desbaratados pelo talento do pequeno argentino.
Duas conclusões se tiram da singular ideologia de Maradona: uma é o sentimento de "latinidade", muito bolivariano e guevarista, em que supostamente a América do Sul e Central são uma só nação, desunida por fronteiras, e que transcende mesmo as ideologias opostas. A outra é a do sentimento contra tudo o que seja anglo-saxónico, talvez até mais contra os EUA do que o Reino Unido.
Há ainda o Maradona "homem de família" com mulher e filhos, e as suas queixas do tempo em que estava agarrado à cocaína. Mas é no jogador e no revolucionário que o filme se demora. É uma personagem complexa e irreverente, mas a que parece faltar inteligência para as suas escolhas e os seus actos, para não falar no discurso. Baseia-se no instinto e no coração, nunca no cérebro. Confunde frequentemente as coisas e nota-se em alguns assuntos um desconhecimento espantoso do que fala, aliado a uma espécie de dogmatismo messiânico ("o das barbas [Deus]não me deixou afundar e puxou-me"). Parece encarnar o "realismo mágico", de tão sul-americano que é, e note-se que curiosamente teve o apogeu da sua carreira no ano da morte de Jorge Luis Borges. Bola, família, truculência, latinidade, anti-anglo-saxonismo, fervor místico, um percurso errático com imensos vícios: eis Diego Armando Maradona.
Kusturica, naturalmente, quis fazer este filme atraído pela figura irreverente do génio da bola que despertou paixões e ódios como poucos, cocktail explosivo de bola e truculência revolucionária que bem podia vir da sua Sérvia. Podia igualmente ser uma personagem dos seus filmes, com personalidade tão balcânica. Sendo real, ficou-se por um documentário. Mas para além da familiaridade que viu em Maradona há ainda o carácter político e panfletário da obra: um nacionalista sérvio como é o realizador não podia deixar de aproveitar uma figura conhecida mundialmente que disparasse tão ferozmente contra os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, os mesmos que bombardearam Belgrado há dez anos e que acabaram com a Jugoslávia, dando a machadada final com a independência de facto do Kosovo. Assim, além de conhecer tal personagem bigger than life, usa-o como pregoeiro das suas próprias causas. As gargalhadas maquiavélicas e algo juvenis que dá amiúde quando entrevista Maradona, ao longo do filme, revelam bem a alegria que sente perante os torpedos verbais contra os ódios de estimação.
O documentário acaba por divertir medianamente, sobretudo nos passeios por entre as ruas de Nápoles e Belgrado, com algumas imagens de arquivo preciosas e recordações de jogadas de futebol realmente geniais. Enfastia nos discursos políticos e nas sequência familiares, a apelar à lágrimazinha. Mas a cena em que se vê o burlesco e a loucura que envolve Maradona é o casamento pela Igreja Maradoniana: perante uma cópia das orações cristãs adaptadas ao seu vocabulário próprio, um casal jura perante a "bíblia maradoniana" e uma bola de futebol que Maradona é o melhor jogador de sempre. Depois, para firmar o matrimónio, têm de marcar um golo com a mão, imitando o do seu ídolo em 1986. A cara do noivo gritando golo vale quase só por si o bilhete do filme e resume bem a personagem tão irreverente como patética que o inspira.
sexta-feira, outubro 16, 2009
Heróis improváveis no Rio da Prata
terça-feira, outubro 13, 2009
Em Oeiras ganhou Isaltino, condenado por casos graves. Em Braga triunfou, pela 10ª vez consecutiva, Mesquita Machado, responsável pela betonização da cidade e rosto máximo da promiscuidade câmara- construção civil - futebol - alguns sectores da igreja, além de presidente da assembleia geral da FPF. Em Felgueiras, Fátima perdeu com estrondo. No Marco de Canaveses, Avelino Ferreira Torres esteve longe de ganhar.
Os municípios "boçais", "rurais" e "atrasados" deram uma lição cívica aos concelhos "jovens", "cosmopolitas" e "dinâmicos".
Entretanto, se os leitores precisarem de se rir um pouco, têm a preciosa ajuda da lista dos candidatos às câmaras dos distritos de Évora, Portalegre e Beja. Percebe-se porque é que os alentejanos são bem dispostos.
segunda-feira, outubro 12, 2009
Balanço das autárquicas
Vitória bipolarizada?
sexta-feira, outubro 09, 2009
Uma desilusão, um exemplo e um equívoco
Prognósticos das autárquicas só no fim do jogo
quinta-feira, outubro 08, 2009
E o Nobel da Literatura vai para uma alemã de origem romena que antes era romena de origem alemã
Tal como se esperava, a Academia de Estocolmo, sempre fiel às suas tradições, atribuiu o Nobel da Literatura deste ano a uma autora quase desconhecida, Herta Müller. Os especialistas na matéria, como sempre, apostavam nos consagrados Philip Roth, Vargas Llosa, Amos Oz, Milan Kundera, etc. Enganaram-se uma vez mais. Já era tempo de saberem que os suecos adoram trocar as voltas às apostas e nomear alguém de terceira linha. Mais vale não fazer prognósticos sobre os "consagrados", para ver se eles assim ganham algum ano - isso sim, seria surpreendente. Basta dar uma vista de olhos à lista dos galardoados dos últimos anos para perceber essa imensa evidência.
quarta-feira, outubro 07, 2009
sábado, outubro 03, 2009
quinta-feira, outubro 01, 2009
Um pouco à semelhança com o que se passa cá, os dois partidos mais à esquerda também cresceram. Os Verdes e Die Linke (uma espécie de mistura de Bloco de Esquerda com PCP) subiram, retirando votos aos SPD, talvez porque alinhou mais ao centro. Acaba por ser o grande derrotado, em proveito de partidos mais esquerdistas e dos liberais, que lhes roubaram votos ao centro.
PS: Cavaco e Sócrates almoçam hoje juntos. Ao nível a que as coisas chegaram, é de temer que um deles aponte para cima e diga ao outro "olha ali a república a voar", e aproveitando-se da breve distracção e basbaque do interlocutor, abra uma das pedras dos anéis (ou o alfinete da gravata) e deite o conteúdo venenoso na sopa do outro. Pelo menos noutras repúblicas, como a Romana, era prática corrente.