domingo, abril 29, 2018

Fim de época


Pronto: não bastava termos perdido com o Porto em casa mesmo no fim, praticamente hipotecando as hipóteses de revalidar o título, e de fazer exibições sofríveis contra Setúbal e Estoril, e ainda damos um tiro de canhão no pé perdendo em plena Luz contra o Tondela (!), dando de bandeja o título ao Porto e colocando em sério risco a ida à Liga dos Campeões na próxima época. O próximo jogo é em Alvalade contra o Sporting, que se ganhar ao Benfica assegura o segundo lugar. É um risco perfeitamente possível dadas as ausências de jogadores fulcrais como Jonas e as péssimas exibições recentes, e seria o corolário lógico para uma época medíocre preparada com amadorismo, incompetência e total negligência. Sim, os resultados financeiros são bons, mas a parte desportiva ficou totalmente descurada. 

Entretanto, novas "acusações" contra o Benfica, anunciadas pelo Expresso: ao que parece, a PJ andará a estudar TODOS os jogos do Benfica dos últimos cinco anos. Sim, todos. Não fazem a coisa por menos: todos os jogos, e apenas do Benfica, e das épocas em que ganhou o campeonato mais esta. Isso dias depois do próprio Benfica acusar importantes elementos da mesma polícia de estarem envolvidos numa conspiração contra o clube, enviando informações confidenciais aos responsáveis da propaganda de Porto e Sporting. Estranha coincidência, ainda por cima sabendo-se que foram elementos da PJ que fizeram implodir o caso Apito Dourado, com as suas "toupeiras" (porque é que não usaram este termo na altura?) no lugar certo. Mas esta investigação a TODOS os jogos, e apenas o Benfica, denota, mais que desespero, uma preocupante obsessão contra um clube. Jogos houve nestes últimos anos - como o vergonhoso FCP-SCP de há exactamente dois anos, ou os lances de Tonel nessa época - que mereceriam real investigação, mas não, é só de um clube, e curiosamente quase só nos anos em que ganhou campeonatos. Para mais, vem arguir que denúncias anónimas contra jogadores adversários do Porto partiram de dirigentes benfiquistas, mas em relação ao mesmo tipo de denúncias em sentido inverso não diz absolutamente nada. Nem à pirataria informática em curso. Não gosto muito de acusar instituições inteiras, mas fica a ideia de que a PJ tem um objectivo definido que pouco tem a ver com crimes reais mas sim com a obediência a outras entidades. E isso sim, é profundamente preocupante. Se calhar as acusações feitas pelo Benfica tinham mesmo razão de ser.

De resto, espero que planeiem devidamente a próxima época e que haja uma réstia de profissionalismo.

segunda-feira, abril 09, 2018

La Lys: uma mortandade há cem anos.


Há cem anos acontecia o desastre (quase anunciado) de La Lys. Nas trincheiras da Flandres, a IIª Divisão do CEP - Corpo Expedicionário Português - sofria uma humilhante e enormíssima derrota. Num só dia, sete mil e quinhentos soldados e oficiais eram mortos ou feitos prisioneiros pela poderosa máquina de guerra prussiana, superior em número, em treino e em equipamento. O CEP, a que alguns previdentes chamaram Carneiros Exportados de Portugal, era composto por soldados mal treinados e armados, com pouca experiência de combate, comandados por uma oficialidade medíocre, habituada aos quartéis, a África (poucos) e à pancada de rua tão comum nesses tempos atribulados. Estavam enfraquecidos pelo tempo e pelas condições a que eram sujeitos, desmotivados e sem os reforços previstos, apesar de se anunciar uma rendição de contingentes para as horas seguintes. Tinham ido em grande parte contrariados, obrigados pela República, que pretendia a todo o custo uma qualquer glória que a legitimasse a nível internacional. Os argumentos eram de que se não se interviesse no cenário europeu se perderiam as colónias para ingleses e alemães, "a importância portuguesa no mundo" e até que Portugal seria invadido. Ou seja, um conjunto de desculpas esfarrapadas para legitimar tal intervenção para além da estrita defesa das colónias, e que aliás era desaconselhada pela Inglaterra, que apenas aí via um estorvo.

O resultado de Afonso Costa, João Chagas e Jaime Cortesão andarem a brincar às guerras é conhecido. Em quatro horas dessa madrugada de 9 de Abril, milhares de mortos abatidos pela artilharia germânica na forte ofensiva comandada pelo lendário Erich Von Ludendorff, pânico generalizado entre as hostes portuguesas, e o avanço rápido dos alemães entre o vazio provocado pelas brechas da 2ª divisão. Houve alguns actos de heroísmo sobre-humano, como o do "soldado Milhões", outro de entre muitos que tinham sido levados da sua aldeia para as trincheiras, mas a maioria daqueles homens a quem chamaram soldados sem lhes ensinar esse estatuto debandou ou lá ficou.

Os portugueses foram carne para canhão nesse desgraçada aventura, uma das maiores derrotas lusas a par de Alcácer-Quibir ou Alcântara. Portugal ficou entre os vencedores da Guerra, mas pouco recebeu por isso. Pelo contrário, os gastos deixaram as finanças públicas em estado lastimável, escassearam os bens de primeira necessidade e deram-se revoltas populares, violentamente rechaçadas. Curiosamente, morreram quase tantos soldados como em toda a Guerra Colonial. Invoca-se o nacionalismo do Estado Novo para justificar a pesada operação mantida em África. Mas as menos aí defendíamos o que era nosso e a superioridade militar sobre os insurgentes era evidente. Em La Lys, defendíamos apenas uma noção republicana de nacionalismo, enviando uns pobres coitados que mal sabiam disparar uma arma para as horríveis trincheiras, fazer frente a forças imensamente superiores. Uma triste memória e um crime que a República em vão tentou apagar, mas que seria mais um motivo para a sua impopularidade e subsequente queda, em 1926, curiosamente às mãos do comandante dessa desafortunada 2ª divisão do CEP: Gomes da Costa.

Paz às suas almas, desses pobres soldados tombados a 9 de Abril de 1918. Há cem anos.


* Texto escrito há dez anos neste mesmo blogue, e devidamente actualizado.











sábado, abril 07, 2018

A overdose de encómios a Manuel Reis


Passada a Páscoa, voltemos ao quotidiano. Das coisas mais exageradas que vi nos últimos tempos foram as laudes a Manuel Reis, como se ele tivesse inventado algo que melhorou incrivelmente a vida da humanidade. Na realidade, alguma elite d Lisboa - cultural, económica e jornalística, como se depreendeu pelo amplo destaque nos jornais - julga-se A própria humanidade, e isso justifica todas as parangonas e artigos a recordar o grande dinamizador da movida lisboeta. Era decerto alguém com imenso talento e iniciativa, e inegável mérito, que fazia acontecer coisas, mas haja alguma moderação. O Luz é uma fantástica discoteca numa fantástica localização, o Rive Rouge tem a sua piada, e nunca cheguei a ir ao Frágil (até pela diferença geracional que me separa dos seus apaniguados e frequentadores), nem ao Teatro Thalia nem ao Papa Açorda original (este por uma arreliadora coincidência, e a oportunidade gorou-se), pelo que não posso testemunhar toda a obra e legado de Reis. Só que todas essas criações não foram exactamente a chegada à Índia. Acreito que muitos tenham sentido a sua falta, mas dizer que ele "mudou o país" é um bocadinho demais. Ou acharão que em Bragança, no Faial ou em Mértola  - ou até mesmo nos arredores de Lisboa - a sua obra mudou minimamente a vida das pessoas? João Miguel Tavares tem toda a razão no artigo que escreveu para o Público sobre isto mesmo. Destaque para a incrível comparação com Salgueiro Maia (!).

Resultado de imagem para frágil lux

segunda-feira, abril 02, 2018

Páscoa 2018


Se o último Verão se prolongou por Outubro dentro, o mesmo se pode dizer do Inverno. E assim tivemos uma Páscoa com neve à vista. Escapou o Domingo, com um dia de Primavera, para poupar os compassos pascais e as festas de aleluia, como se fosse um pequeno milagre climatérico próprio para o dia da Ressurreição.



Cravelas, Trás os Montes, Sexta-feira Santa 2018