terça-feira, fevereiro 27, 2024

Artur Jorge


Recordando Artur Jorge, falou-se sobretudo da sua carreira como jogador e treinador e dos títulos que ganhou, nomeadamente do facto de ter sido o primeiro treinador português a sagrar-se campeão europeu, pelo FCP, e o primeiro a ser campeão noutro campeonato europeu, pelo PSG - e infelizmente, também aquele que iniciou a maior crise desportiva de sempre do Benfica, quando chegou com aura de vencedor, entrando também a sua própria carreira de técnico em declínio. Falou-se menos de outras facetas, como a sua formação em filologia germânica, de ter lançado um livro de poesia nos anos oitenta e a sua colecção de arte e de discos de jazz e ópera.

E ainda havia a dimensão política: foi o primeiro presidente do sindicato de jogadores, com menos de 30 anos, e nas eleições para a Constituinte, em 1975, chegou a ser candidato nas listas do MDP/CDE, um partido sobretudo de intelectuais de esquerda que haveria de ser canibalizado pelo PC (provavelmente por isso é que depois tirou o curso de treinador na RDA, em Leipzig). Eis uma prova disso mesmo: Artur Jorge num comício do Campo Pequeno. Introvertido como era, custa a imaginá-lo a discursar, mas aposto que ao dirigir-se às massas, terá dito qualquer coisa como: "votem no MDP para assim podermos fazer coisas bonitas!




quinta-feira, fevereiro 22, 2024

Sonsos, lunáticos e avençados na morte de Navalny.

A morte de Navalny teve as reacções esperadas da maior parte dos países, que condenaram e pedem explicações, do regime russo, que finge não saber de nada, e de alguns sonsos como Lula de Silva, que pede para não se tirarem conclusões precipitadas ao mesmo tempo que conclui que os acontecimentos em Gaza são comparáveis ao Holocausto. E depois, claro, as tiradas dos habituais idiotas úteis, alucinados ou avençados do regime putinista, que vêm com comparações com Assange, dizem que Navalny era "nazi", como um membro da ala puitnista da nossa tropa fandanga que trata o ébrio Medvedev por "o senhor Medvedev (sem ironia) ou lá, está, pedem que não se tirem "conclusões precipitadas" da morte do mais conhecido opositor de Putin, que estava na Sibéria. Claro que não, já é normal que os adversários de Putin "morram subitamente" no banho ou na prisão, caiam de janelas ou despoletem granadas nos aviões. Na Rússia (ou fora dela, no caso de refugiados políticos, como aconteceu àquele piloto russo em Espanha) é mesmo considerado morte natural. Imaginação têm, agora coragem como Navalny é que nem um pingo.

quarta-feira, fevereiro 14, 2024

O nosso homem em Persépolis

Morreu há dias Rui Patrício. Não o guarda-redes, mas o último ministro dos negócios estrangeiros do Estado Novo. Vivia no Brasil desde 1975, por opção própria. Já tinha 91 anos e pelos cargos que ocupou, viu certamente muita coisa. Há uma que certamente não desdenhou: ter sido o representante de Portugal na chamada "maior (ou mais dispendiosa" festa de sempre", a comemoração dos 2500 anos do Império Persa pelo Xá Reza Pahlavi. Provavelmente despoletou sentimentos de frustração no seu país que contribuiriam anos mais tarde para o seu derrube, tal o luxo, verdadeiramente oriental, de que se revestiu. A atestá-lo havia um documentário , como o nome, precisamente, de "A Maior Festa do Mundo".

Mais do que isso, os convidados estavam entre as maiores personalidades políticas do tempo. Não estavam Nixon, Brejnev, Mao ou a Rainha Isabel II, que enviaram os seus representantes (no caso da Rainha era o próprio Príncipe Filipe) e foram boa parte das casas reinantes na Europa ou príncipes, como Juan Carlos de Espanha, ou os líderes do Bloco de Leste, como Ceausescu, e ainda Hailé Sellasié, da Etiópia, o Marechal Tito, Mobutu, Suharto, Rainier e Grace do Mónaco, os presidentes do Brasil, Turquia, Índia, os emires do Golfo, etc, etc. Estadistas, facínoras figuras mais e menos relevantes, havia de tudo. Patrício lá estava, como representante de Portugal, e não deve ter dado o tempo como perdido.




quinta-feira, fevereiro 08, 2024

Trump Carlson em Moscovo

Depois de se dizer que era mero boato, Tucker Carlson, que acabou despedido da Fox por confessar em privado que tinha dito disparates em notíciário, lá entrevistou Vladimir Putin, para "esclarecer os americanos da verdade", como se Putin não a tivesse divulgado em inúmeras ocasiões, embora nem sempre com a mesma base. Escolheu bem o dia: o mesmo em que a candidatura de Boris Nadezhin, o único contra Putin, acabou recusada, como acontece sempre que há um candidato contra o incumbente.

Entretanto, o Partido Republicano continua a recusar-se a enviar mais ajuda à Ucrânia, mas aprovou o envio de 16 mil milhões de euros para Israel.
Claro que não há qualquer ligação entre isto. Podia lá ser...