Escrevo só mesmo para picar o ponto, já que todos os anos falo dos "prémios da Academia". Acontece que de entre os filmes nomeados para os Óscares vi muito poucos, até porque me parece que a colheita não era nada do outro mundo - aliás, de ano para ano, fico com a ideia que os nomeados são cada vez mais banais. Não maus, mas banais.
O Spotlight ganhou o prémio de melhor filme. Muitos previam, o assunto estava na "ordem do dia", o tema (investigação jornalística de pedofilia por parte de padres católicos em Boston) é premente, os actores conhecidos, e filmes sobre jornalistas em investigação caem sempre bem.
O Iñarritu ganhou o de melhor realizador. É o segundo seguido. Um pouco estranho pensar que Hitchcock nunca ganhou nenhum e o mexicano conseguiu ser bi-oscarizado. Ao menos não vai haver pretextos para que os "hispânicos" façam um qualquer boicote à cerimónia com o pretexto de que há poucos representados.
Di Caprio ganhou finalmente um Óscar de melhor actor. Não vi e duvido que vá ver The Revenant, mas o prémio parece mais ser pelas provações durante a filmagem e pelas numerosas cerimónias em que ficou de mãos a abanar. Nada contra, já merecia e enterra definitivamente os pruridos de quando era o pretty boy de Hollyhood e o seu talento pouco considerado.
Nos secundários estavam lá alguns nomes de peso, como Sylvester Stallone, agora muito respeitosamente tratado pela crítica. Mas o triunfo de Mark Rylance, em A Ponte dos Espiões, é justíssimo. Falo com a autoridade de ter sido um dos poucos filmes que vi (também tinha visto The Big Short, pelo qual Christian Bale estava injustamente nomeado, num papel demasiado cabotino e inferior, no mesmo filme, ao de Steve Carell), interpretando um Rudolf Abel sóbrio, com ar de pacato cidadão, perfeitamente inofensivo, tentando esconder um espião soviético odiado pelo país que o encarcerou.
Das duas actrizes que ganharam os prémios de interpretação feminina não posso dizer nada: não conheço os filmes em que entraram nem tampouco as próprias, de quem nem nunca tinha ouvido falar. Não digo que seja um sacrilégio que tenham ganho a Cate Blanchett e a Jennifer Lawrence, porque elas já ganharam, mas caramba, estava lá Charlotte Rampling, que merecia mais respeito.
Nos filmes estrangeiros, categoria a que vale sempre a pena estar atento, ganhou o filme sobre os Sonderkomandos, que pelo tema, deve ser pungente.
O melhor e o pior encontraram-se nos prémios musicais. Pior: o Óscar para a música de Sam Smith, provavelmente o pior tema musical de um James Bond de sempre, além do seu discurso ridiculamente gay (depois queixem-se que os homossexuais são acusados de serem promíscuos e coisas parecidas).
O melhor: Ennio Morricone, um mito vivo da música e do cinema, compositor de bandas sonoras desde os Western Spaghetti de Sergio Leone até aos filmes mediterrânicos de Tornatore, passando por Brian de Palma, Roman Polansky, Barry Levinson, e claro, o inesquecível oboé de A Missão ganhou um Óscar a sério, pela banda sonora do último Tarantino. É sempre bom ver caras (e sobretudo sons) conhecidos a ganhar prémios destes, e sobretudo é bom ver que desta vez a "Academia" conseguiu atribuir um galardão a um veterano a tempo.
Resta agora esperar que o próximo ano traga filmes que qualidade mais do que mediana. Para já, temos aí o novo dos Cohen, que incide precisamente...sobre Hollywood.