Se há umas três décadas se previsse que o primeiro encontro entre o Sumo Pontífice da Igreja Católica romana e o Metropolita de Moscovo se daria na Havana, considerar-se-ia que os autores de tais previsões eram dignos de viver num manicómio, ou que estariam sob efeito de uns whiskies acumulados, ou mais benevolamente, que tinham imaginação a mais.
Não sabemos quais os resultados palpáveis que irão sair daqui, mas só o facto das duas igrejas desavindas desde o cisma do Oriente, há mais de 1050 anos, a de Roma e a de Moscovo (que na prática substituiu a de Constantinopla, hoje quase simbólica, e se considera a si mesma como a "Terceira Roma"), se terem finalmente encontrado, depois de séculos de costas voltadas e durante os quais até o antigo Império Bizantino caiu em poder dos turcos, é altissimamente simbólico. Para além do seu simbolismo, havia objectivos comuns: apelar ao fim da perseguição violenta dos cristãos, em especial os do Médio-Oriente, e implicitamente reaproximar a Rússia e as potências ocidentais, tentando travar o clima de Guerra fria que se vem insinuando. Coisas que dificilmente se obterão num ápice, até porque apesar dos encontros e dos "cessar-fogos" o cerne da guerra, na síria, parece longe do fim e sobretudo longe de acabar com a barbárie imposta. Mas pode ser o início de um novo tipo de relações que influencie também os estados, alerte para a hipocrisia da negação das perseguições dos cristãos e faça valer os seus bons ofícios.
E por falar nisso, é irónico observar como Cuba foi o local do histórico encontro. A ilha bloqueada dos Castro, dos mísseis de Kruchev, do comunismo ali às portas dos Estados Unidos, do Hasta la victoria, Siempre, tornou-se ponto de encontro entre líderes religiosos e de fim de conflitos milenares, com o beneplácito de Raul Castro. Mostra bem a importância que Francisco teve no degelo de relações da ilha com os Estados Unidos. E que a própria Cuba, até há pouco relativamente isolada, está mesmo a mudar.
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