segunda-feira, dezembro 31, 2012

O 2013 possível.

 Aproxima-se o Ano de 2013, a largas passadas, e as principais tradições da noite já estão a postos: as uvas passas, o espumante, a gala do reality show corrente da TVI e os concertos nas principais praças do país.
Não é exactamente a minha comemoração favorita. Este stress com a meia-noite enerva-me. Este ano, ainda para mais, reina o pessimismo e está mau tempo. Aliás, de ano para ano diz-se sempre que será pior que o anterior. Como 2013 não prenuncia grandes acontecimentos que mudem a nossa comunidade para melhor, esperemos é que seja generosos nos sucessos individuais e do dia-a-dia. Ou então, nunca pior que 2012.
 
A única coisa que asseguro é que tenho vários posts em pré-publicação. Um bom ano, dentro do possível.

sexta-feira, dezembro 28, 2012

Norman Schwarzkopf R.I.P.


Há vinte e dois anos, o Koweit tinha sido brutalmente anexado pelo Iraque de Saddam Hussein, que considerava o emirado uma província iraquiana, e uma extensa coligação militar multinacional, comandada pelos Estados Unidos, que envolvia a maior parte dos países árabes e europeus (sendo Portugal a notável excepção), com base na Arábia Saudita, preparava-se para o fim do prazo do ultimato dado ao Iraque para retirar. Em Janeiro, como tal não acontecesse, desencadeou-se uma fortíssima e rápida operação, com o nome de Tempestade do Deserto, em que esquadrilhas de aviões bombardearam alvos cirúrgicos no Iraque, destruindo os quarteis-generais militares, os palácios de Saddam e a força aérea iraquiana. Tropas terrestres entraram depois em acção, derrotando "o quarto maior exército do Mundo" na "mãe de todas as batalhas", como soberbamente lhe chamava Saddam. Ficaram célebres as imagens de soldados iraquianos pedindo rendição nas dunas do deserto. Em poucas semanas, os iraquianos estavam repelidos, o Koweit livre, e a força multinacional decretava o fim das hostilidades, não sem que antes alguns soldados do Iraque matassem civis e ateassem fogo aos poços de petóleo, por vingança. A Guerra teve uma cobertura televisiva nunca vista até aí, através da CNN. No liceu onde estudava na altura, a excitação era tanta que até se acendeu um aparelho de tv no bar. Os militares da coligação multinacional eram então os nosso heróis de carne e osso.

Norman Schwarzkopf era o chefe desse coligação, o estratega da Tempestade no Deserto, graças à qual se infligiu uma pesadíssima derrota ao temível exército iraquiano e às ameaças de Saddam, mas que soube fazer cessar as operações de guerra quando os objectivos de libertar o Koweit estavam cumpridos. Depois disso, afastou-se da carreira activa das armas, e recusou os lugares políticos que lhe ofereceram. Ainda que republicano, teceu críticas à invasão do Iraque, em 2003, numa guerra à qual faltava a legitimidade que ele tinha quando traçou o estratégia vitoriosa em 1990. Morreu hoje, aos 78 anos, um dos últimos grandes generais americanos, da craveira de um Patton, de um McArthur ou de um Eisenhower. Dificilmente se encontram nos últimos trinta anos outros cabos-de-guerra que se lhe possam igualar.
 
 

Ilusões tidas como verdades

 
O assunto mais discutido neste Natal de 2012 é o do impostor Artur Baptista da Silva, tema de capas de jornais, de posts com muitos pontos de exclamação (no caso de alguns blogues, de credulidade embevecida) e de discussões nas redes sociais. Cheguei a vislumbrar o indivíduo numa repetição do Expresso da Meia-Noite; a princípio pareceu-me João Carlos Espada (que não consta que tenha falsificado as suas credenciais académicas), mas depois reparei que tinha outro nome e nem dei atenção, até porque não é o tipo de programas que se siga em cafés. Antes do programa semanal da SIC Notícias, Baptista da Silva já tinha sido conferencista de destaque em algumas instituições de renome. Só no início da semana é que se percebeu que o seu currículo académico tinha sido aldrabado, o seu cargo e o "observatório" da ONU a que dizia pertencer eram fictícios e que tinha estado até há um ano preso por burlas e falsificações várias. Tal experiência de vida, se fosse qualificada pela Lusófona, podia-lhe dar uma pequena equivalência com o grande catedrático da aldrabice Vale e Azevedo. Para acrescentar mais galões para essa equivalência, Baptista da Silva também esteve envolvido no futebol: presidiu ao conselho fiscal do Sporting ao tempo da presidência de Jorge Gonçalves (outro excelente exemplo, esse antigo presidente do clube do Campo Grande antes de se raspar para Angola). E o nome Artur lembra também o grande falsário Artur Alves dos Reis.

O que espanta é que mesmo depois de se saber isto, ainda haja gente que pense que "ele só disse verdades" e que "há burlões muito piores no governo". Até pode nem ser mentira, mas esta estranha simpatia pela personagem está mais ligada às suas declarações, em que ataca as medidas da Troika, culpa apenas a Alemanha pela crise do Euro, declara que há alternativas e que a ONU está empenhada em segui-las, etc. Muitos tomaram isto como verdade. Também Vale e Azevedo dizia muitas coisas que os benfiquistas gostavam de ouvir, mas não passavam de ilusões. Neste caso, parece que muitos tomam por verdades aquilo que gostariam de ver acontecer. E caem de novo na miragem do caminho menos espinhoso, mas inverosímil, que desde sempre inúmeros charlatães e vendedores de ilusões lhes colocam à frente. A história nada tem de novo.

segunda-feira, dezembro 24, 2012

Resumo


Um Santo Natal a todos.

quinta-feira, dezembro 20, 2012

O fim do mundo pode esperar


O Mundo acaba amanhã, no dia mais curto do dano? Segundo uma sistema de contagem do tempo atribuído aos maias (e a algumas seitas, histéricos e new agers mais crentes), sim. O problema é que há vários sistemas de contagem em diferentes cidades maias, sem falar nos utilizados por restantes povos da América Central. Assim, o apocalipse segundo os pré-colombianos parece  improvável, sobretudo para quem como eu dê mais crédito aos Evangelhos - como Cristo ainda não voltou segunda vez à Terra, não há que nos preocuparmos.
Mas seria também um tremendo egoísmo por parte dos maias, ou até uma flagrantíssima falta de oportunidade de nos mostrarem melhor as maravilhas da sua civilização. É que mais de vinte anos depois, temos aqui a sequela das Misteriosas Cidade do Ouro, estreadas há pouco nos países francófonos, mas que não têm, tanto quanto julgo saber, data marcada para ser vista em Portugal. Como antigo e saudosos fã da série, é um falta inominável não mostrarmos às novas gerações tão fabulosa série, que combina história (havia sempre no fim um micro-documentário muito didáctico sobre os factos reais que tinham inspirado o respectivo episódio), aventura e ficção científica. Para os maias, então, essa falta deveria dar condenação certa para serem os primeiros a perecer. O pecado da avareza não podia escapar sem punição.

terça-feira, dezembro 18, 2012

Só falta descobrir que Relvas é amigo de Madoff

 
Ao Ministro Relvas, cada cavadela sua minhoca. O negócio da muito anunciada privatização da TAP estava já longe de ser transparente ou proveitoso, quando o único candidato é um duvidoso empresário colombiano-polaco-brasileiro. Os dossiers respeitantes à comunicação social são ainda mais nebulosos e preocupantes: o Sol pertence há muito a angolanos, os jornais de Joaquim Oliveira, entre os quais o DN, o JN e o açoriano Oriental, para lá caminham. E agora, a quase prevista privatização de parte da RTP (e haverá mercado para isso?) parece estar reservada a uma empresa angolana constituída há pouco tempo para o efeito, pertencente aos detentores do Sol. Sim, a RTP, a televisão pública portuguesa, pode estar a caminho de ficar maioritariamente em mãos angolanas. Isto quando nem do governo nem da justiça houve a menor reacção aos artigos absolutamente trauliteiros e insultuosos de um tal Jornal de Angola, reagindo à notícia de que a PGR tinha aberto uma investigação a altas figuras angolanas por branqueamento de capitais. Para além do nível, demonstraram uma ignorância a toda a prova: o Expresso é "o jornal oficial do PSD", antes da chegada de Diogo Cão os indígenas "apenas se moviam para honrar a sua dimensão humana" e aparentemente, desconhecem o que é a divisão de poderes (pudera). O que tem o Ministro Relvas a ver com o caso? Simples, é ele o responsável pelas privatizações de todas estas emblemáticas empresas públicas. Só que agora, a juntar ao seu "extenso currículo", que lhe serviu para obter a licenciatura mais desleixada de sempre, e ao rol de amigos pouco recomendáveis, tem mais um para a colecção: José Dirceu, o ex-número dois do PT, o homem do "Mensalão", a primeira grande condenação penal de um político no Brasil. E é este homem uma peça-chave do governo. A quem estamos entregues, afinal?

quarta-feira, dezembro 12, 2012

Guterres e Durão: descubra as semelhanças

 
Durão Barroso disse há dias que recusava qualquer responsabilidade do seu governo no actual momento do país. É um claro contraste com António Guterres, que antes tinha assumido exactamente o contrário, ou seja, que os seus anos de governação eram também responsáveis pelo estado actual do país. Sabia que eram dois estadistas completamente diferentes, mas estas duas afirmações cavam ainda mais o abismo entre os dois. Mas há mais diferenças. Ora veja-se:
 
- António Guterres demitiu-se a abandonou a política activa, ocupando hoje um cargo que só em parte se pode considerar eminentemente político. Durão Barroso demitiu-se para não deixar escapar a oportunidade de ocupar o cargo político mais alto que podia alcançar.
 
- Guterres demitiu-se depois de uma derrota nas Autárquicas porque não tinha capacidade para continuar a chefiar o governo, e assumiu-o. Durão via as coisas malparadas também depois de um desaire, nas Europeias, e usou o novo cargo como pretexto para abandonar o governo.
 
- Guterres deixou o caminho livre para a sua sucessão no PS. Durão convidou um sucessor e impô-lo ao partido.
 
- Guterres preferiu que a sua saída fosse resolvida através de eleições, mesmo sabendo que muito provavelmente perderia. Durão escolheu Santana para o substituir no governo sem que se convocassem eleições (ainda que esta escolha dependesse sempre da decisão de Sampaio).
 
- Guterres cumpriu as promessas mais significativas (o célebre "diálogo", o Rendimento Mínimo Garantido e a não subida dos impostos), ainda que estas tivessem levado o país ao descalabro financeiro. Durão prometeu o choque fiscal e pôr ordem nas contas públicas (do primeiro nunca mais se ouviu falar, e as contas foram disfarçadas com receitas extraordinárias e antecipadas).
 
- O feito de política externa (e de toda a sua governação) mais relevante de Guterres foi a gestão do caso de Timor, que acabou com a libertação e posterior independência do território, coisa em que muito poucos acreditariam anos antes. O de Durão foi a famosa cimeira dos Açores, em que posou na fotografia com Bush, Aznar e Blair, e em que se decidiu a desastrosa e infundada invasão do Iraque.

- No caso de Timor, Guterres obteve um rotundo êxito e alcançou todos os objectivos. Durão teve três anos de conversações com a Indonésia e nada conseguiu.

Eis em curta síntese as principais diferenças entre Guterres e Durão Barroso enquanto estadistas e responsáveis pela governação do país (a responsabilidade pelas organizações a que presidem são de natureza diferente e não têm comparação, nem eu saberia fazê-la).



PS: no caso de Timor, diga-se em abono da verdade que durante o governo Guterres Suharto caiu do poder, o que muito ajudou a resolver o problema da ilha. Mas já na época Durão criticava o executivo português pelas opções que tomou, com os resultados bem conhecidos...

terça-feira, dezembro 11, 2012

Os "Abrantes" de Passos e Relvas

 
A ler esta sucessão de cinco posts que o Samuel escreveu no Estado Sentido - este, aquele, aqueloutro, mais outro e ainda outro. Infelizmente, os "Abrantes" continuam aí, os originais e os do actual governo. Depois dos boys socráticos imiscuídos nos blogues e nas redes sociais, temos agora os relváticos (à falta de melhor nome, porque este parece-me simbólico), pagos para a tarefa. Nada mudou no lobbying da net.

segunda-feira, dezembro 10, 2012

Niemeyer, mais próximo de Gaudi que de Estaline


A morte de Oscar Niemeyer, ainda que pouco imprevisível, dada a sua centenária idade e os seus recentes problemas de saúde, suscitou inúmeros artigos, retrospectivas e homenagens póstumas sobre a vida e obra do arquitecto brasileiro. Reviu-se a monumental construção de Brasília, essa nova capital surgida no sertão, que ainda hoje nos parece vanguardista, com a sua Esplanada dos Três Poderes e a Catedral em forma de coroa de espinhos; mostrou-se a conhecidíssima sede da ONU em Nova York e o bairro da Pampulha em Belo Horizonte, que anteciparam Brasília; explicitou-se que afinal o Casino da Madeira não era realmente de Niemeyer, porque segundo o próprio fora outro a acabar o projecto; passou-se ao de leve pela sede do PC francês, que com a leveza das suas linhas tanta carga ideológica lhe tirou, talvez antecipando o "Euromunismo" dos anos setenta; e ainda se chegou às últimas obras, como o extraordinário Museu de Arte Contemporânea de Niterói, que parece ter pousado directamente do espaço em frente à Baía de Guanabara. Houve mesmo espaço para alguma petite histoire curiosa, como a do colégio de Moimenta da Beira, que se inspirou no Palácio da Alvorada, de Brasília, para construir os arcos da sua fachada, tendo na altura recebido uma carta de apoio do próprio Niemeyer face ao desagrado que provocou entre as autoridades da época e à revolta a favor da obra. Aliás, a capital brasileira não cessou de povoar o imaginário por este país fora - em Vila Real, um prédio modernista dos anos sessenta ainda hoje é conhecido como "edifício Brasília"; e não esqueçamos o mítico shopping da rotunda da Boavista, que lá está em pleno funcionamento.
 
Mas também se falou no seu percurso de (longuíssima) vida e na sua orientação ideológica. Niemeyer permaneceu comunista até ao fim da vida, era amigo do histórico líder Luís Carlos Prestes, chegou a presidir ao PCB e viveu exilado durante a ditadura militar. Era autor também de algumas obras emblemáticas de partidos comunistas outora pujantes, como a supracitada sede do PCF e a do seu órgão oficial, L´Humanité, em Saint-Denis. Elogiou mesmo publicamente Estaline há não muitos anos.


Contudo, Niemeyer estava a anos-luz da arquitectura estalinista que se abateu sobre a URSS e os países do Pacto de Varsóvia depois da 2ª Guerra, com edifícios de estado esmagadores e funcionais. Os seus projectos demonstram antes uma leveza, uma preocupação estética que o afasta irremediavelmente dos modelos totalitários vigents nos estados comunistas. Talvez consequência de ser brasileiro e meridional, preferiu sempre a estética à funcionalidade, a leveza à imponência, as curvas ondulantes às rectas precisas e rígidas. Neste último aspecto aproxima-se de Antoni Gaudi, outro génio da arquitectura do século XX, que dizia que "a linha recta é do homem, e a curva de Deus". Não sendo religioso, apesar das suas obras para igrejas, Niemeyer procurou de certa forma atingir também o transcendente através do belo que criava com as suas obras, escapando às convenções arquitectónicas mais utilitaristas. Como ele próprio dizia, "não é o ângulo recto que me atrai. Nem a linha recta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual".

 

quinta-feira, dezembro 06, 2012

A frustração no Nou Camp


 
Um empate em Barcelona seria à partida um bom resultado se outras fossem as circunstâncias. Obrigado a ganhar para não depender de uma eventual "ajuda" do Spartak de Moscovo em Glasgow, o Benfica desperdiçou oportunidades sobre oportunidades de golo e a consequente vitória no Nou Camp, ou Camp Nou (que seria histórica, para contar às gerações futuras) e é assim despromovido para a Taça UEFA, ou Euroliga, ou lá como lhe chamam agora. As culpas devem ser assumidas, e o Benfica não pode deixar de o fazer, até porque se exigia mais em Moscovo e Glasgow. Ainda por cima os culés entraram com muitas reservas (mas de qualidade, sigam bem aquele Deulofeu), controladas pelos "velhinhos" Puyol e Villa, e só depois lançaram Messi. O Benfica também tinha muitas baixas e teve de levar alguns jovenzinhos, mas nem isso basta para justificar a "vitória moral". Empatar ali é bom, seria bom em 1992 e 2006, quando enfrentámos dos dream teams da época. Mas ontem o que se queria era ganhar. Não ganhámos e vimos uns toscos de uns irlandeses que jogam na Escócia a classificarem-se graças a um penalty inventado. É algo injusto, mas que nos sirva de lição para no futuro não ficarmos dependentes de irregularidades que aproveitem a outros e cumprirmos a nossa parte, coisa que deveria ser muito bem explicada aos nosso avançados. Os jogos com Celtic já parecem sina: sempre que os defrontamos, ficamos atrás na classificação, mesmo que não nos provem ser inferiores, ou pior, somos eliminados com base na pura sorte. Espero não os ver tão cedo. Ainda assim, ninguém se ficou a rir em Nou Camp: o Benfica pela eliminação, o Barcelona porque obedeceu aos pedidos dos adeptos e viu Messi lesionar-se. O desejado recorde do maior número de golos num ano civil fica assim adiado...ou ameaçado.
Única coisa a reter de bom, além dos 500 mil euros do empate: Ola John é mesmo um futuro craque.
 
 

terça-feira, dezembro 04, 2012

Quando as qualidades dos portugueses superam os seus defeitos

 
O Banco Alimentar contra a Fome conseguiu reunir no último fim de semana um número de ofertas semelhantes às de 2011. Havia preocupações depois da campanha de insultos a Isabel Jonet, Felizmente, a grande maioria das pessoas, independentemente de concordar ou não com as palavras recentes da coordenadora da federação de Bancos Alimentares, soube separar o essencial do acessório e contribuiu largamente, coisa tanto mais importante numa altura em que aumenta a população em risco de pobreza. Quanto aos inúteis que vieram com a conversa da "caridadezinha" e que se fartaram de prometer que "nunca mais dariam um grão de arroz para essa instituição" (frase curiosamente repetida nas redes sociais sempre com as mesmas palavras), ou nunca tinham dado antes ou então a sua contribuição era muito fraquinha. Como se viu, não fizeram falta e as suas ameaças e impropérios não tiveram qualquer resultado.
No Banco Alimentar do Porto as ofertas de alimentos conseguiram mesmo superar as de 2011. Quarenta mil pessoas ofereceram-se como voluntárias. E a alegria do trabalho própria destas campanhas voltou a ser a regra, nos armazéns ou locais de recolha. Se fosse igual na maioria das empresas, estou certo de que a produtividade seria bem maior. Uma das maiores qualidades dos portugueses é a solidariedade e a partilha em tempos de crise. E um dos maiores defeitos a maledicência e a criticazinha fácil e intriguista. Parece que neste fim de semana aquelas superaram largamente estas. Este país não é tão mau como às vezes se diz.

sábado, dezembro 01, 2012

O último dia oficial da Restauração


Já estamos a 1 de Dezembro. O último em que é feriado. Para o ano não notaremos muito, mas daqui a dois anos sairemos para ir trabalhar neste dia em que durante mais de um século se comemorou a Restauração da independência de Portugal. Em nome da "produtividade", e obedecendo a estudos dessa credível instituição que é a Universidade Lusófona que nos preparou o ministro Miguel Relvas e que juram que cada feriado custa 37 milhões de euros ao país, resolveu suprimir-se quatro feriados, entre os quais o mais importante e simbólico, o da própria independência do país. Nos dias 1 de Dezembro dos próximos anos, as comemorações, que já eram pobres e nem incluíam altas figuras de estado, resumir-se-ão a uns beberetes nos salões nobres de alguns municípios e pouco mais. Haja esperança que futuros governos reponham o 1 de Dezembro como Feriado Nacional. Mesmo Paulo Portas já admitiu que daqui a cinco anos deveria haver uma revisão, como com os religiosos. Não é mais um dia de descanso, é mesmo a memória de um momento fulcral da nossa História que está em jogo.
 
A ironia da coisa é que um dos programas mais aliciantes do dia de hoje é o debry madrileno, entre o Real de Cristiano Ronaldo e Mourinho e o Atlético de Radamel Falcao. E a 1 de Dezembro só podem ganhar os portugueses.
 
 

sexta-feira, novembro 30, 2012

O risco de Scolari

 
Scolari regressou à Selecção Brasileira, para substituir Mano Menezes e comandar o Brasil no Mundial caseiro de 2014. Um erro das duas partes. Para começar, em obediência à máxima que estipula que "não devemos voltar aos lugares onde fomos felizes". Depois, o actual "time" da Canarinha não é dos melhores que já teve. É certo que até o Mundial há tempo para reunir um bom conjunto com um mínimo de coesão. Scolari até já deu provas disso, inclusive no cargo que ocupa, quando em 2002 reuniu um grupo desgarrado e, com o génio de Ronaldinho Gaúcho e rivaldo, conquistou o título mundial. Mas e se o Brasil falha? Pior, se falhar na final? Dá para avaliar a dimensão do trauma? Felipão tornar-se-à então o primeiro treinador a perder uma final de um Europeu e uma final de um Mundial em casa. Ficaria assim amaldiçoado na história do futebol, o que convenhamos, é injusto. Mas há mais: este é o segundo Mundial de futebol que o Brasil organiza. O primeiro, como os mais estudiosos da matéria devem saber, deu-se em 1950 e acabou com o Maracanazo, a célebre vitória do Uruguai de Schiaffino e Ghiggia sobre o Brasil em pleno Maracanã, provavelmente no jogo com mais espectadores de sempre. Ora se semelhante desastre voltar a acontecer, não é só Scolari que fica amaldiçoado. A partir daí, e supersticiosos como são, nunca mais os brasileiros quererão pensar em organizar mais competições do género em casa. E o Maracanã deixaria de ser o altar desportivo do Brasil para se tornar numa arena funesta e maldita, condenadaa prazo à demolição. Se cuida, Felipão.
 
 

quinta-feira, novembro 29, 2012

Ironias catalãs


A discussão sobre as eleições catalãs e o possível referendo ao estatuto da Catalunha, catapultada pela enorme manifestação de Setembro em Barcelona, é dos assuntos internacionais mais badalados da actualidade. Barcelona reclama aquilo a que acha que tem direito, ao retorno dos impostos que paga e a soluções fiscais mais vantajosas. Como não conseguiu isso, partiu para a ideia de secessão pura e simples, sem sequer passar pela de federação, aliás sugerida pelo PSOE.
 
Nesta pretensão não faltam paradoxos para originar mais discussões. No Delito de Opinião aponta-se para uma questão curiosa: tirando a Escócia, que já tem referendo marcado para 2014 para decidir se quer ser um reino independente ou não, todos os territórios europeus - excepto aqueles estados-fantoche da Rússia no Cáucaso - que acenam com o problema do separatismo são por norma regiões prósperas. A Catalunha, tal como o país basco, é obviamente um deles, e as razões que apontam são, como se disse acima, económicas e fiscais, argumentando que não querem pagar o resto do país "que não trabalha". Tem a sua graça olhar para tantos entusiastas dessa hipotética independência e depois ouvi-los a vociferar contra os países do Norte da Europa, em especial a Alemanha, esses "arrogantes", "egoístas",  "nazis", "agiotas", pelas razões inversas.

A Catalunha terá com certeza as suas razões de queixa de Madrid. É natural que quem é contribuinte líquido a certa altura se aborreça com a situação. Mas vir fazer-se de vítima em todas as dimensões já se torna enjoativo. Ouço a malta da Catalunha queixar-se do centralismo de Madrid e da submissão que a capital espanhola exigirá, e a tomar como referência um condado do século XI. Ora que eu saiba uniram-se pacificamente a Aragão, que por sua vez se juntou também pacificamente a Castela. E já não estamos nos tempos de Olivares, Filipe V ou Franco, esses sim, centralistas e autoritários. Os catalães podem falar a sua língua, apoiar o seu "mes que un club" (esperemos que para a semana não tenham grandes razões para o fazer), trepar aos seus castellers e demais práticas culturais e votar nos seus partidos autonómicos, alguns dos quais republicanos, sem qualquer problema. Ou seja, todas as razões que poderiam justificar uma eventual independência são vazias de sentido. Para mais, caso esse absurdo acontecesse, veríamos um dos estados mais centralistas da Europa, com Barcelona a sugar o resto e a mandar sem oposição, visto que não há outra cidade de dimensão minimamente grande para se lhe opôr (tirando as subúrbios, a maior cidade é Tarragona, com um décimo da população da capital catalã). E ainda há outra pequena ironia: o principal partido catalã, a CiU, é da mesma família ideológica do PP, provavelmente a formação que menos apoia a secessão...e que está no poder em Madrid.

E depois, as facilidades que pensam que encontrariam ao virar da esquina são pura ilusão. Só para reentrar na UE, caso quisessem, teriam de passar por novas etapas de adesão. e o que fariam aos que não quisessem ser catalães? Davam-lhes um visto de trabalho para emigrantes? Problemas de sobra, sobretudo para quem os quer criar, que não deixa de ser justo. A Espanha permanece periclitante, e com ela a Europa.


 

segunda-feira, novembro 26, 2012

O futebol une-se para ajudar o Banco Alimentar


Os capitães das principais equipas profissionais de futebol de Portugal vieram apelar ao contributo das pessoas com o Banco alimentar. Em tempo de penúria e fome, em que a solidariedade é mais necessária do que nunca, e depois das feridas provocadas pelos violentos e injustos ataques de que o Banco Alimentar foi alvo e que ainda não sararam, é bom ver que os clubes e a Liga mostraram que no futebol não há apenas rivalidades, ódios e intrigas, e que a modalidade mais popular no nosso país também tem consciência social no momentos que mais importa. E assim justificam a sua qualidade de instituições de utilidade pública. Bem hajam.
 
 

quarta-feira, novembro 21, 2012

Quem vai à guerra dá e leva


Nem ia falar do caso da chuva de pedras protagonizada por radicais em frente ao Parlamento, seguida de carga policial, se não aparecessem agora uns patuscos "activistas" que "repudiam a carga policial injustificável e indiscriminada". Se é certo que houve alguns excesso da polícia e alguma indiscriminação, e seja questionável se tinham de ir até ao rio, já a justificação da carga em si parece óbvia. Um grupo de meliantes de cara tapada arranca pedras da calçada e atira-as às forças do ordem, assim como coktails molotov, e esperavam que a polícia ficasse muda e queda, mesmo depois de lançar avisos prévios por megafone (perfeitamente audíveis nos videos do momento)? Ao ler as razões invocadas pelos tais "activistas" não vejo uma crítica, uma recriminação sequer aos bárbaros que provocaram o caos, o que me leva a crer que na realidade façam parte desses grupelhos e sejam, pelo menos alguns, as mesmíssimas pessoas. No mínimo tentam esconder os seus actos.
 
 
Em relação ao que ouve dizer, que empurraram mulheres com crianças nos braços, que mendigos foram agredidos, já se sabe que em cargas policiais há sempre excessos (e com a raiva acumulada de receber tantas pedradas e insultos...) e que o ideal seria distinguirem-se uns e outros, sem envolver sem-abrigo nem outros transeuntes. Acontece que não vivemos num mundo perfeito - senão os pseudo-anarquistas de cara tapada não existiriam - e quem leva crianças para um ambiente tenso, impróprio e violento como o que se verificou é coisa que não cabe na cabeça de uma pessoa minimamente sensata. Quererão alguns fanáticos que os miúdos aprendam técnicas de desobediência civil desde tenra idade?
 
E como vale a pena recordar a sabedoria popular, "quem vai à guerra dá e leva". Eu também já assisti a manifestações como simples espectador sem opinião e sujeitei-me às consequências. Aliás, nos primórdios desta espelunca, relatei mesmo uma refrega a que assisti em Paris, quando a polícia de choque reagiu com gás lacrimogêneo a um avanço dos bombeiros que protestavam por uma medida relacionada com os escalões da profissão, ou uma questão burocrática do género. como estava a fotografar a cena, apanhei com o gás em cima. evidentemente não pensei em ir inscrever-me numa qualquer associação de vítimas da "violência policial" para fazer birrinha. Lavei a cara, esperei que o efeito passasse e fui para uma zona mais sossegada. E se os activistas se deixasse de mariquices dissessem o que pensam da cena de lapidação, destruição da via pública e de contentores de lixo? Talvez pela resposta se ficasse a perceber se têm culpas no cartório e não estão a desviar as atenções.

domingo, novembro 18, 2012

O futuro do Bloco de Esquerda


Desde o tombo das Legislativas de 2011 que o Bloco de Esquerda parece vir a quebrar-se. As coisas já não estavam muito sólidas depois do apoio a Alegre nas últimas presidenciais, com os resultados que se conhecem, e da recusa em encontrar-se com o trio de fiscais internacionais, vulgo Troika, mas verdadeiramente a pressão só veio acima com o desaire eleitoral. A queda abrupta e o encolhimento do grupo parlamentar (em especial a não eleição de José Manuel Pureza, que nem sequer era inesperada) ditaram a contestação inédita que a direcção do movimento, e em especial o seu "coordenador" Louçã, sofreram posteriormente. Se os apelos à responsabilização pelos resultados e até para o afastamento já se sucediam, o caso de Rui Tavares, que bateu com a porta em litígio com Louçã, entre acusações de mentiras e falsidades, contribuiu ainda mais para o transbordamento do copo. Seguiram-se as eleições na Madeira, em que o Bloco conseguiu ser o único partido a não eleger um deputado regional (!), e mais recentemente nos Açores, em que ficou com apenas um lugar. No último Verão houve notícias, a propósito da sucessão de Louçã, de querelas e troca de acusações entre o "coordenador" cessante e Daniel Oliveira, e a facção mais radical, correspondente à FER de Gil Garcia, optou por abandonar o Bloco para constituir o MAS. Muitos problemas num espaço de tempo curto para uma formação que teve uma ascensão relativamente rápida e segura, mas que parece estar sem frescura muito por força da insistência nos "temas fracturantes" e que parece não estar a conseguir capitalizar o descontentamente com o Governo.


É sabido que o Bloco é uma aglutinação heterogénea de formações de esquerda radical que decidiram em fins dos anos noventa que a união faria a sua força. Os trotsquistas do PSR juntaram-se então aos maoístas da UDP e aos ex-MDPs e ex-comunistas (por sua vez vindos da Plataforma de Esquerda) do Política XXI, aglutinaram o grupúsculo FER, e formaram o Bloco. Esta miscelânea, com vários líderes mas representada por Louçã, o mais conhecido e de discurso mais eficaz, conseguiu não só aguentar-se como subiu ao longo dos anos nos lugares do Parlamento, e acima de tudo no mediatismo. Não há ninguém no país que não conheça o Bloco, os tiques de Louçã e a sua agenda fracturante, mesmo que no domínio da caricatura.

Apesar desta ascensão, que desmentiu quem achava que o movimento seria um PRD de esquerda, com uma carreira efémera, também havia quem previsse há algum tempo que o radicalismo afastaria algum capital de simpatia e que com o esgotamento da agenda fracturante aceite pelo grande público - porque a certa altura muito poucos estarão dispostos a aceitar mais pretensos "avanços civilizacionais" - o Bloco perderia peso e reduzir-se-ia ao plano da caricatura. Não sendo esse o caso, o facto é que não se sabe qual o melhor caminho. Miguel Portas, uma das mais populares e lúcidas figuras do Bloco, desapareceu há meses, não sem que antes apelasse à renovação dos quadros dirigentes primordiais. Fernando rosas percebeu isso mesmo e afastou-se, Louçã preferiu manter-se no cargo até agora, antes de ceder o lugar à nova liderança bicéfala (ou "paritária", como preferem dizer), não sem antes se despedir da "coordenação" e do Parlamento com a populista tirada sobre  a "caridadezinha", num exercício de demagogia que desgraçadamente sempre o acompanhou, apesar de toda a sua preparação e inteligência.

O novo modelo de liderança do Bloco é claramente inspirado pelo dos Verdes alemães, que começou como um movimento radical até à actual institucionalização quase ao centro, dando ideia que há uma vontade de evoluir para uma maior moderação de forma a poder no futuro suportar um governo com o PS. Ainda assim, o novo tipo de liderança terá as suas desvantagens, desde logo na dificuldade em escolher um rosto que represente o partido (nos debates entre lideranças, por exemplo). João Semedo tem uma imagem de competência e moderação que contrasta claramente com a de Louçã, conseguindo ao mesmo tempo não ser uma figura apagada ou cinzenta, mas Catarina Martins, além de não grandemente conhecida, representa a influência da facção UDP, o que não abona a favor da moderação desejada por muitos. Luís Fazenda, o outro fundador que resta no Parlamento (e precisamente o líder de facto do grupo da UDP), não tem claramente popularidade nem boa aceitação junto de um público menos dado a radicalismos, como se provou no falhanço da sua candidatura à câmara de Lisboa. Com um deputado equilibrado na liderança, mas dividindo-a com uma co-coordenadora oriunda de um sector mais radical, a saída de personalidades prestigiadas e influentes na opinião pública, uma renovação de quadros geradora de muitas dúvidas e a necessidade de disputa do terreno com o PCP e alguns sectores do PS, resta saber se o Bloco caminhará para uma maior moderação de forma a apoiar um futuro governo do PS ou se permanecerá nas suas trincheiras radicais e contestatárias inconsequentes. Pode obter dividendos mas também pode perder: na primeira hipótese, a de uma parte ser engolida pelo PS e outra pelo PCP; na segunda, a de estagnar e definhar, caindo na irrelevância. São caminhos sempre arriscados, mesmo num cenário que lhe é favorável, que a dupla Semedo/Martins terá de trilhar na obrigação de não esconder o que realmente pretende.


terça-feira, novembro 13, 2012

A visita da Bismarck de saias


E pronto, passou o grande dia  em que a Pátria recebeu Frau Merkel com pompa e circunstância. O Estado recebeu-a com pompa e os manifestantes com as bandeiras negras (e vermelhas) e os slogans de circunstância, bem entendido.Não sei porque razão é que se protesta tanto com a senhora: nem ela conseguiu ouvir qualquer protesto - de resto, pouco mais que folclóricos e de muito menor escala do que aquilo que se pensava, sobretudo se comparados com os da Grécia (e a que Merkel respondeu bem, dizendo que até era saudável visto que tinha vivido num país em que as manifestações eram  proibidas) - nem os manifestantes, com o habitual merchandising de lenços palestinianos, máscaras anonymous do Guy Fawkes e panos negros conseguiram qualquer reivindicação, excepto que Merkel saísse realmente de Portugal, passadas algumas horas, como exigiam. Mas aí reside o maior pecado desta visita: se era para trocar umas palavras de ocasião com Cavaco e Passos coelho, atirar uns doces aos empresários e almoçar em S. Julião da Barra, mas valia uma conferência em directo. Sempre se tinham poupado uns dinheiros ( ainda que não pudesse ver o Tejo luminoso em S. Julião, hélas). Confirma-se que se tratou de uma visita de ocasião, de chá e simpatia, mais para dar a ideia de "trabalho em conjunto", que efeitos práticos teve pouco ou nenhum. Tivesse durado dois ou três dias e a coisa tinha outra relevância.
 
A propósito, a insistência das manifestantes mais radicais em comparar Angela Merkel com Hitler é, além de profundamente injusta e estúpida, uma prova de falta de imaginação que só comprova a Lei de Godwin apicada aos mesmos. Mas também de estética. A "Chanceler(ou "Chancelerina") de Ferro" só poderia ser comparada, pelo seu cognome, com o original "Chanceler de Ferro" Otto Von Bismarck. Com a bigodaça e o pickelhaube, as caricaturas até ficavam mais corrosivas e engraçadas. Os manifestantes é que não têm conhecimentos nem arte para isso. Até nisso este país está pobre.
 

segunda-feira, novembro 12, 2012

Uma campanha miserável


As reacções que se observaram a umas simples palavras de Isabel Jonet na televisão há poucos dias foram das coisas mais miseráveis que tenho visto nos últimos anos. Há muito tempo que não via tanto ódio injustificado. Ainda hoje estava  ouvir o Eixo do Mal, coisa que já não via há uns tempos (não admira), e a ouvir uma quase que narcotizada e blasée Clara Ferreira Alves a dizer que as declarações de Jonet eram "perniciosas e abjectas". E que disse de tão grave, Jonet, para merecer tais desaforos?
 
Simplesmente que "estávamos já a empobrecer"; que havia pobreza em Portugal, e não miséria, como na Grécia, situação a que não queria chegar; que não poderíamos "comer bife todos os dias"; que a "necessidade permanente de bens era irreal, e deu o exemplo de que "ou íamos a um concerto de rock ou tirávamos uma radiografia"; que muitos jovens iam a concertos quando os país comiam Nestum; que havia um desemprego sem esperança, e que havia gente que nunca mais teria lugar no mercado de trabalho e cuja solução seria montar um pequeno negócio". Basicamente, foram estas as terríveis declarações da presidente da Federação Internacional de Bancos Alimentares, que provocaram o rasganço das vestes a uma enorme matilha de ressabiados. Mas para quem quiser realmente analisar as declarações, aqui fica o video.
 


O modo como foram proferidas e alguns exemplos dados talvez tenham sido desastrados. Mas na substância dou-lhe toda a razão. Sem querer generalizar, porque sempre houve quem não alinhasse em loucuras, imensas camadas da população se endividaram para consumir brutalmente. Havia quem deitasse ao lixo comida só porque não a queria aquecer. O parque automóvel aumentou enormemente, os i-phones e toda a gama de Steve Jobs venderam-se que nem ginjas, assim como os plasmas, os bares e discotecas proliferaram por toda a parte, gasta-se desalmadamente em bebidas alcoólicas, o índice de possuidores de internet em casa subiu até à estratosfera, e os concertos e festivais de Verão, não exactamente a preços low-cost, estão sempre a abarrotar de gente. Poupar tornou-se sinónimo de "forretice", ou na sua versão política, de "pobreza salazarenta". E isso muitas vezes com o recurso ao crédito e ao "paga-se mais tarde".
 
Ou seja, Jonet limitou-se a falar dos custos desse consumismo desenfreado, e até da perspectiva de que os recursos são escassos, coisa que qualquer criancinha percebe. E a antecipar um futuro de menos consumo e mais dificuldades, que é o que nos espera pelo menos nos próximos anos. E ainda que não se quisesse prestar atenção, ou se discordasse por qualquer razão, eram meras palavras, como as que ouvimos quotidianamente.
 
A chuva de ácido odioso que se seguiu revelou que Jonet pôs o dedo na ferida. Mas também constituiu uma janela de oportunidades para que os detractores do Banco Alimentar e associações similares, mas sobretudo o Banco, que é a mais mediática e representativa, a aproveitassem. A extrema-esquerda mais lunática (não pôr no mesmo saco a esquerda lúcida, que não confundiu o essencial) lançou uma campanha rancorosa, cobrindo Isabel Jonet de insultos, usando a habitual linguagem da "tia de Cascais" que "usa a caridadezinha que dá um caldinho aos pobrezinhos" para se promover". Querem exemplos? Alguns deles do mais rasca possível, outros dos inevitáveis lambe-botas socráticos citando a ex-primeira companheira, e isso para não falar no que passou nas redes sociais e nos fóruns. A dita extrema-esquerda não só desdenhou do enorme trabalho do Banco Alimentar como chegou a passar a ideia de que era uma negociata, que as pessoas que lá trabalham levam comida para casa, e, absurdo dos absurdos, que "enriqueciam com o negócio da pobreza", embora não tenham explicado como é que se enriquece trabalhando como voluntário.
 
A fonte sabe-se qual é. As primeiras atoardas partiram de uma "académica" de seu nome Raquel Varela, escriba no famoso albergue de doidos estalinista que dá pelo nome de Cinco Dias, onde se tecem louvores a tudo quanto é regime tirânico neste mundo e ainda se acredita nos "amanhãs que cantam". Varela enviou uma "carta aberta" onde, entre outros delírios, se diz que "(Jonet) é co-responsável pela fome em Portugal" e que "A fome é um problema cuja origem reside única e exclusivamente no sistema capitalista".  Ficámos então a saber que A Coreia do Norte e a URSS são dos regimes mais capitalistas que a humanidade já conheceu. O Joaquim tomou logo a dita "historiadora" pela pinta. Não sei se por ânsia de protagonismo ou se por fanatismo ideológico, daí partiram os primeiros ataques a Isabel Jonet, numa campanha concertada com outros grupos, como um tal "Movimento sem Emprego", que lançou outra "carta aberta" no mais piroso estilo neo-realista (não gosto de dar publicidade a grupelhos que não a merecem, mas o link tem de ser), ideológico até ao tutano, acusando-a de ser "rica e previlegiada", de "promover a miséria", de "lavar o sangue que lhes escorre das unhas", que os seus pais e avós "lhe aviavam a mesada". Percebe-se pela indigência presente por que é que estão sem emprego (que empresa quereria contratar gente desta?), mas eu tive acesso à "carta" via e-mail e testemunhei a imensa hipocrisia deste movimento: pediam no fim doações para custear a sua "luta", e como exemplificaram, panfletos, manifs, e sabe-se lá que mais. Em lugar de procurar emprego e de constituir uma rede nesse sentido, o grupo prefere gastar o dinheiro em manifestações e insultos, ao mesmo tempo que critica o Banco Alimentar.
 
Mais patético ainda são as petições que pedem a demissão de Isabel Jonet. Pergunto-me como é que se pode pedir que alguém se demita de uma instituição privada sem fazer parte dos corpos sociais, ou pior ainda, quando se ataca essa mesma instituição. E estarão a falar apenas de Portugal ou também de toda a Europa, visto que a coordenadora não só o é em Portugal como também está à frente da Federação Europeia dos Bancos Alimentares? É que não me parece que as pessoas por essa Europa fora estejam dispostas a aturar os desaforos dos esquerdistas radicais e dos"camaradas" aqui da terra. Sorte a deles.
 
A confirmação da origem política desta perniciosa campanha contra o Banco e Isabel Jonet veio enfim de Francisco Louçã, que usando a demagogia radical que lhe é característica, perguntou se eles é que eram radicais "quando criticavam as declarações do movimento nacional feminino a brincar à caridadezinha". Além de comprovar todos os tiques e linguagens da extrema-esquerda e de onde partiu o ódio, no seu habitual papel de inquisidor trotsquista, vendo salazarismo em toda a parte , como se tivesse parado nos anos setenta, "brincando à demagogiazinha", Louçã respondeu à sua própria questão.
 
Compreende-se a raiva a quem pratica Caridade (ou "caridadezinha", como eles dizem): um somatório de gente a morrer à fome acirra os ânimos e permite maiores protestos e convulsões sociais, quando não a tão almejada "revolução". Além disso, acha-se que estão a fazer campanha desleal, porque eles é que se preocupam com as "massas" (embora nunca estejam presentes nos bairros sociais) e com as "medidas estruturais" (quais são, já agora?) para resolver os problemas de carência. Haver quem alimente os mais desfavorecidos obviamente só pode causar rancor a esta gente. Além do mais, a liberdade de expressão é acima de tudo um veículo para expressarem a sua ideologia. Quando os outros dizem algo que a contrarie, vêm à tona os instintos totalitários e dá-lhes para isto. Eis a moral de quem provavelmente nunca ajudou os mais pobres para insultar quem o faz.
 
Sou voluntário do Banco Alimentar desde meados dos anos noventa. Fiz campanha em vários sítios, e, tal como os outros voluntários, nunca recebi nada, excepto o pequeno lanche que se dá no fim do trabalho de armazém. As acusações da maralha dos fóruns da net são por isso falsas e próprias de quem nada tem para fazer ou não sabe como expulsar as frustrações, e mostram bem a maledicência e espírito viperino deste país. Nunca conhecia Jonet nem simpatizo particularmente com a sua imagem e com algum do seu protagonismo, mas não lhe nego o enorme mérito de ter encabeçado o Banco em tempos de enorme consumo, quando parecia já não haver gente com fome, coisa de que os críticos se esquecem. É uma instituição louvável, meritória, insubstituível, que merece o máximo apoio. Está impecavelmente organizada, com distribuição à medida dos pedidos das entidades intermédias que requerem ajuda, e faz vigilâncias constantes para verificar se a esta é bem distribuída. Recebe alguns apoios de empresas e da União Europeia para ajudas de custo, armazéns e transportes. Espero que as declarações de Jonet não prejudiquem o Banco. Há quem diga que "depois disto" nunca mais ajuda a instituição. É duvidoso que muitos tenham realmente ajudado, e revela bem que há quem coloque a ideologia à frente de quem tem fome. Se é para isso, não dêem nada, a bem da coerência.
 
A única forma de contrariar o ódio, o egoísmo, a má-língua, a hipocrisia e a demagogia é fazer com que a campanha do Banco alimentar, nos próximos dias 1 e 2 de Dezembro, seja um êxito ainda maior. Para que acima de tudo aqueles que precisam possam manter a sua dignidade.
 
 

sexta-feira, novembro 09, 2012

Dez anos é muito tempo


Há dez anos (e alguns meses), o Sporting de Bölöni, Jardel, João Pinto, Quaresma e Hugo Viana sagrou-se campeão nacional da 1ª divisão, e o Boavista de Jaime Pacheco, Petit, Ricardo e Bosingwa ficava em segundo lugar, um ano depois de conquistar o título. O Porto, com o recém-chegado Mourinho, lá agarrou o terceiro que lhe dava acesso às competições europeias, e o Benfica de Jesualdo, Simão e Mantorras quedou-se em quarto, e pela segunda vez na história não se apurou para os jogos da UEFA. O outro lugar europeu ficou para o Leixões, que teve direito a jogar a final da Taça com o Sporting.
 
Dez anos é mesmo muito tempo. Quem iria imaginar que as coisas iriam estar tão mudadas?
 
 
 

terça-feira, novembro 06, 2012

Sim, também gosto mais de um candidato, mas quem vota são os americanos



À hora a que escrevo ainda se vota nos Estados Unidos para se saber qual será o inquilino da Casa Branca dos próximos quatro anos - e parece que por causa da tempestade Sandy ainda se vai votar mais uns dias em Nova Jérsia.
Em Portugal e presumo, na maior parte das nações mundiais, Barack Obama já teria sido reeleito por larguíssima vantagem. Claro que o voto cabe aos americanos, que por razões culturais, sociais, ideológicas, e tantas outras, dividem o país nas cores azul e vermelha, deixando as migalhas aos outros candidatos, quase sem expressão. É estranho que há oito anos, no dia das eleições, Bush Jr tivesse a sua reeleição praticamente assegurada, e que agora Obama esteja no fio da navalha. é verdade que o actual presidente americano chegou a Washington quase como um Messias que iria resolver os problemas da América e daí consertar o Mundo. O carisma, o talento oratório e o especial facto de enorme simbolismo de ser o primeiro presidente não-branco dos USA potenciaram essa imagem, que acumulou com um estrambólico Nobel da Paz de carácter "preventivo" ou ilusoriamente antecipatório. Como se descobriu depois, Obama não vinha do Olimpo, mas de Chicago, e é um mortal, apesar de excepcionais qualidades. Chegado ao topo no início da terrível crise do subprime, jamais poderia fazer milagres.
 
Conseguiu provavelmente salvar o grosso da indústria automóvel sediada em Detroit injectando-lhe largas somas, lançou as bases de um sistema público de saúde, preparou a saída das tropas americanas do Afeganistão até 2014 e abateu o inimigo nº 1 da América, Osama Bin Laden, numa operação digna de filme de acção. Mas a "revolução conservadora" de Reagan conquistou boa parte dos Estados Unidos, e os americanos, como é sabido, não ligam tanto a questões externas, ou não tivesse Clinton derrotado Bush Sr. (que tivera um grande Êxito no Iraque) com o bordão It´s the economy, stupid. A economia continua com crescimento débil, e parece que a velha máxima de que "o que é bom para a General Motors é bom para a América" já estará desactualizada, menos na decrépita Detroit. Lembremo-nos ainda que muitos americanos acham que Obama é um infiltrado muçulmano, um socialista, e outras vilanias mais.

É notável que Roomney tenha chegado ao ponto de se bater taco a taco com Obama. Mórmon, governador do Massachussets, olhado com desconfiança pelos evangélicos mais fundamentalistas e pelo Tea Party, por não ser especialmente radical e usar um discurso que se aproxima do neoconservadorismo, teve uma árdua luta para vencer adversários mais conhecidos e "mais conservadores". É visto na Europa como um milionário que só tem os votos da gente "fundamentalista", "ignorante" e "rural", como se tal simplismo não fosse também sinal de ignorância.  Agora está a poucas horas de saber se vai ou não viver para a Casa Branca.
 
O meu desejo? Obama, pois claro, porque gosto do homem de que ouvi falar pela primeira vez na noite da reeleição de W. Bush, em que ele próprio conseguiu o lugar de senador, e porque sem necessidade de ser reeleito fico à espera de saber o que faz. Mas eu sou português. Sei lá em que é que votaria se vivesse no Kentucky...
 

PS: Yes, He could again. Hardly, but he could.

segunda-feira, novembro 05, 2012

Uma mentira pouco notada


 
Uma das polémicas periféricas e condenada a ser esquecida numa questão de dias é a das declarações do Embaixador de Israel, Ehud Gol, na Gulbenkian, esta semana. O diplomata israelita disse que "Portugal tem uma nódoa que os judeus não esquecem", mesmo que "hoje não seja o mesmo do passado". E em que consiste principalmente essa nódoa? Na história de que " Portugal foi o único país que colocou a sua bandeira a meia haste durante três dias", quando soube da morte de Adolf Hitler". E sublinho "história" porque de facto não corresponde à verdade. Sim, é certo que o governo português ordenou que se pusesse a bandeira a meia-haste quando se soube do morte/suicídio do Fuhrer, como aliás manda o protocolo em relação a todos os países com quem se mantém relações diplomáticas. Mas esteve longe de ser o único. Recordando o sempre oportuno Herdeiro de Aécio (que está de parabéns, por chegar ao sétimo aniversário), constata-se que as bandeiras a meia-haste não foram içadas apenas em território português: também a Espanha (neutral mas pró-eixo), a Irlanda, a Suécia e a Suíça o fizeram, e Éamon De Valera, o chefe de governo irlandês (Taioseach) e um dos fundadores da República da Irlanda, visitou mesmo a legação alemã e assinou o livro de condolências.
 
Talvez fosse conveniente ao representante hebraico não enveredar por mitos históricos antes de fazer quaisquer críticas ao país onde apresentou credenciais. Além de deselegante e petulante, não lhe fica nada bem dizer mentiras em público, mesmo que poucos o soubessem. Até porque falando em nódoas, não há nação que não as tenha, e Israel não escapa à regra.

sexta-feira, novembro 02, 2012

Dedicado aos dias antes de Novembro


Lisboa antes do Terramoto de 1755



Ver também aqui o projecto em 3D que nos permite saber como era a zona ribeirinha de Lisboa antes do cataclismo de 1 de Novembro de 1755. Foca-se sobretudo na área do antigo Paço da Ribeira, com a Igreja Patriarcal e a Ópera do Tejo, inaugurada poucos meses antes, no Terreiro do Paço e na Ribeira das Naus. Um excelente trabalho de divulgação e tecnologia do Centro de História de Arte e Investigação Científica da Universidade de Évora.

quinta-feira, novembro 01, 2012

Fim de uma era?


 
Muito se tem falado na crise da imprensa, em Portugal e no mundo, e o caso não é para menos. As últimas semanas não têm poupado os jornais tais como os conhecemos. Em Portugal tivemos as greves na Agência Lusa e no Público, uma por causa dos cortes salariais, a outra devido aos despedimentos anunciados de dezenas de funcionários e jornalistas, cuja escolha dependerá, dizem as más línguas, das boas relações que mantêm com a direcção do jornal. Fala-se mesmo na sobrevivência a curto prazo do Público, que desde 1990 só apresentou resultados positivos num ano, e que só existe graças às contribuições do proprietário/mecenas Belmiro de Azevedo.
 
Entretanto, Joaquim Oliveira resolveu vender a sua Controlinveste a um grupo angolano, de que ninguém sabe sequer o nome, a não ser provavelmente o próprio Oliveira. Recorde-se que no grupo empresarial português estão o Diário de Notícias, Jornal de Notícias, Jogo, o Jornal do Fundão e o Açoriano Oriental, o mais antigo título de imprensa publicado em Portugal. tudo isto pode ir parar às mãos de um grupo angolano sem rosto. O negócio ainda não se concretizou porque as garantias financeiras ainda não foram enviadas ("Não há graveto, não há negócio", terá dito Oliveira), mas a confirmar-se, depois do Sol, é praticamente metade da imprensa portuguesa que passará a ser negociada em kwanzas. E com que objectivos?
 
A juntar a isto, a pior notícia nem vem de Portugal. A histórica revista Newsweek, que em tempos cheguei a assinar, um dos grandes nomes da imprensa norte-americana, a rival de sempre da Time, anunciou que a partir de 2013 só vai existir em formato digital. Acabou a Newsweek nas bancas, na caixa de correio, nas bibliotecas. Agora, só por computador e sobretudo, só por assinatura.
é todo um mundo que acaba? Esperava que a invenção de Gutenberg perdurasse, mas receio que outros imitem o gesto da revista norte-americana. O Guardian esteve quase a fazê-lo, mas recuou.
 
 
Mas para além da questão da radical mudança de hábitos, de razões ecológicas inerentes, dos custos das edições em papel e dos despedimentos que tudo isto acarretará, sobram ainda outras questões. Pensará tudo que o conhecimento vai ficar arquivado na net, passe a expressão? Acabaram-se as bibliotecas em detrimento de um kindle ou de um i-qualquer coisa? O conhecimento ficará sempre robotizado? E será isso um prenúncio do novo "homem biónico", como alguns já profetizaram?
Ainda que tais mudanças não sejam tão radicais, e possamos viver com os modelos em papel e digitais lado a lado, como seria um mundo em que os jornais só existissem em formato digital? Imagine-se que faríamos uma pesquisa a um número de há muitos anos, para um estudo científico, uma investigação jornalística, ou por simples amadorismo ou passatempo. Haverá a possibilidade de chegarmos a números antigos, ou o perigo de que qualquer artigo melindroso possa ser apagado é real? No formato em papel, podemos sempre guardar o que nos interessa, via recorte ou outro. E com o formato digital, guardamos numa pen? Os meus conhecimentos técnicos destas questões não me permitem respondê-las, mas não me sinto muito seguro num Mundo em que os jornais percam a sua base palpável e passem a meros sites de informação.
 

sexta-feira, outubro 26, 2012

Eleições no Benfica e traços da guerra das audiências



Finalmente Luís Filipe Vieira tem como adversário um candidato com alguma credibilidade. Infelizmente, Rui Rangel pareceu-me demasiado verde para a contenda. anunciou a candidatura já tarde, não reuniu tantos apoios como se esperava e cometeu inúmeras gaffes. Seria bom que Vieira apanhasse no mínimo um susto e parasse com declarações demagógicas. Sim, o Benfica está nitidamente melhor do que há nove anos, mas também podia ter arrumado melhor o passivo e os empréstimos bancários e ganho o campeonato do ano passado. E cesarismos nunca deram grande resultado no clube da Luz. Ar fresco precisa-se, mas não estou a ver grandes meios de ser Rui Rangel a abrir as janelas. Além disso, quem conta na sua lista com Eusébio, Rui Costa, Nuno Gomes, Fernando Martins, etc, é praticamente imbatível.
 
Mas há um pormenor irónico e que nos remete para as antigas batalhas de audiências entre os canais televisivos. José Eduardo Moniz é um fortíssimo trunfo de Vieira, e não há dúvida de que, se tiver poder para isso, poderá ser uma enorme mais valia no Benfica. Rui Rangel é irmão de Emídio Rangel, o antigo homem forte da SIC, que levou a estação de Carnaxide aos píncaros e que teve batalhas titânicas com Moniz, ultrapassando-o largamente quando este era director de programas da RTP, e deixando-se passar novamente quando o agora candidato do Benfica transitou para a TVI, graças ao infame Big Brother. Fosse outro Rangel o adversário de Vieira nestas eleições, e teríamos a reedição de uma grande rivalidade e de um combate longo, com pormenores de destruição maciça, qual Primeira Grande Guerra. Felizmente os tempos de Vale e Azevedo já lá vão. Mas avizinham.se novas guerras com a Olivedesportos e quem a possui.
 
 

A queda de um mito vivo



Causa-me enorme impressão o "banimento" de Lance Armstrong do ciclismo, o seu nome riscado, os títulos anulados de um ápice. Bem sei que o doping é a degenerescência do desporto, mas se passaram tantos anos até descobrirem que a equipa de Armstrong usava substâncias proibidas, não será possível que os seus adversários não tenham feito o mesmo? No fundo, acabaria por ser uma competição entre os melhores dos dopados, acarretando com uma certa justiça. Depois, o desporto precisa de heróis, de símbolos, de figuras. O americano era A figura do ciclismo, tendo ultrapassado os antigos ídolos franceses do Tour, o espanhol Indurain e o belga Eddy Merckx. A história da superação do cancro ajudava ainda mais à sua aura de herói que, "mais do que prometia a força humana", ultrapassou todos os obstáculos e pulverizou recordes. Com as decisões dos organismos internacionais que tutelam a modalidade de lhe retirar todos os títulos e bani-lo para sempre do selim, qual República de Veneza ao Doge Faliero, acabou-se com um mito e varreu-se a história recente do ciclismo. Pode muito bem ser o início de uma longa agonia. Irá a história reabilitar o texano, o seu mito e o próprio Tour, ou deixá-lo-à como exemplo dos que subiram demasiado alto e caíram em desgraça?
 
 

terça-feira, outubro 23, 2012

A emigração como uma novela tragiridícula



Já tinha decidido que não ia escrever nada sobre o assunto, mas ao ouvir hoje de manhã a Antena 1 colocar no seu "fórum do ouvinte" o assunto da "emigração dos jovens quadros" por causa da "carta de um jovem enfermeiro que emocionou o país", mudei furiosamente de ideias.
 
Não sei que país é esse que ficou emocionado, para além dos editores da rádio, mas eu não me conto nessa mirífica terra. A princípio, achei tudo isso um pouco cabotino. Mas ao encontrar mais e mais notícias sobre o assunto, comecei a fartar-me, e sobretudo encontrei dos aspectos detestáveis no Portugal dos estranhos dias de hoje.
 
Antes de mais, os factos: um jovem enfermeiro de 22 anos, não tendo encontrado colocação em Portugal, partiu para o Reino Unido, mais precisamente Northampton, com mais 24 portugueses, onde vai ganhar 2000 euros mensais, com condições de progressão na carreira. Antes da partida, largamente coberta pelas TVs (previamente avisadas, com certeza), enviou uma carta de despedida a Cavaco Silva, dizendo-se "expulso do seu próprio país", pedindo-lhe para "odiar este país" e "chorar, por não poder sentir o cheiro da comida (...)e dos campos da aldeia", e por fim suplicando " para que não crie um imposto sobre as lágrimas e a saudade".
 
Para além do estilo lamechas com laivos de provincianismo (é portuense e fala "da sua aldeia"?) e da inutilidade do pedido, como se o PR tivesse quaisquer competências em matéria fiscal, revolta-me a imensa acomodação de alguns pós-universitários, que acham que a profissão lhes deve cair aos pés mal transponham a soleira da faculdade. Sim, isso acontece nalguns casos, sobretudo com os melhores alunos dos respectivos cursos, mas é cada vez menos regra. O que se passa aqui é o costumeira ideia de que por se tirar um curso superior, surge por artes mágicas um direito a ganhar-se de imediato um emprego, de preferência dado pelo Estado, ainda que não seja necessário. Caso contrário, "estão a ser expulsos do país". Note-se que o autor da missiva tem 22 anos, não andou provavelmente meses ou anos à procura de emprego e a aturar ofícios precários. Com essa idade já tem contrato de trabalho e um ordenado que a esmagadora maioria das pessoas com a sua idade não tem (com o desconto de o custo de vida nas ilhas britânicas ser maior). Talvez preferisse permanecer em Portugal. É compreensível e está no seu absoluto direito,e partir muitas vezes é duro. Mas fazer um drama porque vai para o Reino Unido com contrato de trabalho, na era do skype, das redes sociais e das viagens low-cost, que levam um pessoa do Porto a Londres por poucos euros?
 
O outro aspecto absolutamente deplorável é a cobertura maciça da comunicação social a esta não notícia, sobre "a carta que emociona o país". Isto vindo de orgãos ligados ao estado e aos principais jornais, não aos Correios da Manhã desta vida. Não é jornalismo, é cronicazinha de costumes com pretensas historietas de faca e alguidar (que nem são). Nem emocionou "o país" nem espelha o menor drama,  talvez apenas o exemplo da actual emigração inter União Europeia. E só. Está ao nível das revistas de novelas que querem é criar a lagrimazinha fácil e vender o mais possível. Bem sei que a imprensa atravessa maus momentos, mas tudo tem critérios.
 
O caso e o seu acompanhamento ainda é mais revoltante num país que tanto viveu da emigração, que viu dezenas de milhares de portugueses partirem nos anos sessenta das suas aldeias para ir viver nos bidonvilles de Paris, em Genebra, em Estugarda, no Luxemburgo, sem saber o que os esperaria, que trabalharam nas obras e conseguiram subir na vida e dar aos filhos aquilo que nunca tinham recebido. Para não falar dos milhares e milhares que há cem anos cruzavam o Atlântico rumo a um desconhecido chamado Brasil ou América, de onde poucos voltaram, e dos quais quase nenhum reviu a família, não só de Portugal, mas de Espanha, de Itália, da Irlanda...Eu próprio tive um bisavô que partiu, e que teve a sorte de voltar. Tive em tempos a oportunidade de visitar o museu da emigração de Ellis Island, em Nova York, porta de entrada de milhões de emigrantes de todos os pontos do globo na América. No meio da vastidão de memórias e de objectos, encontrei também traços dos portugueses que ali chegaram. Pessoas do continente, da Madeira, e sobretudo dos Açores, a maioria com a roupa do corpo e uma pequena trouxa, e por vezes uma imagem religiosa da sua devoção, como o Senhor Santo Cristo, que lhes daria forças para enfrentar a nova terra e a vida futura. E emocionei-me com essas imagens de tantos anónimos lusos acabados de chegar ao Novo Mundo, vindos do mar, sem saber o que os esperaria.
 
Qualquer comparação destas pessoas, que nunca enviaram carta alguma ao soberano,  até porque nem deviam saber ler, e que partiram rumo ao desconhecido, e este enfermeiro que em duas horas chegou ao seu destino e que poderá comunicar todos os dias por telemóvel com ligeiro acréscimo no roaming, é pura imaginação de uma época em que a tecnologia superou tudo o se havia imaginado e em que se acha que "em pleno século XXI" a Humanidade caminharia para o pleno emprego, direitos satisfeitos ao minuto e em que as crises seriam uma recordação. Não são. Felizmente ainda há alternativas razoáveis, em países próximos e civilizados. Haver quem considere isso uma tragédia e chame a comunicação social para atirar a culpa para "os políticos" é um sinal de que parte deste país pensa que nada mudou ou que nasceu nos anos noventa e que continua a expor-se ao ridículo. Ainda bem que os portugueses que embarcavam nas naus da Índia em busca de um futuro melhor não se lembraram de carpir mágoas ao Rei pelos pregoeiros oficiais.
 
                                   
                                Ford Madox Brown, A última vista de Inglaterra
 
 
 

sábado, outubro 20, 2012

Manuel António Pina, 1943 - 2012



Manuel António Pina deixou-nos ontem. Os seus problemas de saúde eram conhecidos, mas estava longe de saber que eram tão graves. O poeta, escritor cronista, contador de histórias infantis que gostava de gatos e mantinha sempre a bonomia ganhou no ano passado o Prémio Camões, o mais importante galardão literário lusófono, com largo consenso. Ainda bem que não o adiaram, como acontece tantas vezes. Fizeram justiça a um homem talentoso e afável, beirão que há muitas décadas vivia no Porto, que vai fazer muita falta ao não só à cidade mas ao país, à cultura e à imprensa, que por estes dias tem andado tão por baixo. Assim fica imortalizado, e ao contrário do que profetizava, daqui a cem e mais anos continuará a ser lembrado. Esperemos.
 
 

Os Açores não são o melhor barómetro



Os resultados das eleições nos Açores fizeram-me crer que se deviam à conjuntura nacional e à impopularidade de que o governo goza. Dias depois, já não estou tão certo disso.
 
De facto, o PS venceu com nova maioria absoluta, ultrapassando o obstáculo da saída de Carlos César, substituindo-o com êxito por Vasco Cordeiro, o que significa que se manterá no poder regional por mais uns mandatos. Depois de uma semana desastrosa para os socialistas, que começou com as divergências entre Seguro e o grupo parlamentar sobre a diminuição de deputados, passou pela entrevista do inenarrável Paulo Campos e com a polémica da renovação da frota automóvel, o partido da rosa ganhou uma novo fôlego. Berta Cabral, a popular autarca de Ponta Delgada, há muito figura grada do PSD e grande esperança de reconquista dos Açores, não conseguiu mais do que elevar ligeiramente a percentagem de votos do seu partido. O CDS, que esperava tornar-se o fiel da balança, apanhou por tabela, perdendo dois mandatos. O PPM de Paulo Estêvão manteve o seu, graças aos votos corvinos. o BE perdeu um e a CDU manteve também o seu.
 
Na actual contestação ao governo de Passos Coelho, parece improvável que o PS, mesmo crescendo, pudesse ganhar uma enorme maioria. Afinal de contas, também é responsável, e de que maneira, pelo que estamos a passar, e Sócrates não está em Paris assim há tanto tempo. Outra improbabilidade seria a de o PSD se aguentar com idêntica votação. E se uma diminuição de votos no CDS parece plausível, já as magras percentagens obtidas pelos partidos mais à esquerda dão a ideia de que não estão a capitalizar o descontentamento e não traduzem o que as sondagens nacionais lhes dão.
Assim, parece-me que mesmo que possa haver algum descontentamento à mistura, as eleições são mais uma expressão da realidade regional, e de uma certa concordância com o governo de Carlos César e a inutilidade de mudar, mesmo com uma candidata credível, e não tanto de reprovação do actual governo. Que poderá talvez ser corporizada, assim como algum enfado com o sistema partidário, pela elevadíssima taxa de abstenção.
 
Mas se o PS conseguiu aqui um suplemento vitamínico de que tanto precisava, o mesmo não significa que nas autárquicas do próximo ano isso venha a suceder. Ninguém sabe qual será a situação, embora não haja razões para optimismos, e há variadíssimas causas localizadas para que as câmaras mudem ou não de mãos. Para além do "voto de protesto",  a limitação de mandatos que desalojará muitos dinossauros terá efeitos interessantes. a antecipar isso, Menezes, ávido de se sentar na Câmara do Porto, já pré-lançou a sua candidatura, provocando muitas divisões no PSD, e com tanta inabilidade política que convidou Miguel Relvas para a apadrinhar. com menos escaramuça. o PS lançou Manuel Pizarro como seu candidato. Resta ver o que faz o CDS, a esquerda mais radical (depois dos desaires sucessivos do BE e de Rui Sá, da CDU, se retirar da vereação) e os PSD anti-Menezes, naquela que promete ser uma das disputas eleitorais mais interessantes por que o Porto já passou.
 
Entretanto, o governo vai-se aguentando, depois do anúncio de aprovação do orçamento pelo CDS-PP, um "sim, apesar de tudo..." resignado. Vamos ver por quanto tempo mais. Porque depois da votação na generalidade, e da ameaça com chantagem à mistura de Passos Coelho e do desdém de Vítor Gaspar pelo trabalho de casa de corte na despesa dos restantes ministros, que provocou previsível tensão no executivo, Paulo Portas não se vai deixar ficar, apesar de todo o "sentido de estado".
 
 

quinta-feira, outubro 18, 2012

Sim, os blogues em Portugal já têm dez anos


No Complexidade e Contradição recorda-se outro aniversário (como remissão para este texto de Tiago Cavaco): o dos dez anos da Coluna Infame, o primeiro grande blogue português, o espaço virtual que deu o tiro de partida para a blogoesfera em Portugal. Confesso que não era leitor assíduo da Coluna, e só tive conhecimento precisamente quando acabou, numa implosão que deu brado. Mas depois disso li-o todo, de fio a pavio. O blogue de Pedro Mexia, João Pereira Coutinho e Pedro Lomba abalou o salão opinativo em Portugal, até aí confinado aos jornais e demais comunicação social, revelou que cada pessoa com internet à mão podia lançar o seu próprio diário, ou jornal, ou simples espaço de opinião, e pô-lo à vista de toda a gente. Inspirou rivais, como o Blog de Esquerda, e a partir daí os blogues surgiram como coelhos. É por isso que estas linhas que estão a ler só existem graças à Coluna Infame. Como devedor da sua própria existência, era imperioso que os dez anos do seu aparecimento fossem devidamente lembrados. A memória e a gratidão são valores que este espaço ainda não dispensa.

terça-feira, outubro 16, 2012

Os noventa anos de Agustina


Já estamos a 16. Mas associo-me a vários blogues que não deixaram passar em branco o 15 de Outubro, dia em que Agustina Bessa-Luís completou 90 anos. Mesmo com a saúde bastante debilitada, a senhora de Amarante (hoje talvez mais do Porto, ali tão perto dos Caminhos do Romântico) é um dos grandes vultos da nossa literatura que ainda nos restam. As homenagens foram discretas, mas dignas, e contaram com o lançamento de alguns textos inéditos e de um círculo literário debruçado na sua obra. Será que os "agentes culturais" que tanto se manifestaram no sábado contra a "morte da cultura" se lembraram da data?

segunda-feira, outubro 15, 2012

A esquizofrenia cultural


 
Os fins de semana foram transformados em jornadas contínuas de protestos contra a política de apertar o cinto do governo. Manifestações convocadas por vastos sectores da sociedade, como as de 15 de Setembro, pela CGTP e variados sindicatos, pela polícia, pelos enfermeiros, etc. Neste último  tivemos a manifestação de protesto dos "artistas" e da "gente da cultura", ou mais precisamente, pessoas ligadas ao teatro e à música, sob o lema, emprestado de outras caminhadas, "Que se lixe a Troika".
 
 
É natural que num período tão incerto e duro se queira proporcionar a quem passa, num Sábado solarengo, uma ampla oferta musical ao ar livre e de borla, ainda que a lisboeta Praça de Espanha se preste pouco a que se pare lá (a nossa D. João I sempre é mais aconchegada). Menos natural, ou mais disparatado, se quiserem, é virem os ditos "agentes culturais" querer que "a Troika se lixe". Ainda não percebi se estas pessoas organizaram aquilo por lirismo de classe ou se vivem no planeta Marte. Sim, mandam-se os componentes da "Troika" embora, dizendo-lhes que "queremos as nossas vidas". Resta saber como vivê-las quando o Estado se vir sem dinheiro para pagar seja a quem for passados poucos meses e com os bancos a fechar-lhe a porta na cara. Da música de intervenção? Da cantiga que "é uma arma"? Do ar ou do vento que passa?

O mais espantoso é que ao mesmo tempo que querem que a "Troika" se vá e que gritam "FMI fora daqui" (logo a instituição mais aberta a um alívio das condições dos acordos), como se isso não tivesse as nefastas consequências atrás resumidas, protestam acima de tudo contra os cortes do Estado na cultura. Se já há dificuldade em cumprir tudo o resto, em pagar a nossa imensa dívida, em honrar os compromissos, em continuar sequer obras paradas, como o túnel do Marão, e se para mais protestam contra a subida dos impostos, como querem que o Estado subsidie a cultura, ou não faça cortes? Que esquizofrenia é essa de quererem expulsar quem nos financia e ao mesmo tempo exigirem o retorno aos subsídios? Que alternativas propõem? A ideia que passam, com slogans mais ou menos pueris como "não nos deixam sonhar" ou "querem matar a cultura", é a de que sem subsídios, ou seja, sem lhes pagarem, não há "cultura". Será que os tais sonhos estão a ser esboroados ou é mais uma fonte de rendimentos que seca?

Não que o Estado não possa ou não deva subsidiar as várias expressões de Arte, como aliás aconteceu ao longo dos séculos. Os Estados Pontifícios foram dos maiores fomentadores das obras do Renascimento, e não podem ser acusados de ser propriamente "socialistas", como diriam os nossos liberais mais dogmáticos. Nem tampouco o nosso D. João V, Frederico II ou os Filipes, nas suas encomendas a Velasquez. O risco é de o Estado e demais poderes públicos se tornarem nas únicas ou maioritárias fontes de financiamento dos artistas, que se tornam assim agentes políticos, ao serviço de uma dada ideologia ou interesse estatal, cerceando a sua criatividade e independência. É isso que se passa nos estados totalitários e autoritários, onde grandes artistas se puseram ao serviço do respectivo poder, como Eisenstein, na URSS de Estaline, Leni Riefenstahl na Alemanha Nazi, Pirandello na Itália fascista, Dali na Espanha franquista, e o grande Almada Negreiros, que tantos trabalhos criou para o Estado Novo. A lista é infinda.
 
Aparentemente, a nossa "gente das artes" não se lembra disso. Ontem, ouvi Camané falar "no medo que havia há um ou dois anos", e que agora parece que está a ser posto de parte pelas pessoas em manifestações como aquela. A ideia, encapotada, de que vivemos num  sucedâneo do Estado Novo é tão ridícula que merecia uma imensa pateada ao fadista. E enquanto observava os conjuntos musicais, aliás talentosos, a sucederem-se no palco, com intervalos em que uma criatura grotesca aparecia a fazer momices (haveria subsídios estatais para isso?), pensava na estranha esquizofrenia daquela gente toda, que quer mais apoios do Estado e ao mesmo tempo quer mandar embora quem o subsidia. Sim, em tempos de vacas gordas até se justificam. Mas estamos numa época de vacas magrérrimas, em que outros sectores são prioritários. Os criadores culturais terão de viver dos seus Mecenas e do público, trabalhando com criatividade, talento paciência e suor. A crise quando chega é para todos, e não é por se empunhar uma guitarra ou se criarem umas abstracções elogiadas por críticos amigos que se ganha o direito a ficar imune.