sábado, outubro 20, 2012

Os Açores não são o melhor barómetro



Os resultados das eleições nos Açores fizeram-me crer que se deviam à conjuntura nacional e à impopularidade de que o governo goza. Dias depois, já não estou tão certo disso.
 
De facto, o PS venceu com nova maioria absoluta, ultrapassando o obstáculo da saída de Carlos César, substituindo-o com êxito por Vasco Cordeiro, o que significa que se manterá no poder regional por mais uns mandatos. Depois de uma semana desastrosa para os socialistas, que começou com as divergências entre Seguro e o grupo parlamentar sobre a diminuição de deputados, passou pela entrevista do inenarrável Paulo Campos e com a polémica da renovação da frota automóvel, o partido da rosa ganhou uma novo fôlego. Berta Cabral, a popular autarca de Ponta Delgada, há muito figura grada do PSD e grande esperança de reconquista dos Açores, não conseguiu mais do que elevar ligeiramente a percentagem de votos do seu partido. O CDS, que esperava tornar-se o fiel da balança, apanhou por tabela, perdendo dois mandatos. O PPM de Paulo Estêvão manteve o seu, graças aos votos corvinos. o BE perdeu um e a CDU manteve também o seu.
 
Na actual contestação ao governo de Passos Coelho, parece improvável que o PS, mesmo crescendo, pudesse ganhar uma enorme maioria. Afinal de contas, também é responsável, e de que maneira, pelo que estamos a passar, e Sócrates não está em Paris assim há tanto tempo. Outra improbabilidade seria a de o PSD se aguentar com idêntica votação. E se uma diminuição de votos no CDS parece plausível, já as magras percentagens obtidas pelos partidos mais à esquerda dão a ideia de que não estão a capitalizar o descontentamento e não traduzem o que as sondagens nacionais lhes dão.
Assim, parece-me que mesmo que possa haver algum descontentamento à mistura, as eleições são mais uma expressão da realidade regional, e de uma certa concordância com o governo de Carlos César e a inutilidade de mudar, mesmo com uma candidata credível, e não tanto de reprovação do actual governo. Que poderá talvez ser corporizada, assim como algum enfado com o sistema partidário, pela elevadíssima taxa de abstenção.
 
Mas se o PS conseguiu aqui um suplemento vitamínico de que tanto precisava, o mesmo não significa que nas autárquicas do próximo ano isso venha a suceder. Ninguém sabe qual será a situação, embora não haja razões para optimismos, e há variadíssimas causas localizadas para que as câmaras mudem ou não de mãos. Para além do "voto de protesto",  a limitação de mandatos que desalojará muitos dinossauros terá efeitos interessantes. a antecipar isso, Menezes, ávido de se sentar na Câmara do Porto, já pré-lançou a sua candidatura, provocando muitas divisões no PSD, e com tanta inabilidade política que convidou Miguel Relvas para a apadrinhar. com menos escaramuça. o PS lançou Manuel Pizarro como seu candidato. Resta ver o que faz o CDS, a esquerda mais radical (depois dos desaires sucessivos do BE e de Rui Sá, da CDU, se retirar da vereação) e os PSD anti-Menezes, naquela que promete ser uma das disputas eleitorais mais interessantes por que o Porto já passou.
 
Entretanto, o governo vai-se aguentando, depois do anúncio de aprovação do orçamento pelo CDS-PP, um "sim, apesar de tudo..." resignado. Vamos ver por quanto tempo mais. Porque depois da votação na generalidade, e da ameaça com chantagem à mistura de Passos Coelho e do desdém de Vítor Gaspar pelo trabalho de casa de corte na despesa dos restantes ministros, que provocou previsível tensão no executivo, Paulo Portas não se vai deixar ficar, apesar de todo o "sentido de estado".
 
 

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