O Natal já passou, mas nunca me importo de dissertar sobre as prendas mais previsíveis, e que por isso mesmo não surpreenderam ninguém pela sua atribuição. Falo não só dos clássicos e eternos pares de meias, de lenços e chocolates, mas sim de uma categoria discográfica muito vilipendiada pela crítica, mas extremamente apreciada pelo público (com este vosso escriba incluído, claro): os best-of, greatest hits, collections, enfim, as colectâneas musicais.
Alguns houve que já eram esperados mais dia menos dia: o de Robbie Williams, por exemplo, um aguardado sucesso de vendas. Também na teen-pop, Britney Spears não esperou por anos mais "maduros" e vá de lançar a sua primeira compilação, de capa a condizer, com minissaia e look presumivelmente sexy. Mas como não prestei grande atenção a este capítulo, deixo a contagem dos demais best-teen aos entendidos.
Durante o ano surgiram algumas colectâneas de grupos interessantes que passaram despercebidas. A dos Tinderstiks, por exemplo, um grupo tão apreciado em Portugal e que colocou as suas melhores canções num álbum que ostentava na capa, pela centésima vez, um burro. Todavia, como o simpático animal já é presença constante entre a banda de Stuart Staples, é justo que figure no respectivo best of. A aproveitar a boleia do Super-Bock-SuperRock (onde desgraçadamente não estive, como lhes dei conta na altura), os Pixies lançaram também a sua mostrazinha de melhores temas, dando-lhe o nome de um dos deles: Wave of Mutilation. Seria presença confirmada na minha discografia não fosse dar-se o caso de já lá constar o mais velhinho Death to the Pixies, que além do mais traz um cd-bónus de um concerto ao vivo na Holanda, em 1990. A registar ainda outros best-of saídos ou no fim do ano passado ou no princípio deste, como o dos Stone Temple Pilots, ou dos Spain.
Já mais cá para o fim de 2004, ou seja, na altura do costume, próximo do Natal, outras bandas semi-esquecidas revelaram o seu melhor. Caso dos The Verve, que para quem não se lembra andaram meses nos tops e nas rádios com o sublime Urban Hymns (um disco que me raz óptimas recordações), e dos Supergrass, uns ingleses não muito mediáticos mas que conseguem ser histriónicos - e divertidos- q. b.
Quem também não resistiu a editar a colecção foram os profetas do moderno glam-rock, os Placebo. O trio de Brian Molko só leva quatro originais na bagagem, fora um excelente DVD ao vivo, e estava em ampla ascensão para se tornar uma das maiores bandas do Mundo. Esta edição é como que uma interrupção do seu trabalho, mas nunca se sabe se os andróginos rapazes se fartaram uns dos outros, ou se pretendem dar novo rumo à banda. Ou se simplesmente a editora quis ganhar uns trocos a mais no Natal com a edição do CD, o que também não me espantaria. Apesar de tudo, o álbum, que até é duplo, aconselha-se a quem esteja em branco na discografia dos Placebo. Não esquecer They don´t care about us e Slave to the Wage, a minha favorita.
Registo semelhante tiveram os Guano Apes, banda alemã de nu-metal, com uma legião de fãs aqui na Pátria, sem dúvida devido à potência sónica da sua vocalista (coisa que já pude constatar de perto), e que depois de três lançamentos lançaram também o greatest da praxe. Provavelmente a rapariga resolveu enveredar por algo a solo, daí a edição do CD. Mas continuo a achar estranho como é que artistas ainda com repertório tão curto, de que estes Apes são bem o exemplo, possam já falar dos seus Greatest Hits. É que uma banda assim ainda não devia ter chegado a essa idade, deveria falar apenas dos seus Hits, sem espaço para que houvesse Greatest. E o mesmo se aplica aos extintos rock-evangélicos Creed, também eles alvo da homenagem best-of.
Quem amplamente merece essa distinção são os Pearl Jam. A banda de Seattle pode não ser a obra mais genial do rock, mas merece o respeito não só de ser a última resistente do Grunge mas também de se estar a marimbar para as campanhas promocionais e preços dos discos, além de que a voz d Eddie Veder é algo de incomparável. Com Kilos de puro rock, original ou ao vivo, mais melódico ou mais ruidoso, mas sem nunca envergonhar, o seu duplo Rearview Mirror é um testemunho de uma sólida e bem sucedida carreira, a merecer mais do que uma nota de rodapé na história da múscia contemporânea.
Ao que parece, também o diabólico Marilyn Manson e os raivosos Korn editaram as respectivas colectâneas. Não serão propriamente as hipóteses mais católicas para pôr no sapatinho, mas há gostos para tudo. Mais calmas e relaxantes são as propostas de Seal e de outra banda de culto em Portugal, os Lamb, também em estado de desagregação.
O post já vai adiantado, bem como a hora, e à memória já não me chegam mais lançamentos do tipo. Se alguém se lembrar de alguma colectânea portuguesa ( sem ser o disco ao vivo dos Silence 4) deste ano que avise. Até amanhã.
PS: lembrei-me de mais dois greatest-lançamentos deste ano: o dos melancólicos Travis e o dos pseudo-alternativos 10.000 Maniacs. A merecer também a sua pequena audição.