quinta-feira, julho 31, 2014

O decano dos festivais voltou (e as respectivas vaquinhas também)


Vilar de de Mouros, o mítico festival nas margens do Coura, está de volta, depois de alguns anos de interrupção. Um cartaz morno, com grupos por demais conhecidos e até repetentes (por exemplo, os Stranglers, que actuaram no auge da popularidade em 1982, ao lado dos U2, estão de regresso), mas é sempre bom ver regressar eventos míticos como este. Para quem não se lembrar, é o mais antigo festival do género em Portugal, nascido em 1972 como o "Woodstock português", com Elton John e a banda da GNR a tocar lado a lado. Actualmente o país regurgita festivais pop-rock, em todos os distritos e com todos os patrocínios (é a crise, dizem), mas no tempo de Marcelo Caetano era uma autêntica bomba que caía na aldeiazinha do Alto Minho, entre azenhas e campos de milho. Voltou em 1982 e em 1996, para se tornar anual, até definhar e parar há uns anos. Também por lá passei na edição de 1996, que encerrou com os Madredeus, e em 2004, ano em que um prodigioso cartaz trouxe ao Minho Bob Dylan, The Cure, Peter Gabriel e P.J. Harvey. Depois, Paredes de Coura ganhou a dianteira no campeonato de festivais de rock nas margens do rio Coura.

Mas há coisas que nunca acabam, felizmente, e Vilar de Mouros parece ser uma delas. Outra é o símbolo do festival, a famosa vaca malhada. Hoje descobri a razão: um casal da terra, já com certa idade, que há décadas leva as vacas a pastar todos os dias, com ou sem festival, e que para isso tem de atravessar a ponte românica sobre o Coura. A imagem dos ruminantes a cruzar a ponte atraiu a atenção de inúmeros fotógrafos, que desde 1996 fizeram delas o ex-líbris do evento (com anuência do casal, que ainda hoje na TV dizia sentir certo orgulho). Há inúmeras variações das vacas, de várias formas e feitios, e a sua evolução pode ser vista no After Eight, talvez o mais antigo (e seguramente o mais sossegado) bar da Rua Direita de Caminha, decorado com cartazes de todas as edições do festival sobre paredes brancas. Mas nenhum chegou à engraçadíssima rês deste ano: uma vaca rocker, com cabedal, piercings e tudo. Vilar de Mouros forever!


terça-feira, julho 29, 2014

Dinastias que passam



À volta da derrocada do império Espírito Santo e do seu grupo fala-se também no que acontecerá à própria família, numerosa e com importantes ligações ao grupo. É certo que nem todos os elementos precisam dos rendimentos que provinham do grupo económico, e fizeram a sua vida com meios próprios e autónomos. Mas é curioso pensar como o nome da família, que transmitia logo uma aura de poder e propriedade, e, como muitos ousam recordar, abria as portas a qualquer negócio fosse em Portugal ou fora, corre o risco de a perder de um ano para o outro. Nada que espante: já tivemos os Quintela, com o magnânimo conde de Farrobo a marcar o seu apogeu, os Burnay, os Mello, os Champalimaud. Nomes que com o passar do tempo e a mudança da propriedade e do poder de direcção das figuras carismáticas que iniciaram os seus grupos económicos e dinastias correspondentes, foram passando e deixaram de ser sinónimo de domínio da economia nacional. Da mesma forma, a prestigiada família Espírito Santo vai em pouco tempo tornar-se um apelido como qualquer outro (até porque há outras famílias Espírito Santo sem qualquer ligação com a do BES). Até ser substituída por outro clã. Ou talvez não, que a globalização e o mercado livre já não permitem tão facilmente a ascensão de grandes grupos familiares.

sábado, julho 26, 2014

Imagens relativas a posts do passado


Olha o ex-futuro estádio do Chelsea, que infelizmente não vai ser.


O antigo estádio do Arsenal. E o actual. Parece que mudaram do antigo Bessa encurralado a meio de um bairro de casas térreas para uma espécie de Luz envidraçada (do qual aliás os portistas não têm a melhor das recordações).


quarta-feira, julho 23, 2014

Ainda mais tragédias, no já suspeito Médio Oriente



E mais tragédias observamos em Gaza. A trama é a do costume: elementos do Hamas (neste caso há dúvidas, já que os primeiros factos aconteceram na Cisjordânia) assassinam israelitas, Israel retalia com bombardeamentos aéreos, são lançados rockets de Gaza contra território israelita, o Tsahal entra em Gaza para liquidar elementos do Hamas e suas infraestruturas bélicas e acaba a matar centenas de civis...Como se nada mudasse, e fosse um filme repetido vezes sem conta. Culpados há muitos, claro, dos dirigentes do Hamas para quem Israel não tem qualquer direito a existir aos falcões asquenazis, que parecem considerar os palestinianos como sub-humanos (um pouco como os seus avós eram considerados pelo 3º Reich), passando pelo cinismo de colonos que se instalam em cadeiras a observar os bombardeamentos a Gaza, como se cinema ao ar livre se tratasse. Mas vítimas, infelizmente, há muitas mais.

E ainda no Médio Oriente, o novo califado entre a Síria e o Iraque consolida-se, perante a fragilidade e inoperância das forças regulares iraquianas e a teimosia do chefe de governo Maliki, que quer a todo o custo conservar o poder sem o dividir. Restam as milícias xiitas e as forças curdas, que, avisadas, protegem um território independente de facto, que isolado de toda aquela guerra permanente, progride e não pretende ficar de novo sob a alçada de Bagdad. Ao fim de tantos massacres e combates, os curdos vêem finalmente o seu estado a ser erguido com êxito. Já os cristãos que vivem naquele território, pré-muçulmanos, que já foram a maioria, são forçados a abandonar as cidades incluídas no califado, sob pena de serem massacrados se não se converterem. Eis um drama que não comove os furiosos humanistas que tanto bradam pelas vítimas palestinianas e alertam para a terrível islamofobia na Europa (esquecendo-se da autêntica na Índia e na Birmânia).



PS: indispensável deixar aqui a fabuloso e eloquente (em todos os termos) video This Land is Mine, que nos últimos dias tem rodado na net com particular (e justificada) existência.

sexta-feira, julho 18, 2014

O essencial depois de uma tragédia



Desconfio que depois da tragédia do avião da Malasyan Airlines, ontem, nos céus do complicado território entre a Ucrânia e a Rússia, apenas quatro meses depois do misteriosíssimo desaparecimento de um avião daquela companhia, poucos se atreverão a subir para um avião da mesma, embora as culpas não lhe devam ser imputadas. E o ambiente naquelas paragens promete ficar ainda mais quente. Tudo indica tratar-se de mísseis anti-aéreos disparados pelos rebeldes pró-russos, confundindo-o com um avião militar ucraniano, o que só tende a agravar a coisa. De qualquer forma, e sabendo-se que as responsabilidades terão de ser apuradas (e mandar a caixa negra do aparelho para Moscovo não abona muito a favor de quem o faz), urge antes de mais prestar auxílio às vítimas colaterais - as famílias - e interditar aquele espaço aéreo. Ou como dizia o outro, enterrar os mortos e cuidar dos vivos. No meio disto tudo, histórias trágicas, como a daquele australiano, que depois de perder o irmão no voo desaparecido em Março, perdeu agora uma enteada. Há vidas que não são nada invejáveis.

quinta-feira, julho 17, 2014

Little Joy

Little Joy é o projecto musical que resultou do encontro entre Rodrigo Amarante, guitarrista dos brasileiros Los Hermanos, e Fabrizio Moretti, baterista brasileiro dos americanos The Strokes, ao que consta em Lisboa, no festival Soundz (que se perdeu, com outros, na imensidão da oferta), em 2006. Reencontraram-se nos Estados Unidos, quando os Hermanos decidiram hibernar, e lançaram o projecto, juntando-se-lhes a namorada de Moretti, a multi-instrumentista Binky Shapiro. Desta colaboração em trio resultou o álbum Little Joy, editado pela mítica Rough Trade, de uma pop alternativa suave com laivos de tropicalismo. Um bom encontro entre o Rio de Janeiro dos Hermanos e a Nova York dos Strokes, com uma música que emana sentimentos de "pequena felicidade" que faze jus ao nome do trio. Uma pequena homenagem ao Brasil, agora que a festa acabou.

terça-feira, julho 15, 2014

Acabou o Mundial


Acabou o Mundial e já estou com saudades das noites de bola, das surpresas, dos hinos nacionais e até da música do genérico antes de cada jogo. Não torci pela Alemanha, mas o título acaba por ficar bem entregue à equipa mais consistente, que mais trabalhou e se preparou para esta competição, e que há já uns anos, entre finais e meias, ameaçava mais competição menos competição erguer novo troféu. Aconteceu este ano, às custas de um Brasil menor e impreparado. A Alemanha já pode dizer que ganha mundiais sem ser a RFA, e os anos acabados em 4 revelam-se afortunados para a Mannschaft: conquistaram o título mundial em 1954 (contra a enorme Hungria), em 1974 (frente à Laranja Mecânica de Cruyft) e só falharam 1994, graças a uma extraordinária Bulgária, mas entretanto já tinham ganho em 1990. E pensar que tudo isto começou com uma bisonha derrota de uma velha equipa perante suplentes portugueses...Os 4-0 do primeiro jogo foram uma boa desforra, mas pelo menos Portugal pode dizer que só perdeu com a equipa campeã.

Nunca pensei que a Argentina chegasse à final. Teve alguma felicidade na maneira como o conseguiu, com pouco brilho e muita retranca. Conseguiu-o à custa de uma Holanda com medo de arriscar, ganhou nos penaltys e reeditou as finais de 1986 e 1990, quando as equipas das Pampas e dos tedescos dominaram os Mundiais de futebol. A verdade é que jogaram de igual para igual, com um rigor defensivo (mas porque é que o Benfica não esperou mais tempo para vender Garay?) e uma pressão notáveis, tiveram (escassas) ocasiões para marcar e só sucumbiram ao esgotamento físico, frente a uma Alemanha menos desgastada e a um fantástico golo do descansado Gotze. Tive pena por Enzo Perez e Garay - seria fantástico ter dois jogadores do Benfica, ou quase, campeões mundiais e titulares - e até pelo inconsolável Rojo. Mas a Argentina recuperou algum do estatuto de grande selecção que andava em baixo nos últimos anos. Prémio de consolação, e estranho mesmo, seria a nomeação de Messi para melhor jogador do torneio. Não haja dúvida que o argentino goza de excelente imprensa no mundo do futebol, ainda melhor que a de António Costa na política portuguesa...De resto, James ficou com o justo título de melhor artilheiro, e a Holanda em terceiro, também merecido.

O Brasil conseguiu encaixar dez golos em dois jogos, em sua própria casa. É obra. Depois do Mineirazo, novo banho. Scolari, claro, nunca poderia ficar, mas a futebol brasileiro terá que ser muito repensado e as suas estruturas alteradas. Tal como o português, aliás.

De resto, tivemos um excelente Mundial, que excedeu todas as expectativas (embora haje quem, inexplicavelmente, o considere um dos piores). Jogos emocionantes com muitos e belíssimos golos (o Espanha-Holanda, Alemanha-Argélia ou Brasil-Colômbia, por exemplo), selecções que surpreenderam (Argélia, Costa Rica, Estados unidos, e claro, a Argentina, como finalista), outras que confirmaram as suas boas indicações e que no futuro irão dar ainda mais cartas (Colômbia, Bélgica, Suíça) e as decepções (Portugal, claro, Brasil, Espanha, os mais clamorosos, Itália, uma vez mais, e de certa forma a Inglaterra, com atenuantes). Entre os golos, mais do que o de James ao Uruguai e o de Cahill à holanda, destaco o "salto de peixe "de Van Persie à Espanha e a fabulosa cavalgada de Robben no mesmo jogo, em que ultrapassou dois defesas, sentou Casillas e mudando de direcção atirou para o fundo. Simplesmente inesquecível.

De resto, o mundial teve episódios que não poderiam ser vistos noutras paragens: claques da Bósnia no Pantanal, O God Save the Queen entoado na Amazónia, protestos argentinos antes do jogo do Irão relembrando um terrível atentado com vinte anos, os jogadores alemães a confraternizar com índios da Bahia, fãs enlouquecidas a entrar nos treinos de Portugal para tocar em Ronaldo...O que fica para a história, são os vencedores, da Alemanha, e os vencidos mais evidentes:  Argentina, por chegar à final, e o Brasil pela forma estrondosa como o afastaram. Teve uma consolação: fugiu à completa humilhação de não ver os eternos rivais das pampas sagrar-se campeões em pleno Maracanã, apoiados pelas dezenas de milhares de adeptos argentinos que invadiram o Rio.


quinta-feira, julho 10, 2014

Depois do Mineirazo

 

Depois do terramoto que ontem se abateu sobre o Brasil, em Belo Horizonte, ficaram as palavras de choque, terror, espanto e também admiração pela proeza da Mannschaft germânica. O risco de perder este segundo mundial caseiro era real, como em tempos cheguei a prever, e o fantasma de novo Maracanazo esteve presente. O que ninguém podia certamente adivinhar era uma derrota desta dimensão avassaladora, mostrando uma selecção totalmente desgarrada, com uma atitude mental na lama, desfazendo-se psicologicamente como um castelo de cartas. Scolari não perdeu nova final mas não chegou lá da forma mais escandalosa. Todo o futebol brasileiro sofreu uma humilhação inaudita, que o abalou de alto a baixo, e terá de largar muito lastro e mudar muito se não quiser empenhar o futuro. Afinal de contas, também o futebol alemão se renovou depois de uma pesada humilhação frente a Portugal, em 2000. Mas as consequências podem ser ainda piores, para além do fim da carreira de Scolari e dos dirigentes federativos brasileiros. Os arrastões e as cenas de violência verificadas após o jogo demonstram isso mesmo. O futebol é um dos traços mais vincados da sociedade brasileira, e a selecção um dos factores de união nacional. O desastre pode ter implicações mais sérias, sobretudo em ano de eleições. Ainda por cima, muitos consideram o Mineirazo de 2014 pior que o Maracanazo de 1950,  que era aliás tido como uma das maiores tragédias da história do Brasil. É impossível prever o futuro, mas a humilhação terá com certeza repercussões extra-futebol, a começar em todos os erros e gastos da organização da prova. Convém lembrar que daqui a dois anos haverá jogos olímpicos no Rio.
E para a coisa ser pior, um dia depois do Mineirazo, os brasileiros ainda viram a Argentina chegar à final do "seu" mundial. Talvez a morte, dois dias antes, do mítico Alfredo Di Stéfano os tenha inspirado (embora fosse mais ligado a Espanha do que à Argentina), ou as orações do Papa fossem mais fortes. Os vizinhos não deixarão por certo de aproveitar esta ocasião para troçar ainda mais do velho rival, invadindo o Rio de Janeiro, mesmo que corram a risco de serem igualmente trucidados pela Alemanha (com a qual repetirão uma final). que será pior para o Brasil, afinal? Perder no confronto do 3º e 4º lugar com a Argentina ou vê-lo chegar à final, com o risco (mínimo) de a ver campeão da Mundo em pleno Maracanã?


segunda-feira, julho 07, 2014

David Luiz, uma estrela total


Temos visto neste Mundial jogadas fabulosas, revelações surpreendentes e jogadores que ficam debaixo de olho. Mas há um que em definitivo, é incontornável: David Luiz. O "macarrão" (nome que lhe puseram por causa do distintivo cabelo) revelou-se na Luz, embora durante muito tempo estivesse desaproveitado como defesa esquerdo. Quando o colocaram a central mostrou ser um portento, mesmo com as suas características subidas no terreno, às vezes arriscadas. Pude vê-lo nalguns jogos determinantes, como nos 4-1 em Alvalade para a Taça da Liga, em que abriu o marcador. Depois mudou-se para Londres, à conta de uma maquia interessante e Matic, ganhou uma Liga dos Campeões, uma taça UEFA (à nossa custa), e transfere-se agora para o milionário PSG, estabelecendo um novo recorde como defesa mais caro. Entretanto, nunca esqueceu o Benfica, aparecendo até em vários jogos e lançando mensagens de apoio nas redes sociais. Agora, no Mundial do seu país, é uma das traves principais da selecção, e não só a defender: marcou o golo que permitiu ao Brasil sobreviver e ultrapassar o Chile, e contra a Colômbia enviou um autêntico míssil  que se transformou no segundo golo. Comemorou em apoteose com o público e os companheiros, deu graças aos céus pela dádiva, e no fim ainda se lembrou de consolar o desalentado James Rodriguez e de pedir ao público que aplaudisse o colombiano. Em suma: é impossível não gostar deste tipo.

sexta-feira, julho 04, 2014

Balanço intercalar do Mundial


Agora que estamos na fase a eliminar, entre os oitavos e quartos de final, impõe-se um balanço intercalar do Mundial brasileiro. De uma coisa podemos estar certos: a competitividade e qualidade dos jogos excedeu as expectativas. Não é fácil ver-se neste defensivo e comercial século XXI tamanha saraivada de golos. Se bem que aos jogos a eliminar a quantidade tenha diminuído, como de resto seria de esperar.


Portugal, claro, saiu sem honra nem glória, Salvou-se uma vitória e o golo da praxe em Mundiais de CR7, para conservar alguma dignidade. A forma física e o declínio de muitos jogadores revelaram um plantel nacional que deixou muito a desejar, e os próximos anos não prometem ser melhores, com uma míngua de jovens valores que ensombram o futuro. Para já, como promessas temos William de Carvalho e pouco mais. é claro que aparece sempre uma ou outra surpresa, mas não parece ser suficiente para assegurar uma sucessão digna. E quando olhamos para os jogadores do Euro-2004 é que verificamos quão limitada era esta equipa. E mais vale nem tentar comparar Ronaldo aos seus "rivais" do relvado, como Messi e Neymar, para evitar vergonhas. Ao menos em popularidade de estrela, qual Beatle da bola, ninguém o bate...


Mas houve equipas que muito me agradaram. O México, organizado, com bons executantes em todas as posições e um trinador que é mais espectacular no banco que muitos jogadores no relvado saiu prematuramente. Merecia ir aos quartos, ao pelo menos ir a prolongamento. Mas calhou-lhe uma exaltante Holanda, com um futebol vistoso e de ataque, quase "total", tentando recordar os anos setenta. Anda lá perto e merece discutir este Mundial. E Robben está com uma forma que nunca lhe vimos, mistura de gazela com um carro de combate.

Depois, claro, a Colômbia, uma equipa que dança a jogar (e não só nas comemorações dos golos), não se atemoriza perante ninguém e promete fazer a vida negra ao Brasil. Bem mais livre das ameaças dos cartéis da cocaína que quase destruíram o seu país, está finalmente a cumprir o sonho da magnífica selecção de 1994, de Asprilla, Rincón e Valderrama, que falhou rotundamente, sob o peso das ameaças que se concretizaram com o assassínio de Andrés Escobar. E ainda conseguiu bater um recorde, o do jogador mais velho de sempre a actuar num Mundial, o veterano guarda-redes Mondragon, de 43 anos, que fazia parte dessa equipa de 94. Uma passagem de testemunho? só tenho uma coisa a lamentar nesta prova dos cafeteros: é que pelo caminho tenha ficado o Uruguai, que era a minha equipa favorita depois da eliminação de Portugal. Ao contrário de há quatro anos, em que a Celeste puxou dos seus galões de equipa guerreira e ficou em quarto lugar, desta vez não resistiu ao café colombiano. No preciso estádio em que se sagrou campeão em 1950, deixando o Brasil em depressão. E assi, se exorciza um fantasma (o de 1950), quem sabe se para não surgir outro. É que o Brasil deixou muito a desejar frente ao Chile, e se não fosse Júlio César (a passagem pelo Toronto não lhe retirou qualidade) e os ferros da baliza, o país anfitrião estaria ainda em estado de choque. Contra a Colômbia, se a orquestra não estiver afinada, vai ser um caso sério.

Quanto aos outros jogos, entre a França e a Alemanha, que a muito custo ultrapassou uma surpreendente Argélia (comandada pelo academista e ex-benfiquista Halliche), impedindo por ora a desforra de 1982, allez les bleus. A Alemanha é aquela equipa que a par do Brasil nunca recolhe os meus votos. a França tem anos, mas parece que Deschamps conseguiu impor alguma ordem na balbúrdia que se verificava desde a saída de Zidane. A Argentina tem convencido pouco, mas os seus adeptos merecem toda a nossa consideração. Não é qualquer "torcida" que domina Copacabana. Talvez se vá safando com Messi, mas enquanto Enzo Pérez não jogar a titular vão continuar a não convencer. contra a excelente e promissora equipa belga, não sei não...só não enumero os nomes por além dos apelidos flamengos darem muito trabalho a escrever, os media têm-se encarregado de nos relembrar. Na Costa Rica-Holanda, aposto na laranja de mecânica afinada, mas que não ganhe por muitos, porque os costa-riquenhos merecem estar nesta eliminatória e têm sido uns bons intrusos.

Divirtam-se 

quinta-feira, julho 03, 2014

Sophia no panteão

 
Sophia de Mello Breyner Andresen repousa no Panteão, depois de uma das mais pacíficas e unânimes escolhas da transladação de um vulto nacional para Santa Engrácia - relembre-se as discussões a propósito de Aquilino, ou da possibilidade de Eusébio ir para lá. É mais que justo. A Poeta nascida no Porto, que passou a maior parte da vida na Graça, em Lisboa, e que se inspirava no mar e nas praia, como a Granja e a Meia-Praia, no Algarve castiço pré-massificação, no Egeu e a herança helénica deixou-nos um legado precioso e único em todo o século XX. A ela devo-lhe, mais do que qualquer outra coisa, a descoberta da leitura, nas primeiras letras, naquelas obras infantis mágicas, inspiradas nos locais que tão bem conheceu, como as praias supracitadas e a quinta Andresen, onde nasceu, e que por milagre ou simples bom senso pode ser vista por todos na sua actual missão de Jardim Botânico - ainda há lá algumas árvores de A Floresta, e o Rapaz de Bronze também lá se mantém.
 
E talvez tenha sido essa mescla de vários portugais que a tornaram a Poeta e a autora que era. E daí a justa transladação e a correspondente cerimónia, solene e digna.  Pena mesmo o discurso do Presidente, o único que não se dirigiu à família, provavelmente ainda a remoer questões com Miguel Sousa Tavares; e também que a tenham posto junto de Aquilino, que não era pessoa que Sophia apreciasse particularmente. Como sempre, a falta de grandeza e de sensatez continuam a ser características indeléveis da "nossa" república.