quinta-feira, julho 03, 2014

Sophia no panteão

 
Sophia de Mello Breyner Andresen repousa no Panteão, depois de uma das mais pacíficas e unânimes escolhas da transladação de um vulto nacional para Santa Engrácia - relembre-se as discussões a propósito de Aquilino, ou da possibilidade de Eusébio ir para lá. É mais que justo. A Poeta nascida no Porto, que passou a maior parte da vida na Graça, em Lisboa, e que se inspirava no mar e nas praia, como a Granja e a Meia-Praia, no Algarve castiço pré-massificação, no Egeu e a herança helénica deixou-nos um legado precioso e único em todo o século XX. A ela devo-lhe, mais do que qualquer outra coisa, a descoberta da leitura, nas primeiras letras, naquelas obras infantis mágicas, inspiradas nos locais que tão bem conheceu, como as praias supracitadas e a quinta Andresen, onde nasceu, e que por milagre ou simples bom senso pode ser vista por todos na sua actual missão de Jardim Botânico - ainda há lá algumas árvores de A Floresta, e o Rapaz de Bronze também lá se mantém.
 
E talvez tenha sido essa mescla de vários portugais que a tornaram a Poeta e a autora que era. E daí a justa transladação e a correspondente cerimónia, solene e digna.  Pena mesmo o discurso do Presidente, o único que não se dirigiu à família, provavelmente ainda a remoer questões com Miguel Sousa Tavares; e também que a tenham posto junto de Aquilino, que não era pessoa que Sophia apreciasse particularmente. Como sempre, a falta de grandeza e de sensatez continuam a ser características indeléveis da "nossa" república.

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