sexta-feira, agosto 31, 2018

Agosto passou


Agosto acaba. Para além de ter chegados aos meus quarenta anos, não teve novidades de maior. Um ou dois imprevistos que se resolveram, algum trabalho, a "silly season" política e o Mundo que não para (infelizmente com mais tragédias do que boas notícias) e a habitual temporada do Alto Minho, na qual, como sempre, não deu para tudo o que se queria. Mas nunca dá. Agosto é aquele "querido mês" que de tão precioso escorre pelos dedos num ápice. Esperamos por ele o ano inteiro e ele passa num instante. O meu mês de naturalidade (tal como pertencemos a um local, pertencemos também a uma data) é sempre aquela utopia de Verão que promete sempre muito, não raras vezes desilude na altura, mas deixa sempre saudades. Até ao próximo. Venha agora um Setembro, esse mês que muito perde por estar encostado a Agosto mas que tem tanto para dar.

quinta-feira, agosto 30, 2018

Notas de um Verão a Norte - o regresso a Paredes de Coura.


Os jornalistas musicais portugueses costumam dividir a humanidade em dois grandes grupos: os que estiveram no concerto dos Arcade Fire no festival de Paredes de Coura de 2005 e os que não estiveram. Eu insiro-me numa terceira via: os que estiveram lá nesse mesmo dia e não viram os Arcade Fire.

Julgo que já aqui contei. Em 2005, por uma hora, dadas as recusas de última hora de dilectos amigos meus em seguir comigo, que já tinha bilhete, perdi o concerto dos estreantes Arcade Fire, que ao que asseguram os assistentes, ficou para a história como uma "epifania", o "espectáculo da década" que "catapultou o festival", etc. À época conhecia o grupo e já tinha ouvido algumas canções de Funeral, o álbum inicial, e ainda hoje Rebellion (Lies) continua a ser a minha faixa favorita dos canadianos. Mas como a minha ideia era ver os Pixies, precedidos dos Queens of the Stone Age, não liguei muito, mas ficou um travo de pena. Vi depois os Arcade Fire em Lisboa, num espectáculo memorável ao lado da ponte Vasco da Gama. Mas ainda havia uma lacuna por cicatrizar. Este sábado, finalmente, encontrei os canadianos em Paredes de Coura, treze anos depois de eles se terem ido embora antes de eu chegar. Com mais discografia em cima, e a entrega e a emoção de sempre. Talvez as expectativas que estavam muito lá em cima ficassem ligeiramente goradas, até por não ser a primeira vez que os via. E o último álbum, em destaque, é o mal amado da discografia dos Arcade. Mas começaram logo com ele, com uma bem disposta Everything Now (o vídeo atrás traduzia como "tudo agora"), seguida dos hinos do costume - Rebbelion, pois claro, e ainda faixas de Neon Bible, The Suburbs e Reflektor, tudo a acabar num muito celebrado Wake Up, com a plateia literalmente iluminada. No dia com mais público de sempre do festival, os Arcade Fire regressaram a terras do Alto Minho. 2005 está enfim vingado.
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quinta-feira, agosto 23, 2018

Notas de verão


Durante muitos anos imaginei com seria uma série, um filme, ou qualquer coisa audiovisual passada em Moledo, farto que estava que as coisas só se passassem em Lisboa, por vezes no Porto, e que no Verão só o Algarve fosse devidamente filmado. Moledo só aparece por vezes em reportagens de jornais e revistas, para falar dos seus "notáveis", da nortada, do nevoeiro, e outros lugares comuns simplistas. Com os anos, esses pensamentos desvaneceram-se.

Mas eis que surgiu uma série passada aqui, de seu nome Verão M, inspirada no Verão Azul da nossa infância, em que um antigo casal de namorados se reencontra, e os respectivos filhos partem à descoberta destas paragens. Há alguns anacronismos (tapetes de flores do Corpo de Deus em Agosto?), alguns factos reais (a chaminé do barco afundado entre a Ínsua e a praia), muita imagem bonita de drones (fieis à realidade da beleza da terra), e uma narrativa simples e sem grande criatividade, mas que entretém. Não falta sequer o velho marinheiro retirado, que se torna amigos das crianças, e que mora inverosimilmente no moinho ao lado do pinhal - que há bem poucos anos esteve em risco de derrocada com os ataques do mar.

Enfim, talvez não fosse o que tinha em tempos em mente para filmar Moledo, mas serve. Não há coisas que desapareceram, com a extensão das dunas, a bola Nívea da praia e o único bar da altura, o extinto Pica-Pau, aberto todo o ano, os torneios de futebol e as míticas idas à Indústria Agrícola, encarrapitada nos montes de Cerveira, em que se via o amanhecer sobre o estuário do Minho, ou outras que permanecem, como os passeios de bicicleta, os jantares em Espanha, já do outro lado, ou as festas com viras e cana verde. Mas naqueles rapazinhos e rapariguinhas que se tornam amigos e que descobrem a terra e a sua envolvente, e nos pais que recordam os melhores verões das suas vidas e que tentam fazer regressar os momentos em que foram felizes (no meu caso, mais nestes), há algo de autobiográfico, de familiar, de próximo que não se consegue negar. Só por isso, valeu a pena exibir o Verão M. Porque sem este M, para todos os que passámos por isto
, não haveria Verão.
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sábado, agosto 11, 2018

Setas vingativas


O PSD é uma instituição caótica desde a sua origem, com uma capacidade inesgotável de nos espantar. Quando tudo parecia ligeiramente pacificado, eis que surge Pedro Duarte com intenções de desalojar Rui Rio da liderança do PSD numa questão de meses (ou seja, às portas de um ano com duas eleições), deixando só uma pergunta por fazer: porque é que ele não avançou no tempo devido, nas primárias de Janeiro? A juntar a isto, Santana Lopes, com a ponderação que se lhe conhece, anuncia a saída do seu partido de sempre e a intenção de criar a tão esperada nova formação, o sempre adiado partido de Santana (será mesmo o PSL?). Não me vou alongar sobre os sucessos futuros desse partido, de que o Luís Menezes Leitão já falou há dias, com uma oportuna comparação à defunta Nova Democracia de Manuel Monteiro. Mas o processo de intenções de Santana traz dois desmentidos: a ele próprio, de que a história contada por Pacheco Pereira sobre a intenção de fundar um partido diferente era mentira; e aos seus indefectíveis, que juravam que "o Pedro" estava "diferente", mais maduro e mais estável. Isso antes de ele entrar na comissão de Rio, de sair da mesma, e de sair agora do próprio partido a cuja liderança concorreu há pouco mais de seis meses. Uma enorme estabilidade, como se vê, e Santana de novo a ser ele mesmo. Não é um novo Pedro, é mesmo o Pedro de sempre.

Alguém lembrou que no último Sábado, 4 de Agosto, se completaram 440 anos desde a batalha de Alcácer Quibir. O mesmo dia em que Santana anunciou a saída do PSD. Não sei se o gesto tinha algum cariz de efeméride ou de simbolismo, e se Santana quereria mostrar implicitamente que é o D. Sebastião da política portuguesa. Mas tendo em conta que o futuro lhe pode trazer sérios ferimentos políticos e o dardejamento de inúmeras "setas" (nem por acaso o símbolo do PSD) em forma de críticas e ataques, corre o risco é o de se transformar no S. Sebastião da política portuguesa.

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sexta-feira, agosto 10, 2018

O Bloco imutável

Bem sei que o caso Robles já tem duas semanas, mas não queria deixar passar a nota. Se este fait divers provou alguma coisa  é que o BE não tem emenda. Não se ouviu um ligeiro arrependimento, uma postura ligeiramente mais humilde nas "explicações", um mínimo de respeito pela crítica. Houve a inevitável demissão, de acordo, mas ainda assim com uma rápida justificação de "opções privadas". Robles sai do cargo com a dignidade possível. Mas o triste papel a que se prestou o seu partido nos últimos dias mostra que ali nada mudou. Não, o BE responde contra as "mentiras e calúnias" com mensagens com escrita de SMS, provavelmente emitidas entre uma e outra sessão de "veganismo e antiespecismo" ou "a propriedade é um roubo" (este vem mesmo a propósito), algures no "espaço queer" do "acampamento da liberdade", refugia-se num hipotético decreto que vai trazer a salvação das almas, e chega mesmo a dizer, pelo profeta Louçã, que Ricardo Robles "combate a especulação", num movimento esquizofrénico que ora diz que não há ali nada de ilegal (até ver parece que não, mas a crítica nem é essa), ora protesta contra as zonas de Lisboa "onde podia morar gente e está reservada a turistas". O partido que usa a acusação de "hipocrisia" como arma de arremesso contra tudo e todos reage às provas da sua própria hipocrisia como se todos lhe devessem alguma coisa. Não aprenderam absolutamente nada de nada. O debate entre o Adolfo e uma embaraçada Mariana Mortágua revelou isso à saciedade. Por alguma razão João Semedo recebeu tantos elogios aquando da sua morte: era talvez o único daquela malta que sabia discutir e que não tratava os adversários políticos como seres menores. Agora ficámos reduzidos a ouvir o tonzinho de professores de moral da inefável Catarina Martins e do Prof. Rosas e as explicações apressadas do inatingível Robles, especulador nuns dias da semana e activista anti-especulação noutros.

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 (Imagem Público)