quinta-feira, novembro 27, 2008

O massacre de Bombaim e o síndrome "Luisinha Carneiro"





Não sei o que hei de pensar: se na violência que grassa desde ontem em Bombaim (que é a palavra portuguesa, e não Mumbai) bem à vista dos olhos, se na indiferença da nossa blogoesfera. Ataques a hospitais, bombas, tiroteios, incêndios em hotéis, dezenas de mortos, centenas de feridos e um número indeterminado de reféns. Um hotel de cinco estrelas está a arder sem que se saiba quantas pessoas estão lá dentro. Um cenário de guerra e de pânico, que deveria colher reacções em toda a parte. Estranhamente, os blogues pouco falam do assunto.



Estou sem televisão e vejo o caso na Net ou nas capas dos jornais. Dá ideia que tudo isso se passa no planeta Marte, e não em Bombaim, a capital económica da índia, cidade com milhões de habitantes que já pertenceu aos portugueses. Lembro-me das reacções e do medo, bem justificado, aquando dos atentados em Madrid e Londres, e das repercussões que isso teve. Será o síndrome "Luisinha Carneiro", do famoso texto de Eça nas Cartas Familiares e Bilhetes de Paris, em que quanto mais longínqua está a desgraça mais indiferente se fica? Ou a ideia que não se diz mas muito sentem, inversa à da culpa do homem branco, que cada ocidental vale por dez ou vinte indígenas, e que não tem grande importância que morram porque "já há lá muitos"? Pois se assim é, fazem mal, fazem pessimamente. É que por acaso não faltam europeus e americanos ali pelo meio (consta que eram os visados), e morreu um eurodeputado húngaro. além disso, a Índia é uma semi super-potência emergente. Tendo Bombaim a importância que tem, os danos sociais e económicos tenderão a agravar-se, já para não falar em nova psicose associada a estes acontecimentos. E se isto acontece numa metrópole desta dimensão, pode muito bem vir a suceder à nossa porta. Que ninguém pense que isto é no outro mundo.

Chinese Democracy, ou o regresso oficial dos Guns



Ao fim de anos e anos de interrupções, cisões e demais problemas internos, os Guns N´Roses editaram o tão esperado novo álbum, Chinese Democracy, cujo título era conhecido há uns dez anos. Para quem não se lembra, os Guns (ou GN´R , em flagrante confusão com o nosso Grupo Novo Rock) foram das bandas com mais sucesso do início dos anos noventa, altura em que chegavam ao alto dos TOPs e enchiam estádios nos seus concertos, que não raras vezes envolviam pancadaria.

Entretanto, o líder, Axl Rose, trocou o tradicional lenço na cabeça por tranças e ficou com aspecto de viking envelhecido, o hirsuto guitarrista Slash, a quem se devia o som característico da banda através dos seus riffs, saiu com os restantes membros (formando os Velvet Revolver, uma espécie de Guns nº2), e teme-se o que possa ser o novo álbum. Os Guns pararam no tempo em que o Grunge dominava e os CDs explodiam nas lojas, Clinton chegava ao poder e Cavaco governava. Saber se Rose, só por si, e depois de tanto tempo, conseguiu fazer alguma coisa que se aproveite é um redonda dúvida. Sendo ele a imagem dos GN´R, calcula-se que a alma tenha ido para os Velvet Revolver - no fundo, também tem nome de armas. Certo, certo, é que dificilmente terão o êxito estrondoso de noventa e pouco, quando todos os adolescentes os trauteavam. Um mau envelhecimento ou a passagem para mitos vivos?

segunda-feira, novembro 24, 2008

O supermercado dos livros fechou


 
A Byblos de Lisboa fechou. Durou menos de um ano, o que é revelador do falhanço do negócio. O conceito de supermercado de livros, com cesto de compras, motor de busca e tudo, acabou por se revelar um passo maior que o pé. Fui lá duas ou três vezes, e na última, há pouco tempo, só consegui encontrar um livro da meia dúzia que procurava. Provavelmente já antecipavam o encerramento e escusaram-se a trazer novas remessas.


 
Não sei qual a causa do flop de um negócio que eventualmente teria pernas para andar, com o aumento do consumo de livros em Portugal. Talvez afinal esse aumento não seja tão acentuado como se pensa, ou, como já ouvi, a localização do espaço, às Amoreiras, numa zona de escassa passagem pedonal, não fosse o melhor. Seja como for, a ideia não pegou. Assim sendo, aumenta a indefinição sobre o futuro do ex-Shopping Clérigos, no Porto. O espaço está há já uns tempos fechado (como a bem dizer sempre esteve, com aqueles muros de betão a rodeá-lo), mas a ideia de revitalização passava pela instalação de uma Byblos. Agora, volta tudo à estaca zero. Terá de se pensar numa nova solução para o local. Quem ganha com isto são as FNACs, que se espalham rapidamente, as Bertrands ou as Leitura/Bulhosa. E a Lello, que para já evita uma rival demasiado forte mesmo à sua frente.

sexta-feira, novembro 21, 2008

Afinal, a Lei é demasiado moderada
Estive, como escrevi várias vezes neste blogue, contra a Lei do Tabaco, que entrou em vigor este ano. Acho uma norma desquilibrada e autoritária, que não dá aos estabelecimentos o direito de permitirem fumo ou não, e que parte de uma moda instituída, o dever de ser saudável. Além de que ver gente a fumar à porta em toda a parte é uma imagem deprimente.

Pois bem, essa lei, que nos garantiram ser tão "moderada", arrisca-se a ser também ela suplantada. Segundo aqui se diz, um grupo de "especialistas" de Braga propôs à DGS (curiosa sigla) a proibição total de fumo em qualquer espaço fechado e o fim de qualquer excepção. Sim, fumar em espaços interiores que não as casas particulares passará a ser uma memória caso os nossos legisladores acatem esta ideia. O Dr. Francisco George acha que a actual lei está bem como está, mas depois de ver os seus argumentos e as suas prestações, não sei se se descairá. Ainda por cima, alguns burocratas da UE querem propôr o mesmo a toda o território comunitário, não atendendo sequer às legislações díspares, que vão dos mais flexíveis (Espanha e Áustria, por exemplo) aos mais restritivos (Reino Unido ou Itália). Começa a haver precedentes pouco auspiciosos: em Nápoles há parques onde não se pode fumar, e nos EUA a proibição estende-se a certos condomínios habitacionais. E a razão para quererem implementar novas proibições em Portugal? Os sistemas de ventilação "não são totalmente eficazes". Isso não devia ser novidade, mas para os Senhores da Saúde, 99% de eficácia já são suficientes para que a nossa nova polícia de costumes, a.k.a. ASAE, tenha tarefas mais abrangentes, mesmo que não se sinta ponta de tabaco. O mesmo se diga para os que, mesmo com a actual lei, se continuam a queixar de que "estão fartos que lhes atirem o fumo para a cara". É algo improvável, actualmente, a não ser se for feito de propósito, mas há quem nunca esteja satisfeito. Aliás, é um queixume que surgiu há poucos anos, quando apareceu a moda antitabagista. Passa-se o mesmo com qualquer mania que vem "lá de fora" e é "moderna".
Enquanto isso, as cidades continuam poluídas e as nossas avenidas rebentam de dióxido de carbono. Mas isso não apoquenta os censores do fumo. Na Jihad pela saúde, o tabaco é o maior crime e os fumadores meros criminosos. Já a a indústria automóvel, se tem de temer a crise, bem pode fica sossegada quanto à DGS.
O que eu não percebo mesmo é porque é que não se proíbe o fumo definitivamente e se se deixa de hipocrisias. Se querem restringir a sério, façam isso e deixem-se de restrições meramente progressivas. Isso é que era de homem. Mesmo que não tivessem razão com a sua "lei pura".

sexta-feira, novembro 14, 2008

Lisboa - o caso do terminal
Nos dois últimos anos, tenho passado mais tempo em Lisboa do que no Porto. Doravante, passarei a escrever mais posts especificamente sobre a capital.
Começo pela polémica do projecto Nova Alcântara. Só por piada é que se nega que a concessão do projectado terminal de contentores à Liscont, recentemente adquirida pela Mota Engil, sem concurso público é mais do que suspeita. Pior do que isso, quando se aprova um Decreto-Lei permitindo que a empresa a quem se entrega a concessão até 2042(1) não pague qualquer taxa pelo arrendamento à Administração do Porto de Lisboa. Mas pior, pior, é ver o ministro Mário Lino todo contente a gabar o negócio e a dizer que nem sequer vai haver derrapagens orçamentais do processo (só se for um projecto único em Portugal), com o acenar de cabeça de António Costa.
Nem é tanto pela vista para o rio, os espaços ocupados, etc. Como muito bem no-lo lembram, Lisboa é antes de mais uma cidade portuária, antes de ser uma cidade para turista ver (e para isso tem os very tipical Bairro Alto e de Alfama). Mas Lisboa não é apenas um porto na embocadura do Tejo, pertence aos seus habitantes, e ao país, como principal cidade, e a sua frente ribeirinha está quase totalmente ocupada pelas instalações portuárias. Por muito que queiram tecer comparações, Lisboa não é Hamburgo nem Roterdão. Tem outras funções que essas cidades não têm, como por exemplo, ser a capital de Portugal e a sede dos seus orgãos de soberania.
As companhias de navegação podem fugir para Valência caso a obra não vá para a frente? Mas então não há mais espaços? Setúbal, uns quilómetros abaixo? No Tejo há ainda outros locais, como a Siderurgia Nacional, entre o Seixal e o Barreiro, um largo espaço agora com pouca actividade (e sei do que falo porque estudei o PDM do Seixal nos últimos dias), como um blogue de que lamentavelmente não me lembro escreveu. Mas parece que só Alcântara é que serve. Santa Apolónia, em contrapartida, é o futuro ponto de atracagem de paquetes. Opções...
Muitas vozes recordam-nos, e bem, o único verdadeiro porto de águas profundas português: Sines. Tão desaproveitado, depois de ser alvo de tantos projectos rodoviários, ferroviários, petrolíferos, deixa agora de ser opção porque fica mais longe de Lisboa e "era preciso andar para cima ou para baixo". Um argumento tipicamente centralista, em que tudo tem de ficar centralizado nas mesmas limitações municipais, e nem um metro para fora. Podiam aproveitar para criar uma maior pólo portuário e comercial na costa alentejana, mas parece que tinham de andar muito, pobres criaturas. As mercadorias têm de ficar em Lisboa e nem um distrito mais longe. No fundo, vem na linha das opções territoriais mais que discutíveis que todos os governos têm tomado há décadas. E o mesmo se diga para os estivadores que clamam por trabalho: é assim tão danoso trabalhar em Sines ou em Setúbal, um ambiente em que a maioria se reconhecerá? Se querem mesmo trabalho, porque não? Milhares de pessoas são obrigadas a ir para a Grande Lisboa por razões laborais, sem verdadeiramente o desejarem, por isso, o inverso também se aplica.
O que incomoda, para além da precipitação óbvia e dos riscos estéticos, é mesmo a falta de transparência com que o negócio está a ser feito. A forma como Mário Lino trata quem se interroga sobre o projecto e os seus riscos tem a mesma pesporrência da caso da OTA e do patético "jamais". Infelizmente, tudo indica que já se acelerou o plano para que não haja tempo de pronunciar novos "jamais". Seriam furos demais para um só ministro.
Apesar disto tudo, acho que este caso tem sobretudo âmbito local e não devia ser objecto de um programa como o Prós e Contras.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Os Oasis de sempre


Depois de terem comparado o novo álbum dos Oasis à música dos Radiohead, Noel Gallagher recusou-a, argumentando com uma pergunta: "os Radiohead não fazem o mesmo disco desde Kid A"? Esse álbum, para os que se recordem bem, data de 2000. E até dou razão ao mais velho dos irmãos Gallagher. O problema é que os Oasis já lançam o mesmo disco desde Be Here Now, de 1997, e até repetem os singles (All Around the World e Go Let It Out são basicamente a mesma coisa, com videoclips diferentes), à excepção de umas derivações Hare Krishna, inspiradas por John Lennon ou pelos Kula Shaker . Só mesmo Noel, mais Liam, o seu irmão de voz fanhosa convencido de que é o quinto Beatle, e o milhão de ingleses que os idolatra à histeria, é que não se aperceberam disso.
Há noventa anos e um dia - a guerra segue dentro de anos
A Guerra que acabou há noventa anos e um dia será apenas de parcial comemoração. Em França, o dia nunca é esquecido, tendo em conta o sofrimento por que passou o país, (muito mais do que na Segunda Guerra), cuja parte Norte ficou literalmente em terra queimada pela metralha, pelo gás, pelas hediondas trincheiras. Acabava-se enfim a matança colectiva da juventude europeia, de todos os desgraçados arrebanhados e postos com um capacete militar e uma espingarda nas mãos, e o "suicídio da Europa", como lhe chamou Bento XV. Acabava esse conflito apenas para estabelecer um intervalo de anos entre a segunda parte da suicídio, ainda mais atroz, desta feita para os civis, em especial os que não eram dos povos "certos". A política de humilhação dos vencidos, com o irresponsável desmembramento do Império Austro-Húngaro, as crises económicas e financeiras e a ascensão das revoluções a isso conduziriam o continente já martirizado. Como marco palpável de ligação entre duas catástrofes ficou a mesma carruagem em que na manhã de dia 11 de Novembro de 1918 se assinou o Armísticio, e onde em 1940, e por expressa imposição de Hitler, a França negociaria a sua rendição perante a Alemanha e Itália.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Outro aventureiro: Thesiger


Falando em aventureiros árabes, há que relembrar igualmente Wilfred Thesiger, esse incansável caminhante dos desertos, que morreu há escassos cinco anos. Se tivesse ido mais além faria inveja a Corto Maltese. Deixou-nos as suas memórias dessas expedições no livro Pelos Desertos das Arábias (Arabian Sands), em Portugal publicado na Europa-América.

Recordando Sir John Bagot Glubb, comandante da Legião Árabe
A recordar este autêntico aventureiro das Arábias, Glubb Pasha, faço apenas um pequeno acrescento: a sua demissão deu origem a um mal entendido entre Nasser e Anthony Eden, e à fúria do Primeiro-ministro britânico, o que avolumou as tensões que levaram à crise do Suez, em 1956. Pensa-se também que em caso de ataque israelita à Jordânia, as tropas inglesas (e a Legião Árabe) não actuariam, seguindo ordens do próprio Glubb. Uma exoneração ainda com muitas interrogações por parte do Rei Hussein, mas que nem assim quebrou a amizade entre os dois homens.

domingo, novembro 09, 2008

A Liga e a crise


Segundo todos os testemunhos, a angariação de fundos para a Liga Portuguesa contra o Cancro, através de pequenos donativos, este ano, foi confrangedora. Tirando os exageros que há sempre a falar de "crise", fica-se a pensar se serão efeitos da verdadeira crise económica e financeira que a (quase) todos afecta ou se se tratará de puro egoísmo. Andei vários anos na rua de lata a tiracolo a pedir contribuições e vi um pouco de tudo, desde aqueles que davam tudo o que tinham aos que se desviavam descaradamente (por vezes com uma ostentação revoltante) ou respondiam de forma agressiva e mal educada. Custa-me a crer que as coisas tenham resvalado tão vetiginosamente para a indiferença. Creio antes de mais que o egoísmo não será maior do que aquele que se verificava em anos anteriores. Não, o que fala mais alto é a desconfiança, o medo, mesmo a escassez e as poupanças que emagrecem. Também na diminuição de donativos para as causas mais importantes podemos ver o dedo da crise.
E ainda uma questão no seguimento das eleições americanas

Pergunto-me o que será feito desta rapaziada? Constou-me que andavam um pouco inactivos. Talvez moribundos, mesmo.

sexta-feira, novembro 07, 2008

Ainda as eleições americanas
O top 3 de reacções à vitória de Barack Obama:
- "É um momento histórico na luta pelos Direitos Civis ver um afro-americano chegar à Casa Branca"
- "Aqueles que apoiaram Obama vão ficar muito desiludidos daqui a meses"
-"Os americanos deram uma lição de democracia aos arrogantes dos Europeus"
- "Tudo o que Obama fizer de errado vai ser desculpabilizado por aqueles que o vêm como um santo"
-Aquela Palin é péssima! Se não fosse ela o McCain tinha ganho".

quarta-feira, novembro 05, 2008

Yes, He could!



Ainda não vi as capas dos jornais, mas esta deve ser a frase mais relembrada hoje. Barack Obama ganhou mesmo as Presidenciais americanas e torna-se o primeiro Presidente com alguma cor a subir à Casa Branca (sendo aliás um verdadeiro "afro-americano" tendo em conta a herança paterna), e um dos mais jovens. As esperanças ilimitadas no candidato tenderão a cair ao longo do mandato, com o duro despertar para a realidade. Com problemas terríveis no Médio Oriente e uma crise económica assaz grave, ver-se-à agora do que é capaz o novo eleito.


É extraordinário ver como Presidente um homem que há escassos quatro anos chegava a Senador pelo Illinois, sendo considerado a grande esperança dos democratas para as presidenciais...de 2012. E que há apenas um ano não passava do candidato jovem mas inexperiente que dava luta à já anunciada candidata e provável vencedora, Hillary Clinton. A esperança tornou-se mesmo no tónico que o transportou em alucinante ascensão aos céus. A questão da cor nos Estados Unidos está definitivamente ultrapassada, mas talvez tenha mais importância no exterior do que a meramente simbólica, como já se pôde perceber, por exemplo, por declarações de Chavez: a imagem institucional dos EUA pode disso aproveitar-se e recuperar as simpatias que perdeu clamorosamente no pós-11 de Setembro. Assim saiba Obama mantê-las como Bush as perdeu. Bush, esse nome de que alguns se lembram hoje, o rosto de uma das piores administrações do último século e que nos meses que restam ainda pode cometer disparates. Que se deixe ficar sossegado a aquecer o lugar para o próximo, e que esse próximo consiga ao menos não desiludir.
Uma palavra para John McCain: foi um candidato honesto e esforçado, que tentou ao máximo desligar-se do Presidente cessante, nem sempre com sucesso. Cometeu alguns erros, como a escolha da inefável "Miss Alasca". Ainda assim, não me parece que saia completamente queimado. Mais culpados desta derrota serão outras figuras do Partido Republicano, além de todos os factores económicos e sociais sobejamente conhecidos.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Um apoio dos diabos

No meio da lista de honra de apoiantes de John McCain, salta-me à vista, entre alguns ilustres figuras, o nome de Marilyn Manson. Que fará ali o músico de rock industrial satânico? Trará as forças infernais para auxílio do candidato republicano, numa estranha aliança contra-natura? Terão Palin e os guardiões da moral evangélica aceitado esse apoio de bom grado? Eu ainda não ouvi nenhuma polémica sobre isso, portanto deduzo pela afirmativa, embora continue à espera da aprovação de André Pessoa. Não há é dúvida nenhuma de que essa inclusão na lista é um apoio dos diabos.*

* A piada já não é nova e apareceu numa antiga Grande Reportagem

domingo, novembro 02, 2008

"Um ambiente de terrível hostilidade"
Tenho seguido a campanha eleitoral com moderado interesse, embora ele tenda a subir nestes últimos dias, e não com fervorosa curiosidade ou constante busca de novas notícias ou sondagens via net ou televisão. Dentro daqueles que lhe dedicaram maior atenção, destaca-se O Cachimbo de Magritte, talvez o melhor blogue de pensamento pró-conservador que temos disponível. Habituado à qualidade das discussões e da fundamentação das ideias que aí se defendem, tenho estranhado o tom acintoso e demagógico com que alguns novos escribas têm abordado a dita campanha.


Já se tornou quase moda criticar os posts de André Pessoa, mas a verdade é que eles traduzem o que de mais faccioso e exacerbado existe nos redneck portugueses. Desde a colecção de posts sobre " do ódio", até às acusações de que "Obama é a negação da democracia", passando pela "denúncia" de supostas gaffes do candidato que se prova não o serem, mostra-nos que há mais admiradores de Ann Coulter a escrever em português do que eu julgava. Depois, há os inevitáveis comentários, em que alguns anónimos completam a mesma toada com comparações da campanha de Obama com a de Salvador Allende, e até com Hitler (!), afirmações de que o "obamismo" é uma traição à América que só pode ser impedida pela "grande mulher" Sarah Palin, e ainda com acusações de que haverá votos comprados. Desaparecido há alguns dias, o incrível André Pessoa (bastas vezes secundado por Nuno Lobo) brinda-nos no seu último post sobre o assunto com a fantástica ideia que Andrew Sullivan, um dos mais conhecidos bloggers conservadores dos EUA, representa "a loucura da esquerda americana". E mais abaixo deixa-nos outra pérola: "se apoiantes de McCain inventam ataques e precisamente porque o ambiente e de terrivel hostilidade". Estão justificadas todas as invenções possíveis e imaginárias: "um ambiente de terrível hostilidade". Decerto que os comícios onde Sarah Palin acusa Obama de terrorismo e logo surgem alguns apaniguados a gritar "mata", além daqueles que acham que o democrata nem sequer é americano, e que os simples nomes Obama e Hussein o tornam logo num perigoso islamista, não cabem no conceito de hostilidade de Pessoa. Pelo contrário, são plenamente justificadas. O que eu gostava de saber é se algumas invenções da campanha de Bush contra McCain nas primárias de há oito anos também tiveram lugar num "ambiente de terrível hostilidade".

A única coisa que se conclui é que todo este desespero perante a derrota provável (mas não certa) do candidato do partido que levou os Estados Unidos ao atoleiro nos últimos anos revela, parafraseando o notável André Pessoa, a loucura de alguma direita portuguesa.