segunda-feira, janeiro 31, 2011

O mito Leonce Viiktorya
Esta história da filha de Luciana Abreu e Djalló se chamar Leonce Viiktorya (é assim que se escreve?) deixa-me de pé atrás. Alguém já viu o nome no registo? Alguém já surpreendeu "Lucy" embalando a filha, e dizendo-lhe "Leonce Viiktorya, porta-te bem senão a mãe não te leva a ver o papá no estádio"? só mesmo no site do casal é que se anunciou tal coisa. Estou em crer que é um qualquer truque para chamar as atenções, e que a pequena tem um nome mais normal, senão vejamos: Leonce é justificada como sendo o cruzamento entre Luciana e Djalló, coisa que qualquer criança da primária sabe que não é; e Viiktorya parece que é "um grito de revolta contra as injustiças do Mundo", ou coisa parecida, embora não explique a nítida influência escandinava. Eu diria mais que é uma razão de revolta futura da pobrezinha Leonce pela injustiça da cruz que tem de carregar. Mas as justificações são de tal maneira absurdas que não dá para acreditar. Por isso, estou alegremente céptico, e acredito que tal nome seja produto de ficção científica.

Enquanto não fica desvendada a questão, sempre se podem colocar outras interrogações, como a da forma correcta como se escreve tal coisa.

A linha interrompida

Como se não bastassem as centenas de quilómetros de caminho de ferro fechados nos últimos vinte e tal anos, deparamos-nos agora com esta indigente história do cancelamento do metro (que já não vai haver) no antigo ramal da Lousã. Parece que se chegou ao fundo da incompetência e do desrespeito do Estado pelas pessoas.

A falta de respeito materializa-se na ideia peregrina de se alterar toda uma linha de quarenta quilómetros que servia vários concelhos da região de Coimbra (e a própria Coimbra), encerrando-a durante anos, mesmo com dúvidas levantadas pelos utentes e pelas autarquias, e trocando-a por autocarros. A incompetência é chegar-se perto do termo dos trabalhos na linha e vir-se com o argumento de que afinal o projecto é "megalómano", custa balúrdios na sua execução e na sua manutenção, e que foi sobrevalorizada em "estudos anteriores". Lê-se e não se acredita que uma coisa destas possa ser afirmada sem o menor pedido de desculpas por aqueles que tiveram a brilhante ideia da conversão total da linha. Ou seja, os responsáveis pelo serviço que as populações nunca pediram abandonam-no a meio como se não fosse nada com eles, sem assumir a mínima responsabilidade.


Nunca andei no ramal da Lousã, mas numa altura da vida ia muito à Lusa Atenas e vi muita gente a despachar-se na estação de Coimbra-A para ir apanhar o comboio para a Lousã na estação do Parque (cheguei a ver uma composição a ir de uma estação para a outra, atravessando o parque e o largo das Ameias, a meio da madrugada, única hora em que tal acontecia). Por isso, o argumento da escassez de gente parece-me pouco sustentável. Mais a mais, os concelhos atravessados pelo comboio, Lousã e Miranda do Corvo, ao contrário do que acontece na maior parte das terras do interior (i.e. para leste de Coimbra) têm visto a sua população aumentar ao longo dos anos.

Já se sabe que o governo e boa parte das "elites" querem, antes de mais, a modernização do país a toda a força, e não hesitam em acabar com qualquer custo superviniente nas linhas férreas secundárias apenas para construir o utópico TGV, esse "cavalo de ferro" branco utópico que se tornou no novo desígnio nacional, mesmo que seja um sorvedouro de recursos. Nos últimos vinte anos foram destruídos centenas de quilómetros de caminho de ferro, muitas vezes sem prévio aviso, com os vagões a serem levados pela calada da noite. Agora, acabam com um serviço, começam a construir um sucedâneo, e deixam as obras em três quartos por culpa de contas mal feitas.


O ministro António Mendonça, um dos maiores erros de casting num executivo onde eles abundam, já veio dizer que não se trata da suspensão das obras, mas da sua "recalendarização" e alteração do programa de trabalhos. é bom que seja apenas isso. Porque se isto significar fim efectivo da linha da Lousã, por pura incompetência dos poderes públicos, será a sua cabeça a rolar. A sua e outras, porque nem pode haver culpas solteiras nem salteadores travestidos de autoridades dos transportes que não saibam assumir as suas culpas.

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Discursos

Nota de referência na noite eleitoral foram os discursos dos candidatos e líderes presidenciais. Entre a falta de respeito de Defensor Moura, a "mesmice" de Francisco Lopes e Jerónimo de Sousa (deve haver um modelo escrito que só é preciso decorar), a esperança hesitante de Fernando Nobre, e o ímpeto do costume de josé Manuel coelho, sobraram discursos de variados tipos. Louçã teve, com aspecto lívido, teve das piores saídas da noite, como referências à "direita a afiar as facas", mas conhecendo o seu historial de acusações e recriminações, nem espanta nada. Tivemos um Manuel Alegre derrotado mas digno, e até com ar mais aliviado, um Portas calculista e um pouco ao ataque, mas sem excessos. Sócrates disse umas vagas palavras de consolação que o seu ar descontraído traíam. Não convenceu ninguém a não ser os incautos, e mesmo esses...Passos Coelho teve o melhor discurso da noite, sensato, frugal, polido, desmentindo as suspeitas que Louçã atirara. Pode não ser um grande estadista, mas é minimamente decente.


O pior ficou reservado para o fim. Cavaco Silva, aplaudido pelas jotas e pelos apoiantes que a máquina da sua candidatura deslocara para o CCB, o monumento símbolo do cavaquismo, resolveu enaltecer certas áreas a que ele próprio jamais deu a atenção devida, como a agricultura, e lançar violentos ataques rancorosos aos que lhe "lançaram infâmias", sem saudar os adversários, antes achincalhando-os sem nunca referir os seus nomes (viu-se no repetido "foram cinco contra um", o que além de não ser verdade revela que, com esta curiosa expressão, Cavaco tem uma noção do cargo ainda mais solitária e unipessoal do que se julgava). O reeleito, que se calou durante grande parte da campanha, como é seu hábito - como se um candidato não devesse ser o mais transparente possível - aproveitou o momento em que já nada lhe podia acontecer, e em que os ex-adversários já se tinham pronunciado, para os atacar da pior forma, alçando-se em grande referência moral, lançando ainda suspeitas de que havia uma campanha da comunicação social contra ele, fonte de "calúnias". Nunca um seu antecessor chegara a tais extremos, nem Sócrates, com a sua "campanha negra" (recorde-se que em 1996, quando ganhou, Jorge Sampaio, entre as comemorações, ordenou que fosse retirado um gigantone que ridicularizava Cavaco Silva). E no fim não houve sequer possibilidade dos jornalistas lhe fazerem perguntas. O pior do cavaquismo (arrogância, covardia, falta de transparência, até o novo-riquismo da pompa) ficou exposto ali.

Mas ao fazer semelhantes ataques, Cavaco mostrou, até explicitamente, que não era presidente de todos os portugueses, mas apenas de uma facção. O embuste do cargo de presidente da república como líder uno de um país e de um povo caiu assim, definitivamente, por terra. Já havia indícios, mas esta é a prova definitiva, magnificamente servida por Cavaco. Um chefe partidário, que é reconhecido pelos seus eleitores e odiado pelos adversários: eis a essência do cargo. A falta de confiança em tal figura cresceu ainda mais com a abstenção e os votos nulos e brancos, de tal forma que há até quem proponha que seja eleito no Parlamento. Seria o total descrédito e o golpe final na 3ª república.

terça-feira, janeiro 25, 2011

Resultados



O país (o minimamente interessado, claro está) fala ainda das presidenciais. Tirando os números alcançados na Madeira por Coelho, os resultados não me espantaram muito. Muitos ficaram admirados com os valores da abstenção e dos votos brancos e nulos, como se não fosse uma forte hipótese que se previa lendo blogues, fóruns de opinião e ouvindo conversas de café e autocarro. Só por grande autismo e enorme afastamento da população é que se pode ficar espantado com esse resultado.






Avaliemos, como é regra, os vencedores. Primeiro, Cavaco, porque ganhou, obteve maioria absoluta dos votos expressos em urna e conseguiu ser reeleito à primeira volta, para seu alívio. Na recta final da campanha parecia estar à beira do desespero, mas para sua felicidade esta acabou antes dos eleitores decidirem prolongá-la por mais uns dias. Em Setembro de 2009, depois da sua declaração de que suspeitava de escutas, muitos previam que a sua recandidatura tinha ido por água abaixo. Prova-se agora que esses juízos eram precipitados.



Depois, Fernando Nobre. Apesar de ter ficado em terceiro lugar, figura na galeria dos vencedores por mérito próprio. Sem apoios partidários, com nítidas dificuldades no início da campanha e vatícinios ruins (sem falar nas sondagens), ficou acima do que todos os números previam. Não vai à segunda volta mas é um sério prenúncio para o futuro, ao conseguir reunir na sua candidatura uma paleta muito diferente de apoiantes, muito, muito para além do clã Soares, que muitos opinadores diziam ser o sustentáculo subterrâneo.E, claro, José Manuel Coelho. O deputado regional da Nova Democracia que se diz comunista (!) entrou mesmo à última na corrida, mas, sem grandes apoios nem sequer direito a participar nos debates televisivos, desenvolveu uma campanha em que era simultaneamente o cómico e a melga de serviço, granjeou simpatias por onde passou e ganhou popularidade em todo o país. Também ele ficou à frente de qualquer sondagem, e, coisa inimaginável, por pouco não ficou à frente de Cavaco na Madeira, com impensáveis 38%. Ainda assim, ganhou no Funchal e nos concelhos mais populosos e arreliou seguramente o convalescente Jardim. É o melhor resultado de sempre da oposição madeirense frente ao eterno soba laranja.




E como de vencedores estamos falados, passemos ao empatado: Francisco Lopes. Só ganhou mesmo entre os seus, mas no geral cumpriu, aguentando o eleitorado PC e saindo da penumbra do comité central. Sempre com ar grave e austero, com raras excepções, que lhe terão valido alguns votos, mostrou estar bem preparado e acabou por cumprir o objectivo de uma votação razoável. Faltou-lhe o da segunda volta...






Derrotados: Manuel Alegre, pois claro. Cinco anos depois, conseguiu a proeza de baixar as percentagens de 2006, ainda que apoiado por PS (que só o apoiou devido ao facto consumado), Bloco e MRPP. Um balde de água fria no último combate do bardo das Trovas do Vento que Passa, mas todo o discurso do "estado social" e causas afins parecia perdido nos anos setenta, como ele próprio, para não falar nas acusações a Cavaco e na vitimização, pouco próprias dele. O tal milhão de votos que reivindicava como seus escapou-se-lhe, talvez porque nunca fosse pertença sua, mas sim de todos os que apostaram numa candidatura independente, e que lhos retiraram quando apareceu o apoio partidário. Só mesmo Alegre e alguns líricos é que não tinham percebido isso. Quebrou-se a ilusão. Saiu com a dignidade possível.






Defensor Moura: a campanha excessivamente centrada no Alto Minho e os excessivos ataques a Cavaco tornaram-no irrelevante e antipático, e castigaram-no nas urnas. Algumas das causas que advogava (descentralização, desburocratização) mereciam alguma discussão, mas nem isso conseguiu. Os amigos dos animais não valeram ao ex-autarca que, sem perguntar nada à população, declarou Viana "cidade anti-touradas". Podia-se ter explorado melhor esse seu lado totalitário, mas já não vale a pena. Terá tempo agora para estudar pela enésima vez a melhor forma de dar solução ao prédio Coutinho.






Ao que parece, também o Ministério da Justiça se pode considerar perdedor, pelas confusões que houve com o Cartão de Cidadão e as impossibilidades decorrentes de votar. Na minha secção de voto vi alguns zunzuns, mas como levei igualmente o cartão de eleitor, não tive problemas. Por isso, não me alongo em situações que desconheço.






Conclusões: vale a pena apresentar candidaturas independentes. As forças partidárias já não têm a força que tinham. Nem as jotas ajudam.



Por outro lado, a abstenção mostrou o quanto os portugueses dão a devida importência À república e aos seus cem aninhos...



domingo, janeiro 23, 2011

Presidenciais
Cavaco ganhou. Ficou abaixo da abstenção e é o candidato reeleito com menos votos de sempre, mas ganhou. Apesar de Alegre ser apoiado por vários partidos, e das candidaturas independentes, que granjearam um boa quota de popularidade. Mas no seu discurso de vitória revelou revanchismo (neste aspecto teve a companhia de Louçã) e falta de sentido de vitória, e, para cúmulo, não permitiu que os jornalistas fizessem perguntas. Mostrou os mesmos silêncios e as questões sem resposta de que já dera mostras na campanha. Mas isso não admira. Já há muito que Cavaco evita as perguntas quando não está para isso, usando os meios que tem mais à mão.




Amanhã falarei mais demoradamente sobre estas eleições.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Blogoleaks! Escândalo!

A intimidade dos candidatos, completamente devassada por vis armadilhas de luxúria(mais comuns no futebol), revelando terríveis segredos sobre o seu carácter! Ou então não...

domingo, janeiro 16, 2011

Sete


Este blogue faz hoje sete anos. É normalmente tido como número da sorte, e é igualmente uma idade bonita neste meio, que teve os seus primórdios em 2002/03. Pode-se dizer que A Ágora data da segunda vaga da blogoesfera, de princípios de 2004. Olhando para trás, parece-me que começou num tempo já longínquo, com um template sóbrio e primitivo (ainda hoje o é, sem a quantidade de mariquices musicais e de "causas" que apareceram entretanto e que só atrasam a abertura dos blogues), com uma escrita mais gongórica e menos cínica, se é que lhe posso chamar assim. A "filofrancofonia" e o "filohelenismo" reclamadas no início ficaram um pouco gorados (preparo-me mesmo nos próximos dias para escrever uma coisa pouco laudatória da França). A Administração Bush, um dos primeiros alvos, passou à história, mas os seus efeitos permaneceram no Iraque. Hoje sou um pouco mais céptico (não no sentido religioso), e um tudo de nada mais conservador e mais neurótico. O Mundo mudou, a minha vida também, e este espaço, necessariamente, sofreu ligeiras modificações estilísticas e de pensamento. Conservo todavia os principais traços de identificação que marcam este blogue no seu subtítulo - continuo monárquico, católico, benfiquista e discorrendo pontualmente sobre o Porto, depois de uns anos em Lisboa, por razões pessoais e laborais. Enquanto A Ágora existir, continuará assim, à imagem do seu autor.

A arma dos pequenos

Nestas eleições presidenciais marcadas pelo total deserto de ideias e pelas acusações quasi pessoais, a única coisa que me tem interessado é o folclore e as frases para recordar. Mas mesmo aquele tem andado em baixo (ao contrário das frases, que as há para todos os gostos), com pouca adesão e desfiles tristonhos. Um dos que tem lutado contra essa taciturna corrente é José Manuel Coelho, que mesmo com poucos apoios lá conseguiu chegar à última ao boletim de voto. O deputado regional da Nova Democracia é simultaneamente cínico e bonacheirão, usa uma palavreado simples e populista, mas eficaz, e as suas acções desconcertantes granjearam-lhe alguma popularidade ( aposto que maioria das pessoas o identifica mais depressa do que a Francisco Lopes, por exemplo). Saliente-se que é o primeiro madeirense a candidatar-se ao cargo, o que diz muito da qualidade de políticos do arquipélago.


Um dos grandes propósitos de Coelho é ganhar notoriedade para afrontar Alberto João Jardim, já com as eleições regionais deste ano à vista. Uma sondagem recente colocava-o como o mais bem posicionado para derrotar o eterno "Bokassa" da Madeira, à frente dos líderes do PS. É curioso notar como a oposição mais eficaz ao "jardinismo" parte exactamente de movimentos mais marginais, ou menos notórios a nível nacional. Em tempos, a UDP assumia esse papel, obtendo bons resultados eleitorais (à frente do PCP, por exemplo, cujo espaço ideológico na prática ocupava), e tendo mesmo conquistado a câmara do Machico, com o célebre Padre Martins Júnior, um clérigo incompatibilizado com a Diocese do Funchal, que nos anos oitenta era o rosto daquele formação de esquerda radical, antes se passar para o PS. Depois, a UDP dissolveu-se no Bloco de Esquerda e perdeu grande número de votos, e com isso visibilidade.

Agora, é a Nova Democracia que ocupa esse papel. O partido que Manuel Monteiro formou como dissidência do CDS-PP não teve grande êxito no país, na sua intenção de passar à frente de Paulo Portas. Mas na Madeira, o cunhado de Monteiro e um punhado de opositores a Jardim conseguiram entrar no Parlamento Regional com as cores do PND, fazendo desde então uma oposição mediática e subversiva, que mostrou bem mais do que os adormecidos partidos tradicionais. Essas facetas acentuaram-se com a entrada de um dos responsáveis do jornal satírico madeirense (e anti-Jardim) O Garajau, José Manuel Coelho, que protagonizou o célebre episódio da bandeira nazi, entre muitos outros.
É com humor, histrionismo e subversão que as pequenas formações partidárias captam atenções e votos. A Nova Democracia conseguiu-o num contexto regional. Não deixa de ser irónico que possa obter maior visibilidade a nível nacional não com Manuel Monteiro, outrora o rosto da direita em Portugal, mas com um candidato que militou no PCP e que se diz ainda "comunista"

quarta-feira, janeiro 12, 2011

A vida imita a ficção (uma vez mais)



O caso do homicídio de Carlos Castro e todos os pormenores do sórdido caso fazem-me recordar este inquietante filme, adaptação do livro de Patricia Highsmith. Assemelha-se-lhe na amoralidade do autor do crime, na vontade de subir a todo o custo, na absoluta ausência de escrúpulos em busca da ascensão social ou de manutenção de um certo estilo de vida, nem que isso implique eliminar outrém.

É certo que também recorda um pouco a obra de baixo, no delírio de um aspirante a super-homem que mais tarde se redime. Mas para isso, seria necessário que o criminoso em questão expiasse os seus pecados, buscando a redenção. Mas até agora, nem ele nem os mais próximos parecem importar-se muito com isso.


Tempos inquietantes, estes. E tivesse as manias que tivesse, ou mesmo fosse o autor de um sem número de intrigazinhas sociais menores, Castro é uma vítima desta amoralidade vigente.

domingo, janeiro 09, 2011

No cinema em 2010

Se há coisa de que me farto de ano para ano são os balanços de "melhor" e "pior" do ano. Houve tempo em que achava piada à coisa, sim, mas com o tempo e a constante repetição, aquilo perdeu a graça. Mas às vezes, se a lista for curta, até a vejo.

Ontem ouvi uma qualquer estatística em que se anunciava que a frequência dos portugueses no cinema em 2010 tinha superado largamente os anos anteriores. É uma inversão do abandono progressivo das grandes salas. Mas das razões invocadas para esse crescimento, ou seja, os blockbusters, só tinha visto um ou outro. Começou em Avatar, uma maravilha de 3D que emprestava graça a um pastelão New Age ecológico, e que teve um êxito retumbante em todo o Mundo, prosseguiu com um conjunto de filmes-documentário portugueses, com uma ou outra fita de interesse (O Escritor Fantasma, ou O Caso Farewell, por exemplo), alguns equívocos (Knight and Day, uma rebaldaria sem tempo para respirar em que colocaram as Sanfermines em Sevilha), e outros que nem consegui ver, como A Rede Social (Dos Homens e dos Deuses já o apanhei em 2011, quase a sair de cena. Aconselhá-lo-ia se ainda estivesse em exibição, mas assim só em DVD).
Um dos mais curiosos é precisamente um dos blockbusters mais badalados do início do Verão: a versão de Robin Wood, de Ridley Scott. O mítico herói de Sherwood já teve muitas caras na tela, em média uma por década. O mais famoso é certamente o de Errol Flynn, o aventureiro por excelência, mas depois disso já vimos Sean Connery a interpretar um Robin envelhecido e desencantado com a vida pós-salteador, e Kevin Costner, no auge da carreira, que era o herói possível (ou o "princípe dos ladrões" macambúzio) em inícios dos anos noventa. Agora, Scott ofereceu a personagem ao seu actor-fetiche, Russell Crowe. Mas as semelhanças com o mito que regressava das cruzadas e enfrentava o xerife de Nottingham, valete de João Sem Terra, roubando os ricos (e os cobradores) para dar aos pobres, são mínimas. O Robin de Crowe é um desertor das cruzadas que se faz passar pelo desaparecido filho do senhor de Loxley, apenas para salvar a pele. Com o desenrolar da trama, assume o papel como se fosse a sua real identidade, enfrenta a desconfiança inicial de Lady Marian (aqui interpretada por Cate Blanchett, que já se sabe que pode fazer qualquer papel mas que na minha opinião fica melhor em personagens mais "femininas", não tanto em mulheres de armas), antes da previsível paixão entre ambos, e acaba a auxiliar João Sem Terra (agora rei) da invasão francesa. As cenas épicas não são as dos salteadores contra soldados "oficiais", mas uma batalha convencional nas praias inglesas, uma espécie de Dia D invertido.

Os aspectos históricos (e o facto de Ricardo coração de Leão estar morto) que tanto influenciaram a Inglaterra posteriormente, aliados a este Robin ser inicialmente um peão desertor, não um nobre regressado, marcam a diferença em relação ao que nos habituámos a ver na mítica personagem. É também mais duro, seco, um fora-da-lei que quer acima de tudo salvar a pele, e não o herói justiceiro frequentemente evocado, papel que assenta nas sete quintas a Russell Crowe. Não sendo uma obra-prima, Ridley Scott conseguiu uma viragem em relação à lenda, muito mais realista e (relativamente) fiel à história da época. E o fim deixa adivinhar um futura sequela. Mas só pela originalidade e desvio do arqueiro de chapéu verde, o filme merece uma vista de olhos. Em DVD também se deve ver.

quinta-feira, janeiro 06, 2011

Dia de Reis



segunda-feira, janeiro 03, 2011

2011
Com o novo ano, vêm necessariamente coisas boas e más.
Ente as boas está desde já a eleição do Estado Sentido como blogue revelação nos Prémios Combate de Blogs, com uma votação confortável, e a entrada do Benfica com o pé direito (ao mesmo tempo que se deixa de falar na "invencibilidade potista").
Pelas más contam-se mais atentados contra cristãos, agora no Egipto, no seguimento de ameaças de fanáticos islâmicos, os aumentos dos preços de quase tudo, da tributação e das taxas, uma recessão económica anunciada, umas presidenciais quase dispensáveis, etc.
Apesar do evidente desequilíbrio, há que olhar para a frente, para este ano de estranho número. Algumas coisa boas há de trazer. A imprevisibilidade também pode ser boa. Em determinados casos, é uma bênção.