Quando se sabe hoje que afinal o Porto tem metade dos contaminados que nos atribuiam ontem, a ideia peregrina de fazer um "cerco sanitário" raia ainda mais o absurdo. Ainda por cima na cidade que mais depressa tomou medidas preventivas, como o fecho da maior parte dos serviços, ainda antes da pandemia ser declarada. Devem pensar que é algum tipo de tradição. Já estamos habituados ao método. De século a século, o Porto apanha sempre com um cerco (os dois últimos foram o célebre Cerco em 1833, na guerra civil entre liberais e absolutistas - e à falta de um Fernão Lopes tivemos Garrett e Herculano a testemunhá-lo - e o também cordão sanitário à peste bubónica em 1899). Mas lá porque já temos experiência não quer dizer que tenhamos de levar mais vezes com esta brincadeira, senhora DGS.
terça-feira, março 31, 2020
sábado, março 28, 2020
Num silêncio ensurdecedor
Para a Cidade e para o Mundo. Mais do que nunca, mais do que as celebrações formais da Páscoa e do Natal, ou da eleição de um novo Sumo Pontífice. Com o Santo Padre carregando todo o peso da humanidade, como Jesus a carregou em tempos.
quarta-feira, março 25, 2020
Uderzo, o traço de Astérix
Sobre Albert Uderzo, que nos deixou ontem, lembre-se que o Astérix gráfico - os desenhos, as expressões, tudo - eram dele, mas Goscinny, o criador dos "irredutíveis gauleses", é que era o criador das histórias. Uderzo continuou a obra depois da morte do companheiro, mas sem a mesma genialidade ao nível do argumento. Mas não é por isso que deixará de ficar como figura de primeiríssima linha da história da BD e da cultura contemporânea.
(E neste tempo de mais silêncio, até o bardo Assurancetourix gostava de ouvir).
domingo, março 22, 2020
O ar que respiramos
Eis uma explicação racional (mas não a única, obviamente) para a quantidade de mortes em Hubei, Norte de Itália e Norte do Irão. Tudo zonas que pela sua densidade populacional, geografia (zonas planas rodeadas de cordilheiras, que limitam a circulação do ar) e sobretudo indústria pesada e, no caso de Itália, posse de automóveis per capita, das maiores do mundo (e todos sabemos como os italianos apreciam carros), levam a que haja muito pior qualidade do ar, doenças respiratórias e a situação tão complicada que temos vindo a assistir nessas regiões.
Mais uma razão para pensarmos que há questões prementes a ser resolvidas, e que o ar que respiramos é sem dúvida uma delas. Até lá, resta-nos aprender com as lições, por duras que sejam. A economia tem de reerguer-se e o ar ficará novamente mais poluído, mas convinha voltar a este assunto, que aliás esteve no ordem do dia no último ano logo que possível. Talvez muito do cenário terrível que temos vindo a assistir fosse mais ténue. Que este ar mais limpo que respiramos agora nos ajude a perceber isso, e a curto prazo nos ajude.
quinta-feira, março 12, 2020
Já acabaram com as teorias estapafúrdias?
Já que anda tudo a lançar a sua opinião sobre o coronavírus nas redes sociais (uns, inconscientes ou engraçadinhos, como se isto se tratasse com bagaço, outros quase apocalípticos, a dizer que "há 15 dias que devia estar tudo fechado", ou seja, quando não havia casos em Portugal) e a divulgar as últimas informações que ouviram, podíamos começar a mudar alguns hábitos, e não falo só de higiene (mas também: a quantidade de pessoas que não lava as mãos quando deve é atroz). As teorias da conspiração, por exemplo.
Espero que aquelas pessoas que andaram com aquela conversa de que "isto é um plano da China para diminuir população" (travar a economia para morrerem escassos milhares de pessoas? Será isso, o brilhante plano?) ou então que "isto é um vírus inventado nos laboratórios para as famacêuticas ganharem milhões com a vacina" (então porque é que ainda não a começaram a vender num mercado como o chinês, quando os números decrescem a olhos vistos e o pânico se instala no Ocidente?) tenham um pouco mais de juízo quando começam com os seus "cá para mim". Isso aplica-se também a "comunicadores", como aquela célebre apresentadora que afirmava há poucas semanas que o vírus só infectava os chineses. E mais ainda a chefes de estado de países de grande população, com o incumbente de Vera Cruz, que acha que o coronavírus é fantasia propagada pela "mídia".
Infelizmente as teorias e os boatos existem desde que o mundo é mundo. Mas como agora as redes sociais as divulgam muito mais facilmente, pedia-se um bocadinho de contenção, e se possível, de juizinho, que bem vai ser preciso.
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