sexta-feira, janeiro 30, 2004

Não resisto a falar de novo de José antónio Saraiva, porque o caso não é para menos. Descobri agora um texto, datado do fim de 2003, em que o Arquitecto se dedica ao mais puro exercício de cinismo de que há memória.
E de que fala Saraiva nesse seu artigo? Faz muito simplesmente a apologia do casamento de estadão da filha de Eduardo dos Santos, a tia Zé, ou coisa parecida, e, mais do que isso, defende ardentemente a ida do Primeiro-Ministro ao evento.
Ora atente-se nas palavras usadas:"Angola, para nós vai ser uma terra de oportunidades"; "...pode ser um excelente mercado para as nossas empresas"; "...pareceu-me muito bem que o chefe do Governo português estivesse presente no casamento da filha do Presidente de Angola. Só é pena José Eduardo dos Santos não ter muitas filhas para casar - para o nosso Primeiro-ministro ir mais vezes a Luanda. Daqui a uns anos perceber-se-á melhor a importância destas relacções para o futuro de Portugal". Assim mesmo. Sem ponta de pudor.
Nunca levei demasiado a sério as previsões e "doutos" conselhos de Saraiva, mas aqui entra-se na total falta de senso e de escrúpulos, no oportunismo mais abjecto. O que Saraiva quer dizer é :"façam mais festas, gastem ainda mais dinheiro, espremam o povo angolano até ao limite (se é que tal é possível), para que nos possamos associar às vossas orgias...e aos vossos negócios, escuros ou claros!". Um qualquer esclavagista ou traficante de diamantes não diria melhor!
Já tinha uma vaga ideia do que seria a mente deste pretenso jornalista, sobretudo depois do seu discurso Iberista, mas isto ultrapassa os mais elementares princípios da moral. A partir de aqui há que encarar esta personagem com o desdém que ela merece. Pena é que não tivesse aprendido grande coisa com o seu pai, que certamente reprovaria veementemente tais absurdos.
Adaptando as suas próprias palavras - daqui a uns anos perceber-se-á melhor a irrelevância de Saraiva para o futuro do jornalismo em Portugal

quinta-feira, janeiro 29, 2004

Os arquivos atravessam uma fase mais problemática. Logo que possível estarão de novo à disposição.


Hoje voltei ao interessante Guerra Civil Espanhola, um blog que deixei correr demasiado tempo e que estuda um dos mais fascinantes (ainda que violentos) períodos do século passado, a nível ideológico, militar e cultural - basta pensar que inspirou a "Guernica" e inúmeras obras de George Orwell, não só o "Homenagem à Catalunha" mas também o menos conhecido "Apontamentos sobre a Guerra de Espanha", memorial extremamente esclarecedor sobre as condições das Brigadas Internacionais no terreno ( e particularmente em Aragão).
A impressão que me fica quando penso no conflito é o de uma enorme miscelânea ideológica e política. Quando era mais miúdo julguei tratar-se de um conflito entre monárquicos e republicanos. Desfeito o engano pensei que fosse então uma guerra civil entre republicanos e comunistas aliados contra fascistas. A premissa não estava tão errada quanto isso, mas ainda assim andava longe da realidade.
Vistos os factos, não foram tanto os nacionalistas, na sua composição de monárquicos, fascistas e conservadores, que ganharam a guerra, apesar do enorme apoio dos Nazis ou da Itália de Mussolini e da sua tremenda máquina bélica, primeira aparicão da Blitzkrieg. A diversidade e rivalidade entre os republicanos era por demais evidente, num jogo em que os anarquistas da CNT e o POUM, aparentado com o PSOE, acabaram por ser aniquilados, ou reduzidos à sua dimensão mínima, pelos comunistas do PCE (o que ajuda a perceber o posterior anti-comunismo de Orwell), movimento, que como todos os marxistas, tinha também as suas figuras românticas, entre as quais se destacava "La Passionária", Dolores Iabarruri, de seu nome. Mais do que as bombas sobre o País Basco, a falta de meios, ou a superioridade em armamento dos Nacionalistas, os Republicanos perderam a guerra devido ás suas lutas internas, ao receio que tinham criado devido a actos mais ou menos bárbaros e a razões mais paradoxais, como formar um governo no qual participavam anarquistas.
Ao olhar há tempos para as manifestações na data da morte de Franco, em que de um lado se viam os oposicionistas (bandeiras republicanas, "look" alternativo ou anarca) e do outro os franquistas (boinas da Falange, braço erguido e crucifixos nas mãos), pensei no que seria se a guerra tivesse lugar hoje, ou mais concretamente, em quem apoiaria. É certo que uma guerra civil ao lado não é propriamente agradável, mas serve isto para comparar o clima apaixonante da época ao vazio ideológico de hoje em dia (embora haja sempre a ameaça Etarra, no caso concreto). Quem apoiar? Por um lado os monárquicos estavam do lado Nacionalista, mas eram obrigados a marchar lado a lado com fascistas, nazis, e os assassinos de Lorca. Mas olhando para a esquerda víamos comunistas, anarquistas responsáveis pela morte de milhares de clérigos e republicanos em geral. E que prometiam um regime tão mau ou pior que o do Caudilho. Entre os dois, viesse o Diabo e escolhesse. E o que é curioso (ou sintomático) é que as cores dos anarquistas e da Falange eram exactamente as mesmas.
A única conclusão plausível a que se pode chegar a esta hora da noite é que, apesar da tal trepidação da época, nas vertentes que já foram referidas, uma eventual vitória dos Republicanos traria a incógnita para toda a Península. Há quem jure a pés juntos que o seu grande objectivo era anexar portugal e constituír uma Ibéria soviética. Se são meras teorias da conspiração ou não, é impossível dizê-lo. E, apesar das trevas do regime do "Generalíssimo" sobre a sua "Una, Grande,Libre" Espanha, podem regozijar-se hoje os vizinhos do lado por viverem numa Monarquia Parlamentar como garante de um verdadeiro Estado de Direito. O que não quer dizer que desejemos qualquer fusão com eles. O que era bom era que tívessemos o nosso próprio D. Juan-Carlos. Quem sabe um dia...
Só para voltar mais uma vez ao assunto Miki Fehér: achei comovente a maneira da blogosfera poder em uníssono homenagear Miki. A Ágora também já deu a sua modesta contribuição. A Janela Para o Rio está de parabéns.

Aqui está sol, um belo sol de Inverno, que substitui a chuva e névoa dos últimos dias. Ideal para um passeio pelo campo. Se fosse possível...
Na Hungria neva. Janeiro é lá mais rigoroso. E hoje ficou subitamente mais triste. Mas devia ser do frio gelado que se fazia sentir entre as planícies brancas e semi-desertas da Panónia.
Um dia destes tenho de me lembrar de ir a Budapeste. A face oriental do velho Império Austro-Húngaro deve ser esplendorosa.
Sem qualquer dúvida, um dia visitarei esse maravilhoso país. Agora, mais do que nunca, gostava de conhecer melhor os magiares.
Desde o último fim-de-semana que laços mais estreitos ligam os portugueses e os húngaros. Quando estes últimos estão a meses de entrar na União Europeia, pode ser um sinal positivo.

terça-feira, janeiro 27, 2004

Miki

Porque o nome e as imagens de Miki não me saíram ainda da cabeça, deixo umas notas, para que se possa, eu incluído, aclarar as ideias:

-Miki tinha aparentemente sido pai há quinze dias; embora isto aumente o dramatismo da questão, não deixo de recordar aquela frase que diz "quem tem filhos nunca morre completamente".

-Tinha dito que o dia mais belo da sua vida fora quando pedira a mão da namorada em casamento. Uma atitude absolutamente romântica, mas que infelizmente jamais se concretizará.

-Logo agora que tinha ganho em parte o processo que mantinha contra o Porto e assegurado que ficava na equipa do Benfica o resto da época...O fim por vezes chega nos momentos de maior alegria...

-Miki era era grande, forte e louro; lembrava um guerreiro jovial. Sem dúvida que descendia dos húngaros que lutaram em vão para não serem subjugados pelos otomanos, dos invasores magiares que fundaram a sua nação, ou até, quem sabe, daqueles que tentaram dar a liberdade à Hungria em 1956, e foram esmagados pelos soviéticos.

-Tombou envergando a camisola do Benfica, um sonho para tantos, num relvado verde, com a vitória assegurada, e o público em uníssono a aclamá-lo. Apesar do ambiente trágico que se gerou à sua volta, pergunto-me a mim mesmo se não será essa a morte que um futebolista, ainda por cima empenhado, mais deseja. E se terá ouvido o seu nome ribombando pelo estádio. Espero bem que sim.

-No post de ontem falei daquele fantástico golo que marcou no Bessa e que permitiu que o Benfica ultrapassasse a primeira eliminatória da UEFA. Só não disse que tinha sido o último da sua carreira. Que eu tive a suprema benção de ter visto in loco, a poucos metros. E que o Benfica, para homenagear a sua memória, se encha de ânimo e ganhe a UEFA, concluíndo a obra que Miki iniciou.

-Embora ultimamente o considerasse um pouco tosco, segui a carreira dele no SLB com esperança e interesse, nomeadamente os seus golos. Em Portugal estreou-se com o Porto marcando um golo ao Olimpiakos da Grécia. Pelo SLB marcou ao Moreirense, Belenenses e ...Guimarães.

-Não deixa de ser irónico que tenha desaparecido no relvado de um clube contra o qual sempre jogara bem: em dois jogos frente ao Vitória de Guimarães marcou 4 golos, de águia ao peito. E já agora, uma palavra para os jogadores desse clube, que ajudaram como podiam, ficando também eles em estado de choque pelo drama ocorrido ali, em sua "casa".

-Muito se falou dos atrasos da ambulância, falta de meios, etc. É verdade. Mas todos os que criticaram provavelmente fariam o mesmo. Não por incompetência ou especial desleixo. Apenas porque o ser humano é imperfeito e nem sempre consegue prever determinadas situações.

-Feher, em húngaro, significa "branco". O que é que isso importa? Nada. Mas muito pouca coisa hoje me interessa, e por isso permito-me dizer coisas minimamente desinteressantes.
Só me pergunto: porquê? Porquê ele? Porquê ontem? O que é que aconteceu realmente?
Mas agora é demasiado tarde para o que quer que haja, embora seja difícil de crer. Creio que nunca fiquei tão aborrecido pela morte de alguém que não conhecia pessoalmente; apenas de vista.
Só me convenço (ainda mais) de uma coisa: que vida estupida!
Ou talvez não. É tão preciosa que quando prega partidas ficamos inconsoláveis.
Estou mesmo maldisposto...

Até sempre, Miki

segunda-feira, janeiro 26, 2004

Lembro-me bem. Estávamos em meados de Outubro. Os numerosos adeptos começavam a acreditar que o desejado golo estaria por pouco, e recomeçavam a incitar a equipa, desejosos de acabar com o enervante nulo perante uns modestos visitantes da Valónia. Até que naquele minuto, de um grande passe, entrou na área e bombardeou a baliza belga e o seu atarantado guarda-redes. Depois dirigiu-se para a bandeirola de canto, saudando os eufóricos espectadores de forma tranquila e sorridente. O mesmo sorriso que se viu na sua cara antes de tombar.
Protagonizou um conflito que prometia abrir precedentes na justiça desportiva, depois de algum tempo posto de parte. Menos na sua terra Magiar, onde continuou a representar as cores nacionais. Até que o vermelho se tornou o seu destino.
Ontem soube que a sua a sua pretensão tinha sido em grande parte deferida pelas instâncias competentes. A razão estava do seu lado e a sua carreira podia continuar sem sobressaltos. Mas inesperadamente caíu, envergando a camisola vermelha com que combatia, em silêncio, sem um queixume. Um silêncio que não se sentiu depois no imenso anfiteatro, com milhares de vozes entoando o seu nome. Durante algum tempo acreditou-se que voltaria à tona. Não voltou. Era o repouso definitivo do guerreiro.

A Miklos Feher, Miki,desaparecido ás últimas horas deste Domingo, 25 de Janeiro de 2004.

Duvido que algum benfiquista se vá esquecer dele. Eu, pelo menos, jamais o farei. E aquele lindíssimo golo ao La Louviére ficará eternamente na minha memória.

sábado, janeiro 24, 2004

Parece que a última moda nesse amontoado de suplementos (dos quais se salva a Única e pouco mais) que dá pelo nome de Expresso é o Iberismo. O seu director, José António Saraiva, "hesita sobre se valerá a pena o país continuar a existir". Um dos entrevistados da semana, José Manuel de Mello, afirma peremptoriamente: "Façamos a Ibéria". Ou seja, tudo conjugado para a mui temida união com as Espanhas.
O Arquitecto Saraiva, por exemplo, argumenta com a "queda do império, a abertura de fronteiras, a perda da moeda nacional e a revolução". Perante este cenário Dantesco qual é a melhor solução? Pois, a União Ibérica, porque "ser português é muito perigoso" (que o digam os iraquianos que lidam com os nossos GNR´s). Além disso, "nenhum país do Mundo em situação semelhante à nossa sofreu abalos tão fortes". A não ser, por exemplo,a Bélgica, que apanhou com tudo isso, embora no lugar da revolução tenha tido uma invasão nazi, que tem menos 700 anos que Portugal e que é um estado instrumental, tampão entre a França e a Holanda, ou então a República Checa, ou tantos outros estados que podiam recorrer a estas "fusões". "Porque", acrescenta o Arquitecto, "Portugal atravessa o pior período da sua história"; com esta declaração fica-se a saber que a crise de 1383-85, a ocupação de 1580-1640 e as Invasões Napoleónicas nunca existiram, e que até agora vivíamos no melhor dos mundos sem o sabermos.
Quanto ao empresário Mello, o senhor que andou a pedir esmolas ao governo para salvar a Lisnave e que acabou por levá-la à bancarrota, considera que a "Europa é um mito, "Cavaco foi expulso do PPD e acabou com os grupos económicos em Portugal," que de resto se deveria "juntar a Espanha porque o nosso futuro é de arrumadores e empregados de mesa". E a culpa "é dos empresários". Resumindo e concluíndo: este senhor não é empresário, ou então a culpa também é dele, Cavaco não passa de um comunista encapotado e quando as coisas não correm tão bem o que há a fazer é juntarmo-nos a Espanha. Um retrato lúcido da situação, não haja dúvida.

Numa democracia cada um é livre de dizer o que quiser, mesmo os maiores disparates. O que não acontecia em 1640, quando por isso mesmo Miguel de Vasconcelos saíu pela janela pelas suas opiniões iberistas. Mas ainda assim acho que os descendentes dos conjurados da época não achariam grande ideia à União Ibérica. O que nos vale é que eles são bastantes. Por isso, se lhes apetecer, o Arq. Saraiva e o ex-empresário Mello podem ir representar o seu papel a Espanha: por certo que terão reservados lugares de arrumadores de carros ou de empregados de mesa, como tanto anseiam.

sexta-feira, janeiro 23, 2004

O dia correu-me inesperadamente melhor; telefonaram-me a avisar que tinham encontrado o meu telemóvel e consegui desencantar outro aparelho para acabar de ver "O Olhar de Ulisses".
Não consegui descobrir tantos aspectos dos Balcãs como pensava, mas serviu para ficar com mais algumas impressões sobre esta região que já esteve nas bocas do Mundo e que por vezes resvala, perigosamente, para o esquecimento, em especial o triângulo Sérvia e Montenegro- Albânia-Macedónia. Uma região com uma história e uma cultura apaixonantes mas ainda longe de estar pacificada, como notou jorge Almeida Fernandes no Público de Domingo. Atempadamente voltarei à questão balcânica, com mais calma.

O melhor post do dia é indubitavelmente este (o da Anita). Quando as coisas mais inócuas podem ser consideradas uma ameaça ao "politicamente correcto".

quinta-feira, janeiro 22, 2004

Outras respostas à estafada questão "Porque existimos?"

Pensar que bandas extintas como os Smiths, James, Smashing Pumpkins, Pixies e The Cure podem sempre ressuscitar, como murmuram certas fontes indiscretas ácerca das duas últimas, sussurrando o seu regresso para breve...

Claro que o mesmo não poderemos dizer dos Nirvana, Morphine ou Clash.
Ou talvez se possa...pelo menos como uma cópia de qualidade inferior. Quem viu os novos INXS ou Doors (Século XXI, ou lá como se chamam agora)
poderá confirmar isso mesmo. Embora eu reconheça que estas assombrações até têm a sua piada.

Com os "Fab Four" é que ninguém tenha ilusões...
Ao contrário de ontem este não foi, decididamente, um dia de sorte. Perdi ( ou talvez não) o meu telemóvel e avariou-se-me a televisão, aquela que está ligada ao video (lamentavelmente ainda não possuo DVD). Resultado: tenho de devolver até amanhã um filme em VHS que ainda ia a meio, faltando quase duas horas de enredo. Para que conste, "O olhar de Ulisses", de Theo Angelopoulos, com Harvey Keitel no papel principal, um percurso pelos Balcãs em busca de uma película perdida; ou seja, um Indiana Jones helénico, devidamente adaptado por Angelopoulos ao estilo mais contemplativo.
É mesmo um dia de sorte! Para além de serem os anos da minha mãe e de finalmente ter tido a resposta de âmbito jurídico por que há tanto esperava, tive a oportunidade de encontrar na Comunicação Social a presença de dois antigos professores meus, por sinal das cadeiras de que mais gostava (Ciência Política e D.I. Público) e tanto um como outro exemplares na difícil arte de leccionar. Um apareceu na habitual crónica mensal do Público, que versava sobre o recente prémio Pessoa, Gomes Canotilho, e a sua consequente e benéfica repercussão na justiça e no mundo jurídico em geral. O outro surgia no programa N-Amadores, da NTV ( hilariante, surreal, único no seu gênero), enquadrado pelo Prof. Hernâni Gonçalves, o célebre "bitaites", e Álvaro Costa, homem de rádio, comentando a birra do "Bilau", o golo do jogador/dirigente de uma agremiação de Gaia,e a paternidade naquele mesmo dia do guarda-redes do Rechousa. Mais do que os comentários do meu antigo Prof. retive os sermões psicológicos dos "misters" no balneário ("Aqui não há táctica nenhuma!", ou "é preciso ganhar para oferecer a vitória ao vosso colega que tá na prisão!") ou os desabafos dos adeptos ("A equipa não joga derivado do estado de antiguidade dos jogadores"-sic).
Até hoje nunca me tinha apercebido que o futebol amador, sem os meios monetários e técnicos do profissional, mas com maior paixão e proximidade entre os seus intervenientes, público incluído, podia ser um espelho tão real da emoção das pessoas e, simultaneamente, das dificuldades e crueza do dia-a-dia. Em muito poucas situações consegui ver uma junção tão cristalina entre a magia e a realidade. Deve ser a isto que se chama "Realismo Mágico", tão presente na literatura, sobretudo a latino-americana, de onde aliás o futebol de rua provém; não certamente por acaso.
Uma coisa é certa: a partir de agora prestarei mais atenção à obra de Gomes Canotilho; e evidentemente não deixarei no futuro de assistir a mais N-Amadores, pelo menos enquanto a NTV pemanecer com o actual formato, o que não deve demorar muito mais.
Das duas intervenções destes meus dois ex- mas saudosos - docentes, qual será a que me marcará mais?

quarta-feira, janeiro 21, 2004

Respostas à estafada questão "Porque existimos?"

O golo do Demétrios, na última jornada do campeonato; e o do Leonardo,em "slalom", do Maniche, do Ricardo Sousa, o 2º do Sokota.

terça-feira, janeiro 20, 2004

Causas (consequências?) de depressão nacional

O antigo terreno de jogo do S. C. Vila Real era o Campo do Calvário, pelado e à sombra da Igreja na colina com o mesmo nome; ainda existe, para os júniores.
O actual campo é o Complexo Desportivo do ...Monte da Forca.
Apostaria, com quem conhecesse bem a capital transmontana, que um futuro estádio seria no lugar do "Santo Soldado Arcabuzado".
Depois não se admirem que Vila Real seja capital de uma "região deprimida".

No Centro português de Fotografia (Cadeia da Relacção - para quem não sabe, no centro do Porto) estão patentes duas exposições com sugestivos títulos: "Tanta Dor" e "Toda a Dor do Mundo".
E ainda há quem não acredite que o Porto está a passar uma fase mais em baixo (a não ser no futebol).
Senta-te que talvez rias...de dez em dez minutos.

Hoje não resisti a ver um pouco do "Levanta-te e Ri", uma das actuais coroas de glória da SIC. Não que fosse a 1ª vez, mas há lá um grupo de jovens turcos que me tinha chamado a atenção.
Desta vez não apareceu o já célebre Bruno Nogueira, com a sua bagagem de auto-ironia corrosiva, nem nenhum dos gatos, que aliás já têm o seu próprio registo televisivo, e o leque de comediantes pareceu-me hoje bastante fraco.
Abriram logo com um indivíduo de nome Serafim, de sotaque alentejano e irritante até à medula, contando umas historietas incompreensíveis; acabaram forçosamente com a "estrela" Fernando Rocha, que em cada cinco palavras diz seis palavrões, desfiando sempre as mesmas anedotas. Estes dois exemplos do "humor português" receberam as maiores revoadas de palmas, como era previsível.
Acabou no entanto por valer a pena, já que pelo meio surgiu o já meu muito conhecido Francisco Menezes, cuja carreira televisiva acompanho desde os seus primórdios. Sim, era daqueles que via o maior número de "N-Cromos" e "Desterrados" possíveis ( na antiga NTV), blocos de humor quase artesanais, com um único actor (o próprio), que se transformava numa impressionante míriade de personagens, que iam desde o historiador maníaco ao barman de discoteca, do homem-estátua ao cantor "reggae" de rua, ou do pregador Mormon à peixeira do Bolhão, passando pelo demagogo político (de seu nome Paulo Durão Rodrigues, uma escolha mais que apropriada); No "Desterrado" representava o portuense no degredo em Lisboa, acusando a Capital de todos os males possíveis e imagináveis, com pérolas tais como:"Lisboa é como Coimbra: tem mais encanto na hora da despedida".
Com a fama, Menezes passou pela RTP, com o Portugal FM, que tinha a sua piada, e encontra-se agora como um dos "residentes" do Levanta-te e Ri. Observe-se é que de todos é o que dá menos uso ao palavrão ou à piada fácil, preferindo um humor mais inteligente e baseado na imitação sonora. Consequência directa disto é que é também o menos aplaudido. De longe. Só o é mais quando tenta puxar pelo público ameaçando com palavrões, os quais não surgem (ou muito sub-repticiamente).
Pessoalmente ri-me hoje mais com ele do que com os outros todos juntos. Mas sinto sinceramente que o Fernando Rocha ou o Herman, na sua versão "hardcore", sejam bem mais incentivados. Um pouco como aqueles filmes rotulados como comédias, mas em que à saída da sala só se ouvem comentários do tipo "Comédia? Mas não dei uma única gargalhada!". Como se os filmes de comédia fossem só as películas adolescentes, a puxar para o escatológico; ou nos programas de humor tivesse de constar o palavrão e a piadinha sexual da praxe. A sorte é que a Stand-up-Comedy, a verdadeira, está aí, inevitável.

segunda-feira, janeiro 19, 2004

Frases que vieram na rubrica "Diz-se", do Público, nos últimos dias:

"...de um bom político o povo espera obras, não espera filosofia."
Pedro Santana Lopes dixit

Temos aqui a perfeita apologia da "obra feita" ( seja útil ou inútil, e sempre em betão) em detrimento do planeamento urbanístico, da aposta na qualidade de vida e da humanização das cidades. Se não era isto que PSL queria dizer, parece. Um qualquer cacique local não falaria melhor.
O que parece confirmar esse sentido das palavras é a "obra" (ou o seu planeamento) do Presidente da CML. O que se viu até agora foram as promessas de recuperação do teatro de Revista (um gênero datado e que, ao contrário do que apregoam não representa qualquer sátira portuguesa mas tão somente uma Lisboa brejeira e popularucha), com o possível projecto do arquitecto Gherry, uma rua dedicada a Amália, a proibição de circulação automóvel em parte do Bairro Alto, o túnel do Marquês (uma obra contestada por todos os lados) e, claro, a jóia da coroa: o Casino, esse indispensável futuro ex-libris da Capital, que já teve logradouro previsto em meia dúzia de sítios. Ah, sim, também os anunciados edifícios do arquitecto Siza em Alcântara, uma promessa de elefante branco que ameaça despoletar uma polémica semelhante à do elevador do Castelo.
Que PSL é um político com certa obssesão pelo "show-bizz" já todos sabíamos. A questão é que o auto-proclamado candidato a candidato do PS à CML, Manuel Maria Carrilho, tem tiques algo semelhantes, como a vaidade, o vício do protagonismo político e uma imagem de "enfant-terrible" no respectivo partido. As grandes diferenças (para além de um ser casado,ainda por cima com quem é, o que ajuda sempre a marcar pontos) serão a maior popularidade de Santana e o facto de Carrilho ter sido muito melhor titular da Cultura (em relacção ao Porto, então, nem se fala, até porque PSL quis vender Serralves e retirou de cá a respectiva SEC), talvez por ser imensamente mais culto. Se forem estes os principais candidatos a avançar, não deixará de ser curiosa a campanha eleitoral entre os dois, tipo "Já reparou como o seu Presidente da Câmara desistiu da corrida presidencial por amor a Lisboa ?", ou por outro lado, "Uma Lisboa com filosofia em cada calçada". Com as garantias de com um a noite estar sempre "a bombar" e com outro o turismo cultural aumentar em massa. Aos alfacinhas a tarefa de decidirem.

Li os habituais artigos de Miguel Sousa Tavares esta semana. Com o do Público concordei (pelo menos em parte); pelo da Bola tenho uma imensa discordância.
Eram previsíveis as reacções que o primeiro provocou entre os mais acérrimos defensores da doutrina Bush no panorama nacional. Não vi sequer a habitual opinião do sr. Delgado. Bastou-me olhar para este para ficar com uma ideia mais ou menos clara do que são os contra-argumentos de alguns amigos dos "Neo".
Assim, deixou-me estupefacto que à frase "...Bush queria uma guerra, que pudesse ganhar facilmente..." haja uma mera tentativa de contrariedade como "Tipo Marvel Comics. Melhor é impossível". O que aqui há é uma tentativa de ridicularizar um facto sem de forma alguma (tentar) provar o seu contrário, apostando na mera graçinha para mudar de assunto rapidamente.
O ponto 7, aquele que responde a "a resposta ao problema do terrorismo (...) assenta na superioridade (...) do Estado de Direito sobre o fanatismo" coloca jocosamente várias hipóteses inviáveis, como "convencer os dirigentes do Hamas a renunciar ao terror oferecendo-lhes terrenos e instalações para os seus serviços de acção social". Ou seja, sabemos que o autor de tais perguntas não só não defende a viabilidade do Estado de Direito como ainda considera os assassínios selectivos, os tanques disparando sobre miúdos de calhau em riste ou os mísseis sobre Gaza a melhor forma de pôr termo ao conflito israelo-árabe, pacificar a região e criar um estado palestiniano autónomo... nem que seja sobre areia e pedregulhos. E que por inerência as negociações são uma perda de tempo. O que não admira, se nos lembrarmos da importância que os EUA deram à diplomacia e ás inspecções na pré-invasão do Iraque.
O que realmente me deu uma sonora vontade de rir foi sem dúvida a tentativa de desmentir a declaração de Sousa Tavares de que Bush transformara em deficit galopante o legado superavitário de Clinton, a saber :"Bush não transformou o superavit em deficit.(...)O período de vacas gordas que os EUA atravessavam estava condenado a acabar". Refere-se ainda a "ciclos económicos". Confesso que não sou economista, mas causa-me certa confusão a coincidência de no tempo de Reagan ter existido um deficit monumental, que se prolongou com Bush-pai e que se eclipsou com as mudanças económicas operadas por Clinton, regressando em força com a ascensão ao poder de Bush-filho. Lembro-me também que os cortes de impostos deste último aos mais abastados foram repudiados por Bill Gates, George Soros e outros indivíduos de conta bancária semelhante. E que com medidas diametralmente opostas Roosevelt venceu a pior crise económica que a América já conheceu. Devem ser estes os tais "ciclos económicos" atrás referidos : a alternância entre democratas e republicanos no poder. Escusado será perguntar quem é que conseguiu melhores resultados em termos de política económico-financeira. Mas muitos americanos não sabem infelizmente qual a resposta a dar. E o senhor que tanto critica MST também não deve saber, caso contrário não falaria de "argumentos da treta". É que por vezes as tentativas de os contrariar criam "tretas" ainda maiores.

Já disse que o artigo mais "desportivo" de MST não me agradou de todo. É que depois de toda uma diatribe de ironia dirigido ao Benfica e supostamente a um artigo passado de Leonor Pinhão (com amplas referências ao jogo Porto-Rio Ave), compreende-se onde está a "moral da história": é incorrecto falar do que se passa noutros clubes para não se disfarçar pecados próprios. Pena é que Sousa Tavares tenha caído na sua própria armadilha disfarçada de crítica e falasse do Benfica em 75% do texto. Com coisas como "a Direcção do Benfica não pediu desculpas pelos três sportinguistas navalhados em Stª Apolónia". Não que concorde com este silêncio; mas não concordo igualmente com o facto dos orgãos do Sporting nada terem dito sobre o facto da sua claque se ter divertido à entrada para o derby a apedrejar os adeptos do Benfica ( não a respectiva claque), com consequentes ferimentos; ou a do Porto, quando os seus SD saudaram a Lazio aquando da sua chegada a Pedras Rubras para defrontar o Benfica, cujos adeptos na ocasião sofreram ataques da mesmíssima claque (ou gang, se houver distinção possível). Enfim, atordoadores silêncios com que por vezes o dirigismo futebolístico nos brinda. MST podia e devia julgá-los por igual.

Errata: no meu anterior post são visíveis algumas falhas, como a da palavra "dizer", no início do 2º parágrafo, ou alguns erros que facilmente se adivinham ("fundo" e não "findo"). Mas creio que a hora tardia a que escrevi serve de desculpa.

sábado, janeiro 17, 2004


Hoje voltei a Vila Real. Já não ia a Trás-os-Montes desde inícios de Setembro, tempo de vindimas, sol tépido e da quase extinta apanha da maçã ( e que saudades...!). Agora estava um frio seco mas suportável. Gostei de o voltar a sentir.
O mesmo não posso ao reparar nos habituais prédios de cor branca-alaranjada-rosa-verde tropa e azul bébé, umas em cima das outras. Ou de paredes forradas a tijoleira de quarto de banho, varandas redondas ou triangulares, cujo interior se imagina atormentado por manchas de humidade e infiltrações, um forno no Verão e gélido no Inverno. Toda essa paisagem-cogumelo eu já conhecia há uns anos para cá. Mas hoje dei sobretudo atenção à marginal do Corgo
O Corgo (ler-se "ó" e não "Ô") passa ao findo de uma estreita garganta rochosa e divide a parte "antiga" da cidade da mais recente, onde se inclui a UTAD. É talvez uma das mais belas imagens transmontanas, verdadeiro cartão-de-visita de Vila Real... ou talvez fosse noutras eras,uma vez que se tornou objecto de uma montra de atentados urbanísticos sem fim. Passando de carro pelas margens do "canyon", do lado da Vila velha, depara-se com uma autêntica muralha de betão ocre e amarelo, com umas torres em cima das outras, descendo abruptamente as margens do Corgo (que, como se imagina, está incógnito nesta situação). Não só o espectáculo é aberrante pelo que revela e simultaneamente esconde, como tudo aquilo tem um ar de precariedade, de feito em cima do joelho, de ideia que as construções entraram pela estrada dentro, que um ser com um mínimo de gosto pensará obrigatoriamente que todo aquele horror foi feito de propósito. Se não é, parece!
 
Quase no fim da garganta respira-se um pouco; do lado do rio desapareceram as construções, que se transferiram para a parte de lá da estrada, e, ainda que não perfeitos, ao menos com um ar bem mais civilizado e discreto, oferecendo a vista do Corgo aos seus utentes sem contudo a subtrair aos transeuntes.
A qualquer estudioso do moderno urbanismo nacional aconselho-o a dar um pulo até Vila Real; lá, poderá consultar esse verdadeiro manual de horrores que são as prédios aí construídos desde há 20/25 anos para cá: um autêntico exemplo de como estragar uma cidade e uma paisagem natural admirável, ou como resulta o facto dos autarcas se submeterem aos mandos dos construtores civis, ainda que os ameacem com as disposições legais. A quem lá passar, fica dado o aviso.

O Porto e Sporting ganharam folgadamente os respectivos desafios. Só espero que os queridos vizinhos aqui do Bessa sejam simpáticos amanhã quando pisarem a "Catedral", senão o fim-de-semana fica definitivamente estragado.
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Eis pois o início desta ousada aventura na blogosfera nacional. Ousada porque nunca fui exactamente um virtuoso da informática. Por isso perdoar-me-ão todos os que me lerem a falta (passageira) de links e outros segredos na matéria, pelo menos para um "bloggonauta" tão verde como eu.

Antes de mais porquê A Ágora? Talvez porque nos domínios da Net já dominem os Fóruns, e tivesse querido dar uma expressão mais helenizada ás mais opiniões. Além de que sou um apaixonado por tudo o que diga respeito à Grécia, como se comprovará a seu tempo em posts vindouros. Não se pense contudo que há aqui uma relacção directa comos referidos Fóruns, e a prova é que, pelo menos por agora, não tenho qualquer espaço para comments. Pretende, isso sim, homenagear a blogosfera no seu todo, como espaço inovador de discussão e expressão individual. Um pouco como a antiga Ágora de Atenas, praça poeirenta no sopé da Acrópole, e embrião físico desse sistema tão gasto e simultaneamente tão jovem a que chamamos democracia.

Certas características estarão sempre previstas neste blog: ideias que defendam o Porto (cidade), O Benfica (clube), a Monarquia, na sua vertente menos afadistada, a uma escala moderada o cristianismo e uma vaga ideia política que se poderá apelidar de social-democracia no sentido original do termo. Outros valores queridos serão a Europa (particularmente a cultura francófona) e o ambiente (sim, isso mesmo, a ecologia). Muito pouco que agrade a um entusiasta da actual administração norte-americana, por exemplo.
Não é de excluír porém que outros convivas se juntem a este espaço. Para já, o mote está dado.

É pois com estas posições, aparentemente contraditórias entre si, que todos os que aqui se dirigirem terão de se defrontar. Em relacção a tudo o que disse defender não me afastarei um milímetro, dentro dos limites do bom senso, da cortesia e da simples decência. Posto isto, está lançada A Ágora.

E mais não digo, por hoje. Até amanhã...