Muito se tem falado na crise da imprensa, em Portugal e no mundo, e o caso não é para menos. As últimas semanas não têm poupado os jornais tais como os conhecemos. Em Portugal tivemos as greves na Agência Lusa e no Público, uma por causa dos cortes salariais, a outra devido aos despedimentos anunciados de dezenas de funcionários e jornalistas, cuja escolha dependerá, dizem as más línguas, das boas relações que mantêm com a direcção do jornal. Fala-se mesmo na sobrevivência a curto prazo do Público, que desde 1990 só apresentou resultados positivos num ano, e que só existe graças às contribuições do proprietário/mecenas Belmiro de Azevedo.
Entretanto, Joaquim Oliveira resolveu vender a sua Controlinveste a um grupo angolano, de que ninguém sabe sequer o nome, a não ser provavelmente o próprio Oliveira. Recorde-se que no grupo empresarial português estão o Diário de Notícias, Jornal de Notícias, Jogo, o Jornal do Fundão e o Açoriano Oriental, o mais antigo título de imprensa publicado em Portugal. tudo isto pode ir parar às mãos de um grupo angolano sem rosto. O negócio ainda não se concretizou porque as garantias financeiras ainda não foram enviadas ("Não há graveto, não há negócio", terá dito Oliveira), mas a confirmar-se, depois do Sol, é praticamente metade da imprensa portuguesa que passará a ser negociada em kwanzas. E com que objectivos?
A juntar a isto, a pior notícia nem vem de Portugal. A histórica revista Newsweek, que em tempos cheguei a assinar, um dos grandes nomes da imprensa norte-americana, a rival de sempre da Time, anunciou que a partir de 2013 só vai existir em formato digital. Acabou a Newsweek nas bancas, na caixa de correio, nas bibliotecas. Agora, só por computador e sobretudo, só por assinatura.
é todo um mundo que acaba? Esperava que a invenção de Gutenberg perdurasse, mas receio que outros imitem o gesto da revista norte-americana. O Guardian esteve quase a fazê-lo, mas recuou.
Mas para além da questão da radical mudança de hábitos, de razões ecológicas inerentes, dos custos das edições em papel e dos despedimentos que tudo isto acarretará, sobram ainda outras questões. Pensará tudo que o conhecimento vai ficar arquivado na net, passe a expressão? Acabaram-se as bibliotecas em detrimento de um kindle ou de um i-qualquer coisa? O conhecimento ficará sempre robotizado? E será isso um prenúncio do novo "homem biónico", como alguns já profetizaram?
Ainda que tais mudanças não sejam tão radicais, e possamos viver com os modelos em papel e digitais lado a lado, como seria um mundo em que os jornais só existissem em formato digital? Imagine-se que faríamos uma pesquisa a um número de há muitos anos, para um estudo científico, uma investigação jornalística, ou por simples amadorismo ou passatempo. Haverá a possibilidade de chegarmos a números antigos, ou o perigo de que qualquer artigo melindroso possa ser apagado é real? No formato em papel, podemos sempre guardar o que nos interessa, via recorte ou outro. E com o formato digital, guardamos numa pen? Os meus conhecimentos técnicos destas questões não me permitem respondê-las, mas não me sinto muito seguro num Mundo em que os jornais percam a sua base palpável e passem a meros sites de informação.
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