Durão Barroso disse há dias que recusava qualquer responsabilidade do seu governo no actual momento do país. É um claro contraste com António Guterres, que antes tinha assumido exactamente o contrário, ou seja, que os seus anos de governação eram também responsáveis pelo estado actual do país. Sabia que eram dois estadistas completamente diferentes, mas estas duas afirmações cavam ainda mais o abismo entre os dois. Mas há mais diferenças. Ora veja-se:
- António Guterres demitiu-se a abandonou a política activa, ocupando hoje um cargo que só em parte se pode considerar eminentemente político. Durão Barroso demitiu-se para não deixar escapar a oportunidade de ocupar o cargo político mais alto que podia alcançar.
- Guterres demitiu-se depois de uma derrota nas Autárquicas porque não tinha capacidade para continuar a chefiar o governo, e assumiu-o. Durão via as coisas malparadas também depois de um desaire, nas Europeias, e usou o novo cargo como pretexto para abandonar o governo.
- Guterres deixou o caminho livre para a sua sucessão no PS. Durão convidou um sucessor e impô-lo ao partido.
- Guterres preferiu que a sua saída fosse resolvida através de eleições, mesmo sabendo que muito provavelmente perderia. Durão escolheu Santana para o substituir no governo sem que se convocassem eleições (ainda que esta escolha dependesse sempre da decisão de Sampaio).
- Guterres cumpriu as promessas mais significativas (o célebre "diálogo", o Rendimento Mínimo Garantido e a não subida dos impostos), ainda que estas tivessem levado o país ao descalabro financeiro. Durão prometeu o choque fiscal e pôr ordem nas contas públicas (do primeiro nunca mais se ouviu falar, e as contas foram disfarçadas com receitas extraordinárias e antecipadas).
- O feito de política externa (e de toda a sua governação) mais relevante de Guterres foi a gestão do caso de Timor, que acabou com a libertação e posterior independência do território, coisa em que muito poucos acreditariam anos antes. O de Durão foi a famosa cimeira dos Açores, em que posou na fotografia com Bush, Aznar e Blair, e em que se decidiu a desastrosa e infundada invasão do Iraque.
- No caso de Timor, Guterres obteve um rotundo êxito e alcançou todos os objectivos. Durão teve três anos de conversações com a Indonésia e nada conseguiu.
Eis em curta síntese as principais diferenças entre Guterres e Durão Barroso enquanto estadistas e responsáveis pela governação do país (a responsabilidade pelas organizações a que presidem são de natureza diferente e não têm comparação, nem eu saberia fazê-la).
PS: no caso de Timor, diga-se em abono da verdade que durante o governo Guterres Suharto caiu do poder, o que muito ajudou a resolver o problema da ilha. Mas já na época Durão criticava o executivo português pelas opções que tomou, com os resultados bem conhecidos...
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