Fechadas as negociações com a UE, que dão vantagens inigualáveis ao Reino Unido para se manter dentro da Europa dos 28, e marcada a data do referendo que vai decidir se sai ou se fica, ver uma tão grande quantidade de adesões ao "não" surpreende sempre um pouco, mesmo tendo em conta o proverbial eurocepticismo britânico com tudo o que vem do "continente". Já se sabia que o Partido Conservador esteve sempre dividido nesta matéria ( mas surgirem seis ministros e o sempre imprevisível mayor Boris Johnson pelo nega dá ao Brexit possibilidades acrescidas. Junte-se a isso alguns trabalhistas envergonhados (a começar pelo actual líder, Jeremy Corbyn), seguindo a tradição da esquerda Labour ser também eurocéptica, e claro, o antieuropeu UKIP, e mais alguns movimentos radicais de direita e de esquerda (como o National Front e o Respect, do esquerdista George Galloway). Pelo sim haverá boa parte dos conservadores (a começar por David Cameron, que joga aqui o seu futuro político) e dos trabalhistas, sobretudo a ala moderada, os liberais-democratas, os Verdes e o Partido Nacional Escocês (SNP), que em tempos era mais eurocéptico.
Para além dos partidos, e a propósito da posição do SNP, vale a pena estar atento aos votos tácticos regionais. Os escoceses são mais europeístas e votarão em massa na continuidade. Ou não. Por mera táctica, poderão votar em grande número pela saída: se os seus votos contarem decisivamente para o resultado final, o Brexit seria o pretexto ideal para forçar novo referendo pela independência, que a causa separatista ganharia certamente movida pelo temor do isolamento do resto da Europa. Por outro lado, esse mesmo receio pode levar a que muitos eurocépticos ingleses votem a contragosto pela continuidade na UE para evitar a dolorosa separação da Escócia. Assim, muitos poderão votar mais com a cabeça do que com o coração. E ainda há que contar com vários movimentos irlandeses unionistas, adeptos da saída.
O mais provável é a manutenção do Reino Unido na UE. Mas é uma probabilidade curta: algumas sondagens dão a vitória ao "não", os votos tácticos poderão ter algum peso e os economistas preocupados com uma fuga em massa da City podem não ser suficientes para convencer os seus compatriotas da bondade da permanência nem de os demover de escaparem à "submissão a Bruxelas". Isto apesar da ideia da parceria com o Estados Unidos já não ser assim tão sólida e de os próprios americanos preferirem um Reino Unido na UE. O espectro do Brexit não é assim tão descabido.
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