Embora acompanhasse com interesse a carreira de David Bowie, não era um seguidor fervoroso. Mas reconheço-lhe não só a genialidade, visão e coragem estética e musical como a evidência de que, para além de um músico de referência, Bowie era um autêntico ícone pop dos últimos quarenta anos, um perfeito mito vivo - até ontem. Popularizou o glam rock, criou personas que se tornaram elas próprias ícones do rock, cunhou a expressão "fase berlinense", do seu período em fins da década de setenta, etc. A sua influência do "camaleão" deu-se mais nos anos setenta e oitenta, em partes bastante distintas, mas estendeu-se às seguintes. Para além da música teve também uma carreira intermitente no cinema , com algumas incursões interessantes, em especial o oficial prisoneiro dos japoneses em Merry Christmas, Mr. Lawrence, num filme de mágicos de há meia dúzia de anos, ou a fazer de Andy Warhol, que até conheceu pessoalmente, em Basquiat.
O mais notável é que até ao fim se entregou à arte e às experiências estéticas. Tinha lançado o seu último álbum, Blackstar (com um single premonitório intitulado Lazarus), na sexta-feira, dia em que fazia 69 anos, apenas dois antes da sua morte. Já gravemente doente, conseguiu ainda completar o seu legado musical. Desaparece fisicamente um dos grandes ícones artísticos do último meio século, deixando uma imensa obra que certamente não se perderá nem será esquecida tão cedo.
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