segunda-feira, agosto 19, 2013

A tirania militar de volta ao Egipto




No Egipto, a efémera "Primavera Árabe" esfuma-se a olhos vistos. A deposição de Morsi não resultou em nenhuma "agora sim, democracia" com que alguns líricos sonhavam. Afinal de contas, o presidente tinha sido eleito por mais de metade dos eleitores, e a sua deposição seria sempre antidemocrática, por muito que as suas origens na Irmandade Muçulmana provoquem desconfianças. Quiseram instalar um governo "laico" no seu lugar e as consequências estão à vista: protestos em massa dos apoiantes do presidente deposto, reacção duríssima por parte das forças armadas, centenas (ou milhares?) de mortos nas ruas, e agora até a ameaça dos militares em ilegalizar de novo a Irmandade Muçulmana e os partidos que dela fazem parte, e que tiveram os votos de mais de metade dos egípcios. Por causa disso, Mohamed el-Baradei já se demitiu do cargo de vice-presidente interino. Aquilo a que assistimos não é uma democratização do país, já que isso só poderá acontecer com a inclusão dos islamitas, nunca os marginalizando: o que se passa é que o Egipto está à beira de voltar a ser um regime militar, com até 2011, porventura mais duro do que era antes da queda de Mubarak. Aqueles que aplaudem a intervenção das forças armadas, incluindo as suas acções mais violentas contra supostos extremistas islâmico,s estão na realidade a caucionar um regime igualmente tirânico e sem real base popular. Não é mais "democrático" ou pluralista massacrar cristãos, islamitas, apoiantes dos militares ou liberais. Em qualquer dos casos, estamos perante medidas despóticas e tirânicas. Parece que não se lembram do lamentável casos da Argélia, em que depois de anularem as eleições ganhas pelos islamitas e ilegalizarem os partidos vencedores, se verificou uma feroz guerra civil que deixou marcas profundas no país. além disso, como se pôde verificar durante o século XX nas "democracias populares", os regimes laicos não são necessariamente mais benignos que os religiosos. Entre Saddam e Khomeiny, viesse o diabo e escolhesse. Ao menos Morsi não quis ilegalizar partido algum. Aguentem-se agora com o regresso da ditadura militar.

Nenhum comentário: